Fanfic: Entre o Agora e o Nunca - AyA | Tema: Anahí e Alfonso - Ponny
Uma hora e dois drinques depois, vou para o “andar do Rob” no galpão com Blake. Estou só um pouquinho alta, andando e enxergando perfeitamente, por isso sei que não estou bêbada. Mas estou um pouco alegre demais, e isso meio que me incomoda. Quando Blake sugeriu que a gente “fugisse do barulho um pouquinho”, sirenes de alerta tocaram feito loucas na minha cabeça: Não saia sozinha de uma boate depois de tomar uns drinques com esse cara que você não conhece. Não faça isso, Any. Você não é burra, então não fique burra por causa do álcool. Todas essas coisas gritavam comigo. E eu dei ouvidos até que, em algum momento, o sorriso contagiante de Blake e o modo como ele me fazia sentir completamente à vontade acalmaram tanto as vozes e as sirenes que não consegui mais ouvi-las.
— Isso é o que chamam de Andar do Rob? — pergunto, olhando para a paisagem urbana do teto do galpão. Todos os prédios da cidade estão brilhando com luzes azuis, brancas e verdes. As ruas aparecem banhadas pelo tom alaranjado que se derrama das centenas de lâmpadas da iluminação pública.
— O que você esperava? — ele pergunta, pegando minha mão, e me encolho por dentro com o gesto, mas o aceito. — Um “abatedouro” de gatas chique com espelhos no teto?
Peraí... foi exatamente isso que pensei (bem, de maneira indireta), mas então por que diabos topei subir com ele? Tudo bem, agora estou começando a entrar em pânico. Acho que talvez eu esteja um pouco bêbada, afinal, senão meu juízo não estaria tão afetado. Isso me apavora e quase me deixa sóbria, pensar que eu toparia ir pra qualquer tipo de “abatedouro”, mesmo bêbada. O álcool realmente está me deixando burra, ou será que está trazendo à tona algo que não quero acreditar que tenho dentro de mim? Dou uma olhada para a porta de metal encravada na parede de tijolos e noto um brilho entre ela e o batente. Blake deixou aberta; é um bom sinal. O cara anda comigo até uma mesa de jardim feita de madeira e eu me sento nervosamente no tampo, ao lado dele. O vento passa pelos meus cabelos, puxando alguns fios para a minha boca. Levanto a mão e os afasto com o dedo.
— Ainda bem que fui eu — Blake comenta, olhando a cidade com as mãos segurando os joelhos; seus pés estão apoiados no banco.
Encolho as pernas e me sento em posição de ioga, com as mãos no colo. Olho para ele interrogativamente.
Blake sorri.
— Ainda bem que fui eu que trouxe você aqui — explica. — Uma garota linda como você lá embaixo, com todos aqueles caras... — Blake vira a cabeça para me olhar de frente; seus olhos castanhos parecem ter uma fraca luz própria no escuro. — Se fosse outro, você poderia virar a vítima de estupro estrelando seu próprio filme do Lifetime. Agora estou completamente sóbria. Assim, em apenas dois segundos, é como se eu não tivesse bebido nada. Minhas costas se endireitam na hora e inspiro profundamente, nervosa.
Onde é que eu tava com a cabeça, porra?!
— Tudo bem — Blake continua, sorrindo delicadamente e levantando as duas mãos com as palmas viradas para mim —, eu nunca faria nada com uma garota que ela não quisesse, nem com uma garota que tivesse tomado alguns drinques e apenas pensasse que queria.
Acho que escapei da morte certa. Meus ombros relaxam um pouco e sinto que consigo respirar de novo. Tipo, claro que o Blake pode estar apenas enchendo minha cabeça com mais mentiras para conquistar minha confiança, mas meu instinto me diz que ele é totalmente inofensivo. Vou ficar esperta e tomar cuidado enquanto estiver sozinha aqui em cima com ele, mas pelo menos posso relaxar. Acho que, se ele quisesse tirar vantagem de mim, não teria anunciado o possível perigo desse jeito.
Rio baixinho um pouco, pensando em algo que ele disse.
— Qual é a graça? — Ele me olha de lado, sorrindo e esperando.
— Você falou em filme do Lifetime — conto, sentindo meus lábios se abrindo num sorriso fraco e constrangido. — Você assiste a esse canal?
Ele desvia o olhar, compartilhando meu constrangimento por ele.
