Fanfic: Desperte comigo (adaptada) aya finalizada | Tema: ponny e vondy

Não, não estava. Observou-o deitado lá, usando apenas a calça do pijama, Deixara de usar a camisa muitas semanas antes. Ainda estava magro, mas agora era a magreza de uma camada rija de músculos. Mesmo suas pernas haviam adquirido alguma carne enquanto ganhava peso e, graças ao programa rigoroso que estabelecera, tinha até mesmo músculos nas pernas, apesar de sua incapacidade de fazê-las se mover. De qualquer maneira, era um atleta natural e seu corpo reagira prontamente ao treinamento. Seus braços, ombros e peito mostravam os benefícios do levantamento de peso e as horas na piscina deram a sua pele um bronzeado brilhante. Parecia incrivelmente saudável, tudo considerado.
O que poderia lhe dizer? Não podia garantir que sua mente e seu corpo se recuperariam e permitiriam que reagisse normalmente porque a recuperação ainda não ocorrera com ela. Nem mesmo podia dizer que queria se recuperar. Talvez perdesse demais de calor humano vivendo como vivia, mas também evitava a crueldade humana. Até sofrer o acidente, Alfonso tivera uma vida encantada. Amara e fora amado por mais mulheres do que provavelmente podia se lembrar. Para ele, a vida não seria completa sem sexo. Para ela, a vida era muito mais segura assexuada. Como poderia começar a convencê-lo de uma coisa em que ela mesma não acreditava, pelo menos não para si?
Finalmente, disse, cautelosa:
— Está melhor, é verdade, mas ainda não está no auge da sua condição física. O corpo é constituído de uma série de sistemas complementares; quando alguma parte é ferida, todos os sistemas cooperam para ajudar a acelerar a cura. Com o programa de terapia que vem seguindo, fixou a mente e o corpo na reeducação dos músculos. É parte do processo de recuperação e, até ter progredido a ponto de não precisar mais de tanta concentração, acho que não é realista esperar qualquer reação sexual. Deixe que as coisas aconteçam a seu próprio tempo. — Observou-o um pouco mais, a cabeça dobrada de lado. — Calculo que tem agora sessenta e cinco por cento da sua força natural. Está esperando demais.
— Espero o que qualquer homem normal quer da vida — a voz de Alfonso era áspera. — Estava cheia de autoconfiança quando me prometeu que andaria de novo, mas não tem certeza disto, tem?
— Não sou uma terapeuta sexual — respondeu, irritada — mas tenho bom senso e estou tentando usá-lo. Não há nenhum motivo físico para não ser capaz de fazer sexo, assim aconselho-o a parar de se preocupar com isso e se concentrar em andar. A natureza cuidará de tudo o mais.
— Parar de me preocupar! — resmungou. — Senhora, não falamos do clima! Se não puder funcionar como um homem, qual a utilidade de viver? Não estou falando apenas sobre sexo; não haverá casamento para mim, nenhum filho e, embora jamais tivesse querido me casar com ninguém, sempre pensei que gostaria de ter uma família algum dia. Não pode compreender? Nunca pensou em ter um marido, filhos?
Anahi se encolheu e se afastou fisicamente dele. Alfonso tinha uma capacidade única de atingi-la onde era mais vulnerável. E, antes que pudesse se impedir, disse, a voz áspera:
— Sempre quis filhos. E fui casada. Só não funcionou.
O peito dele subiu e desceu quando inspirou profundamente o ar e ela sentiu o seu olhar estudando o rosto na escuridão. Certamente ele não podia ver mais do que alguns traços, já que estava sentada fora da luz fraca que entrava pelas janelas, então por que sentia como se soubesse como o lábio dela tremia ou como se visse a súbita palidez no rosto?
— Maldição — disse suavemente — fiz de novo, não fiz? Cada vez que digo alguma coisa, meto os pés pelas mãos.
Deu de ombros, tentando não deixá-lo perceber como sua armadura agora estava frágil.
— Está tudo bem — murmurou — foi há muito tempo. Era apenas uma menina, jovem demais para saber o que fazia.
— Quantos anos você tinha?
— Dezoito.Rodrigo... meu ex-marido... 23, mas nenhum de nós estava pronto para o casamento.
— Quanto tempo durou?
A risada dela foi áspera na garganta.
— Três meses. Não exatamente um recorde, é?
— E desde então? Não se apaixonou por mais ninguém?
— Não, e não quis me apaixonar. Estou satisfeita do feito que sou.
A conversa já havia ido longe demais, não queria revelar mais nada além do que revelara. Como ele conseguia abalar aos poucos a muralha que construíra em forno do seu passado? A maioria das pessoas nem mesmo sabia que havia uma. Desdobrou as pernas e desceu da cama, abaixando a camisola que se enrolara em torno das coxas.
Alfonso deixou escapar um palavrão pesado.
— Está fugindo,Anny. Sabe há quanto tempo está aqui sem receber um único telefonema ou carta, sem sair até mesmo para fazer compras? Trancou-se nesta casa comigo e deixou o mundo do lado de fora. Não tem amigos, namorados? O que há lá fora que lhe causa tanto medo?
— Não tenho medo de nada lá fora — era verdade, todos os seus terrores estavam presos nela, congelados no tempo.
— Acho que tudo lá fora a amedronta — estendeu o braço e acendeu o abajur sobre a mesinha de cabeceira. O brilho suave afastou as sombras e a iluminou onde estava em pé, com sua camisola branca e os longos e negros cabelos descendo pelas costas. Parecia uma figura medieval, presa numa fortaleza que ela mesma construíra. Os olhos verdes a estudaram lentamente.
— Tem medo da vida, assim não permite que ninguém a toque. Precisa tanto de terapia quanto eu, meus músculos não funcionam, mas é você que não sente. — A voz era muito suave e até carinhosa.