Depois que Anahí acordou, teve que ficar mais três dias em observação no hospital e há uma semana teve alta. Durante esses sete dias, ela e Alfonso se viram apenas duas vezes com a ajuda de María Gabriela, pois Marichelo o proíbiu de entrar naquela casa, mesmo sob protestos de Enrique e Gabi. Os dois tiveram o reconhecimento de que foi o amor de Alfonso, a presença dele que a despertou do coma, mas Marichelo se mantinha firme e não acreditava que "coisas desse tipo" eram capazes de acontecer.
Numa tarde, Enrique chamou Anahí na sala e pediu para que o motorista da família fosse buscar Alfonso na casa que foi deixada de herança por seus pais, que era onde ele e Sherlyn ficavam quando estavam no México.
Anahí desceu as escadas e estranhou ao ver Alfonso sentado no sofá de frente para seu pai.
— Poncho? − franziu o senho. − O que faz aqui?
Ele deu de ombros.
— Sente-se Any. − Enrique apontou para o espaço vazio ao lado de Alfonso.
Ela estranhou.
— Do lado dele? − apontou.
Ele assentiu.
— O que ele faz aqui? − Marichelo apareceu na sala gritando.
Enrique suspirou. Já estava cansado das histerias da esposa.
— Marichelo, eu vou conversar com os dois. − a olhou sério. − Vou contar tudo.
— O quê? Você está louco?
— Chame a Gabi. − ignorou o que ela disse.
— Mas Enrique, você não po...
— Por favor, Marichelo!
Ela assentiu derrotada e subiu para chamar María Gabriela.
Pouco tempo depois ela e Marichelo desceram parando ao lado de Enrique.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? − perguntou Anahí.
— Vou contar toda a verdade. − olhou de Alfonso à Anahí. − Vocês merecem saber.
— Que verdade?
Ele suspirou e começou.
— Primeiro vou explicar o caso da María. − olhou para a mesma que sorriu, depois voltou seus olhos para Alfonso e Anahí. − Bom, quando Marichelo engravidou nossa vida mudou radicalmente. Ela não queria o bebê, e por mim resolveu não abortar. Anahí foi rejeitada durante esses nove meses. − olhou para a mesma que já mantinha os olhos marejados. Ela não estava acreditando no que ouviu. − E várias coisas mudaram, como por exemplo, nossa relação sexual. Marichelo não queria nada comigo todo esse tempo por causa da gravidez. Isso durou até Any completar dois anos e eu fui procurar sexo na rua. Na verdade a intensão não era essa, só saí para beber e acabei entrando em uma boate que foi onde conheci Gabriela, a mãe da Gabi. Ela era dançarina e acabou me seduzindo. A levei para um motel e foi lá que María foi gerada. Quando soube que ia ter outra filha não sabia o que fazer, eu me perdi e até me arrependi de ter traído Marichelo. Fui ao nascimento dela na Venezuela e todo mês mandava dinheiro, até há poucas semanas, que foi quando... bom, Gabriela morreu.
Anahí olhou para Marichelo que mantinha a cabeça baixa não sabendo o que dizer. Ainda não acreditava que sua mãe foi capaz de tudo isso. Anahí nunca foi bem-vinda naquela família, e saber disso a matava por dentro.
— Então é por isso... é por isso que você tanto me odeia. − murmurou com a voz embargada.
Alfonso segurou a mão dela e apertou demonstrando que estaria com ela para o que fosse.
Enrique prosseguiu:
— Eu sempre te quis, Any. Nunca te rejeitei, em nenhum momento. − respirou fundo. − Alfonso... − olhou para o mesmo, mas foi interrompido por Marichelo.
— Você não pode contar, Enrique!
— Não só posso, como vou! Ele merece saber.
— Saber o quê? − Poncho perguntou agoniado.
