Fanfic: Cuidado garoto apaixonado | Tema: vondy
- Eu estou gamado por essa menina, cara. Desde
aquela hora em que a gente viu ela copiando o horário no
primeiro dia de aula, desde o primeiro minuto em que ela
apareceu na minha frente, com aqueles dois bonés, com o
batom vermelho, e o nariz arrebitado, e os lábios bem
arredondados, ela não sai da minha cabeça. E o quanto ela
é legal? Com aquele jeito de quem não quer nada e
consegue tudo. Se eu não fosse tão enrolado pra falar sobre
as coisas, não precisaria nem dizer que em poucos minutos
a Dulce se tornou a menina mais interessante e espetacular
do mundo. E não é só pra mim. Em poucos dias ela virou
uma espécie de princesa, de rainha... não, melhor, superstar,
em poucos minutos a Dulce já era a superstar da
escola. E como ela é charmosa! Até pra bater um fute... E
o que ela é inteligente! Ela devia estudar num colégio muito
legal lá em Presidente Prudente, porque ela sabe muito. E
sobre muitas coisas. E fala inglês bem. E gosta de imitar
sotaque baiano. E joga lixo no lixo. E sabe o que é um
quarto-zagueiro. Uma URV. Como se pega o vírus HIV. E
o que é UNICEF. E já viajou pra vários estados do Brasil.
Pra outros países também. Curte rock. Ela é tudo o que eu
sempre quis, mas só tinha encontrado juntando umas dez
meninas. E o jeito como ela olha pra gente... Essa gata
tem que ser minha. Só que ela não me dá a mínima bola.
Quer dizer, ela me olha, conversa e tudo. Mas igualzinho
ela faz com todo mundo. Ela não é igual a Glaucia e Cia.
Ltda., que é só eu estalar os dedos, elas já fazem tudo o
que eu quero. Essa não vai ser mole, cara.
Essa fala com mais de duzentas palavras, parece que é
minha, mas quem disse isso tudo, numa conversa difícil pra
burro, foi o meu grande chapa, o cara que salvou a minha
vida o poncho. Depois de uma semana de aula, quando todo
mundo (menos eu, depois eu explico) já estava superenturmado
com a Camila, o Ale aparece na minha casa e diz
que quer bater um papo comigo, que ele precisa muito da
minha ajuda. Como o cara sempre pedia a minha ajuda pra
coisas da escola, eu nem estranhei o que ele disse. Falei que
era só ele dizer qual era a dúvida. O poncho foi ficando meio
sério e dizendo que... bom, eu não vou repetir o que eu já
escrevi lá no começo do capítulo. Seria aluguel demais. Não
é todo mundo que tem saco pra ouvir histórias de dor de
cotovelo, aquela dor que a gente sente quando está muito a
fim de alguém e percebe que não vai ter a menor chance. É,
porque tudo o que o poncho disse sobre aDulce, e até um
pouco mais de coisas, eu também estava sentindo. Desde
que eu tinha visto a Dulce pela primeira vez, tinha mudado
tudo dentro de mim. Quando a gente se encontrava além do
pisca-pisca de PERIGO!, meu coração batia no joelho esquerdo
e em outros lugares bem estranhos pra um coração
bater! Meus olhos, meu estômago, eu inteiro; tudo estava
fora de lugar.
Eu nunca tinha sentido nada igual. E enquanto ouvia
O poncho, parecia que era eu que estava falando, mas eu
estava é ouvindo. E ouvindo de um superchapa meu.
Um superchapa que não tinha deixado eu me afogar.
Um superchapa que tinha salvado a minha vida. E depois
de ouvir tudo isso desse superchapa, eu ainda tive
que ouvir:
- Me ajuda a conquistar ela.
Aí mudou tudo! E pra pior! É como se eu fosse, por
dentro, um vulcão, um tufão, um ciclone, um abalo
sísmico... dava pra usar aqui uma bela lista com outros
fenômenos da natureza, eu até que entendo um pouco do
assunto, mas só esses já dá pra se ter uma idéia de como eu
estava por dentro. O que eu transpirei, dava pra encher
uma garrafa de Coca-Cola de dois litros. Só deu pra eu
dizer:
- QUÊ?
(Eu e o meu QUÊ.)
- Eu nunca te pedi nada,Ucker.
Bela mentira! O poncho vivia me pedindo coisas. Mas na
hora eu nem me toquei disso. Eu só não queria que ele
percebesse o que estava acontecendo por dentro de mim.
