Fanfics Brasil - Capítulo O8 Entre o Agora e o Nunca - AyA

Fanfic: Entre o Agora e o Nunca - AyA | Tema: Anahí e Alfonso - Ponny


Capítulo: Capítulo O8

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Anahí 


— Mais dez minutos — eu digo —, e vamos sair desta lata de sardinha.


Poncho sorri, ergue o corpo da poltrona e guarda seu MP3. Não sei ao certo por que senti a necessidade de contar isso a ele.


— Dormiu melhor? — ele pergunta, fechando a mochila.


— É, até que dormi — admito, me esticando para apalpar minha nuca, onde não sinto nenhum músculo embolado desta vez. — Obrigada pela sugestão involuntária.


— Disponha sempre — ele diz com um sorrisão. — Denver? — pergunta, olhando para mim.


Presumo que ele esteja perguntando se essa é a minha próxima conexão.


— É, daqui a quase sete horas.


Poncho balança a cabeça, parecendo tão insatisfeito quanto eu com a duração da viagem.


Dez minutos depois, o ônibus encosta na rodoviária de Garden City. Tem três vezes mais gente ali do que na última rodoviária, e isso me preocupa. Abro caminho pelo terminal até o primeiro banco vazio que encontro, porque eles estão sendo ocupados rapidamente. Poncho desaparece num canto, passando por baixo da placa que indica as lanchonetes, e volta com um Mountain Dew e um saco de batata frita. 


Ele se senta ao meu lado e abre a lata de refrigerante.


— Que foi? — pergunta, olhando para mim.


Não percebi que o estava observando tomar aquele refrigerante com uma expressão enojada.


— Nada — respondo, desviando o olhar —, só acho isso um nojo.


Eu o ouço rir baixinho ao meu lado, e então ele abre o saco de batata frita.


— Pelo jeito, você acha um monte de coisas um nojo.


Olho de novo para ele, ajeitando minha mala no colo.


— Quando foi a última vez que você comeu alguma coisa menos... causadora de infarto?


Ele mastiga mais uma batata e engole.


— Eu como o que eu estiver a fim de comer. Você é o quê, uma daquelas vegetarianazinhas metidas que reclamam que o fast-food tá fazendo o país todo engordar?


— Não sou uma dessas — respondo —, mas acho que as vegetarianazinhas metidas podem ter razão.


Ele mastiga mais algumas fritas e toma um gole de refrigerante, sorrindo para mim.


— Não é a fast-food que faz as pessoas engordarem — ele argumenta, sem parar de mastigar. — As pessoas fazem suas próprias escolhas. As redes de fast-food só tiram proveito da burrice dos americanos que decidem comer aquilo.


— Você tá se chamando de americano burro? — Eu retribuo o sorriso.


Ele dá de ombros.


— Acho que sou, quando minha escolha está limitada a máquinas de refrigerantes e lanchonetes pé-sujo.


— Ah, tá — eu exclamo, revirando os olhos. — Até parece que você ia escolher comer algo melhor, se tivesse escolha. Fala sério.


Acho que estou melhorando nessas alfinetadas.


Ele ri alto.


— Com certeza eu ia escolher algo melhor. Prefiro sempre um filé de cinquenta dólares em vez de um hambúrguer dormido, ou uma cerveja em vez de um refri.


Balanço a cabeça, mas não consigo parar de sorrir completamente.


— O que você come normalmente, afinal? — ele pergunta. — Saladas e tofu?


— Eca — reclamo, torcendo o nariz. — De jeito nenhum eu comeria tofu, e saladas são só um modismo pra quem quer emagrecer. — Fico em silêncio e sorrio para ele. — Sinceramente?


— Sim, claro, desembucha — ele diz.


Ele está me olhando como se eu fosse algo engraçado e bonitinho que precisa ser estudado.


— Gosto de macarrão enlatado com almôndegas e sushi.


— O que, tudo isso misturado? — Agora ele parece discretamente enojado.


Demoro alguns segundos para entender.


— Ah, não — digo, balançando a cabeça —, isso também seria um nojo, aliás.


Ele sorri, parecendo aliviado.


— Não sou muito fã de carne — continuo —, mas acho que comeria um filé, se alguém me oferecesse.


— Ah, então você tá me pedindo pra te convidar pra jantar? — Seu sorriso acaba de aumentar.


Eu arregalo os olhos e meu queixo cai.


— Não! — exclamo, praticamente corando de vergonha. — Eu só tava dizendo que...


Poncho ri e toma mais um gole.


— Eu sei, eu sei — ele diz —, não se preocupe. Eu jamais pensaria em te convidar pra um encontro.


