Fanfic: Anjo da Cara Suja
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As sete horas da noite seguinte, iniciava a novela, quando Regis se aproximou do portão na casa de Luciano e como todos os dias, se acomodou abaixando-se de cócoras à frente do mesmo, sem contudo se sentar no chão. Sabendo que ele não o chamaria, Luciano foi até ele, abriu o portão e convidou-o a entrar.
Como sempre fazia, seguiu até a sala, sentando-se confortavelmente sobre a mesma poltrona de todos os dias.
Desta feita, ele chegara diferente de sempre: estava de banho tomado, cabelos bem penteados e usando roupas de mesmo estilo (camisa xadrez limpa e abotoada corretamente; calça marrom, bem curta, como todos os meninos usavam e tênis tipo Conga, da All Star, feito de tecido grosso marrom e solado em borracha ou nylon branco).
Apesar de ter percebido a diferença, Luciano nada comentou, porém sua esposa Sara, respondeu seu cumprimento dizendo:
— Oi! Você está bonito! Todo arrumadinho, cabelo penteado! Tá parecendo um príncipe!
— Príncipe eu!? — Riu ele. — Quem me dera.
— Tá muito lindo! Por que resolveu tomar banho tão cedo? Vai passear?
— Não!
— Não vai brincar com os amiguinhos após a novela? — Interferiu Luciano.
— Vou.
— E como não vai se sujar?
— Brinco com cuidado.
— Salva não dá pra não suar.
— Brinco de outra coisa.
— O quê, por exemplo?
Ele já parecia com jeito, de julgar que o homem estava se intrometendo demais. Ou não?
— Mês... Fita... Namoro no escuro...
Durante a primeira parte da novela, os três se calaram, em respeito ao senhor da sala. Os olhos de Regis, até brilhavam, acompanhando toda a trama de uma mulher viúva e muito sofrida, com a árdua tarefa de criar quatro filhos, que não sabiam fazer nada, pois sempre tiveram tudo do melhor da vida. Só para ter uma rápida noção, quando o pai dos meninos morreu, eles eram donos de uma grande fortuna, incluindo uma frota com vinte carros de luxo. Porém, a dívida com credores era bem maior que tudo aquilo e o banco não perdoou a pobre “Vitória Bonelli”.
No intervalo, Luciano se levantou e ao se dirigir à cozinha, ofereceu a seu ilustre visitante:
— Quer tomar alguma coisa? Um suco... Um refrigerante...
— O senhor pode me dar água?
— Água ou suco?
— Pode ser água — foi convicto o menino. Luciano seguiu até a cozinha, abriu uma garrafa de Grapete (refrigerante de uva), apanhou um copo e levou para ele. Nenhuma criança recusa refrigerante, mesmo que saiba o quão nocivo seja para sua saúde.
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Quando o grupinho se reuniu naquela noite, Regis foi decisivo em afirmar, que só brincaria de algo que não sujasse sua roupa, ou suasse seu corpo de banho tomado. Quando os amiguinhos começaram a caçoar de sua atitude, ele simplesmente falou:
— Não são vocês que apanham de minha mãe depois.
Uma vez, aceitando as desculpas do limpinho, decidiram por brincar de namoro no escuro.
A mesma rotina do dia anterior foi tomada, para decidir quem iria tapar o olho e quem iria ser o primeiro a escolher o “amor secreto”.
Sidney foi condenado a tapar o olho e José Carlos a ser o primeiro a escolher.
Enquanto todos se sentaram, alguns no banquinho e o resto ao lado do mesmo em pares, os outros dois, caminharam dois metros para a rua e então Sidney tapando o olho do amigo, perguntava:
— É esse?
— Não.
— É esse?
— Não.
— É esse?
— É!
— Pera, maçã, uva, limão, abacaxi?
— Maçã.
Sidney tirou a mão do olho de José Carlos, dizendo:
— Uma voltinha com Regina.
A menina se levantou, segurou nas mãos do menino e quase correndo, deram uma pequena volta até a esquina acima. José Carlos se sentou e Sidney tapou os olhos de Regina, perguntando-lhe:
— É esse?
— Não.
— É esse?
— É!
— Pera, maçã, uva, limão, abacaxi?
— Abacaxi.
Tirando a mão do olho da menina, Sidney afirmou:
— Um abraço em Regis.
— Aí tem treta — Reclamou Fabinho, sabendo que Regina era fiel companheira de Regis.
Era certo que a menina, sabendo que ele estava sentado em segundo lugar à esquerda do banco, arriscou: “Se Sidney começasse a contar da esquerda, ela acertaria”.