— Não — diz —, é só uma comparação comum.
— É mesmo? — provoco. — Não sei; você é o primeiro cara que já ouvi dizer “filme do Lifetime” numa frase.
Agora ele está corando, e estou com vontade de me bater por ficar tão feliz em ver isso.
— Bom, não conta pra ninguém, tá? — Ele faz o melhor bico que consegue.
Sorrio para Blake e olho as luzes da cidade, esperando desencorajar quaisquer esperanças que ele possa ter desenvolvido durante nossa breve e irreverente conversa. Não importa o quanto ele é legal, charmoso ou sexy, não vou ficar com ele. Simplesmente não estou pronta para nada além do que estamos fazendo agora: uma conversa inocente e amigável sem expectativas de sexo ou relacionamento. É tão difícil conversar assim com qualquer cara, porque todos sempre parecem achar que um simples sorriso significa algo mais.
— Então, me conte — ele resolve perguntar —, por que está sozinha aqui?
— Ah, não — sorrindo, balanço a cabeça e o dedo para ele —, não vamos começar com isso.
— Me dá pelo menos uma pista, vai. É só uma conversa. — Blake vira completamente o corpo para me encarar, e apoia uma perna no tampo da mesa. — Quero saber de verdade. Não é uma tática.
— Uma tática?
— É, tipo, ficar sacando os teus problemas pra achar alguma coisa e fingir que me interesso só pra te levar pra cama. Se eu quisesse te levar pra cama, simplesmente diria.
— Ah, então você não quer me levar pra cama? — Eu o olho de lado com um meio sorriso.
Um pouco derrotado, mas não desencorajado por isso, ele assume uma expressão mais branda e diz:
— Na hora certa, quero. Eu seria maluco se não estivesse a fim, mas se eu só quisesse transar com você, e tivesse subido aqui pra isso, teria avisado antes que você aceitasse.
Gostei da honestidade, e com certeza agora respeito mais esse cara, mas meu sorriso meio que congelou quando ele falou nessa coisa de “se só quisesse transar” comigo. O que mais ele poderia querer? Sair comigo e talvez começar um relacionamento? Humm, não.
— Olha — digo, recuando um pouco e deixando que ele perceba —, não tô a fim de nenhum dos dois, só pra você saber.
— Nenhum dos dois o quê? — E então ele entende “o que” um segundo depois. Ele sorri e balança a cabeça. — Tudo bem. Tô contigo nisso, só te trouxe aqui pra conversar, por incrível que pareça.
Algo me diz que se eu estivesse a fim de qualquer um dos dois, sexo ou um encontro, ou as duas coisas, Blake toparia, mas ele está se retirando suavemente sem se deixar parecer rejeitado.
— Respondendo à sua pergunta — digo, cedendo um pouco em nome da conversa —, tô solteira porque tive algumas experiências ruins, e no momento não tô querendo fazer uma nova tentativa.
Blake faz que sim.
— Entendi. — Ele desvia o olhar e a brisa agita seu cabelo louro, afastando a franja meio longa da testa. — Novas tentativas geralmente são péssimas, pelo menos no início. Só o processo de aprendizado já é um pesadelo. — Ele volta a me olhar para elaborar seu raciocínio. — Quando você tá com alguém há um tempo, você se acostuma, sabe? É aquele lance de zona de conforto. Quando a gente se acomoda na zona de conforto, na hora de tentar sair de lá, mesmo quando tudo ali é um inferno, quando não é saudável, é como tentar tirar um gordão acomodado do sofá pra obrigar ele a viver a vida. — Talvez se dando conta de que é muito cedo para ser tão filosófico comigo, Blake alivia o tom, acrescentando: — Com Jen, levei três meses pra criar coragem e fazer “número dois” quando ela tava em casa.
Rio alto, e quando crio coragem para encará-lo novamente, vejo que ele está sorrindo.Começo a ter a sensação de que Blake não superou a ex-noiva tanto quanto ele tenta acreditar. Por isso, tento lhe fazer um favor, desviando o assunto doloroso para mim antes que ele tenha um momento de compreensão e sinta o chão desabar sob os pés dele outra vez.
— Meu namorado morreu — conto de uma vez, principalmente para o bem dele. — Num acidente de carro.
A expressão de Blake murcha e ele me olha com os olhos cheios de remorso.
— Desculpa, eu não queria...
Levanto a mão.
