Fanfic: Desperte comigo (adaptada) aya finalizada | Tema: ponny e vondy

Estava tão cansada... sabia tudo agora e ela se sentiu vazia, como se todo o terror que a preenchera por tanto tempo houvesse se desmanchado, deixando-a inerte e perdida. O calor do corpo de Alfonso era tão confortador no quarto frio; a batida firme do coração no peito forte a acalmava tanto. Podia sentir a rigidez de aço nos braços que a envolviam, sentir a segurança de sua força. Dera-lhe aquela força; era apenas certo que confiasse nela agora. Virou o rosto para ele, inalando e saboreando na língua o cheiro intoxicante do seu corpo. Cheirava a homem, a suor, um cheiro de grama limpa que fugia dela quando tentava encontrá-lo. Tinha um cheiro almiscarado de sexo, uma lembrança daquela noite incrível. Com um suspiro lento e suave, dormiu, todos os seus sentidos cheios dele.
Quando acordou, estava sozinha na cama e a claridade do quarto lhe mostrou que a manhã estava quase no fim. Não teve a sorte de se esquecer, nem por um momento, dos acontecimentos da noite. Seus olhos foram para a galeria, mas a cadeira de rodas não estava mais lá e se perguntou como Alfonso pudera deixar sua cama e pegá-la sem acordá-la; tinha o mais leve dos sonos e acordava com qualquer ruído incomum. Mas estivera tão cansada... ainda estava cansada, o corpo pesado e desajeitado, suas reações lentas.
Conseguiu se levantar e sentiu as leves dores no corpo, tão estranhas para ela. Como pudera ter sido tão estúpida a ponto de deixar Alfonso fazer amor com ela? Tentava atravessar aqueles últimos dias com o mínimo de dano emocional e agora tornara tudo impossivelmente complicado. Nunca devia ter tentado excitá-lo; não sabia nada sobre como lidar com homens ou consigo mesma, para dizer a verdade. Dissera: Preciso de você e ela se entregara. Uma mulher fácil, pensou com desprezo. Devia ter percebido quem ela era a um quilômetro de distância. Então, para coroar, contara-lhe sobre Rodrigo. Encolheu-se internamente com o constrangimento. Conseguira, durante anos, controlar-se, impedir-se de mergulhar no poço sujo do passado. Então, não se sentia confortável com homens; e daí? Muitas mulheres sobreviviam muito bem sem homens. Quando pensava na maneira como se agarrara a ele, chorando e gemendo, queria morrer de vergonha. Sua natureza solitária odiava o pensamento de se mostrar tanto a outra pessoa, mesmo o homem com quem passara seus dias e noites por meses.
A força de vontade era um instrumento poderoso; acalmou seus nervos, deu-lhe coragem de dar de ombros e entrar no chuveiro como se não houvesse nada de incomum naquela manhã. Vestiu-se de maneira normal e foi diretamente para a academia onde sabia que o encontraria. Não havia necessidade de adiar seu encontro porque o tempo não o tornaria mais fácil. Era melhor enfrentá-lo e acabar com tudo.
Quando abriu a porta, olhou-a, mas não disse nada, estava deitado de bruços, levantando pesos com as pernas e contando. Concentrava-se completamente nas exigências que fazia ao corpo. Erguia cada perna por vez num ritmo lento e constante.
— Há quanto tempo está fazendo isto? — A voz de Anahi era severa e esqueceu seu desconforto quando a preocupação profissional se manifestou.
— Meia... hora... — a voz saía entre os dentes cerrados.
— É o bastante, pare agora mesmo — ordenou. — Está exagerando e não é de admirar que suas pernas tenham câimbras. O que está tentando fazer, castigá-las pelos anos em que não funcionaram?
Ele relaxou com um gemido.
— Estou tentando me livrar do andador — disse, irritado. — Quero andar sozinho, sem me apoiar em nada.
— Se machucar um músculo, vai se apoiar em alguma coisa por muito mais tempo do que o necessário — irritou-se. — Observei-o se esforçar além dos limites do bom senso, mas agora chega. Sou uma terapeuta, não uma espectadora. Se não vai seguir minhas instruções, então não há motivo para ficar aqui.
Sua cabeça se virou para ela e os olhos escureceram para uma cor tempestuosa.

— Está me dizendo que vai partir?
— Depende de você — a expressão era severa. — Se fizer o que eu mandar e seguir o programa de treinamento, então ficarei. Se ignorar tudo o que digo e fazer o que quiser, não há razão para eu perder tempo aqui.
Enrubesceu e ela percebeu que ainda não se acostumara a obedecer a ninguém. Por um momento, esperou que lhe dissesse para arrumar suas malas e se preparou para as palavras que poriam um fim ao seu tempo com ele. Então cerrou o queixo.
— Está bem, senhora, você é a chefe. Qual é o problema hoje? Está nervosa como uma cascavel.
Um alívio absurdo a percorreu, tanto por não ter sido mandada embora como pelo familiar e confortador mau humor aparente em suas palavras. Podia lidar com aquilo; mas sabia, sem dúvida, que não conseguiria lidar com a situação se fizesse qualquer referência à intimidade da noite, se tentasse beijá-la e agisse como um amante.
Estava tão determinada a recuperar o relacionamento terapeuta-paciente que, durante o dia, resistiu a todas as suas provocações e tentativas de brincar com ela, olhan-do-o com frieza cada vez que voltava para ela seus olhos sorridentes. Quando terminaram os trabalhos do dia, rosnavam um para o outro como dois cães vadios.Anahi , que não comera nada o dia inteiro, estava com tanta fome que se sentia quase doente e isso apenas aumentava a hostilidade que sentia.
Seu corpo se rebelava contra os maus-tratos que sofrera quando finalmente chegou a hora de jantar. Com pernas fracas, desceu a escada, a cabeça rodando de uma forma que a fazia sentir náuseas e que a obrigava a se segurar no corrimão. Estava tão absorta na tarefa de descer sem cair que não ouviu Alfonso atrás dela, não sentiu seu olhar verdes penetrar em suas costas.Chegou finalmente à sala de jantar e se deixou cair numa cadeira, aliviada por não ter perdido os sentidos. Depois de um momento, Alfonso passou por ela e entrou na cozinha; estava se sentindo mal demais para estranhar aquilo, embora fosse a primeira vez que o via entrar lá em todos os meses em que vivera lá.