Fanfics Brasil - Capítulo O6 Entre o Agora e o Nunca - AyA

Fanfic: Entre o Agora e o Nunca - AyA | Tema: Anahí e Alfonso - Ponny


Capítulo: Capítulo O6

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sol brilhando pela janela do ônibus me acorda na manhã seguinte. Ergo o corpo para ver melhor, me perguntando se a paisagem teria mudado, mas não mudou. E então noto a música explodindo dos fones de ouvido atrás de mim. Olho discretamente por cima do encosto, esperando vê-lo dormindo profundamente, mas ele me olha e sorri como quem diz: “Não falei?”


Reviro os olhos e volto a me sentar, puxando a mala para o meu colo e mexendo nela. Começo a me arrepender de não ter trazido alguma coisa para ocupar a mente. Um livro. Palavras cruzadas. Qualquer coisa. Suspiro fundo e começo literalmente a girar os polegares. Me pergunto em que parte dos Estados Unidos estamos, se ainda é o Kansas, e concluo que deve ser, porque todos os carros que passam pelo ônibus têm placas do Kansas. Quando não acho nada interessante para olhar, começo a prestar mais atenção na música atrás de mim. Isso é...? Ah, você tá de brincadeira. Feel Like Makin’ Love jorra dos fones do cara; consigo identificar a canção pelo solo de guitarra que todos conhecem, mesmo quem não gosta muito do Bad Company. Não odeio rock clássico, mas prefiro coisas mais recentes. Pode tocar Muse, Pink ou The Civil Wars que eu fico feliz.


Levo um baita susto com os fones deslizando pelo encosto da poltrona e praticamente encostando no meu ombro. Meu corpo estremece e faço um gesto como se estivesse espantando um inseto que pousou em cima de mim.


— Que porra...? — digo, olhando para o sujeito debruçado em cima de mim novamente.


— Você parece entediada — ele diz. — Te empresto, se quiser. Pode não ser teu tipo de música, mas vai acabar gostando. Garanto.


Olho para ele fazendo uma tremenda careta. Esse cara tá falando sério?


— Obrigada, mas não — digo, me virando.


— Por que não?


— Bem, pra começar — retruco —, você tá com esse negócio enfiado no ouvido há horas. Que nojo.


— E daí?


— Como assim, e daí? — Acho que estou fazendo uma careta até pior. — Isso não basta?


Ele abre aquele sorriso torto de novo, e à luz do dia noto que ele forma duas covinhas perto dos cantos dos lábios.


— Bom — ele responde, puxando os fones de volta —, você disse “pra começar”; só achei que podia haver algum outro motivo.


— Uau — exclamo, chocada —, você é inacreditável.


— Obrigado. — Ele sorri e eu vejo seus dentes perfeitos e brancos.


Não falei aquilo como um elogio, mas algo me diz que ele sabe disso. Volto a fuçar na minha mala, já sabendo que não vou encontrar nada além de roupas, mas é melhor do que lidar com esse maluco. Ele se joga na poltrona vazia ao meu lado assim que outro passageiro passa a caminho do banheiro. Fico meio que congelada, com uma mão enfiada na mala, sem me mexer. Mesmo olhando para ele, preciso me recuperar do choque antes de decidir que tipo de esporro quero dar no cara. Ele mexe em sua mochila e tira um envelope contendo um lenço antisséptico umedecido, abre e desdobra o lencinho. Ele limpa os fones cuidadosamente e os oferece para mim.


— Como novos — anuncia, esperando que eu os aceite.


Como ele realmente parece estar apenas tentando ser simpático, baixo a guarda só um pouco.


— Sério, tô legal. Mas obrigada. — Fico surpresa em ver como superei rápido o lance de ele se sentar ao meu lado sem pedir.


— É melhor não pegar mesmo — ele diz, guardando o MP3 na mochila. — Não curto Justin Bieber nem aquela perua doida que se veste com bifes, então acho que você vai ter que ficar sem.


Tudo bem, já levantei a guarda de novo. Pode vir. Rosno para ele, cruzando os braços.


— Primeiro, eu não curto Justin Bieber. E segundo, Lady Gaga não é tão ruim. Admito que isso de ficar sempre tentando chocar tá cansando um pouco, mas tem umas coisas dela que eu gosto.


— É música de merda e você sabe — ele afirma, balançando a cabeça.