— Não, tá tudo bem; você não fez nada. — Depois que ele balança a cabeça discretamente e espera que eu prossiga, digo: — Foi uma semana antes da formatura. — Ele põe a mão no meu joelho, mas sei que é só para me reconfortar, nada mais. Começo a contar o que aconteceu quando ouço um pou! alto e Blake cai da mesa para a laje do galpão. Aconteceu tão rápido que não vi Christopher partindo para cima dele pelo lado, nem o ouvi quando escancarou a porta de metal a vários metros.
— Christopher! — grito, enquanto ele se joga contra Blake antes que este possa se levantar, e começa a martelar o rosto dele com os punhos. — PARA! CHRISTOPHER! MEU DEUS!
Blake leva mais uma série de socos antes que eu me recupere do choque e corra para tentar tirar Christopher de cima dele. Subo nas costas de Christopher, segurando seus braços pelos pulsos, mas ele está tão concentrado em encher Blake de porrada que me sinto montada em um touro mecânico. Sou jogada longe e bato com força o traseiro e as mãos no concreto.
Blake finalmente se levanta, depois de acertar um bom soco na lateral do rosto de Christopher.
— Que porra é essa, cara?! — exclama Blake, cambaleando. Ele esfrega o queixo com uma mão continuamente, como se estivesse tentando recolocá-lo no lugar. O sangue corre do nariz e seu lábio superior está cortado e inchado. Seu sangue parece preto na escuridão.
— Você sabe que porra é essa! — Christopher ruge e tenta atacá-lo de novo, mas eu entro no meio dos dois e faço o que posso para segurá-lo. Fico na frente dele e empurro seu peito duro como pedra.
— Para com isso, Christopher! A gente só tava conversando! O que deu em você?! — estou gritando tão alto que minha voz parece distorcida.
Eu me viro, mantendo as mãos firmes no peito de Christopher, e olho para Blake.
— Desculpa, Blake, eu... eu...
— Não se preocupe — ele desconversa, com uma expressão dura de rejeição. — Eu vou nessa.
Ele se vira e sai pela porta de metal. Um bang! sonoro ecoa pelo ar quando ele a bate atrás de si. Viro para Christopher com fogo no olhar e o empurro o mais forte que posso.
— Seu babaca! Não acredito que você fez isso! — estou gritando literalmente a 5 centímetros do rosto dele.
O lábio de Christopher se contrai e ele ainda está ofegante da luta. Seus olhos escuros estão arregalados, descontrolados e meio animalescos. Parte de mim fica desconfiada dele, mas a outra parte, que o conhece há 12 anos, anula essa desconfiança.
— Que ideia é essa de subir com um cara que você acabou de conhecer? Pensei que você fosse mais esperta, Any, mesmo de cara cheia!
Dou um passo para trás e cruzo os braços, furiosa.
— Tá me chamando de burra? A gente só tava conversando! — grito, e meu cabelo louro cai em volta dos meus olhos. — Sou perfeitamente capaz de diferenciar os babacas dos caras legais, e no momento eu tô olhando pra um puta dum babaca!
Ele parece ranger os dentes por trás dos lábios apertados.
— Me chama do que quiser, mas eu só tava te protegendo — ele diz isso com uma
calma surpreendente.
— Do quê? — grito. — De uma conversa chata? De um cara que realmente só queria conversar?
Christopher sorri com desdém.
— Nenhum cara quer só conversar — afirma, como se fosse especialista no assunto. — Nenhum cara leva uma garota como você pro telhado duma porra de galpão só pra conversar. Mais dez minutos e ele ia botar tua bundinha em cima daquela mesa e fazer o que quisesse com você. Aqui ninguém escutaria teus gritos, Any.
Engulo um nó na garganta, mas outro se forma em seu lugar. Talvez Christopher esteja certo. Talvez eu tenha ficado tão cega com a personalidade sincera e secretamente magoada de Blake, que caí totalmente numa tática na qual nunca pensei. Claro que já imaginei esse tipo de situação e já vi exemplos típicos na TV, mas talvez Blake estivesse tentando outra coisa comigo... Não, não acredito. Ele me jogaria sobre a mesa de jardim se eu pedisse, mas meu coração diz que ele não faria isso.