Eu arregalo os olhos e abro a boca mais ainda e sinto meu rosto pegando fogo.


Ele ri mais alto.


— Caramba, garota — ele continua, ainda rindo enquanto fala —, você não é muito rápida pra sacar as coisas, é?


Eu franzo a testa. Ele franze a testa também, mas de certa forma ainda está sorrindo ao mesmo tempo.


— Vamos fazer o seguinte — ele decide, parecendo um pouco mais sério —, se a gente tiver a sorte de encontrar, numa dessas paradas, um restaurante que consiga preparar um filé nos 15 minutos que temos antes de o ônibus deixar a gente pra trás, eu vou te convidar, e enquanto a gente come o filé no ônibus, você decide se isso será um encontro ou não.


— Bom, posso te dizer desde já que não vai ser.


Ele sorri obliquamente.


— Então não vai — diz. — Pra mim tá bom assim.


Acho que ele encerrou o assunto, mas aí de repente ele acrescenta:


— Mas então o que vai ser, se não for um encontro?


— Como assim? — digo. — Vai ser um lance de amizade, acho. Sabe, duas pessoas fazendo uma refeição juntas.


— Ah — ele diz, com um brilho nos olhos —, então agora somos amigos?


Isso me pega desprevenida. Ele é bom. Penso por um momento, franzindo os lábios contemplativamente.


— Claro — digo. — Acho que somos tipo amigos, pelo menos até Wyoming.


Ele estica o braço e me oferece sua mão. Relutantemente, eu a aperto. Seu aperto é delicado, mas firme, e seu sorriso é genuíno e gentil.


— Amigos até Wyoming, então — ele conclui, balançando minha mão uma vez e soltando.


Não sei ao certo o que acaba de acontecer, mas não sinto que fiz algo de que vá me arrepender mais tarde. Acho que não há nada errado em ter um “amigo” de viagem. Posso imaginar mil tipos diferentes de pessoa que Poncho poderia ser e que seriam piores. Mas ele parece inofensivo, e admito que é interessante conversar com ele. Não é uma velhinha querendo me contar histórias de quando tinha a minha idade, ou um homem mais velho e iludido que ainda se imagina tão gato quanto era aos 17 anos e acha que de alguma forma consigo ver o que ele era nessa época. Não, Poncho é o proverbial meio-termo virtuoso, a escolha de Cachinhos Dourados. Claro que seria melhor, por vários motivos, se ele fosse uma garota, mas pelo menos está na minha faixa etária e não é nem um pouco feio. Não, Alfonso Herrera passou longe da fila da feiura. Na verdade, ele entrou várias vezes na fila da gostosura, e acho que essa é a única coisa que me incomoda nessa situação toda. Você sabe muito bem que não importa tanto o que esteja acontecendo na sua vida, quem você perdeu, quanto você odeia o mundo ou quão inadequado seja se sentir atraída por alguém antes que a fase de recuperação chegue a uma etapa aceitável. Você continua humana, e assim que vê alguém atraente, não tem como não notar. É da nossa natureza. Por outro lado, agir motivada por isso é outra história, e é aí que eu ponho o meu limite. Isso não vai acontecer, haja o que houver. Mas, sim, o fato de ele ser gato me incomoda porque significa simplesmente que vou ter que me esforçar muito mais para garantir que nada que eu diga ou faça passe a impressão errada. Caras gatos sabem que são gatos. Sabem e pronto, até aqueles que não ficam se mostrando. E também é da natureza humana dos caras gatos achar automaticamente que um sorriso inocente ou uma conversa que continua por três minutos sem nenhum silêncio constrangedor são sinais de atração.  


Portanto, essa “amizade” vai me dar muito trabalho. Eu quero ser legal, mas não legal demais. Quero sorrir quando for necessário, mas preciso tomar cuidado e medir o nível do sorriso. Quero rir quando ele disser algo engraçado, mas não quero que ele pense que é uma risada do tipo cara-tô-tão-parada-na-tua. É, isso vai me dar trabalho mesmo. Talvez uma velhinha fosse melhor, no fim das contas... Poncho e eu esperamos no terminal quase uma hora até que o próximo ônibus encosta na rodoviária. E, como era de se imaginar, parece que não vamos ter duas poltronas livres para cada um, desta vez. Pelo tamanho da fila de embarque, já estou vendo que talvez não tenha lugar sentado pra todo mundo. Dilema. Saco. Poncho e eu somos amigos temporários de repente, mas não consigo pedir que ele se sente comigo. Isso pode contar como uma daquelas coisas que dão a impressão errada. Portanto, enquanto a fila avança e ele vem logo atrás de mim, estou torcendo para que ele decida se sentar ao meu lado por conta própria. Antes ele do que alguma pessoa com quem nem conversei. Vou para o meio do ônibus e acho duas poltronas vazias, passo a do corredor e me sento na janela. Ele se senta ao meu lado e eu fico secretamente aliviada.


