Fanfic: Desperte comigo (adaptada) aya finalizada | Tema: ponny e vondy

— Mas isso é demais — arquejou Dulce— ele ainda não está forte para tanto!
— Nesta fase, faço a maior parte do trabalho — garantiu secamente. — Mas terei cuidado para que não se esforce demais.
Se percebeu o sarcasmo que Anahi não conseguiu evitar, não demonstrou. Assim, apenas acenou.
— Compreendo — a voz era fria. — Muito bem, verei Alfonso amanhã à tarde.
Bem, milagres nunca deixam de acontecer, pensou Anahi enquanto subia a escada. Tudo o que precisara fazer tinha sido mencionar que Alfonso estaria ocupado e, embora Dulce não parecesse feliz com a situação, havia concordado.
Depois de se aprontar para deitar, bateu de leve na porta dele; não ouviu resposta e a abriu um pouco, apenas o bastante para espiar. Estava adormecido, deitado de costas, a cabeça dobrada contra um dos ombros. Iluminado apenas pela luz fraca do corredor, parecia mais jovem, as linhas de sofrimento invisíveis.
Fechou a porta suavemente e voltou ao quarto. Estava cansada, tanto que seus braços e pernas doíam, mas depois de se deitar o sono fugiu. Sabia o motivo e ficou deitada, acordada, os olhos fixos no teto, consciente de que talvez não conseguisse dormir a noite inteira. Uma coisa tão tola, tão trivial... só porque Christopher a tocara.
No entanto, não era trivial e sabia. Poderia ter conseguido afastar os pesadelos, podia ter reconstruído sua vida completamente, mas seu passado estava lá, era uma parte dela e não tinha sido trivial. Estupro não era trivial. Desde aquela noite, não conseguira suportar que ninguém a tocasse. Com grande esforço, fizera um acordo consigo mesma para satisfazer sua necessidade humana de calor e contato ao trabalhar com seus pacientes, tocá-los, mas só suportava desde que estivesse no controle.
Na superfície, havia se recuperado completamente; construíra uma muralha entre o que era agora e o que fora, jamais pensando no que havia acontecido, literalmente se obrigando a juntar os pedaços estraçalhados de sua vida e, com intensa concentração e força de vontade, realmente remendando-os e construindo um tecido mais forte. Podia e iria desfrutar da vida. Mais importante, aprendera a se respeitar, o que tinha sido a tarefa mais difícil de todas.
Mas não conseguia suportar o toque de um homem.
Aquela noite a tornara definitivamente incapaz de se casar e ter uma família. Como aquela parte da vida lhe fora negada, ignorou-a e jamais lamentou o que poderia ter sido. Ao invés disso, tornara-se uma espécie de andarilha, viajando por todo o país, ajudando outras pessoas. Enquanto estava com um caso, tinha um relacionamento intenso com o paciente, cheio de amor e cuidado, mas sem nenhuma insinuação sexual. Amava-os e, inevitavelmente, eles a amavam... enquanto durava o tratamento. Tornavam-se sua família até o dia em que partia com um sorriso, pronta para seguir para seu próximo caso e sua próxima família.
Perguntara-se, quando começara seu treinamento, se algum dia seria capaz de trabalhar com um homem. O problema a preocupara até compreender que, se não pudesse, prejudicaria terrivelmente sua carreira e decidira fazer o que fosse necessário. A primeira vez que cuidara de um homem, tivera de cerrar os dentes e usar toda a sua considerável determinação para se obrigar a tocá-lo. Mas, depois de apenas alguns minutos, percebeu que um homem que precisava de terapia certamente não tinha condições de atacá-la. Eram apenas seres humanos que precisavam de ajuda, exatamente como todo mundo.Mas preferia trabalhar com crianças. Amavam com tanta espontaneidade, tão completamente. O toque de uma delas era fácil de tolerar; aprendera a gostar da sensação de pequenos braços circundando o pescoço num abraço de alegria. Se havia alguma coisa que lamentava e que não conseguia deixar de lamentar era o pensamento de que jamais teria filhos. Controlava a frustração devotando-se mais às crianças com quem trabalhava, mas bem no fundo havia a necessidade de ter alguém que lhe pertencesse e a quem pertencesse, como se fosse uma parte de si