Regis se levantou, correu até a menina, abraçando-a, um pouco sem jeito. Regina se sentou e Sidney, tapando os olhos de Regis prosseguiu:
— É esse?
— Não.
— É esse?
— Não.
— É esse?
— Não.
— É esse?
— Não.
— É esse?
— Não.
— É esse?
— Não.
— É pra hoje Regis! — Reclamou Fabinho.
— Touchê! — Riu Regis, fazendo gestos de revólver com o indicador e apontando na direção do opressor.
— Esse moleque tá olhando — tornou a reclamar o tal Fabinho.
— To olhando seu nariz! — Reclamou Regis. — Por acaso tenho olhos nas costas?
— Você enrola muito.
— Cala a boca Fabinho! — Gritou Lourival.
— Cala a boca já morreu!
Lourival franziu a testa suada e em sobressalto, avançou sobre o dono da confusão, por sorte, Sidney, separou os dois.
Alguns segundos depois, refeita a confusão, continuaram de onde a brincadeira parou.
— É esse? — Perguntou-lhe Sidney.
— Sim!
— Pera, maçã, uva, limão, abacaxi?
— Uva!
Não é que o safadinho pede uva mesmo.
— Um beijo na boca de Maria Lucia.
Assim que a menina se levantou, a mãe de Regis, terminado de lavar a louça do jantar, enquanto ouvia o “Repórter Esso” pela Rádio Tupy de São Paulo, foi até a rua bisbilhotar a criançada. Uma vez, vendo sua mãe chegando, Regis se acanhou, dizendo:
— Não vou beijar Lucia, na boca!
— Como não? — Cobrou Fabinho. — Foi você quem escolheu!
— Não vou!
— Então beije o rosto — pediu a própria Maria Lucia.
Ainda assim, Regis se acanhou. Sua mãe estava perto. Aproximou a boca na bochecha da menina, sem se encostar e simulando um beijo disse:
— Pronto! Beijei!
Sua mãe, apenas riu e voltou para a sala.
— Ai menininho tímido! — Caçoou o irmão Leandro.
— Você não viu a mamãe?
— Que tem a mamãe?
— Não é você quem iria apanhar!
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Na hora do início da novela, ele, como na noite anterior, estava de banho tomado e como todos os dias, se acomodou ali no portão, sem chamar.
Luciano se aproximou, abriu o portão e apenas disse:
— Entre.
Entrou em silêncio, seguindo até a sala de estar, onde, como fazia todas as noites, cumprimentou Sara com um simples oi e sentou-se sobre a mesma poltrona.
— Sabe menino — insinuou Sara. — você trouxe um pouco de alegria pra essa casa.
— E seu marido?
— Somos só nós dois — explicou ela. — Acho que uma casa precisa de crianças.
— Logo vocês terão uma.
— Quer ser amigo da gente? — Perguntou-lhe Luciano. — Amigo de verdade!
— Mas eu sou moleque!
— Você não é moleque! — Negou Luciano. — Você é criança!
Regis levantou os ombros como a dizer: “é a mesma coisa”.
— E o que tem a ver? — Continuou Luciano. — Criança não pode ser amiga de adulto?
— Minha mãe sempre fala, pra não conversar com estranhos.
— Eu sou estranho, Regis? Minha mulher é estranha?
— Agora não é mais.
— E então? Podemos ser bons amigos?
— Já somos amigos! Você me deixa assistir sua televisão... Me trata bem... Me dá refrigerante...
— Isto não é ser amigo! — Negou o homem. — A amizade a gente não compra. A gente conquista.
— Por que você quer ser meu amigo?
— É que você nos cativou — interferiu Sara, sentando-se com certa dificuldade. — Seu jeitinho humilde e bom, trouxe alegria pra nossa casa. Quando você não chega, nos deixa ansioso... Parece que falta alguma coisa. Meu amor fica igual barata tonta pela casa.
— Barata tonta! — Riu o menino não conseguindo entender a metáfora, devido sua pouca idade.
— No sábado em que você não veio você foi realmente ao sítio? — Perguntou-lhe Luciano.
— Não! — Negou ele em tom baixo.
— E por que não veio assistir a novela?
— Eu vim! A porta estava fechada.
— E por que não chamou? Por que não bateu palmas?
Ele apenas deu de ombros como a dizer: “Sei lá”.
— Desculpe garoto, eu havia deixado a porta fechada de propósito, a fim de forçá-lo a nos chamar. Depois, como percebi que você não chamou, fui até o portão e de lá segui até o parquinho, para ver se você teria ido assistir televisão por lá. Mas a tevê lá está queimada.
