ALFONSO
Ele estendeu uma das mãos, bateu a porta e se aproximou de Anahi. Podia sentir a adrenalina bombeando seu sangue. Ela realmente achava que podia colocá-lo para fora? Depois de lhe jogar uma bomba... dizendo que a criança no andar de cima era sua...
Você perguntou, uma voz interior sussurrou.
Sim. Alfonso perguntara. E Anahi respondera. Ele tinha todo direito de continuar fazendo perguntas... ou Anahi pensava que ele aceitaria aquela declaração apenas baseado na palavra dela?
Um homem somente cometia tamanha estupidez uma vez na vida. Ele havia crescido muito desde o incidente com Perla D`Angelo.
— Vamos supor que a criança seja minha.
— Vá embora - disse ela, a voz tremendo. - Esqueça que esta conversa aconteceu.
— Você está alegando que ele é meu ou não é, afinal de contas?
Era tarde demais para mentir.
— Ele é seu - respondeu Anahi cuidadosamente - mas apenas por acidente biológico.
— Você sabia que estava grávida da criança antes de terminarmos?
— Eu já lhe falei, o nome dele é Daniel. - Os olhos dela brilhavam de maneira suspeita.
— Tudo bem. Você sabia que estava esperando Daniel quando nós rompemos?
— Na noite em que você me disse que estava cansado de mim?
— Droga, responda à pergunta. Você sabia?
— E se eu soubesse?
— Não lhe ocorreu me contar?
Os olhos de Anahi brilharam de raiva.
— Quando? Antes ou depois dos brincos?
Alfonso sentiu o rosto esquentar. Ela o fazia sentir como se ele tivesse tentado comprá-la, como se tudo fosse culpa dele.
— Eu lhe dei um presente porque... queria que soubesse que você significava alguma coisa para mim.
Anahi deu-lhe um tapa no rosto. Ele segurou-lhe o pulso, colocou o braço delicado atrás das costas dela. Sabia que não estava sendo gentil. Ela recuou, ergueu-se sobre os dedos dos pés, mas Alfonso não se importou.
— Jamais tente pôr a culpa em mim por não ter me informado sobre esta situação! - exclamou ele.
— E não foi culpa sua? - A voz de Anahi tremeu - Eu estava grávida. Grávida de seu filho. E você estava me dispensando de sua vida, quando tudo que eu queria de você era... era... - Ela tentou desvencilhar-se, mas a mão forte de Alfonso apenas a apertou mais. - Solte-me, Alfonso. Faça um favor a nós dois e vá embora.
Ela estava tremendo.
Tinha tremido naquela noite, também. Alfonso notara, mas dissera a si mesmo que não significava nada, que Anahi superaria o rompimento. Era modelo, pelo amor de Deus. Tinha saído com muitos homens.
Não tinha?
Ela parecera tão inocente na sua cama... Como se tudo que eles fizessem fosse uma novidade. E naquela noite, depois que ele lhe dissera que estava tudo terminado, houvera uma emoção nos olhos de Anahi que ele escolhera ignorar.
A mesma emoção que estava lá agora.
Sofrimento?
A garganta de Alfonso se comprimiu.
Sabia como aliviar aquela dor. Poderia envolvê-la nos braços. Segurá-la contra o coração. Beijá-la. Acariciá-la. Contar-lhe que nunca parara de pensar nela. Que ainda a queria.
O que estava pensando? Como Anahi ainda podia ter esse efeito sobre ele? Era por isso que Alfonso tinha terminado a relação. Não porque o caso estava muito longo, mas porque ela estava mexendo profundamente com seus sentimentos, com seu coração. Bem, isso não ia acontecer novamente. Muito menos agora. A última coisa de que precisava era reagir a Anahi, sentir aquele desejo avassalador que sempre sentia em sua presença.
Ela provavelmente estava contando com isso.
Algumas lágrimas, um beijo e Alfonso tinha lhe comprado a fazenda. Agora, esta história fantástica. Algumas lágrimas, outro beijo e Alfonso lhe diria o quanto queria dar a ela e ao filho o estilo de vida com o qual Anahi obviamente se acostumara.
O menino era seu? Esta era a questão do século. Se a resposta fosse sim, Alfonso faria o que tinha de ser feito, mas não ia aceitar a palavra de uma mulher como prova. Soltando o pulso de Anahi, recuou um passo.
— Eu quero uma prova.