Pisco duas vezes, só porque estou confusa e não sei o que dizer. Ele deixa a mochila no chão e afunda na poltrona, apoiando uma bota nas costas da poltrona da frente, mas as pernas dele são tão compridas que aquilo me parece desconfortável. Suas botas são aquelas estilosas, com jeito de sapatos de operário. Dr. Martens, acho. Droga. Ian sempre usava botas assim. Desvio o olhar, sem clima para continuar essa conversa tão estranha com essa pessoa tão estranha. 


A velhinha que encontrei no Tennessee estava certa. Ele olha para mim, com a cabeça confortavelmente encostada no tecido áspero da poltrona.                                                 


— Bom mesmo é rock clássico — ele continua, sério, e olha para a frente. — Zeppelin, Stones, Journey, Foreigner. — Ele joga a cabeça para o lado para me encarar de novo. — Conhece algum desses?


Eu bufo e reviro os olhos de novo.


— Não sou idiota — digo, mas mudo de tom quando me dou conta de que não me lembro de muitas bandas de rock clássico e não quero fazer papel de idiota depois de dizer tão eloquentemente que não sou. — Eu gosto de... Bad Company.


Um sorrisinho ergue um dos cantos de sua boca.


— Me fala o nome de uma música do Bad Company que eu te deixo em paz.


Agora estou bem nervosa, tentando lembrar qualquer canção do Bad Company além daquela que ele estava ouvindo. Não vou olhar pra cara desse sujeito e dizer as palavras:


I Feel Like Makin’ Love.1


Ele espera pacientemente, com seu sorrisão ainda intacto.


— Ready For Love2 — exclamo, porque só consigo lembrar mais essa.


— Você tá mesmo? — ele pergunta.


— Hã?


O sorriso se abre mais no seu rosto.


— Nada — ele desconversa, desviando o olhar.


Fico vermelha. Não sei por que e não quero saber.


— Olha — digo —, dá licença? Eu meio que tava usando as duas poltronas.


Ele sorri, desta vez sem ar de zombaria nos olhos.


— Claro — ele responde, se levantando. — Mas se quiser meu MP3 emprestado, já sabe onde ele tá.


Sorrio discretamente, aliviada acima de tudo porque ele está voltando para o seu lugar sem protestar.


— Obrigada — digo, grata mesmo assim.


Antes de se sentar, ele se debruça em volta da outra poltrona e diz:


— Pra onde você tá indo mesmo?


— Idaho.


Seus olhos verdes e brilhantes parecem se iluminar quando ele sorri.


— Bom, eu tô indo pro Wyoming, então, pelo jeito, vamos tomar mais alguns ônibus juntos. — E seu rosto sorridente desaparece atrás de mim.


Ele é atraente, não vou negar. O cabelo curto e espetado, os braços musculosos e as maçãs do rosto esculpidas, as covinhas e o modo como aquela porra de sorriso idiota me faz ficar olhando pra ele mesmo quando não quero. Mas a verdade é que não estou a fim dele nem nada — é só um estranho qualquer num ônibus a caminho do nada. Nem por um decreto eu daria corda a um lance assim. E mesmo se ele não fosse um estranho, mesmo se o conhecesse há seis meses, eu não iria querer. De jeito nenhum. Nunca mais. A viagem interminável pelo Kansas parece demorar mais do que devia. Acho que nunca pensei muito em como os estados são grandes. Você olha para um mapa, e é só um pedaço de papel com fronteiras de formatos estranhos e linhazinhas tortuosas. Até o Texas parece bem pequeno visto no mapa, e viajar sempre de avião ajuda a alimentar a ilusão de que o estado mais próximo fica só a uma hora de viagem.


Mais uma hora e meia e minhas costas e a bunda já estão duras como carne velha. Fico me mexendo na poltrona, tentando achar algum jeito menos dolorido de sentar, mas isso faz espalhar a dor para o resto do corpo. Estou começando a me arrepender da minha fuga, porque viajar de ônibus é um saco. Ouço o sistema do som do ônibus apitando, e depois a voz do motorista:


— Vamos fazer uma parada daqui a cinco minutos — anuncia. — Vocês terão 15 minutos para comer alguma coisa antes de seguirmos viagem. 15 minutos. Não vou esperar ninguém. Quem não estiver no ônibus no horário vai ficar para trás. — O altofalante se cala.