Viro as costas para Christopher, não quero que ele veja no meu rosto qualquer sinal que possa revelar que por um segundo acreditei nele. Estou puta da vida com o modo como ele interferiu, mas não posso odiá-lo para sempre, porque o cara estava realmente apenas tentando cuidar de mim. Com uma overdose de testosterona de macho alfa, sem dúvida, mas mesmo assim tentando cuidar de mim.
— Any, olha pra mim, por favor.
Espero mais alguns segundos em desafio antes de me virar, com os braços ainda cruzados.
Christopher me olha com uma expressão mais suave do que antes.
— Desculpa, é que... — ele suspira e olha para o lado, como se não conseguisse dizero que está para dizer enquanto me olha — ... Anahí, não aguento imaginar você com outro cara.Sinto como se alguém tivesse me dado um soco no estômago. Até um gemido estranho sai da minha garganta e eu arregalo os olhos.
Olho nervosamente para a porta de metal e depois para ele de novo.
— Cadê a Dulce? — Preciso apagar completamente esse assunto. O que foi que ele acabou de dizer? Não, não pode ser o que pareceu. Acho que entendi errado. É isso, fiquei alta de novo e não estou raciocinando direito.
Christopher se aproxima de mim e segura meus cotovelos com as duas mãos. Sinto instantaneamente a necessidade de me afastar dele, mas fico parada no lugar, quase incapaz de mover qualquer coisa além dos olhos.
— É sério — ele insiste, baixando a voz para um sussurro desesperado. — Quero você desde o ginásio.
Aí está o soco no estômago de novo. Finalmente, consigo me afastar.
— Não. Não. — Balanço a cabeça de um lado para outro, tentando entender tudo isso.
— Você tá bêbado, Christopher? Ou chapado? Você tá com algum problema. — Descruzo os braços e levanto as mãos. — A gente precisa achar a Dulce. Não vou contar nada disso pra ela porque você não vai lembrar amanhã, mas a gente precisa ir mesmo. Agora.
Começo a andar na direção da porta de metal, agora fechada, mas sinto a mão de Christopher se fechando em volta do meu bíceps e me forçando a virar. Perco o fôlego, e aquela desconfiança que senti antes volta com tudo, distorcendo completamente todos os anos em que o conheci e confiei nele. Christopher me olha com uma expressão mais animalesca do que antes, mas também consegue reter certa suavidade perturbadora no olhar.
— Não tô bêbado, e não cheiro desde a semana passada.
O fato de ele cheirar qualquer quantidade de pó é mais do que suficiente para impossibilitar que eu me sinta atraída por ele, mas Christopher sempre foi um dos meus melhores amigos, e por isso sempre relevei seu uso de drogas. Mas o cara está dizendo a verdade agora, e sei disso justamente porque ele é meu amigo há tanto tempo. Pela primeira vez, desejo que ele estivesse chapado, porque aí poderíamos esquecer que isso aconteceu.
Olho para os dedos apertando o meu braço, e finalmente noto a força com que ele o está apertando, e isso me assusta.
— Solta o meu braço, Christopher, por favor.
Em vez de soltar, sinto os dedos dele apertando ainda mais e tento me desvencilhar. Christopher me puxa e, antes que eu possa reagir, esmaga minha boca com a dele, segurando minha nuca com a outra mão, forçando minha cabeça. Ele tenta enfiar a
língua na minha boca, mas consigo me afastar o suficiente para dar uma cabeçada nele.
Christopher fica tonto — e eu também — e instintivamente me solta.
— Any! Espera! — Eu o ouço gritar enquanto corro e abro a porta de metal.
Escuto os passos furiosos me perseguindo quando Christopher desce correndo pela barulhenta escada de metal, mas consigo me livrar dele ao entrar no elevador, fechando a porta pantográfica e apertando com força o botão TÉRREO. O mesmo ogro que nos recebeu na entrada está na porta quando saio, e preciso empurrá-lo um pouco para o lado para conseguir passar.
— Calma, gatinha! — ele grita, enquanto corro pela calçada e me afasto do galpão.
Eu ando até um posto da Shell e chamo um táxi para vir me buscar.
Autor(a): AvrilPuente
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Meu celular me acorda na manhã seguinte. Eu o ouço vibrando no criado-mudo ao lado da minha cabeça. DULCE MARIA aparece escrito em negrito na tela, e o rosto dela me encara com os olhos arregalados e um sorrisão cheio de dentes. Essa imagem me acorda completamente e eu me levanto, entrevada, e fico segurando o celular, deixando-o vibrar na pa ...
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