Fanfic: Entre o Agora e o Nunca - AyA | Tema: Anahí e Alfonso - Ponny
Alfonso
Não acredito que ela mencionou meu pai. Não que eu esteja puto, mas fico surpreso por ela parecer realmente querer saber. Até por ela lembrar. Ela não começou a fazer perguntas sobre qual o meu trabalho para calcular quanto eu ganho, nem deu risadinha e ficou vermelha e fez cara de idiota enquanto tocava minhas tatuagens, usando-as como uma desculpa para me tocar. Broxante demais. Quer dizer, claro, é excitante quando tudo o que você quer é transar — facilita as coisas —, mas por alguma razão fiquei muito feliz por Anahí não ter feito isso. Quem é essa garota, caramba? E por que é que estou pensando nessas coisas? Ela pega no sono na minha frente com a cabeça encostada na janela. Resisto ao desejo de ficar olhando para ela, notando como parece delicada e inocente, o que me deixa muito mais primitivo, mais protetor.
O tarado parece ter parado de espiá-la quando nos viu sentar juntos na última rodoviária. Na sua visão masculina, ele provavelmente a vê como meu “território” agora, minha propriedade. E isso é bom, porque significa que vai deixá-la em paz enquanto eu estiver por perto. Mas o lance é que só vamos viajar juntos até Wyoming, e isso me deixa preocupado pra caralho. Espero que o homem tome outro ônibus antes que Anahí e eu precisemos nos separar. Mais duas paradas daqui até Denver — torço muito para Denver ser o destino final dele, e se não for, vou ficar de olho nele o resto da viagem até Wyoming. Ele não vai para Idaho. Eu mato o filho da puta primeiro. Olho através da escuridão e do silêncio do ônibus. O homem está dormindo, com a cabeça encostada na poltrona do corredor. Uma mulher está sentada ao lado dele na janela, mas é velha demais para chamar a atenção desse cara. Ele gosta das novinhas, provavelmente muito novinhas. Dá vontade de vomitar só de pensar no que ele já pode ter feito com alguma outra garota.
Apesar de o ônibus normalmente ser barulhento, com o assobio do vento contra o metal, o barulho da borracha girando sobre o asfalto, o motorzão roncando enquanto empurra a enorme carcaça pela estrada, está tudo quieto. Quase tranquilo. Tão tranquilo quanto uma viagem de ônibus pode ser. Enfio os fones nos ouvidos e ligo o MP3, pondo no modo aleatório. O que vai ser? O que vai ser? Sempre deixo a primeira música determinar o clima. Tenho mais de trezentas faixas neste troço. Trezentos climas diferentes. Mas acho que meu MP3 é viciado, porque a primeira música quase sempre é Dust in the Wind, do Kansas, Going to California, do Zeppelin, ou alguma do Eagles. Espero pela primeira música sem olhar o aparelho, como se fosse um jogo de adivinhação e eu não quisesse trapacear. Ah, boa escolha. Dream On, do Aerosmith. Apoio a cabeça no encosto e fecho os olhos, sem perceber, até tê-lo feito, que meu dedo está apertando o botão para abaixar o volume. Porque não quero acordar Anahí. Abro os olhos e me viro para ela, vendo como Any segura a mala tão apertado que deve ter consciência da bagagem mesmo no sono profundo. Me pergunto o que tem ali dentro, quem sabe alguma coisa que possa me revelar mais a respeito dela. Quem sabe alguma coisa que possa me revelar a verdade a respeito dela. Mas não importa. Não vou mais conhecê-la depois do Wyoming, e ela provavelmente não vai lembrar mais nem meu nome. Mas sei que é melhor assim. Tenho bagagem demais, e mesmo como amigo não seria bom descarregá-la no colo dela. Eu não desejaria isso pra ninguém.
A voz suave e melodiosa de Steven Tyler me embala até que eu fico meio adormecido. Menos naquela parte, quando ele dá um grito agudo, aí espero até ele soltar tudo e depois eu apago de verdade.
— Cara, fala sério — ouço uma voz dizer.
Algo está fazendo força contra meu ombro. Acordo e vejo Anahí me empurrando com seus bracinhos. Na verdade é meio engraçado, aquela cara amassada dela de manhã, e por mais força que ela faça, meu corpo é pesado demais para ela conseguir me tirar do lugar.
— Foi mal — respondo, ainda tentando acordar. Me endireito, desorientado, e sinto minha nuca dura como um pedaço de pau. Eu não queria que minha cabeça fosse parar em cima do braço dela, mas não estou tão constrangido com isso quanto ela finge estar. Bem, tenho quase certeza que ela está fingindo. Está fazendo muita força para não sorrir. Vou ajudá-la um pouco. Abro um sorrisão para ela.
— Você acha isso engraçado? — ela reclama, com a boca semiaberta e o cenho franzido naquela testa lindinha.