O aviso faz todos se mexerem nas poltronas e pegarem suas bolsas e coisas — nada como a perspectiva de esticar as pernas depois de horas num ônibus para acordar todos. Entramos num grande pátio onde várias carretas estão estacionadas, entre uma loja de conveniência, um lava-rápido e uma lanchonete. Os passageiros ficam de pé no corredor mesmo antes de o ônibus parar. Eu estou entre eles. Minhas costas doem muito. Saímos do ônibus em fila indiana, e assim que piso lá fora, aprecio a sensação do concreto sob os meus pés e a brisa suave no meu rosto. Não me importa que esta parada fique no meio do nada, nem que as bombas de gasolina sejam tão antigas que me dão medo de imaginar os banheiros; fico feliz só de estar em qualquer lugar que não seja espremida dentro daquele ônibus. Praticamente deslizo (como uma gazela ferida e sem graça) pelo asfalto do estacionamento até o restaurante. Primeiro uso o banheiro, e depois, quando saio, há várias pessoas à minha frente na fila. Olho para o cardápio, tentando decidir entre uma porção grande de batata frita e um milk-shake de baunilha — nunca fui muito fã de fast-food. E, finalmente, quando saio do restaurante levando um milk-shake de baunilha, vejo o cara do ônibus sentado na grama entre os pátios. Seus joelhos estão dobrados e ele está comendo um hambúrguer. Não olho para ele quando passo perto, mas pelo jeito isso não basta para impedi-lo de me incomodar.


— Mais oito minutos e você vai ter que voltar praquela lata de sardinha — ele  comenta. — Vai mesmo passar esse tempo precioso lá dentro?


Paro perto de uma arvorezinha ainda amarrada a uma vareta no chão com uma tira de tecido rosa.


— São só oito minutos — digo. — Não vai fazer tanta diferença.


Ele dá uma mordidona no hambúrguer, mastiga e engole.


— Imagina se você estivesse enterrada viva — ele insiste, tomando um gole de refrigerante. — Não ia levar muito tempo pra morrer sufocada. Se te achassem oito minutos antes, caramba, até um minuto, ainda estaria viva.


— Tá, entendi — admito.


— Não tenho nenhuma doença contagiosa — ele continua, dando outra mordida.


Acho que fui meio babaca mesmo. Claro que de certa forma ele mereceu, mas não está sendo desagradável nem nada, então não há motivo para manter a guarda toda erguida. Prefiro não fazer nenhum inimigo nesta viagem, se eu puder evitar.


— Tanto faz — digo, e me sento na grama na frente dele.


— Por que Idaho? — ele pergunta, embora esteja olhando mais para a sua comida e ao seu redor do que diretamente para mim.


— Vou visitar minha irmã — minto. — Ela acabou de ter um bebê.


Ele balança a cabeça e deglute.


— Por que Wyoming? — pergunto, tentando desviar o assunto de mim.


— Vou visitar meu pai — o cara me conta. — Ele tá morrendo. Tem um tumor inoperável no cérebro. — Ele dá mais uma mordida. O que acabou de me contar não parece perturbá-lo muito.


— Oh...


— Não se preocupe — ele me tranquiliza, desta vez me olhando por um momento. — Todo mundo precisa partir um dia. Meu velho não tá preocupado com isso e falou pra gente também não ficar. — Ele sorri e olha para mim de novo. — Na verdade, ele falou que tira do testamento quem começar com essa merda de chorar. 


Tomo um pouco do meu shake de baunilha, só para ocupar a boca e não ter que responder ao que ele está dizendo. Nem sei se eu teria resposta, na verdade.


Ele toma mais um gole.


— Qual o seu nome? — pergunta, deixando o copo sobre a grama.


Fico pensando se devo dizer meu verdadeiro nome.


— Any — digo, optando pela versão abreviada.


— Só Any?


Isso eu não esperava. Hesito, desviando os olhos.


— Anahí — admito. Penso que, com todas as mentiras que vou ter que lembrar, é melhor pelo menos dizer meu nome verdadeiro. É uma informação tão sem importância que não vou precisar ficar me lembrando de ocultar.


— O meu é Alfonso. Alfonso Herrera.


Balanço a cabeça e sorrio discretamente, nem um pouco a fim de dizer que meu sobrenome é Puente. Ele vai ter que se contentar só com o primeiro nome.


Enquanto ele termina o hambúrguer e mastiga algumas batatas fritas, eu o estudo disfarçadamente e noto tatuagens aparecendo sob as duas mangas da camiseta. Ele não deve ter mais do que 25 anos, se tanto.