— Antes eu assistia televisão lá. Quando ela queimou, descobri sua porta aberta e passei a assistir aqui. No sábado, como sua porta estava fechada, voltei em casa, peguei a bicicleta de meu pai e fui até o parquinho da Vila Fátima, só que lá eles estavam assistindo Batman e Robin, no canal sete, então voltei pra casa e tinha decidido que não assistiria mais a novela.
A novela já havia começado; estava na parte inicial, onde tocava a música tema e passava a rolagem de créditos (nome dos artistas e produtores), os três não se importavam e continuavam conversando.
Regis tinha um jeito muito especial, com sua vozinha tímida, em tom meio assustado, parecendo estar diante de um julgamento, sem talvez acreditar na real intenção daquele casal de adultos, em cativá-lo como a um amigo de verdade. Sabia ele, que geralmente os adultos, julgam crianças como sendo arteiras, malcriadas e estorvo; realmente elas são; o que faz parte de sua rotina de desenvolvimento humano. Alem disso, sua mãe lhe dissera que muitos adultos, gostam de abusar de crianças, como sendo objetos de brinquedo; por isso a recomendação em nunca conversar com pessoas estranhas.
— E então? — Insistiu Sara. — Vai ser nosso amigo?
— Claro que vou! Vocês são muito bons.
— Esta casa vai ser muito feliz, com a presença de uma criança.
— Logo vocês terão uma criança só para vocês.
— Você poderá ajudar a cuidar dela. — Brincou Sara.
— Eu? — Admirou-se o menino. — Já cuido de meus irmãos menores.
— Você tem outros irmãos? — Insistiu Sara.
— Tenho cinco! — Afirmou forte.
— Nossa!
— Então Regis. Como nós somos leigos em cuidar de crianças e você já está habituado, poderá nos ajudar. — Brincou Luciano.
— Tudo bem. — Disse ele sério, acreditando mesmo na brincadeira. — Posso trazer meu irmãozinho, pra vocês conhecerem?
— Claro que sim! — Se entusiasmou Luciano. — Quantos anos ele tem?
— Quatro. Não... Cinco... Quatro.
— Quatro ou cinco? — Riu Sara.
— Cinco... Eu acho.
A novela se reiniciou, colocando silêncio naquela prosa.
Ao final da novela, quando ele se retirava, o homem tornou a lhe perguntar:
— Você trará seu irmão, amanhã?
— Posso trazê-lo?
— Pode. Mas peça autorização à mamãe.
— Mamãe me autoriza a cuidar de Paulinho!
— Somos amigos?
Acenou timidamente que sim.
— Amigos não ficam do lado de fora do portão, com vergonha de chamar. Amigos são sempre bem vindos.
Ele permaneceu em silêncio.
— Você sabe o que eu quero dizer?
Acenou que sim.
— Promete que vai nos chamar, quando chegar amanhã?
— Ainda não sei o seu nome? — Insinuou ele.
Era verdade. Até então, Luciano nunca lhe dissera seu nome.
— Luciano — Insinuou ele. — Luciano André Cavalari.
— Agora eu já vou indo, senhor Luciano. Obrigado!
— Luciano. Nada de senhor.
— Tchau!
Ele se afastou pelo mesmo caminho de sempre.
O homem voltou ao convívio de sua esposa, onde, deitando-se a seu lado no mesmo sofá, passaram a respeitar o senhor da sala, assistindo a um telejornal.
Em poucos minutos, a algazarra da criançada, se iniciara na rua; algazarra esta, que sempre se iniciava em frente à casa de Regis e se desdobrava por toda aquela quadra, com poucas casas construídas; algazarra de um grupo de crianças saudáveis e felizes sem saber, que não tinham um aparelho de televisão para servir de amo e senhor; algazarra, que pelo barulho, dava para saber que brincavam de salva; algazarra, que talvez incomodasse algumas pessoas, mas que servia de música e recordação, a quem sentia que também já fora criança, em alguma época perdida no tempo.
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O menino caminhava sobre a areia branca e fresca de uma bonita praia nordestina, sentindo-se a criança mais feliz de seu mundinho infantil, contemplando o magnífico quadro que a mãe natureza desenhava a todo segundo, pelos poderes fantásticos lhe atribuído por um Ser Supremo, conhecido como Deus Pai, naquele entardecer dourado, pelos crepúsculos criados ao pôr do astro Sol, que até parecia mergulhar ao longe, dentro das águas quentes do quase infinito, Oceano Atlântico.