— Sim, eu acho mesmo. — Meu sorriso aumenta e finalmente o dela também se abre suavemente em seu rosto. — Mas foi mal, desculpa. Sério. — E estou falando sério mesmo.
Ela aperta um olho e me olha de lado, avaliando minha sinceridade, o que também é uma graça.
Viro a cabeça e estico os braços para me espreguiçar, e isso me faz bocejar.
— Que nojo! — ela diz, e essa palavra não me surpreende nem um pouco. — Teu bafo tá com cheiro de bunda.
Uma risada curta e volúvel acompanha minhas palavras:
— Cacete, mulher, como é que você sabe qual é o cheiro de bunda, hein?
Isso cala a sua boca. Rio de novo e mexo na minha mochila, depois de jogar o MP3 dentro dela. Abro o meu tubo de pasta de dentes, ponho um pouco de pasta na ponta da língua, bochecho bem e depois engulo. Claro que Anahí está me olhando com cara de nojo enquanto faço tudo isso, mas era o que eu queria. O resto do ônibus parece ter acordado antes de mim. Fico surpreso por ter dormido tanto e sem acordar pelo menos três vezes para procurar outra posição confortável, que nunca encontro. Meu relógio diz que são 9h02.
— Onde a gente tá, afinal? — pergunto, olhando pela grande janela ao lado de Anahí, procurando alguma placa na estrada.
— A umas quatro horas de Denver — ela responde. — O motorista acabou de anunciar outra parada daqui a dez minutos.
— Que bom — comento, esticando uma perna no corredor. — Preciso andar um pouco. Tô todo duro.
Vejo que ela sorri, mas vira o rosto para a janela. Todo duro. Certo, então ela também tem mente poluída. Rio só de pensar nisso.
O lugar da próxima parada não é muito diferente das últimas, com uma série de postos de gasolina dos dois lados da estrada e duas lanchonetes. Não acredito que essa garota realmente me fez considerar se devo comer numa delas ou não, quando normalmente eu faria isso sem pensar duas vezes. Não sei dizer se é porque quero provar a ela que sou capaz de escolher coisa melhor para comer quando tenho opção, ou porque sei que ela vai me dar bronca. Peraí, cacete. Quem está no controle da situação aqui? Claro que ela está. Droga. Saímos do ônibus em fila, Anahí na minha frente, e depois de contornar a frente do ônibus, ela para e se vira, cruzando os braços e me olhando, apertando os lábios.
— Bom, se você é tão esperta — digo, parecendo um moleque do primário, admito —, então vamos ver se consegue achar alguma coisa saudável pra comer, e que não tenha gosto de borracha com molho de merda, num lugar como este.
Um sorriso ergue um lado de sua boca.
— Combinado — diz, aceitando o desafio.
Entro atrás dela na gigantesca loja de conveniência, e ela vai primeiro para as geladeiras de bebidas. Como aquela loura daquele game show (não sei qual deles porque não vejo nenhum game show, mas todo mundo conhece essa loura), Anahí gesticula diante das portas de vidro da geladeira, como se estivesse me revelando o mundo dos sucos de fruta e água mineral pela primeira vez.
— Começamos com uma variedade de sucos, como você pode ver — ela anuncia, com voz de apresentadora. — Qualquer um destes é melhor do que refrigerante. Pode escolher.
— Detesto suco.
— Deixa de ser criança. Tem um monte pra escolher. Com certeza deve ter algum que você aguenta tomar.
Ela recua dois passos para que eu veja as dezenas de garrafas de água mineral com sabor na porta seguinte.
— E também tem água — ela sugere —, mas não imagino alguém como você tomando uma água mineral chique.
— Não, é babaca demais. — Na verdade, não tenho problema nenhum com água mineral, mas estou gostando desse joguinho.
Ela sorri, mas tenta se manter séria. Franzo o nariz para ela e aperto os lábios enquanto meu olhar vai e vem entre ela e a geladeira de sucos. suspiro profundamente e me aproximo, correndo os olhos pelas várias marcas e sabores e misturas de frutas, e fico pensando por que tantos sabores têm morango ou kiwi, ou morango e kiwi. Detesto os dois. Finalmente, abro a porta de vidro e me contento com o bom e velho suco de laranja. Ela torce um pouco o nariz.
— Que foi? — pergunto, ainda segurando a porta aberta.
— Suco de laranja não é tão bom pra acompanhar comida.
Eu bufo e fico olhando para ela sem piscar.
— Quando escolho alguma coisa, você diz que não serve. — Quero rir, mas estou tentando fazê-la se sentir culpada.
E acho que está funcionando. Ela franze a testa.
— Bom, é que... bom, isso aí é mais uma dose de vitamina C pra viagem, na verdade. Só vai te deixar com mais sede.
Ela parece mesmo preocupada por ter me ofendido, e isso me afeta da forma mais estranha. Eu sorrio só para vê-la sorrir de novo. Ela abre um sorriso diabólico.
Ah, ela é boa...
Autor(a): AvrilPuente
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