— Não precisa de prova. Eu não quero nada de você.
— Como não queria a fazenda quando se entregou aos meus braços esta manhã? Ora, querida, não vamos ficar fazendo jogos. Eu quero prova da paternidade da criança... de Daniel. Quando ele nasceu? Onde? O meu nome consta na certidão de nascimento dele?
Lágrimas estavam escorrendo pelo rosto dela agora. Se aquilo fosse uma performance, era muito boa.
— Saia - gritou Anahi. - Saia da minha vida! Eu não lhe pedi nada quando estava carregando meu bebê. Não estou lhe pedindo nada agora. Eu nunca quis nada de você, Alfonso. Não seu dinheiro, não seus presentes caros...
— Mas quis isto - murmurou ele, e desistiu de lutar contra os seus desejos, contra o que sempre queria quando estava perto de Anahi. Envolveu-a em seus braços e capturou-lhe a boca na sua, beijando-a ardentemente, sem misericórdia, forçando-a a entreabrir os lábios, exigindo a resposta que ela sempre, sempre lhe dera.
Mas Anahi não lhe deu nada esta noite. Permaneceu imóvel dentro de seu abraço. Lentamente, Alfonso ergueu a cabeça. Os olhos dela estavam abertos, escuros e preenchidos de dor.
— Eu lhe imploro - sussurrou ela. - Se você algum dia gostou um pouquinho de mim, por favor, vá embora.
Alfonso a estudou. É claro que gostara de Anahi . Na verdade, gostara muito. Queria lhe dizer isso, beijá-la de novo, abraçá-la e substituir aquelas lágrimas de tristeza por suspiros suaves e doces.
Ele deu um passo atrás.
Não estava raciocinando com clareza. Tinha de sair dali. Falar com seu advogado. Com seus irmãos. Organizar exames, e se os exames fossem positivos, pensar em como lidaria com aquela situação.
Alfonso saiu da casa sem mesmo olhar para trás.
De uma coisa tinha certeza, disse a si mesmo enquanto dirigia.
Desta vez, não voltaria. Tinha terminado com Anahi.
Com o Brasil.
Não havia nada, absolutamente nada para ele lá.
Tudo que Alfonso podia pensar era em chegar em casa.
Nem mesmo iria esperar amanhecer, decidiu enquanto entrava no saguão do hotel. Era muito tarde, e o recepcionista estava cochilando atrás do balcão, mas e daí?
Alfonso o acordou. Disse-lhe que queria alugar um avião e um piloto. O homem bocejou. Então Alfonso pegou o talão de cheques e exigiu o avião imediatamente. Após alguns telefonemas, estava feito. Ele estava no ar uma hora depois. O avião era bonito e o piloto eficiente. No céu, a lua e estrelas brilhavam. E Alfonso... estava atordoado.
Era um homem que nunca se esquivava de responsabilidade. Não era por isso que tinha acabado em Bonito, para começar? Por que, de alguma forma, Cesare lhe transferira uma responsabilidade, a fim de acertar algo que estava errado há muito tempo com Alfonso? Sim, Cesare tinha entendido os detalhes erroneamente. Não havia homem morrendo, nenhuma fazenda próspera prestes a cair nas mãos de um filho incapaz de administrá-la. Havia, em vez disso, uma fazenda que, de alguma maneira, acabara lhe pertencendo. Gostasse ou não, a fazenda era sua, não de seu pai. Um músculo saltou em seu maxilar.
E havia mais.
Havia uma mulher, sozinha e sem dinheiro. Um bebê que ela dizia que era dele.
Alfonso fechou os olhos e gemeu.
O que tinha dito era verdade. Ele sempre usava preservativo para sexo, mesmo que certas vezes com Anahi... e somente com Anahi... tivesse desejado fazer amor sem a camada fina de látex envolvendo-o. A necessidade de sentir o interior quente e suave de Anahi quase o enlouquecera. Quisera saber que nada, absolutamente nada os separava, que ela era sua de uma maneira que ele nunca quisera que outra mulher fosse.
Alfonso se moveu desconfortavelmente contra o assento de couro. Apenas as lembranças com Anahi faziam seu corpo reagir. E aquele não era momento para excitar-se.
De qualquer forma, nunca tinha feito sexo desprotegido.
Gostava de riscos. Esquiar com o perigo de uma avalanche. Corrida de caiaque. Saltar de paraquedas. Arriscar seu dinheiro e sua reputação em negócios que outros homens não teriam coragem de assumir.
