Fanfic: Desperte comigo (adaptada) aya finalizada | Tema: ponny e vondy

Quando ele partiu, Anny contemplou o golfo por um longo tempo, observando as ondas eternas se apro­ximando da areia. Era bom que suas férias estivessem chegando ao fim, já descansara por duas semanas em total graça na Flórida, não fazendo nada mais cansativo do que caminhar pela maré. Já começava a pensar vaga­mente em seu próximo trabalho, mas agora parecia que seus planos haviam mudado.

Abriu o envelope e ergueu as radiografias, uma a uma, em direção ao sol e se encolheu um pouco ao ver quanto dano fora causado a um corpo forte e vital. Era um milagre não ter morrido de imediato. Mas as chapas tiradas após cada cirurgia bem-sucedida revelaram ossos que tinham se reconstituídos melhor do que deveriam, melhor do que qualquer um esperaria. Juntas haviam sido reconstruídas; pinos e placas refizeram o corpo e o mantiveram unido. Estudou o último conjunto de ra­diografias com enorme cuidado. O cirurgião tinha sido um gênio ou os resultados eram um milagre ou talvez uma combinação dos dois. Não via nenhum motivo físico para Alfonso não andar de novo, desde que seus ner­vos não tivessem sido completamente destruídos.

Começou a ler o relatório do cirurgião e se concen­trou em cada detalhe, até compreender exatamente quais danos tinham sido causados e os consertos feitos pela cirurgia. Este homem podia andar novamente; faria ele andar! O fim do relatório mencionava que melhoras adicionais foram impedidas pela falta de cooperação do paciente e a profundidade de sua depressão. Podia quase sentir a extensão da frustração do cirurgião quando es­crevera aquilo, depois de todo o seu trabalho insano, depois do sucesso quase milagroso de suas técnicas, o paciente se recusava a ajudar!

Reunindo tudo de novo, começou a colocar o con­teúdo no envelope quando percebeu que havia algo mais dentro, um pedaço rijo de papelão que não vira antes. Puxou-o e virou. Não era apenas um pedaço de papelão, era uma foto. Atônita, viu-se observando um par de sorridentes olhos verdes, que brilhavam, e dança­vam com a pura alegria de viver.

Christopher Ucker também era esperto e sabia muito bem que poucas mulheres seriam capazes de resistir ao ho­mem dinâmico na foto. Soube de imediato que era Alfonso antes do acidente. Seus cabelos castanhos es­tavam desarrumados, o rosto profundamente bronzeado quase dividido por um sorriso malicioso que produzia uma cativante covinha na face esquerda. Vestia apenas um calção de brim, o corpo forte e musculoso, as pernas longas e poderosas de um atleta. Segurava um peixe merlin de bom tamanho e, no fundo, podia ver o azul profundo do oceano; então ele pescava em águas profundas também. Não havia nada que o homem não pudesse fa­zer? Sim, agora havia, lembrou. Agora não podia andar.

Queria recusar o caso apenas para demonstrar a Christopher que não podia ser manipulada, mas quando olhou o rosto na foto soube que faria exata­mente o que ele queria e ficou perturbada. Havia tan­to tempo que não se interessava por um homem que se assustou com sua reação à fotografia.

Traçou o contorno do rosto dele com a ponta do dedo e imaginou desejosa como sua vida seria se fosse capaz de ser uma mulher normal, amar um homem e ser amada de volta, uma coisa que o breve e desastroso casamento mostrara ser impossível. Aprendera a lição da maneira mais difícil, mas jamais a esquecera.

Homens não eram para ela. Nem um marido amoro­so e filhos. O vazio deixado em sua vida pela total au­sência de amor teria de ser preenchido pela sensação de contentamento que sua profissão lhe proporcionava, pela alegria que sentia ao ajudar alguém. Poderia olhar a foto de Alfonso com admiração, mas os de­vaneios que qualquer outra teria ao olhar aquela beleza masculina não lhe cabiam. Devaneios eram uma perda de tempo porque sabia ser incapaz de atrair um homem como ele. Seu ex-marido,Rodrigo Scott, ensinara-lhe com dor e humilhação que era tolice atrair um homem quando não era capaz de satisfazê-lo.

Nunca mais de novo. Jurara então, depois de deixar,Rodrigo  e prometeu de novo agora. Nunca mais daria a um homem a oportunidade de machucá-la.

Uma rajada súbita de vento salgado tocou seu rosto e ergueu a cabeça, um pouco surpresa ao ver que o sol desaparecera completamente e que estivera com o olhar preso à foto sem realmente vê-la enquanto mergulhava em suas dolorosas lembranças.

Levantou-se e entrou, acendeu a lâmpada do alto abajur de pé e iluminou o interior fresco da casa de praia.

Deixou-se cair numa poltrona macia, recostou a cabeça e começou a planejar seu programa terapêutico embora, é claro, não pudesse fazer nenhum plano con­creto até se encontrar pessoalmente com o sr.Herrera e poder julgar sua condição. Sorriu de leve com a idéia. Adorava um desafio mais do que qualquer outra coisa e tinha a sensação de que ele lutaria contra ela a cada centímetro do programa.

Precisaria ser firme, ficar no controle da situação e usar seu desamparo como uma alavanca, tornando-o tão irri­tado que passaria pelo inferno para melhorar só para se ver livre dela. Infelizmente, realmente teria de passar pelo inferno; a fisioterapia não era brincadeira. Tivera pacien­tes difíceis antes, pessoas deprimidas e zangadas com sua incapacidade que haviam se fechado para o mundo e pre­via que Alfonso reagiria da mesma maneira.

Fora tão ativo, tão vitalmente vivo e em condições perfeitas, um homem verdadeiramente temerário; acre­ditava que estar limitado a uma cadeira de rodas matava sua alma. Não se importaria se vivesse ou morresse, na verdade não se importaria com coisa alguma.

Dormiu profundamente aquela noite, sem pesadelos para perturbá-la, e se levantou bem antes do amanhecer para sua costumeira corrida na praia. Não era uma corredora séria, que contava os quilômetros e se preocupa­va o tempo todo em se superar; corria pelo puro prazer de correr e continuava até se sentir cansada, então ca­minhava e deixava a espuma fria da maré lavar os pés.

O sol começava a nascer quando voltou para casa, tomou uma ducha e começou a fazer as malas. Decidira, portanto não via necessidade de perder tempo. Estaria pronta quando o Christopher voltasse. E ele nem se surpre­endeu quando viu suas malas.

— Sabia que aceitaria o trabalho.

Anny olhou-o com uma fina sobrancelha  arqueada.

— É sempre tão seguro, sr. Ucker?

— Por favor, pode me chamar de Christopher Não, nem sempre sou tão confiante, mas o doutor Damian me falou muito de você. Acreditou que aceitaria o trabalho porque é um desafio e, quando a conheci, soube que linha razão.

— Vou ter de conversar com ele sobre sua mania de contar meus segredos — mas o tom era de diversão.

— Nem todos — e alguma coisa na voz dele a fez se perguntar o quanto ele sabia. — Ainda tem muitos se­gredos guardados.