CAPÍTULO ONZE
Se existia uma coisa que os irmãos Herreras sabiam, era que ninguém seguia uma estrada reta na vida.
Havia estradas laterais e passos equivocados, correntes profundas que ameaçavam afogar um homem, abismos que poderiam levar uma vida, antes que pontes fossem construídas.
Todos os Herrera tinham experimentado tais coisas.
Era como Chris havia acabado no exército, Léo na Marinha. Era como Alfonso se encontrara no Alasca, fazendo um trabalho perigoso nos campos de petróleo. Era como, no final, os três irmãos tinham voltado para Nova York, unindo-se e investindo tudo... as economias de Chris e Léo, e os cheques generosos vindo do trabalho Alfonso nos campos de petróleo... no que finalmente se transformara em uma das companhias de investimentos mais bem-sucedidas do mundo.
Abismos. Correntes profundas. Saltos perigosos com os olhos fechados.
Era nisso que Alfonso estava pensando na segunda-feira de manhã, enquanto se barbeava.
Ele havia feito aquilo neste fim de semana. Levar Anahi e Daniel para Nova York era uma coisa. Inseri-los dentro de sua vida era outra. E, sim, ele fizera isso, transformando um quarto de hóspedes num quarto de bebê, mudando Anahi do quarto de hóspedes para sua própria suite. Ela havia protestado, dando todos os tipos de razões pelas quais aquilo era um erro, e talvez porque uma pequena parte de Alfonso concordasse, ele a envolvera em seus braços, acalmara-lhe as preocupações com beijos e transferira todas as coisas dela para seu quarto.
Abismos e correntes, certo. E, claro, algumas vezes você não sobrevivia a estes, mas, outras vezes, sim. E, quando sobrevivia, transpunha os obstáculos... Alfonso sorriu, abriu a torneira e lavou o rosto, removendo o creme de barbear restante.
Quando você conseguia, a vida era espetacular.
Ele pegou uma toalha e enxugou o rosto, enquanto olhava ao redor do banheiro. Um dia atrás, o espaço tinha sido totalmente masculino. Nada sobre o balcão de mármore da pia, exceto seu creme de barbear, um barbeador elétrico que raramente usava, um pente e uma escova. Todo o resto estava fechado nas gavetas abaixo. Agora, potes de creme, um vidro de perfume, uma escova de cabelos com cabo perolado, e mais uma dúzia de itens jaziam sobre a pedra.
As coisas de Anahi. Adorava vê-las ali, o que não combinava com um sujeito que tinha de contar até dez para se acalmar se alguma mulher esquecia um batom em sua casa.
Mas Any não era uma mulher qualquer. Ela era... especial. Linda. Brilhante. Sexy. Havia chovido no dia anterior, e eles acabaram passando a maior parte do mesmo diante da lareira, lendo o Times, fazendo palavras cruzadas juntos. O bebê, Daniel, deitado no tapete entre eles, sorrindo e agitando pequenos braços e pernas, subitamente soluçando como se seu coraçãozinho tivesse partido.
— O que foi? - perguntara Alfonso em pânico.
— Ele está com fome respondera - Anahi, sorrindo e então o alimentara ali mesmo, sentada na curva do braço de Alfonso. E o que ele sentira, observando o bebê mamando no seio de sua mulher, quase o desfizera.
Foi a vez de Anahi olhá-lo, arquear as sobrancelhas e perguntar:
— O que foi?
— Nada - disse ele, porque o que lhe acontecera ao vê-la alimentar o bebê era demais para ser colocado em palavras.
O bebê deles.
Daniel era seu filho.
Alfonso sabia disso, soubera desde o princípio. Não havia dúvida a esse respeito. O caminho, aquele que conduzia à vida, era, por uma vez, reto como uma flecha. Ele e Anahi tinham sido amantes, ele a engravidara, e a estrada era reta...
Reta como a estrada que acabava em uma casa com uma cerca branca, um jardim, uma garagem, um cachorro e um gato, e...
— Alfonso?
Uma batida leve à porta o tirou de seus pensamentos.
— Sim - respondeu ele, a voz estranha até mesmo para seus próprios ouvidos. Então pigarreou e tentou novamente: - Dê-me apenas alguns minutos.
— Tenho uma pergunta rápida.
—Bem, como eu disse, não pode esperar um minuto?
Droga.
Alfonso encolheu-se quando as palavras impacientes saíram de seus lábios.
— Esqueça. Eu não queria perturbá-lo...
Oh, Deus, ele era muito rude, pensou, abrindo a porta e puxando Anahi para seus braços, mesmo enquanto ela se virava para partir.
— Como você poderia me perturbar? - perguntou ele suavemente.
— Não, tudo bem.
Não estava tudo bem. Ele a magoara, podia ver isso nos olhos dela.
Hora da confissão disse Alfonso, segurando-lhe o rosto nas mãos, inclinando-o para o seu.
— Não sou uma pessoa que funciona bem de manhã.
Um sorriso fraco curvou os cantos dos lábios de Anahi.
— Você sempre foi uma pessoa da manhã - murmurou ela com suavidade. - E acabou de provar isso pouco tempo atrás.
Ele sorriu com o elogio.
— Ser este tipo de pessoa da manhã é fácil.
O sorriso de Anahi diminuiu um pouquinho.
— Tenho certeza de que sim.
— Ei. - Alfonso acariciou-lhe os cabelos gentilmente. - Talvez você deva saber que nunca convidei uma mulher para morar aqui até agora.
Os olhos de Anahi o estudaram.
— Foi isso que você fez? Convidou-me para morar aqui?
O caminho reto, levando à cerca branca, a casa...
Alfonso apagou a imagem de sua mente. Então confirmou.
— Sim. - E a beijou.
Longos minutos depois, ela suspirou.
— Sei que vim para cá por uma razão.
— Humm - murmurou ele, deslizando uma das mãos para a traseira do jeans de Anahi.
— Eu sei que... Alfonso. Como posso pensar se você...
— Você pode - começou ele solenemente, parando o movimento da mão um minuto para pensar.
— Eu gostaria de pedir que a sra. Janiseck adicionasse cereais para bebê em sua lista de compras. O médico em Bonito me aconselhou a acrescentá-los à dieta dele quando ele parecesse pronto, e...
— Então peça.
— Bem, eu ia fazer isso, mas ela é sua governanta e...
— Você não precisa esclarecer coisas comigo, querida. Diga a sra. Janiseck qualquer coisa que quiser ou precisar. Pensando nisso... — Alfonso tirou a carteira do bolso da calça, retirou um cartão de crédito e pôs na mão de Anahi. - Eu deveria ter pensado nisso antes.
— Não. Eu não posso permitir que você...
— E eu não posso permitir que você discuta comigo - declarou ele. - O cartão é seu, Anahi. Compre o que quiser. Para o bebê, para si mesma. Qualquer coisa que precisar ou quiser.
Ela olhou para o cartão, para ele.