Fanfic: Desperte comigo (adaptada) aya finalizada | Tema: ponny e vondy

O choque percorreu o corpo de Anahi e fez seus grandes olhos se abrirem. Na luz fraca do crepúsculo, brilhavam como ouro, tão profundos e insondáveis como os de um gato.
— Como pode me ferir? — A voz era baixa e rouca.
— Fazendo você se apaixonar. — Era astuto demais, capaz de avaliar uma situação com um olhar. — Andei observando as mudanças em você nas últimas duas semanas. Era linda antes, Deus sabe, mas agora está de tirar o fôlego. Você... brilha. Aquelas roupas novas, a expressão do rosto, até mesmo a maneira como anda... tudo isso mudou. Precisa de você agora tão intensamente que tudo o mais deixou de existir em sua mente. E depois? Quando puder andar de novo, ainda a observará como se os seus olhos estivessem grudados em você?
— Pacientes já se apaixonaram por mim antes — enfatizou.
— Não duvido, mas já se apaixonou por um deles? — O interrogatório era implacável.
— Não estou apaixonada — tinha de rejeitar a noção, tinha de afastá-la. Não podia estar apaixonada por Alfonso.
— Reconheço os sintomas — explicou Christopher.
Por mais difícil que fosse a conversa quando falavam sobre Dulce , Anahi a preferia muito mais ao assunto atual e ela se afastou, desajeitada.
— Não construo castelos de areia — garantiu, cerrando as mãos em punhos para se impedir de tremer. — Quando Alfonso puder andar, procurarei outro trabalho. Sei disso, desde o começo. Sempre me envolvo pessoalmente com meus pacientes — riu de leve. Era isso, apenas sua concentração normalmente intensa em seu paciente. Christopher balançou a cabeça, divertido.
— Vê todos com tanta clareza e, no entanto, é tão cega sobre si.
O pânico antigo, que a cegava, tão familiar na forma, mas, de repente, tão estranho na substância, apertou-lhe o estômago. Cega. Aquela palavra, a que Christopher havia usado. Não, pensou dolorosamente. Não era tanto que estivesse cega e sim que deliberadamente não quisera ver. Construíra uma muralha entre ela e qualquer coisa que a ameaçasse, sabia que estava lá, mas enquanto não precisasse olhar, podia ignorar sua existência. Em duas oportunidades, Alfonso a obrigara a enfrentar o passado que quisera esquecer, sem perceber o quanto lhe custara em dor.
Agora Christopher, embora usasse o cérebro analítico em vez dos instintos básicos com os quais Alfonso agia, tentava fazer a mesma coisa.
— Não sou cega — negou, a voz muito baixa. — Sei quem e o que sou. Conheço meus limites, tive de aprendê-los da forma mais difícil.
— Está enganada — os olhos cinzentos eram pensativos — aprendeu apenas os limites que outras pessoas lhe impuseram.
Aquilo era tão verdadeiro que quase se encolheu com o choque. Instintivamente se afastou, ergueu o corpo e reuniu suas forças internas.
— Acho que queria conversar comigo sobre Dulce  — lembrou, calma, deixando-o saber que não falaria mais sobre si.
— Queria, mas pensei melhor e não vou aborrecê-la com o assunto. Tem coisas demais em sua mente agora. No fim, Dul e eu teremos de resolver as diferenças, assim é inútil pedir o conselho ou a ajuda de qualquer outra pessoa.
Voltaram para a casa e se dirigiram ao estúdio. Dulce estava sentada de costas para eles, mas a concentração que a postura traía lhe revelou exatamente a expressão de seu rosto. Odiava perder e usava todas as suas energias para vencer Alfonso. Embora fosse uma boa jogadora de xadrez, o marido era melhor. Geralmente, ficava louca de alegria quando conseguia vencê-lo.
Alfonso, porém, ergueu os olhos quando Christopher e Anahi entraram e uma expressão dura e determinada transformou seu rosto numa máscara. Os olhos verdes se semicerraram.
Mais tarde, naquela noite, quando espreitou com a cabeça pela porta do quarto dele para lhe desejar boa noite, ele disse, calmamente:
—Anny, o casamento de Dul está preso por um fio frágil. Estou avisando: não faça nada para rompê-lo. Ela ama Chris e perdê-lo a matará.
— Não sou uma destruidora de lares ou prostituta — respondeu, indignada.
A raiva a fez ruborizar furiosa enquanto o olhava. A lâmpada do abajur de cabeceira estava acesa, evidentemente esperando que fosse lhe dizer boa noite, como fazia com freqüência e assim poderia ver como sua atitude era proibitiva e decidida. Uma dor perplexa se misturava à raiva e a faz tremer por dentro. Como ele podia até mesmo pensar...
— Não sou como minha mãe. — A voz era dura quando se virou, saiu e bateu a porta com força. Fugiu para seu quarto, ignorando os sons chamando-a pelo nome com exigência.

Estava furiosa e magoada, mas anos de autodisciplina lhe permitiram dormir sem sonhos. Quando acordou horas mais tarde, poucos segundos antes que o despertador tocasse, sentiu-se melhor. Então franziu a testa. Parecia que seu inconsciente podia ouvir o eco de seu nome sendo chamado. Sentou-se na cama e virou a cabeça de lado para ouvir melhor.
—Anny! Maldição do inferno!