Quando ele se preparava para um mergulho, em início de noite, ouviu sua mãe lhe chamando, para um novo dia de aulas, lhe tirando daquele bonito sonho encantado.
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Assim que voltou da escola, almoçou rapidamente, tirou seu uniforme escolar, vestindo um short já surrado, de seu antigo uniforme e sem camisa, sem que alguém lhe mandasse, puxou um balde cheio de água do poço e embora com os pensamentos, fantasiando milhões de coisas distantes, lavou toda a louça para a mamãe.
Ainda estava na pia, praticamente molhado, pelo descuido de menino pequeno, ao lidar com água, quando se deparou com a mãe, com o vidro de seu remédio fortificante para os ossos e evitar desnutrição, que já enchendo uma colher das de sopa, dizia:
— Seu remédio.
— Iéco mamãe! Detesto isso!
— Abra a boca e seja homem!
— Nunca vi homem tomar essa porcaria! — Reclamou ele fazendo careta.
— Tome logo que não é o fim do mundo — Insistiu ela, lhe enfiando todo o remédio, goela abaixo.
O menino tomou tudo, sentindo até ânsia, devido o mau gosto daquele óleo de fígado de bacalhau, de Emulsão Scott, que todos os pais davam a seus filhos pequenos, dizendo que serviria para muitos males da infância, incluindo ser rico em vitaminas A e D. O fato era que Regis, detestava aquele gosto horrível e se julgava ser o menino mais infeliz desse mundo, por ser obrigado a tal sacrifício.
— É pior que ovo choco! — Reclamou ele, ainda fazendo careta. — Por isso que é duro ser criança.
Ainda não era uma hora daquela tarde, quando ele, percebendo que já teria acabado as tarefas domésticas, pois sua mãe já fizera tudo, afastou-se aos fundos do quintal, passando pelo vasto mandiocal de seu pai, atravessando a cerca de arame farpado, adentrando-se ao grande campo cerrado, pertencente à Casa Anjo da Guarda, com seus arbustos de até três metros de altura, alem de muitas plantas frutíferas tais como pitanga, marolo, gabiroba, maria-preta, entre outras, que ele buscava com muito afinco, na intenção de saboreá-las, nos próprios pés.
Sendo assim, ele permanecera quase a tarde toda, brincando sozinho e por andar sem camisa, neste período de muito calor, embora protegido pela sombra que a natureza em forma de plantas lhe proporcionava, tinha no corpo um tom bronzeado bonito, com apenas uma faixa branca, marcando suas nádegas e virilha, coberta pelo tecido de sua calça curta (ou que seja short).
Já ao final da tarde, cansado e até vermelho de suor, de tanto brincar de ser criança, depois de assistir aos belos crepúsculos, ao pôr do sol, de volta ao lar, acompanhado por Paulinho, tomaram juntos, um caprichado banho, no chuveiro inventado pelo pai, depois se enxugou, enrolou na toalha e enxugou bem, inclusive os cabelos do maninho, se vestiu como se fosse à escola, com camisa branca, com o emblema GEMT bordado no único bolso, no lado esquerdo e calça azul Marinho. Vestiu Paulinho, com linda camiseta listrada na horizontal em branco, azul e amarelo, calça curta, cinza (semelhante às suas); calçou-lhe uma conga azul escuro e penteou-lhe muito bem seus lindos cabelos, também castanhos, não deixando dúvidas: era uma fiel cópia sua, em tamanho menor. Então, se penteou também, com seu tradicional penteado do lado direito, calçou seu conga marrom, avisou a mamãe e se dirigiu a seu compromisso novelístico.
Fazendo parte do acordo, chamou no portão:
— Senhor Luciano!
Foi prontamente atendido.
O agora então, amigo oficial, convidou-os a entrarem e após cumprimentarem Sara, inclusive estendendo-lhe as mãozinhas, sentaram-se juntos na poltrona de apenas um lugar, que devido serem pequenos, os cabiam confortavelmente.
Fingindo desconhecimento, Sara insinuou:
— Que bom Regis, ter trazido seu irmãozinho. Como você se chama menininho?
— Paulinho. — Respondeu Regis por ele, já que estava tímido, de olhos vidrados na tevê, que talvez nunca tivesse visto.
— Você é muito bonitinho menininho. — Insistiu Sara. — É um verdadeiro principezinho.
— Também?! — Riu Regis.
— Também por quê?
— Você não disse que eu era príncipe? — Cobrou Regis.