— Então, quantos anos você tem? — Mesmo assim, pareceu uma pergunta pessoal


demais. Espero que ele não a interprete como algo que não existe.


— Vinte e cinco — ele diz. — E você?


— Vinte.


Ele me olha, pensativo, fica em silêncio e aperta um pouco os lábios.


— Bom, muito prazer, Anahí, apelido Any, 20 anos, a caminho de Idaho pra ver a irmã que acaba de ter um bebê.


Meus lábios sorriem, mas meu rosto não. Vai levar um tempo antes que eu consiga lhe dirigir um sorriso genuíno. Sorrisos genuínos às vezes passam a impressão errada. 


Ao menos desse jeito posso ser educada e gentil, mas não educada a ponto de ir parar no porta-malas de um carro com a garganta cortada depois de alguns sorrisões.


— Então você é do Wyoming? — pergunto, tomando mais um gole do meu shake.


Ele balança a cabeça uma vez.


— Sou, nasci lá, mas meus pais se divorciaram quando eu tinha 6 anos e a gente se mudou pro Texas.


Texas. Engraçado. Talvez eu esteja pagando a língua por toda a minha conversa fiada sobre as botas de caubói e a reputação dos texanos. E ele não parece texano, ao menos não do jeito estereotipado que todos imaginam quem vem do Texas.


— É pra lá que vou depois de visitar meu pai. E você?


E agora, mentir ou não mentir? Ah, dane-se. Afinal, ele não é nenhum detetive particular enviado pelo meu pai para obter informações. Contanto que eu evite dar 1) meu sobrenome, e 2) qualquer endereço ou telefone que possa levá-lo até minha casa — caso um dia eu volte para lá — e me fazer terminar no porta-malas do carro dele com a garganta cortada. Acho que dizer o máximo possível da verdade vai ser bem mais fácil do que tentar inventar mentiras plausíveis para quase toda pergunta que ele fizer, e depois ter que lembrar tudo mais tarde. Vai ser uma viagem muito longa, e como ele disse, vamos pegar vários ônibus juntos antes que cada um vá pro seu lado.


— Sou da Carolina do Norte — digo.


Ele me olha de alto a baixo.


— Bom, você não parece ser da Carolina do Norte.


Hã? Tá, isso foi esquisito.


— Certo, e como deve ser uma garota da Carolina do Norte?


— Você é muito literal — ele diz sorrindo.


— E você me deixa meio confusa.


— Nem — ele diz num rosnado inofensivo e bem-humorado —, é que eu falo o que penso, e às vezes as pessoas não aguentam uma parada assim. Tipo, se você perguntar praquele cara se esse jeans te deixa gorda, ele vai dizer que não. Se você me perguntar, vou dizer a verdade; tudo o que foge às expectativas normais deixa as pessoas desorientadas.                                                       


— É mesmo? — Não estou nem um pouco mais perto de entender a personalidade desse cara do que estava antes de saber o nome dele. Simplesmente continuo a olhá-lo como se ele fosse doido e eu estivesse meio intrigada por isso.


— Mesmo — ele responde, sério.


Espero que ele elabore o raciocínio, mas ele não continua.


— Você é muito bizarro — resmungo.


— Bom, você não vai perguntar?


— Perguntar o quê?


Ele ri.


— Se eu acho que esse jeans te deixa gorda.


Sinto meu rosto se contraindo.


— Prefiro não... eu... hãã... — Dane-se de novo. Se ele quer brincar, não vou ficar quieta e deixar que ele ganhe todas as rodadas. Abro um sorrisinho e digo: — Eu sei que este jeans não me deixa gorda, portanto, não preciso da tua opinião.


Um sorriso diabolicamente lindo surge nos cantos de sua boca. Ele toma mais um gole de refrigerante e fica de pé, estendendo a mão.


— Parece que nossos oito minutos acabaram.


Talvez seja por ainda estar completamente confusa com toda essa conversa, mas aceito sua mão e ele me ajuda a levantar.


— Viu? — ele diz, me olhando uma vez e soltando minha mão. — Olha só quanta coisa descobrimos um sobre o outro em apenas oito minutos, Anahí.


Ando ao lado dele, mas mantenho uma certa distância. Ainda não sei bem se suas respostas elaboradas e aquele ar autoconfiante me aborrecem, ou se estou achando tudo isso mais estimulante do que minha mente quer admitir. 