— Já que você é menina — diz, pondo a mala no chão entre os pés —, vou te deixar sentar na janelinha.


Ele sorri.


Depois que o ônibus enche e eu já consigo sentir o calor humano extra emanando de tanta gente apertada no mesmo espaço, ouço a porta ranger e o ônibus entrar em movimento.  A viagem não parece tão longa e tortuosa, agora que tenho alguém para conversar. Só levou uma hora de conversa constante sobre tudo, desde as bandas de rock clássico favoritas dele até o motivo de eu gostar da Pink e o quanto acho que as músicas dela são melhores do que Boston ou Foreigner, que para mim soam iguais. Discutimos isso durante vinte minutos dessa hora — ele é muito teimoso, mas diz o mesmo de mim, então acho que a culpa é dos dois. E eu conto quem é “Dul”, mas não entro nos detalhes sanguinolentos do meu relacionamento com ela. Quando anoitece, me dou conta de que não houve um só momento de silêncio constrangedor entre nós desde que subimos no ônibus e ele decidiu se sentar ao meu lado.


— Quanto tempo vai ficar em Idaho?


— Uns dias.


— E aí vai voltar de ônibus? — Estranhamente, o rosto de Poncho perdeu todo o bom humor.


— Vou — respondo, sem querer me aprofundar muito nesse assunto porque ainda não sei as respostas.


Eu o ouço suspirar.


— Não é da minha conta — ele diz me olhando, e sinto o espaço entre nós diminuindo, porque ele está sentado tão perto —, mas você não deveria viajar sozinha assim.


Não olho para ele.


— Bom, eu meio que preciso.


— Por quê? — ele pergunta. — Não tô te paquerando nem nada, mas é perigoso para uma garota jovem e diabolicamente linda como você viajar sozinha pelas bibocas de rodoviárias dos Estados Unidos.


Sinto meu rosto se abrindo num sorriso, mas tento futilmente escondê-lo. 


Olho para ele.


— Você não tá me paquerando — retruco —, mas me chama de “diabolicamente linda”


e praticamente usa a velha cantada do “o que uma garota como você faz num lugar


assim” na mesma frase.


Ele parece um pouco ofendido.


— Tô falando sério, Anahí — ele insiste, e o meu sorriso brincalhão se dissolve. —


Você pode se machucar de verdade.


Tentando mudar o assunto constrangedor, sorrio e digo:


— Não se preocupe. Confio na minha capacidade de gritar bem alto se eu for atacada.


Ele balança a cabeça e respira fundo, cedendo aos poucos às minhas tentativas de


aliviar o clima.


— Então, me fala do seu pai — digo.


O quase sorriso desaparece do rosto de Poncho e ele desvia o olhar. Não foi por acaso que toquei nesse assunto assim. Não sei, mas tenho a estranha sensação de que ele está escondendo alguma coisa. No Kansas, quando ele falou rapidamente que seu pai estava morrendo, exteriormente isso não pareceu afetá-lo. Mas se está indo tão longe, de ônibus, ainda por cima, para ver o pai antes que morra, então deve amá-lo. Sinto muito, mas você nunca fica indiferente quando alguém que você ama morre ou está morrendo. Isso parece estranho vindo de mim, que não consigo mais chorar.


— Ele é um bom homem — Poncho diz, ainda olhando para a frente. Sinto que está imaginando o pai agora, que não está vendo nada diante de si a não ser suas lembranças.


Ele, então, olha para mim sorrindo, mas não é um sorriso que tenta acobertar alguma dor, mas sim motivado por uma boa lembrança. 


— Em vez de me levar pra ver um jogo de beisebol, meu pai me levou pra ver uma luta de boxe.


— É mesmo? — Sinto meu sorriso se iluminando. — E como foi?


Ele volta a olhar para a frente, mas a ternura não deixa mais seu rosto neste momento.


— Papai queria que fôssemos lutadores... — Ele olha para mim. — Não lutadores de boxe ou de verdade, embora ele também não se incomodasse se a gente fosse. Mas tô dizendo lutadores no geral, sabe, na vida. Metaforicamente.


Balanço a cabeça para mostrar que entendi.