Fiquei quieto e fiz cara de quem estava pensando. Eu estava
mesmo pensando. Mas não se eu ia ajudar o Ale ou não.
Eu estava pensando era num jeito de disfarçar.
- uckerzinho, o que é que você me diz?
Apelido no diminutivo é um golpe bem mais baixo do
que chute naquele lugar! Quem usa esse tipo de golpe tem
certeza que a gente é otário.
- Eu preciso fazer xixi. Espera um pouco.
Banheiro é um ótimo lugar pra se ganhar tempo.
Ninguém vai saber se a gente está mesmo com vontade de
fazer xixi ou não. Mas eu fiz. E lavei o rosto. Dei uma
espiada no espelho e a minha cara de bobo estava pior do
que nunca. Quase dei um murro no espelho. Mas ia
machucar a minha mão, e depois, eu ia levar uma bronca
da minha mãe, que também ia pensar que eu não estava
muito bem da cabeça, porque não se quebram espelhos
assim, sem mais nem menos. E parece que quem quebra
espelhos fica com azar durante sete anos. Azar, já bastava
aquele.
Voltei pró quarto disposto a dizer pró Ale que ia ser
impossível eu ajudar ele, porque eu também estava
apaixonado pela mesma Dulce que ele, e pelos meus
cálculos, muito mais, porque para oponcho, estar apaixonado
é gostar só uns quinze por cento. Não é igual a mim, que
sou um pouco exagerado. Quando eu coloquei o pé no
quarto, o poncho, que não é nada bobo, percebeu logo que eu
ia dar pra trás. Ele fez cara de bravo e disse, como se fosse
brincadeira, mas com a maior voz de quem queria que eu
percebesse, que não era brincadeira coisa nenhuma:
- Lembra do desenho do Aladim, que nós vimos o
vídeo lá em casa? Então, eu estava aqui pensando que a
gente podia fazer igual ao Aladim, quando ele salvou o
gênio da lâmpada. O gênio deu ao Aladim o direito de três
desejos. Como toda hora você diz que eu salvei a sua vida,
acho que eu também tenho direito a três desejos.
Aí ele amoleceu um pouco, porque viu que eu fiz cara
de quem estava caindo na conversa, e:
- Pó, ucker. Pra você, um cara tão esperto, arrumar um
jeito de chamar a atenção da Dulce vai ser moleza. É só
pensar um pouquinho que eu tenho certeza que você vai
conseguir pagar sua dívida comigo. Só três tentativas, e eu
te dou sossego pra sempre. Ela nunca vai ficar sabendo.
Em vez de dizer sim de cara, eu fui pensando, e falando
aos poucos:
- ... pra atrair uma menina como a Dulce... não
adianta pose de surfista... nem de bonitão... nem de
corintiano hermafrodita de orelhinha furada...
- Quer levar porrada, é?
- ... você tem que tocar o coração dela... com
inteligência... e mistério... tem que deixar a menina
interessada... curiosa... e não entregar o jogo de cara.
O Dulce foi ficando maluco com o que eu dizia. E eu
também. Eu nunca tinha pensado aquelas coisas, Mas elas
foram saindo:
- Primeiro desejo! Pega papel e lápis.
Ele pegou e escreveu o que eu ditei:
- ”Difícil entender o que você faz acontecer dentro
de mim. Tem coração batendo no joelho. Olho enxergando
em cotovelo. E estômago atravessado na garganta. Coisa
esquisita. Desarruma tudo. Mais do que o Tambora, o feroz
vulcão da Indonésia, que em 1815 provocou a maior
erupção que já existiu no mundo. Estou em erupção.
Até o primeiro dia de aula, o professor de geografia
poderia dizer que a estrela mais brilhante, vista da Terra,
era a Sirius A, Alfa Canius Majoris. Agora é você...”
- De onde você tirou isso,ucker?
- Inventei.
- Que coisa maluca. Será que ela vai gostar?
- A gente nunca sabe do que uma garota como a Dulce vai gostar.
- Se eu fosse você, mandava sem assinar.
E ele mandou.
Autor(a): gigi_rbd
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Acho que é bom eu começar falando sobre aquele pantese de antes. Pra quem não se lembra, vou repetir, só que sem parêntese: menos eu, depois eu explico. O ”menos eu” era sobre a Dulce. E o depois eu explico, é agora: eu queria dizer que quase todo mundo já tinha ficado meio amigo da Dulce, menos eu. Eu n& ...
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