Mas sexo sem proteção? Isso não era risco, era suicídio, a menos que você estivesse pronto para se casar e ter filhos. Ele não estava. Na verdade, acreditava que jamais estaria. Conhecia as mulheres. Elas planejavam ciladas. Tramavam. Queriam maridos ricos e faziam qualquer coisa para consegui-los.
Portanto, sexo sem proteção, nunca.
Entretanto, acidentes aconteciam.
Se você não saísse de dentro de uma mulher rapidamente o bastante, após ejacular, poderia haver um problema. Alfonso sempre fazia tudo certo. Depois do momento explosivo, da sensação abençoada de liberação, e de um beijo e uma leve carícia, porque sabia que isso era importante para as mulheres, ele se retirava, ia para o banheiro e fazia sua higiene.
Exceto... bem... nem sempre seguira as regras com Anahi .
Houvera vezes em que o pensamento de sair de dentro daquele doce calor tinha parecido impossível. Vezes em que permanecera abraçando-a, beijando-a, relutante em deixá-la.
O quanto um preservativo protegia então? Não muito, pensou ele. E de quem isso era culpa, senão sua própria?
E mesmo agora seu corpo o traía com a memória. Certo. Bastava disso. O sexo tinha sido fantástico. A verdade era que nunca fizera um sexo melhor antes ou depois de Anahi, mas isso não vinha ao caso. E sim, era uma situação, por mais que ela achasse a palavra ofensiva. E a única maneira de lidar com aquilo era de cabeça erguida.
Alfonso pegou seu celular e acessou a lista de contatos. Pausou, o dedo sobre o nome do seu advogado. Pensou sobre os exames que ele recomendaria, no tempo que levaria para fazê-los. Pensou em Anahi, sozinha com um bebê naquela casa grande, caindo aos pedaços, e Ferrantes salivando sobre ela.
Praguejando, ele guardou seu celular, levantou-se e caminhou até a frente do avião. A comissária de bordo olhou para cima quando ele passou e sorriu-lhe.
— Ah, o senhor deseja alguma coisa? Só precisava apertar o botão.
Ele a ignorou, dirigiu-se para cabine e abriu a porta.
Capitão.
O piloto e o copiloto se viraram para olhá-lo. Alfonso viu a expressão confusa e preocupada no rosto deles e silenciosamente chamou-se de tolo. Pessoas não invadiam a cabine de um avião, mesmo num voo fretado, nos dias de hoje. O fato de ele ter feito isso apenas provava o que já sabia: seus assuntos no Brasil ainda não tinham terminado, e até que terminassem, não se sentiria em condições de prosseguir com a própria vida.
— Capitão disse ele, oferecendo o que esperava ser um sorriso tranquilizador - desculpe-me pela invasão, mas eu gostaria de mudar nosso destino.
Suas palavras pareceram alarmar ainda mais os homens.
— Eu gostaria de voltar para Bonito murmurou Dante rapidamente. - Peço desculpas pelo inconveniente e, é claro, vou pagar pelo voo como combinado, além de um valor adicional pela mudança de planos.
O piloto foi direto ao ponto:
— Por quê?
Que resposta seria mais bem compreendida?
— Uma mulher - disse Alfonso.
Piloto e copiloto sorriram.
— Ah, neste caso, sem problemas, sr. Herrera. Estaremos de volta no solo sem demora.
Alfonso assentiu.
— Excelente.
E era excelente. Ele retornaria ao Brasil, e a tudo que precisava ser feito. Tinha prometido a Anahi a escritura da fazenda, e lhe daria isso. Quanto ao resto... Exame de DNA. Exames de sangue. Claro, mas a quem estava enganando? A criança era sua. Os olhos esverdeados. Os cabelos escuros. Ademais, conhecia Anahi. Ela não lhe mentiria. Não havia uma única célula enganadora no corpo dela.
Aquele corpo maravilhoso... E o que isso importava?
Anahi estava fora de sua vida. Isso era o que Alfonso quisera na noite que rompera o relacionamento dos dois, e isso era o que queria agora. Mas faria a coisa certa. Daria a fazenda a ela. Estabeleceria um fundo financeiro para a criança e outro para Anahi. E então tudo acabaria.
Seria o fim dessa história.
Então, ele seria capaz de prosseguir com sua vida.
Espero que tenham gostado da maratona bjos chelle