— Os dois são! Irmão de príncipe é príncipe!
— Só se meu pai fosse rei! — Corrigiu ele.
— E é! — Riu ela. — Rei de sua casa.
— Essa roupa que você está usando é uniforme de escola? — Perguntou-lhe Luciano.
— É! — Respondeu como se quisesse dizer: “Parece burro”. “Não tá vendo as letras no bolso”?
— Vai à aula com ela, amanhã?
— Vou.
— Não amassa ao dormir?
— Não durmo com ela!
Como a novela se iniciou, todos se calaram, deixando a prosa por conta de Tony Ramos, Carlos Riccelli, Berta Zenmel... entre outros.
Enquanto isso, dando real importância a seus novos amiguinhos, desrespeitando o senhor supremo da sala, Luciano seguiu até a cozinha e preparou uma bandeja, com algumas bolachas pão de mel, outras de maisena e algumas de água e sal, alem de um refrigerante “Crush”[1], deixando organizado sobre a mesa de jantar da copa e voltando ao encontro deles, passando a assistir o resto daquela primeira parte.
No intervalo, convidou-os juntamente com sua esposa e sentaram-se ao lado da mesa, onde, principalmente as crianças, devoraram tudo com bastante apetite, em apenas três minutos, que era o tempo exato, dos reclames comerciais na televisão.
De volta à sala, permaneceram todos em completo silêncio; mesmo porque, se alguém tentasse fazer alguma pergunta a Regis, ele não responderia; o danadinho prestava tanta atenção na trama, que provavelmente saberia comentar todas as palavras de todas as cenas, faladas por eles, em capítulos apresentados a no mínimo dez dias.
Ao final da novela, depois de se despedirem, inclusive recebendo um beijinho de Sara, a princípio e talvez, que fosse sua única intenção, em Paulinho, depois em Regis, na saída do portão, como já estava remoendo de ansiedade, Luciano lhe perguntou:
— Regis, você sempre vinha em minha casa sem tomar banho, agora tem vindo todos os dias de banho tomado. Não é porque lhe questionei sobre isso. É?
— Não! — Respondeu secamente.
Criança sempre responde com poucas palavras.
— Por que é então? Já que antes você só tomava banho à noite.
— É melhor tomar banho antes que seja noite!
— Aí você não pode brincar do que talvez queira, só pra não se sujar.
— Eu brinco até de salva! — Riu ele.
— Suja a roupa. Fica suado. A mamãe não briga?
— Não!
— Dorme suado?
— Tomo outro banho, junto com Paulinho.
— Como assim?
— Quando vou brincar tiro esta roupa e coloco uma que já está suja; na hora de dormir, tomo outro banho. Paulinho às vezes resolve ir pro banho comigo e fica brincando debaixo d’água. Depois de enxugar, ponho uma roupa que é mesmo de dormir.
— Muito bom! O que quero dizer, é que não precisa mudar seu costume de banho, só pra vir em minha casa. Pode vir sem tomar banho mesmo. Caso prefira.
— Prefiro assim! Gosto de ser príncipe.
— Príncipe você é, mesmo estando sujo. — Achou graça Luciano.
— Obrigado! Tchau!
— Tchau Paulinho!
— Diga tchau pro senhor Luciano. — Cobrou Regis do irmão. — Ele gosta de crianças.
Com o passar dos dias, Regis frequentava assiduamente aquela casa e aos poucos foi se tornando cada vez mais à vontade, tal que, muitas vezes aparecia até durante o dia, sempre no período da tarde, já que estudava de manhã, onde geralmente ficava em companhia de Sara, uma vez que o marido estava no trabalho, na Vara da Infância, que então ficava no Forum, em frente à Praça Doutor Carlos Sampaio Filho. Sara sentia-se muito bem e feliz com sua presença e sua conversa, que no início era bem tímida e aos poucos, com sua amizade realmente cativada, foi se tornando bem ativa, conversando muito, sobre qualquer assunto.
Às vezes, como grávida precisa descansar, estendendo as pernas em posição acima do tronco, para tirar o inchaço, Regis, com ciência de sua mãe, ficava mesmo naquela casa, como se fosse pessoa para companhia e sempre dizia a ela, com jeito muito singelo:
— Pode dormir que eu cuido da casa.
Autor(a): innocente
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Geralmente após terminar o serviço rotineiro, Sara acabava dormindo durante duas horas, enquanto o menino permanecia na sala, assistindo televisão e atendendo no portão, caso alguém chamasse; o que era muito raro acontecer, pois eles não eram de receber visitas. & ...
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