Fanfic: •♥ღツ°Uma entrega especial°ღ•♥ [terminada]

Demorou um pouco para conseguir soltar o bebé do assento portátil com cintos de segurança, co­locado no fundo da grande embalagem. Assim que o retirou dali e o colocou sobre o ombro, o choro diminuiu um pouco. Os soluços que se seguiram foram ainda mais comoventes do que o insistente protesto inicial. Então o bebé se aninhou em seus braços e se curvou contra seu corpo.

Dulce não teve certeza de quanto tempo ficou ali, sentada no chão, com o bebezinho aninhado em seu peito. Só tinha certeza de que estava em cho­que, e de aquela criança rejeitada precisava tanto de seu calor e de seu carinho quanto ela própria precisava segurá-la nos braços.

Uma fina camada de cabelinhos, cujas delicadas mechas pareciam tentar se enrolar nas extremidades, cobria a pequena cabeça que cabia na palma de sua mão, tornando-lhe a aparência ainda mais frágil. Os dedinhos se curvavam e então se esten­diam em espasmos contra o peito dela. Ele parecia tão perfeito e ao mesmo tempo tão carente...

Pareceu-lhe impossível parar de tremer e tentar controlar a intensa onda de emoção que dominou seu coração naquele instante.

O bebé se contorceu e virou a cabecinha, abrindo e fechando a boca. Mesmo sem ter experiência al­guma, era fácil perceber que se tratava de fome. Ao ajeitá-lo nos braços, de modo a afastá-lo de seu seio para não lhe dar falsas esperanças, percebeu que ele ficou bem aconchegado e em silêncio. Então voltou a agir como se estivesse procurando comida.

— Não tenho com que alimentá-lo, queridinho.

Ao se ouvir, em um tom quase desesperado, Dulce se lembrou da caixa e imaginou se a mãe da crian­ça não teria pensado nisso. Rogando para que sim, abaixou o bebé até a cavidade formada por suas pernas cruzadas, segurando-o apenas com uma das mãos. Com o braço livre, alcançou a grande embalagem e a tombou.

Ao escutar o som de algo pesado caindo para o lado, sentiu uma grande esperança. Ao. mesmo tempo, a pequena criatura em seu colo começou a chorar com intensidade, protestando contra a nova posição em que se encontrava. Assustada com a potência daqueles gritos, Dulce tentou se acalmar dizendo a si mesma que pelo menos os pulmões da criança eram bastante fortes.

Com a mão livre, afastou o cobertor e encontrou uma sacola plástica. Com certa dificuldade, des­cobriu que ela continha fraldas descartáveis e duas minúsculas peças de roupa.

— Deus, como é que uma mãe pode ter coragem de fazer isso? — murmurou.

Como que em resposta, o choro ficou ainda mais intenso. Era como se o bebé estivesse protestando por Dulce haver perdido tempo com uma questão tão inútil. Afinal, o fato de ele estar faminto era mais importante.

— Calma, estou tentando.

A resposta foi automática e acompanhada de um olhar de súplica na direção daquela pequena criatura. Contendo o fôlego, esticou-se o máximo possível para procurar mais no fundo, em meio aos outros cobertores que forravam a caixa. Quan­do tateou algo sólido, puxou o objeto para fora, descobrindo se tratar de uma sacolinha plástica contendo duas mamadeiras prontas e duas latas de leite em pó.

— Graças a Deus! — festejou.
Destampando a garrafinha e olhando para o bico de borracha, imaginou o que deveria fazer. Apenas dar ao bebé, daquela maneira? Bem, se ele parasse de chorar por apenas um minuto seria muito mais fácil pensar.

— Calma, bebé, está tudo bem — falou ela, ao ajeitá-lo em seu antebraço e encarar o bico da mamadeira, antes de colocá-lo na boquinha esfomeada. — Espero que você saiba o que fazer.

Porém, ele sugou apenas uma vez e então em­purrou a peça de borracha com a língua, virando o rostinho de lado. Depois daquela rejeição, Dulce de­duziu que deveria mesmo estar fazendo algo errado. O pior foi que, depois de abrir e fechar a boca procurando alimento, o choro do bebé recomeçou com ainda mais energia do que antes.

— Quer tentar de novo? Oh, Deus, não sei mais o que fazer!

Dessa vez ele fez uma careta, tentou se virar, então começou uma sucção hesitante. O movimen­to dos lábios era acompanhado de um gemidinho, semelhante ao que chamara a atenção dela para verificar o que havia na caixa.

Perguntou-se o que teria acontecido se ela hou­vesse apenas colocado a embalagem dentro de casa, trancado a porta e saído para o trabalho. Ao pensar em tal possibilidade, sentiu um grande mal-estar. Com os olhos marejados de lágrimas, soltou um suspiro e olhou para a criaturinha em seus braças.

— Ainda bem que você chamou minha atenção.
Mas então uma pergunta lhe veio à mente, deixando-a paralisada por um instante. Quem teria deixado um bebé à sua porta? Por que aquilo acon­tecera justamente com ela?

Repassando os eventos daqueles últimos minutos, lembrou-se de ter visto um pedaço de papel dentro da sacola, entre as latas de leite em pó. Contudo, em algum momento, empurrara a sacola para longe, enquanto se mexia para ajeitar o bebé no colo.

Lançando um olhar preocupado na direção da criança, tentou desocupar uma das mãos, passan­do a segurar a mamadeira entre o queixo e o pescoço. Então se esticou mais uma vez, conseguindo segurar a lateral da sacola entre os dedos.

— Consegui! — exclamou ela.

Mas teve de largá-la depressa, para segurar a mamadeira que escapara de seu queixo quando ela falara. Censurando-se pela tolice, esperou que o bebé voltasse a mamar antes de tentar outra vez.

Repetiu então a manobra, alcançando outra vez seu alvo. "Consegui!", dessa vez apenas pensou, contendo o desejo de comemorar em voz alta sua pequena vitória. Puxou então a sacola para si.

Com a mesma mão livre, pegou o papel que estava entre as latas e o desdobrou sobre a própria perna, alisando-o o máximo possível. Encontrou uma mensagem escrita em uma caligrafia cuida­dosa e bastante feminina.

"Sei que não permitirá que nada de mal acon­teça ao meu bebé."

Aquelas palavras simplórias pareceram dançar diante de seus olhos. Dulce engoliu em seco e piscou depressa, tentando se livrar das lágrimas que lhe bloquearam a visão.

Beijando a cabecinha aninhada em seu braço, prometeu:

— Não deixarei que nada de mal lhe aconteça. Eu juro.