Fanfic: * Senhora *
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O portão ficava a uns trinta passos da casa que se erguia no centro de vasto jardim inglês. Todas as janelas do primeiro pavimento estavam abertas e despejavam cortinas de luz, que tremulavam nas águas do tanque e na folhagem verde agitada pela brisa. As visitas foram conduzidas pelo criado ao salão, onde apenas se achava D. Firmina Mascarenhas, e o Torquato Ribeiro, com quem o velho trocou algumas palavras no vão de uma janela, enquanto Christopher sentado junto ao sofá, aguardava o terrível momento.
Ouviu-se um fruído de sedas, e Dulce assomou na porta do salão. Trazia nessa noite um vestido de nobreza opala, que lhe assentava admiravelmente, debuxando como uma luva o formoso busto. Com as rutilações da seda que ondeava o reflexo das luzes, tornavam-se ainda mais suaves as inflexões harmoniosas do talhe sedutor. Como que se banhava essa estátua voluptuosa, em um gás de leite e fragrância. Seus opulentos cabelos colhidos na nuca por um diadema de opalas borbotavam em cascatas sobre as alvas espáduas bombeadas, com uma elegante simplicidade e garbo original que a arte não pode dar, ainda que o imite, e que só a própria natureza incute.
Via-se bem que essa altiva e gentil cabeça não carregava um fardo, talvez o espólio de um crânio morto, jugo cruel que a moda impõe às moças vaidosas. O que ela ostentava era a coma abundante de que a toucara a natureza, como às árvores frondosas, era a juba soberba de que a galantaria moderna coroou a mulher como emblema de sua realeza. Cingia o braço torneado que a manga arregaçada descobria até a curva, uma pulseira também de opalas, como eram o frouxo colar e os brincos de longos pingentes que tremulavam na ponta das orelhas de nácar. Com o andar crepitavam as pedras das pulseiras e dos brincos, formando um trilo argentino, música do riso mavioso que essa graciosa criatura desprendia de si e ia deixando em sua passagem, como os harpejo de uma lira. Atravessou a sala com o brando arfar que tem o cisne no lago sereno, e que era o passo das deusas. No meio ondulações da seda parecia não ser ela quem avançava; mas os outros que vinham ao seu encontro, e o espaço que ia-se dobrando humilde a seus pés, para evitar-lhe a fadiga de o percorrer.
Se Dulce contava com o efeito de sua entrada sobre o espírito de Christopher, frustrara-se essa esperança; porque os olhos do macebo nublados por um súbito deslumbramento, não viram mais do que um vulto de mulher atravessar o salão e sentar-se no sofá. A moça, porém não carecia dessas ilusões cênicas. Aquela aparição esplêndida era em sua existência um fato de todos os dias, como o orto dos astros. Se sua beleza surgia sempre brilhante no oriente dos salões, assim conservava-se toda a noite, no apogeu de sua graça. O Damián, vendo entrar sua pupila, foi-lhe ao encontro e acompanhou-a até ao sofá:
- Dulce, tenho a honra de apresentar-lhe o Sr. Christopher.
A moça correspondeu com uma leve inclinação da fronte à cortesia de Christopher, a quem estendeu a mão, que ele apenas tocou. Ainda neste momento o moço não conseguiu de si fitar a pessoa que tinha em face. Esse rosto desconhecido incutia-lhe indizível pavor; porque era a fisionomia de sua humilhação.
Dulce para romper o enleio da apresentação, começara com o tio uma dessas conversas de sala, que suprem o piano e o canto; e que não passam, como eles, de um rumor sonoro para entreter o ouvido. A extrema volubilidade com que a palavra lhe brincava nos lábios, fazia contraste com a rispidez do gesto sempre harmonioso, e com um refrangimento que por assim dizer congelava-lhe o lado do perfil voltado para Christopher. Entretanto dissipou-se a grande comoção que percutira profundamente o organismo desse homem, desde o momento da entrada de Dulce no salão, e lhe havia embotado os sentidos. Uma voz melodiosa penetrou-lhe n’alma, acordando ecos ali adormecidos. Pela primeira vez pôs os olhos no semblante da moça e imagine-se qual seria o seu pasmo reconhecendo Dulce Saviñón.
Por algum tempo julgou-se vítima de uma alucinação. Custava-lhe a convencer-se que tivesse realmente diante de si a mulher de quem se julgava eternamente separado. A comoção foi tão forte que desvaneceu quase de seu espírito a lembrança do motivo que o trouxera aquela casa, e a posição falsa em que se achava. Uma satisfação íntima o absorveu completamente, e não deixou presas às amargas preocupações que pouco antes o dominavam. Também Dulce de sua parte havia recobrado a calma, pois voltou-se sem o mínimo acanhamento para o moço e perguntou-lhe:
- Esteve ultimamente no norte, Sr. Christopher?
- Sim, minha senhora. Cheguei semana passada de Pernambuco.
- Onde desempenhou uma comissão importante, acrescentou Damián.
- O Recife é realmente tão bonito como dizem?
- Creio que poucas cidades do mundo lhe poderão disputar em encantos de perspectiva e beleza de situação.
- Nem o nosso Rio de Janeiro? Perguntou Dulce com um sorriso.
- O Rio de Janeiro é sem dúvida superior na majestade da natureza; o Recife, porém prima pela graça e louçania. A nossa corte parece uma rainha altiva em seu trono de montanhas; a capital de Pernambuco será a princesa gentil que se debruça sobre as ondas dentre as moitas de seus jardins.
- É por isso que a chamam de Veneza brasileira.
- Não conheço Veneza; mas pelo que sei dela, não posso compreender que se compare a um acervo de mármore levantado sobre o lodo das restingas, com as lindas várzeas do Capibaribe, toucadas de seus verdes coqueirais, a cuja sombra a campina e o mar se abraçam carinhosamente.
- Já vejo que o senhor encontrou a musa no Recife, observou Dulce gracejando.
- Acha-me poético? Não fiz senão repetir o que provavelmente já disse algum vate pernambucano. Quanto à minha musa... ficou anjinho: morreu de sete dias e jaz enterrada na poeira da secretária! Respondeu Christopher no mesmo tom.
Autor(a): Bela
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Comentários da Fanfic 7
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anilorakk Postado em 13/09/2009 - 15:23:59
Oiii
genteeee !
Passem lá na minha web?? =)
- Nossa História -DyC(romance)
http://www.e-novelas.com.br/?q=webnovela&id=3933
Obrigada. ;)
P.S: Perdão a propaganda !
=* -
css Postado em 11/09/2009 - 17:57:19
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css Postado em 11/09/2009 - 17:56:50
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css Postado em 11/09/2009 - 17:56:27
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dulvonuckermann Postado em 11/09/2009 - 15:27:55
to amando a adaptação tambem é meu livro favorito. jose de alencar é meu escritor romancista favorito, posta maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais!!!!
passa nas minhas web's tambem; atraidos pelo destino, tudo que precisa saber: te amo! e quem sabe. te espero la bjks! -
bela Postado em 10/09/2009 - 15:30:42
é simm ... é o meu livro favorito!
continua lendo e comentando ...
bjinhos -
dulvonuckermann Postado em 10/09/2009 - 15:21:51
oi bela, esse web é uma adaptação não é? já li o livro e é lindo! posta mais concerteza vou ler essa nova versão, bjks!