Fanfic: Paixão incontrolável | Tema: LevyRroni

MPerroni — Peça a Any para subir, por favor.

Claro, Any já subira. Parecia espetacular para alguém que acabara de pedalar quinze quilômetros, a distância entre a casa de ambas. Exceto por algumas manchas de suor no top justo verde-esmeralda e no short esportivo preto, sua amiga parecia fresca como uma rosa e pronta para conquistar o mundo. — Essa garota tem os pulmões da mãe. Devia estar cantando. Maite pousou o fone no gancho, inclinou-se para a garrafa de café sobre a mesa e serviu uma xícara para Any. — Se minha irmã tiver algo a dizer, Cassie assumirá o palco a qualquer hora durante essa turnê. Será a primeira física cantora na história do Prêmio Nobel.

Any riu, jogou a garrafa de água vazia no compartimento de lixo reciclável de Maite e pegou a caneca.

Any — Quando elas viajam?

Maite fez uma careta. Imaginou mais uma vez como Cassie e Dulce evitariam matar-se uma a outra sem sua presença conciliadora. Criara a sobrinha dando-lhe exemplos de bom comportamento depois de ler em algum lugar que se tratava da melhor técnica de educação. Dulce não compartilhava da mesma idéia, e assumia sempre a pose de diva do rock. Sua frase favorita era: do meu jeito ou nada feito. Mas por sorte Cassie fazia o papel de adulta quando a mãe não dava conta, e Maite teria de contar com isso de novo. Cassie passaria o verão viajando com  Dulce pela Europa.

E pela primeira vez em quatorze anos, desde que Cassie nascera, Maite teria todo o tempo do mundo para se concentrar em si mesma e em seus objetivos. E necessidades. Não podia esquecer-se delas.

 MPerroni —Dulce foi para Londres ontem à noite. Minha sobrinha viajará na sexta-feira.

Antes de beber, Any acrescentou adoçante, o que qualificava a mistura como uma sobremesa maluca de baixo teor calórico.

MPerroni —Dulce não podia deixar de ser o centro do universo por dois dias para esperar a filha?

Any —Está surpresa? — Maite deu de ombros. — Você sabe, está mais do que claro que sua irmã é uma estrela... egocêntrica.  Any ergueu as sobrancelhas e sorriu, orgulhosa por não ter dito nada mais rude, pelo menos uma vez.  Isso não é novidade. — Algum problema?

Any se ajeitou no sofá onde Maite passara muitas noites... e tardes... e manhãs... sonhando acordada, fantasiando. Lera tudo, desde eróticos clássicos até cartas de leitores em revistas masculinas, enquanto escutava de Prince a Kenny G, passando por George Michael. Esperava que surgissem idéias para apimentar seu trabalho, mas até o momento não tivera mais sucesso em captar as nuances da literatura sensual do que a irmã com a maternidade. Isso não era nada bom. Se não fosse pelas fantasias com o detetive William Levy, desistiria de uma vez. Todavia, essas fantasias eram dela, não para o livro. Certo? Observou a carta de revisão com um pouco mais de cuidado e então a pôs sobre o tampo, com a face voltada para baixo.

MPerroni —Está tudo em ordem, Any. Cassie ama Dulce, e vice-versa. Mas Cassie sobreviveu a uma mãe ausente criando compartimentos bem controlados em sua existência. — Maite formou desenhos de quadrados com as mãos. — A escola, sua casa, os amigos, tudo fica aqui. E a mãe em algum lugar distante. Contanto que os compartimentos não se misturem, ela continuará sendo uma garota muito feliz.

Any —Compartimentos, hein? Imagino onde Cassie aprendeu essa tática de sobrevivência. — Any usou o tom certo para indicar que falava de Maite.

Aquela não fora uma maneira eficaz de lidar com as situações, pelo menos até o presente momento. Maite tinha apenas quinze anos quando a irmã de dezessete chegou em casa com duas novidades: a gravidez e uma proposta para cantar com uma famosa banda local. A mãe, solteira, generosa e de saúde frágil, prometera fazer de tudo para ajudar. Maite fizera a sua parte, e adaptou a rotina das aulas do colégio e da faculdade à do bebê. Também cuidava dos afazeres domésticos para que a mãe reservasse energia para Cassie. Maite recebera a guarda da criança apenas três semanas depois de Cassie completar cinco anos e Dulce aceitar uma proposta de uma grande gravadora para seguir carreira solo. Então, Maite aprendeu a pôr uma barreira em suas emoções e frustrações. Formou como que gavetas para cada momento vivido, como pequenas caixas de sapato, com as quais podia lidar em separado. Any nunca entendera os benefícios de ser organizada e lógica.

Any era a pessoa mais autoconfiante que Maite conhecera. Era muito competente e sempre acreditara em si mesma