Fanfic: Cuidado garoto apaixonado | Tema: vondy
O primeiro dia de aula do ano é ao mesmo tempo igual
e diferente.
Diferente porque tem sempre aquele gostinho de coisa
nova. E igual, porque a gente vai ter que fazer as mesmas
coisas: conhecer o horário, ver a classe, o número, os
professores. E rever a galera de quem a gente só é um pouco
amigo e não encontra durante as férias.
Quase todo mundo tá um pouco queimado e sempre
tem alguma história das férias pra contar. Eu e o poncho tínhamos
uma super-história. Nem precisamos começar contando
porque todo mundo já sabia o que tinha acontecido.
Nós saímos até no Jornal Nacional, como dois garotos que
participaram do maior temporal que aconteceu no litoral
norte de São Paulo nos últimos cento e cinquenta anos.
Logo que nós chegamos no pátio uns caras e garotas
formaram uma rodinha em volta da gente e ficaram nos perguntando
os mínimos detalhes. Nós tínhamos combinado
exagerar pelo menos cinco vezes tudo o que a gente falasse
pra ficar mais emocionante. Foi muito engraçado. Parecia
uma entrevista. Fizemos até pose de sobreviventes. É claro
que o Ale fez muito mais pose do que eu. Ele sempre faz.
Já estava quase na hora de bater o sinal quando o poncho
virou pra galera e disse que a gente ia interromper um pouco
pra copiar o horário das aulas.
E eu completei:
- No recreio a gente continua.
A galera ficou supercuriosa, mas não quis dar muita
demonstração.
Na nossa escola, o horário de todas as classes fica
pendurado no mural do pátio coberto, ao lado da cantina.
Enquanto nós íamos pra lá, o disse que ainda não
tinha visto nenhum aluno novo. Bem quando eu ia dizer ӎ
mesmo”, eu olhei para o mural e vi um boné vermelho que
nunca tinha visto. O boné estava virado pra trás e quase
encostava na mochila verde, Reebok, igualzinha a minha,
que estava presa nas costas do dono do boné. Ele estava
copiando o horário.
- Olha lá, poncho.
- Quem será?
Quando a gente foi se aproximando, deu pra perceber
que ele repetia em voz alta o que copiava. E também deu
pra perceber pela voz que não era ele. Era ela:
- Quarta-feira. Primeira aula, matemática, professor
João Paulo. Segunda e terceira, história, professora Meire.
Recreio. Quarta aula, biologia, professor Douglas. E quinta
aula, computação, professor José Carlos.
No ”computação professor José Carlos” já estava cada
um do lado dela. E deu pra ver que o boné também tinha
uma aba na frente. Boné com aba na frente e atrás? Igual
detetive! Ela estava com dois bonés. Um por cima do outro.
E nem notou que a gente estava espiando. E continuou:
- Quinta-feira. Primeira aula, inglês, professor Richard.
Segunda aula, geografia, professor Felipe. Terceira aula,
matemática, professor João Pedro. E quarta e quinta aulas,
português, professora Mônica.
Quando eu vi que os olhos pretos combinavam com o
nariz fininho, e que o nariz fininho combinava com a boca
bem redondinha, e que a boca bem redondinha estava
coberta com um batom bem vermelho, e que tudo isso que
combinava era lindo, muito lindo, eu fui abrindo os olhos
devagar, até ficarem bem arregalados. Aí a minha boca
também começou a se abrir e só parou quando acabou a
elasticidade dos músculos dos lábios. E eu percebi que o
ar que saía da minha boca era bem quente. E que eu inteiro
estava ficando cada vez mais quente. Eu senti um tipo
esquisito de flechada invisível, no coração, e percebi que
ele estava batendo mais do que trash metal. Eu vi também,
em algum lugar dentro da minha cabeça, um sinal luminoso,
vermelho, de PERIGO!, que piscava sem parar. Tudo isso
porque eu tinha visto uma menina totalmente nova. E que
usava boné de menino. Dois. E um batom vermelho. Vivo.
E que essa miragem estava parada ao meu lado, falando
sozinha, que a última aula de sexta-feira era geografia de
novo, com o professor Felipe.
