Fanfic: Ver com o coração - Portiñon | Tema: Portiñon

Últimos capítulos.

Espanha.

Três dias depois ...

Após ingerir a bebida, eu absorvo o limão rapidamente com a intenção de quebrar o que a tequila pretende fazer na minha garganta. Arde o meu esôfago e se instala no estômago, aquecendo absolutamente tudo dentro do meu corpo.

Eu não posso acreditar que a garrafa está vazia. Eu sinto o olhar do garçom preso em mim o tempo todo... me observando. Certamente quer ter certeza de que eu não faça nenhuma bobagem. Mas o que eu poderia fazer? Eu nem sequer tenho força para isso. Estou praticamente toda a manhã no bar do hotel, querendo aliviar com a tequila esta dor maldita que eu sinto no meu coração.

Que eu sinto desde aquele dia. O dia, em que eu via a mulher da minha vida caminhar para o altar, ouvindo cada palavra daquela cerimônia ser pregada no meu peito, causando-me mais mal do que centenas de lâminas afiadas.

Será que eu finalmente vou ser capaz de tirar você da minha cabeça Anahí? Algum dia eu vou poder ter a minha vida de volta? Ou seus olhos vão me assombrar até o último segundo da minha existência? Como será que você está? Pergunto-me sentindo uma lágrima pelo meu rosto ao pensar como devem ter sido os seus primeiros dias de casamento...

Ainda não sei por que eu me pergunto isso. Eu não quero saber nada sobre você. Eu não quero testemunhar a sua infelicidade e não fazer nada. Mais que merda! Por que você fez isso?

- Boa noite! - Uma voz interrompeu o meu momento de silêncio absoluto e solidão.

Giro o rosto para a minha direita, procurando a dona daquelas palavras e meu olhar é paralisado por um momento, paralisou ao ver aqueles olhos azuis olhando para mim com um pouco de mistério. Fiquei presa neles por um momento me esquecendo a razão pela qual ela tinha interrompido a minha sessão de sal-tequila-limão.

- Posso me sentar? - Ela se virou para perguntar quando eu não sai do meu transe.

O som daquelas palavras dirigidas levou o meu olhar para os seus lábios, percebendo que ela tinha um sorriso destacado neles.

Subi novamente e encontrei aqueles olhos, aqueles olhos que apesar de ser azul não tinham nada a ver com os meus problemas. E claro que não afastou a angústia do meu peito principalmente percebendo que meus pensamentos compararam os olhos desta mulher com os de Anahi. Eu dei de ombros e virei meu olhar para a garrafa de tequila. A companheira original e fiel que eu queria esta noite.

- É uma longa noite hein? - Ela se virou para perguntar invadindo meu espaço.

Mais uma vez, eu virei meu olhar para ela e ela estava assistindo também a garrafa meio vazia.

- Bem mais longa do que eu gostaria. - Rompi finalmente.

- Isso soou um pouco triste.

- Sim. - Eu sorri ironicamente.

Depois de alguns segundos de silêncio em que eu rezava para que esta mulher me deixasse quieta e deixasse continuar a minha tentativa de embriaguez. Ela falou de novo...

- Eu sei que eu vou correr o risco de que isso soe como um flerte mas ... Eu ja te vi em algum lugar? Seu rosto me parece familiar...

Eu suspirei, percebendo que esta mulher não iria desistir.

- Eu sou uma cantora... e atriz.

- Oh Claro! - Exclamou parecendo realmente surpresa.

- Nunca viu uma bêbada famosa num bar de um hotel? 

- A verdade é que eu já vi muitas coisas, viajando de país em país e de hotel em hotel ... Mas eu pensei que famosos ficassem bêbados em particular ... Você sabe, onde ninguém iria descobri-los e contar a revistas de fofocas e para a televisão.

- Eu acho que para mim isso tanto faz.

Minha frase deixou claro que não estava com disposição para uma conversa, muito menos para ser sociável hoje. Mas ela não podia ou não queria entender, porque eu só levou alguns segundos de pausa antes de ...

- Sou Carla!

Senti sua mão na minha frente. Eu estava a assistindo há alguns milissegundos e novamente, virei meu rosto percebendo que ela ainda estava com um sorriso largo, esperando para que eu me apresentasse.

- Dulce. - Concluí apertando a mão dele.

- E O que te traz a Madrid, Dulce?

- Trabalho. Eu tenho um pequeno concerto de amanhã. Ou pelo menos eu espero tê-lo terminá-lo após o chegar esta noite.

Ela sorriu de novo, sem olhar diretamente para mim, mas eu senti sua risada a minha direita.

- Posso perguntar como uma mulher foi capaz de quebrar o seu coração?

A sua pergunta tem a dose de tequila descendo para o meu estômago para ficar em algum lugar na minha garganta, fazendo com que a olhasse rapidamente.

- Espera... como... por que você diz isso ...?

- Por apenas uma razão uma mulher toma mais da metade de uma garrafa de tequila, sozinha, em absoluta solidão... uma outra mulher.

Voltei a olhar para longe, suspirando sem responder.

- Onde ela está? - insistiu depois de alguns segundos.

- Em sua lua de mel, com certeza ... arruinando sua vida.

- Desculpe. - Sorrindo doce.

 - Isso é uma razão suficiente para que eu tenha bebido mais da metade da garrafa?

- Sem dúvidas... - Ela deu de ombros pegando a tequila e servindo-se de uma dose. - Então bem-vinda ao clube se é a sua primeira vez.

- Você também vai ficar bêbada por uma mulher? - Perguntei observando a careta que ela fazia quando sentiu a bebida descer goela abaixo.

- Hum ... bem, se eu fosse ficar bêbada porque uma mulher quebrou meu coração, eu acho que iria passar dias aqui, eu ficarei bêbada para lhe fazer companhia.

- Eu...  - Tente interromper.

- Eu sei, eu sei que o seu plano era ficar sozinha e não está interessada e vai me dar um pé na bunda. Mas eu acho que você já esteve sozinha por muito tempo.

Eu sorri, nem mesmo tinha a certeza do porquê, mas eu sorri ... Por fim eu não me sinto mal na companhia de uma mulher. Talvez isso era o que eu precisava... falar com alguém, distrair, esquecer. E a verdade é que Carla parecia uma candidata perfeita para isso. Não a conheço, mas a menina me inspirou confiança.

Talvez por causa de sua aparência, seu cabelo preto longo, com aquele largo sorriso que não ia embora em nenhum momento e com seus olhos azuis.

Esta mulher expressou sua experiência no olhar, segurança, coragem, auto-confiança, e até ouso dizer paixão. Ao contrário dos olhos de Anahí, que tinham uma forma diferente, expressando ternura, infância, inocência ... também paixão, mas certamente eram muito diferentes.

Não ... definitivamente não estava nos planos para o meu cérebro pensar nisso, nem um minuto.

- Você não ouviu nada do que eu acabei de dizer, certo? 

- Ow, desculpe, eu... - Baixei os olhos envergonhada. - Eu sinto muito. Carla ... Eu honestamente não acho que eu seja a melhor companhia para você esta noite.

- Dulce eu não sou uma garota, eu sou uma mulher muito direta e que sabe o que quer. Então, se eu te abordei é porque eu gostei de você!