Enrique continuou:
— Ruth e o Sr. Alfonso se conheceram na faculdade. Ele era meu amigo e irmão de Marichelo, e um certo dia nos apresentou. Bom, os dois sempre sonharam em formar uma família, sempre quiseram ter um filho e tentaram muitas vezes, mas nunca conseguiram. Ruth foi fazer um exame e descobriu que era estéril, não podia ter filhos. Então ela veio pedir ajuda à Marichelo, para que conseguisse adotar uma criança. Marichelo sempre foi contra isso, pois nunca gostou de bebês e crianças e como se já não bastasse um, teria outro. Então, eu ajudei. Queria ver meus amigos felizes e só um filho traria alegria àquele casamento. Um dia recebemos a notícia de que um recém nascido havia dado entrada à um orfanato aqui na capital, pois os pais dele sofreram um acidente de carro e morreram no local, tiveram que fazer um parto de urgência na mulher. Fomos vê-lo e de cara, Ruth e Alfonso se apaixonaram por ele. Era um menininho moreninho e todo pequeno. Todo indefeso. − sorriu com a lembrança. − E quando esse garotinho completou dois meses, conseguiu ser adotado, e de fato, trouxe alegria à muitas pessoas dessa família. Inclusive à Anahí, que vivia brigando com ele, mas desde o começo, tanto eu, quanto Alfonso, sabiamos que se gostavam mais além do que uma simples cumplicidade entre primos. − fez aspas. − Três anos depois, Ruth conseguiu engravidar de Alfonso e teve Sherlyn.
Poncho chorava silenciosamente, e foi a vez de Anahí apertar sua mão.
— Então nós não... nós não... não somos primos? − perguntou ela com expectativa.
Enrique negou com a cabeça.
— Marichelo disse que jamais aceitaria qualquer tipo de relacionamento de Anahí com um membro da família, para ela não importava se eram ou não primos, porque de fato, ele se tornou parte de nossa família.− olhou para a mesma que os olhava com os olhos marejados.
— Eu jamais quis esse relacionamento de vocês. − se pronunciou pela primeira vez. − Ainda mais depois que Alfonso entrou na puberdade. Ouvia Ruth falar que sempre ele dormia fora ou levava uma garota para casa. Anahí não é garota de uma noite, não queria ter uma filha v/adia como as que esse moleque "pegava".
— Você nunca quis a minha felicidade. − falou Anahí com amargura. − Você nunca gostou de mim.
— Não. Como também nunca fui com a cara desse bastardo. − apontou com a cabeça para Alfonso, com nojo.
— Não fala assim dele. − falou ela entredentes. − E eu aqui, acabando com meu namoro por causa da preocupação dele − apontou para Alfonso − que achou que eu fosse sofrer por ficar sem falar com vocês...
— Eu não estou nem aí. Fique com quem quiser, só não me apareça grávida.
— Eu vou fazer dezenove anos e fico grávida quando bem entender, porque ao contrário de você, não vou jamais rejeitar meu filho.
Marichelo deu de ombros.
— Só não apareça mais na minha frente.
Anahí olhou para ela incrédula. Como pode ser possível que existam pessoa tão sem coração nesse mundo?
— Eu te odeio.
— Ótimo. − sorriu irônica. − Pois eu também sempre te odiei. − virou as costas e subiu as escadas sem nem olhar para trás.
Anahí abraçou Alfonso e começou a chorar descontroladamente. Jamais imaginou que sempre viveu na mentira. Poncho acariciava os cabelos dela tentando lhe transmitir calma.
Gabi e Enrique os olhavam com um sorriso nos lábios. Eles formavam um belo casal, realmente.
Quando estava mais calma, Anahí olhou para seu pai que se mantinha no mesmo lugar.
— É isso... Você não são primos biológicos... Não têm o mesmo sangue... − olhou para o lado. − Podem ser felizes juntos agora. − murmurou.
Alfonso sorriu e olhou para Anahí, que mesmo depois de tudo, ainda estava feliz, pois agora poderia viver em paz com o amor de sua vida.
Ele passou o polegar pelas bochechas rosadas dela que fechou os olhos sentindo a sensação. Poncho se aproximou e roçou seus lábios. Ela, impaciente e com saudade, o puxou pelo pescoço selando seus lábios num beijo lento, porém cheio de vontade.
— Já chega, né? − Enrique falou sorrindo de canto.
Eles se separaram com os lábios vermelhos e inchados e riram.
— Fico feliz por vocês. − Gabi sorriu.