Aí, minhas pernas também entraram no ritmo do trash
metal. Tentei dar um tapinha na perna esquerda, pra ver se
parava. Foi com o meu barulho que ela me olhou pela
primeira vez. E foi abrindo os olhos devagar. Não
arregalando. Só abrindo os olhos. Como se ela quisesse
ver mais alguma coisa em mim. Dá pra entender? É
diferente de arregalar. É só abrir um pouco mais, sem
exagerar. Eu não conseguia fazer o som de nenhuma
palavra. Só barulhos. Aí ela falou:
- Eu estou te atrapalhando?
-Quê?
- Acho que você quer copiar o horário e eu estou na
sua frente.
Eu falei de novo:
-Quê?
Aí o poncho falou que ela não estava atrapalhando
ninguém, muito pelo contrário. E que eu tinha a mania de
ficar batendo na perna. E que ele (o sacana!) tinha mania
de mostrar a escola para as meninas novas do colégio, na
hora do recreio.
- E nova no colégio?
-Sou sim
- Quer que eu te mostre?
- Obrigada! No dia em que minha mãe fez a matrícula,
a coordenadora já mostrou.
Qualquer menina com mais de dois dias de idade
perceberia que o Ale estava passando a maior cantada.
Mas o jeito que ela falou, devagar e simpática,
desconversou totalmente o que era uma cantada e ficou
parecendo só um convite. Ela puxou o tapete debaixo
dos pés do Ale, sem deixar ele cair. Depois do susto, ele
perguntou:
- Qual é a sua série?
- 1. E a de vocês?
Deixei o poncho continuar porque eu ainda não estava
totalmente recuperado.
-Também. A, B, C ou D?
-C.
- Que pena. A nossa é a A.
Ela disse:
-Ah!
Mas não era com pena. Era só um Ah! E que Ah! Uau!
Ela era demais! Aí ela olhou pra mim de novo:
- Você sabe se a gente tem dois professores de
matemática?
-Quê?
Eu só sabia dizer Quês.
- É que quarta o nome do professor de matemática é
João Paulo, e na quinta, João Pedro.
- Ah, acho que eles erraram.
(Eu esqueci de dizer que eu estava com a camiseta do
clube.)
- Eu sou sócia do mesmo clube que você. Quer dizer,
estou ficando. Meu pai comprou o título ontem. Nós
viemos de Presidente Prudente agora, sabe? E legal lá no
clube?
- Superlegal.
Ela tinha perguntado pra mim, mas o poncho quis responder
na frente. Na hora eu fiquei quieto. Pode até ser
que ele tenha mais direito de responder a essa pergunta,
afinal, ele vai pró clube todo santo dia. Eu, na verdade,
gosto mais de usar a camiseta do clube do que de ir até lá.
Na camiseta tem um pinheiro desenhado e eu sou ligado
em árvores. E, naquela hora, estava começando a ficar
ligado numa menina de cabelos compridos, ruivos,
que usa dois bonés, batom vermelho e que atende
pelo simpático nome de Dulce.
- poncho, muito prazer.
- Pode me chamar de Ucker.
Tocou o sinal.
- Tá bom. Se vocês quiserem, a gente pode se falar na
hora do recreio.
É claro que a gente queria. Ela foi pra 1 C, e
nós, pra 1 A. Eu não consegui prestar atenção em
quase nada do que o Ale e os professores disseram. Eu só
fiquei contando nos dedos os cento e trinta e cinco milhões
de minutos que duraram as três primeiras aulas.
gente so para avisar o 1 e o que vem depois do nono ano ok? eles tem 15 anos
Autor(a): gigi_rbd
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Na terceira aula o professor Felipe, de geografia, roubou cinco minutos do recreio tentando fazer a gente entender que a estrela mais brilhante, vista da Terra, é a Sirius A, Alfa Canius Majoris. Pó, o cara ia ter todas as aulas do ano pra explicar isso. Ele tinha que usar justo os cinco minutos daquele recreio? Eu queria ser o primeiro a encontra ...
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