CAPITULO OITO
Alfonso estava em pé no terraço de sua cobertura de dois andares na Central Park West, com uma xícara de café esfriando rapidamente na mão.
Era possível que tivesse ficado fora de Nova York somente por dois dias?
O outono parecia subitamente ter tomado conta do parque, com suas folhas caídas e seu colorido em tons de vermelho, marrom e dourado. Lá de cima, ele podia ver as azaleias e narcisos, que sua irmã, Maitê, tinha plantado em grandes vasos de sequóia, florescendo vividamente. May ficaria radiante.
Ela as plantara na última primavera.
Desde criança sua irmã adorava mexer na terra. Cesare passava horas no jardim cercado atrás da casa, plantando, então cultivando e regando sua colheita anual de tomates. May o acompanhava, cuidando das margaridas, que pareciam as únicas flores fortes o suficiente para sobreviver ao ar de Manhattan. Agora, adulta, ela tinha visto o terraço de Alfonso depois que ele comprara a cobertura, assumido uma expressão sonhadora e dito que podia imaginar quão perfeitas algumas plantas ficariam ali, e ali e ali...
Então ele lhe permitira plantar, e o resultado havia sido um verão de rosas, narcisos e outras flores, e agora lá estava o outono.
Sua primeira ideia, ao ver o parque colorido naquela manhã, foi ligar para ela e dizer: "Ei, May, sua ideia de mexer com terra não foi nada mal."
May riria e diria: "Isso se chama jardinagem, seu tolo."
Mas ele não podia.
Sua irmã iria querer ir ver pessoalmente, e como Alfonso poderia explicar a mulher e o bebê morando em sua suite de hóspedes? Explicar à sua família que aquele bebê talvez fosse seu filho, mas que não tinha feito um exame de DNA?
Sua mãe desmaiaria, sua irmã gritariam, seus irmãos o chamariam de tolo, e seu pai riria e diria que obviamente a viagem para o Brasil não lhe ensinara nada sobre negociação.
Alfonso inalou profundamente, depois bebeu um gole de café.
Talvez cafeína ajudasse. Alguma coisa tinha de ajudar. O que estivera pensando no dia anterior? Melhor ainda, realmente havia convencido Anahi a acompanhá-lo para Nova York... ou ela representara tão bem um papel que o convencera a fazer o convite?
Alfonso honestamente não sabia.
A única certeza era que o plano brilhante do dia anterior significava o desastre em potencial de hoje. Ou ele fora manipulado ou perdera sua sanidade. De qualquer ângulo pelo qual analisasse a situação, não achava que tinha sido uma boa ideia levá-los para sua casa.
Agora precisava manter isso em segredo até que tudo fosse resolvido. Não seria fácil, mas, se agisse com rapidez, poderia conseguir. Ninguém sabia que ele estava de volta. Ninguém do escritório e nem mesmo seus irmãos. Ele dera alguns dias de folga à sua governanta, assim como para seu motorista, porque não sabia exatamente quando voltaria. Os porteiros, do dia e da noite, estavam a postos, mas por que alguém o questionaria?
Pelo menos Alfonso tinha algum tempo para respirar.
Quanto ao motivo de sua atitude tola... ainda não possuía uma resposta.
Bebeu mais um gole do café e tremeu. Estava frio, mas tomou mesmo assim.
Fizera o café horas atrás, sabendo que precisava da cafeína, enquanto pensava num plano. Anahí, felizmente, ainda estava dormindo. Ela e o bebê. Não havia um único som vindo da suite de hóspedes. Alfonso a levara para lá assim que eles tinham saído do elevador privativo, e não ouvira um sussurro desde então.
Não que eles tivessem conversado muito durante o voo para casa.
" Há um pequeno cômodo nos fundos do avião, senhor" a comissária de bordo havia falado ao ver Anahí segurando um bebê nos braços. " A moça pode ficar mais confortável lá."
Era onde Anahí tinha passado o voo inteiro, aninhada num sofá daquele cômodo, a criança numa espécie de minicama cujo nome ele não sabia. Mas então, o que sabia sobre bebês?
Nada, pensou. Niente. Não sabia absolutamente nada sobre bebês, exceto que eles eram pequenos. Nunca pensara em ter filhos. Na verdade, sempre tivera de fingir quando alguém lhe mostrava fotos de bebês. Fazer algum comentário padrão como "bonitinho" e sorrir.
Era culpa sua que todos os bebês se pareciam? Ou que não lhe interessavam neste momento de sua vida? Algum dia talvez, mas certamente não agora.
Motivo pelo qual sua atitude impulsiva da noite anterior tinha sido um grande erro.
O plano que havia traçado com Sam Cohen... de obter exames de paternidade, estabelecer fundos financeiros necessários... tinha sido o certo. E daí se o banco vendera Puente e Filho para Ferrantes? Uma fazenda, como Sam apontara, era apenas uma fazenda. Ele poderia ter encontrado um outro lugar para Anahí e a deixado lá enquanto voltava e organizava o resto. Ela teria ficado a salvo de Ferrantes e da pobreza...