— Fiquei sentado perto do ringue, com 8 anos de idade, hipnotizado por aqueles dois homens batendo um no outro, e o tempo todo ouvia meu pai falando por cima do barulho do público, ao meu lado: “Eles não têm medo de nada, filho”, ele dizia. “E todos os movimentos deles são calculados. Cada movimento que fazem pode funcionar ou não, mas eles aprendem alguma coisa a cada movimento, a cada decisão.”


Poncho me olha nos olhos por um momento e seu sorriso se dissolve, deixando sua expressão neutra.


— Ele me contou que um lutador de verdade nunca chora, nunca deixa o peso de um golpe derrubá-lo. A não ser aquele golpe final, o inevitável, mas até nessa hora, eles sempre caem como homens. Também não estou mais sorrindo. Não sei exatamente o que se passa pela cabeça de Poncho agora, mas compartilhamos o mesmo humor sóbrio. Quero perguntar se ele está bem, porque é óbvio que não está, mas o momento não parece adequado. É esquisito, porque não o conheço o suficiente para ficar cavoucando em suas emoções.


Não digo nada.


— Você deve me achar um babaca — Poncho comenta.


Eu pisco, surpresa.


— Não — respondo. — Por que você diz isso?


Ele recua imediatamente e minimiza a seriedade de sua pergunta, deixando aquele sorriso devastador aflorar à superfície novamente.


— Vou ver o velho antes que ele bata as botas — Poncho explica, e suas palavras me chocam um pouco —, porque é isso que a gente faz, certo? É um costume, como dizer “saúde” quando alguém espirra, ou perguntar pra alguém como foi seu fim de semana quando na verdade você tá pouco se fodendo.


Cacete, de onde está vindo tudo isso?


— É preciso viver no presente — ele continua, e eu fico discretamente atordoada. — Não acha? — Sua cabeça pende para o lado e ele me olha novamente.


Levo um momento para organizar as ideias, mas mesmo assim não sei ao certo o que dizer.


— Viver no presente — repito, mas ao mesmo tempo pensando na minha própria crença de amar no presente. — Acho que você tem razão. — Mas fico imaginando exatamente qual a visão dele dessa crença.


Endireito as costas na poltrona e levanto a cabeça um pouco para examiná-lo mais de perto. É como se de repente eu tivesse um enorme desejo de saber tudo sobre a crença dele. Saber tudo sobre ele.


— O que viver no presente significa pra você? — pergunto.


Noto que uma das suas sobrancelhas treme por um segundo e ele muda sua expressão, surpreso com a seriedade da minha pergunta ou o nível do meu interesse. Com as duas coisas, talvez.


Ele endireita as costas e levanta a cabeça também.


— Apenas que ficar se prendendo e planejando é besteira — ele diz. — Se você fica se prendendo no passado, não consegue seguir em frente. Se passa muito tempo planejando o futuro, você se empurra pra trás ou fica estagnada no mesmo lugar a vida toda. — Seus olhos encontram os meus. — Viva o momento — ele diz, como se estivesse dizendo algo sério — aqui, onde tudo está certo, vá com calma e limite suas más lembranças e você chegará ao seu destino, seja qual for, muito mais rápido e com menos acidentes de percurso.                                          


O silêncio entre nós é apenas o de duas mentes pensando no que ele acabou de dizer. Me pergunto se os pensamentos dele são iguais aos meus. Também me pergunto, mais do que quero admitir, por que tantos pensamentos dele já me fazem sentir que estou me olhando no espelho quando olho para ele. O ônibus corre pesadamente pela estrada, sempre barulhento, raramente com suavidade. Mas depois de tanto tempo, é fácil esquecer o quanto a viagem de ônibus é desagradável, comparada ao luxo de um carro. E quando você pensa mais nos aspectos positivos de uma viagem de ônibus do que nos negativos, é fácil esquecer que há qualquer coisa negativa nela. Tem um cara ao meu lado com lindos olhos verdes e um lindo rosto esculpido e uma linda maneira de pen sar. Não existe viagem de ônibus ruim quando você está na companhia de uma coisa linda. Eu não deveria estar aqui...


 



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Autor(a): AvrilPuente

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Alfonso Não acredito que  ela mencionou meu pai. Não que eu esteja puto, mas fico surpreso por ela parecer realmente querer saber. Até por ela lembrar. Ela não começou a fazer perguntas sobre qual o meu trabalho para calcular quanto eu ganho, nem deu risadinha e ficou vermelha e fez cara de idiota enquanto tocava minhas tatuagens ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • _cpaes Postado em 29/09/2014 - 18:13:16

    ADOREEEI, QUERO MAISSS... Se der dá uma passada na minha: http://fanfics.com.br/fanfic/32512/te-quedaras-vondy-vondy-rebelde-rbd Beijooos e continua...


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