Todos no ônibus estão voltando para os seus lugares. Deixei a revista que peguei na última rodoviária em cima do meu, esperando que ninguém aparecesse para ocupá-lo. Poncho também voltou a ocupar seu par de poltronas atrás das minhas. Fico feliz que ele não tenha confundido minha disposição de conversar com uma autorização para se aboletar na poltrona ao meu lado.


Horas se passam e não conversamos mais. Eu penso muito em Dulce e Ian.


— Boa noite, Anahí — ouço Poncho dizer da poltrona atrás de mim. — Talvez amanhã você me conte quem é Dul.


Eu me levanto bruscamente e olho por cima do alto da poltrona.


— Que história é essa?


— Calma, garota — ele diz, levantando a cabeça da mochila que apoiou na lateral do ônibus para usar de travesseiro. — Você fala dormindo. — Ele ri baixinho. — Te ouvi reclamando de alguém chamado Dul ontem à noite, falando de xampu ou alguma porra assim. — Noto que ele está de ombros encolhidos, mesmo com as pernas esticadas por cima da poltrona vazia e os braços cruzados no peito.


Que legal. Eu falo dormindo. Perfeito. Por que será que mamãe nunca me contou isso? Penso um pouco no que eu podia estar sonhando, e me dou conta de que talvez eu tenha estado sonhando, enfim, e apenas não me lembro mais.


— Boa noite, Poncho — digo, e escorrego para baixo, também tentando achar uma posição confortável. Pondero rapidamente em como Poncho estava deitado, que parecia bem confortável, e decido tentar me deitar da mesma forma. Já tinha pensado em tentar dormir assim, mas não quis ser grosseira, esticando os pés no corredor. Acho que ninguém vai se importar, por isso afofo minha mala de roupas e a coloco debaixo da minha cabeça, estendendo o corpo sobre as duas poltronas, como Alfonso.  Já estou confortável. Queria ter feito isso há muito tempo. O motorista, anunciando que vamos chegar em Garden City daqui a dez minutos, me acorda na manhã seguinte.  


— Verifiquem se pegaram todos os seus pertences — o motorista avisa pelo sistema de som — e não deixem lixo nas poltronas. Obrigado por viajar pelo grande estado do Kansas, e espero que nos encontremos novamente.


Parecia completamente ensaiado e sem emoção, mas aí pensei que provavelmente eu também falaria assim, se tivesse que dizer a mesma coisa para os passageiros todo santo dia. Acabo de me levantar, pegando minha mala do banco e abrindo-a para procurar a passagem. Eu a encontro amassada entre um jeans e minha camiseta vintage dos Smurfs, desdobro-a e consulto minha próxima conexão. Parece que Denver fica a seis horas e meia daqui, com duas paradas na estrada. Cacete, por que fui escolher Idaho? Francamente. Com tantos lugares no mapa, escolhi meu destino baseada numa batata assada.


Estou indo pra tão longe e não tenho nada me esperando quando chegar lá. A não ser mais viagens. Caramba, eu podia usar o cartão de crédito de uma vez e comprar uma passagem de avião pra casa. Não, ainda não estou pronta pra isso. Não sei por que, mas sei que ainda não posso voltar. Simplesmente não posso. Surpresa com o silêncio de Alfonso, me vejo tentando espiá-lo pela frestinha entre as poltronas, mas não consigo ver nada.


— Você tá acordado? — pergunto, levantando o queixo para que ele me ouça lá atrás.


Ele não responde e me levanto para olhar. Claro que ele está usando o fone de ouvido. Fico chocada por não ouvir a música escapando dos fones, desta vez. Poncho me nota e sorri, erguendo a mão e balançando o indicador, como que para dizer bom-dia. Também mexo um dedo, apontando para a frente do ônibus para avisá-lo de que a chegada já foi anunciada. Ele tira os fones dos ouvidos e me olha, esperando que eu explique o gesto com palavras.


1 Estou a fim de fazer amor. (N. da T.)


2 Pronta para o amor. (N. da T.)


 



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Autor(a): AvrilPuente

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • _cpaes Postado em 29/09/2014 - 18:13:16

    ADOREEEI, QUERO MAISSS... Se der dá uma passada na minha: http://fanfics.com.br/fanfic/32512/te-quedaras-vondy-vondy-rebelde-rbd Beijooos e continua...


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