ANAHI
Ele estava certo, pensou Anahi. Alfonso seria um inimigo terrível. Além disso, o que importaria se ela lhe contasse a verdade? Nada. Não queria nada dele. Havia tomado essa decisão na noite em que ele a dispensara.
O que estava protegendo, além de seu orgulho?
Todavia, Alfonso era um homem poderoso. Complexo. O fato de ter retornado para questionar sobre o bebê provava isso. Se ela admitisse que ele era pai de Daniel, qualquer coisa poderia acontecer.
— Anahi. - A voz dele era suave, mas os olhos eram gelados. - O que vai ser? Fazemos isso do meu jeito... ou do jeito difícil?
Ele observou-lhe o rosto, viu as emoções brincarem ali. Ela estava tremendo. Pelo frio da noite ou de raiva? Ele não se importava. E se queria puxá-la para seus braços novamente e beijá-la até que ela sussurrasse seu nome e tremesse de desejo, o que isso provaria... exceto que Anahi era uma mulher incrivelmente linda que ele nunca parava de desejar? E, ora, o que aquilo tinha a ver com qualquer outra coisa?
— Pela última vez - disse ele com firmeza - Daniel é meu?
Talvez por exaustão. Talvez porque aceitasse o inevitável. Ou talvez, pensou Anahi, porque ouvisse o nome de seu filho nos lábios do homem que plantara a semente em seu útero 13 meses atrás.
Qualquer que fosse o motivo, sabia que era hora de parar aquela briga.
— Sim, ele é - confirmou ela. - E daí?
De todas as perguntas da noite, esta era a única que interessava. E Alfonso soube, naquele instante, que seu mundo jamais seria o mesmo.
CAPÍTULO SEIS
Anahi tinha prometido a si mesma não contar a Alfonso que o bebê era dele... mas isso fora quando lhe contar, teria significado procurá-lo após o nascimento de Daniel.
Contudo, o destino o havia trazido de volta para sua vida. Alfonso vira seu brinquedinho e lhe fizera uma pergunta direta. Como ela poderia mentir?
Agora, esperando a reação dele, percebeu que deveria ter mentido.
Ele parecia estar em estado de choque. Se a cena estivesse acontecendo no cinema, ele poderia passar do choque para a alegria em segundos. Mas aquilo não era um filme. Mais ainda, aquele era Alfonso Herrera, o homem que perdia o interesse nas mulheres depois de alguns meses. Anahi sabia dessa reputação... e mesmo assim o quisera. A parte sua que buscava sofisticação tinha dito que ela poderia lidar com um caso amoroso.
Engano. Anahi não fora capaz de lidar com aquilo, especialmente quando Alfonso a dispensara, como se ela nunca tivesse feito parte de sua vida. Como poderia ter lhe contado sobre o bebê depois disso?
Mas lhe contara agora, e o rosto de Alfonso tinha perdido a cor. Até que os olhos esverdeados iguais os de seu bebê brilharam como pedras de gelo.
Anahi respirou profundamente. Não estava se sentindo muito bem. O leilão, Ferrantes, Alfonso aparecendo, e agora isto. Sua cabeça doía. Na verdade, tudo doía. Talvez estivesse adoecendo, ou talvez apenas reagindo ao dia terrível e infindável. Qualquer que fosse a razão, queria Alfonso fora dali. Não queria lhe dar explicações ou ouvi-lo negar que Daniel era filho dele.
Mas, de certa forma, podia entender isso. Ela havia negado também. Nem mesmo admitira a possibilidade de gravidez quando seu período menstrual não viera. Seu ciclo nunca tinha sido regular. Não sofria de enjoos matinais. Os seios não doíam. E então uma noite, sozinha na cama, porque Alfonso estava viajando a negócios, a ideia lhe ocorrera.
Talvez estivesse grávida.
Anahi se vestira, tinha ido à farmácia mais próxima, comprado testes de gravidez, levado para casa, estudado o resultado...
Duas horas e seis testes depois, sentara-se sobre o azulejo frio do banheiro. Então, sim, podia entender a reação de choque de Alfonso...
— ... pode ser minha, Anahi?
Ela piscou, olhou-o. A cor estava de volta no rosto dele. Assim como a expressão arrogante. Uma vez Anahi achara aquela atitude prepotente sexy. Não mais. Não era mais a mulher tola e impressionável que se apaixonara pelo grande Alfonso Herrera
— Você me ouviu. Perguntei como a criança pode ser minha.
Ela sentiu a dor de cabeça aumentar. A pergunta fria magoava.
— Do jeito usual - replicou ela com deliberado sarcasmo. - Ou você não teve aulas de educação sexual?
— Isso não tem a menor graça. Você sabe muito bem que usei proteção. Sempre.
Aquilo era mais do que negação. Ele a estava acusando de mentir. Anahi queria dar-lhe um tapa no rosto. Que tipo de mulher Alfonso pensava que ela era? Achava que seria capaz de inventar uma história como essa?
— O que sei - disse ela - é que engravidei, apesar da sua "proteção".
A boca de Alfonso se contorceu.
— Se um preservativo tivesse falhado, eu saberia.
— É claro - concordou Anahi com um sorriso amargo. - Você é, afinal de contas, o homem sabe de tudo.
— Sei que seria difícil para qualquer um entender como eu poderia ter engravidado você.
Ele parecia estar descrevendo uma experiência de laboratório, em vez do orgasmo mútuo de um homem e uma mulher. Alfonso não lembrava como o sexo tinha sido entre eles? Ela lembrava. Alfonso, entre suas pernas, penetrando-a lentamente. Seus beijos ardentes. O aroma da pele dele, a essência da paixão compartilhada...
Deus, o que havia de errado com ela? Por que lhe contara que Daniel era dele? Aquela discussão parecia sem propósito. O único interesse que Alfonso tinha no bebê era convencer-se de que não era seu filho.
E melhor assim, pensou Anahi, andando até a porta e abrindo-a.
— Acabamos aqui, Alfonso.
— Acabamos? - Ele riu. - Nem mesmo começamos. Quero respostas.
— Já teve sua resposta. Perguntou de quem Daniel era filho e eu lhe disse. Você negou. Não temos mais nada a discutir.