— Um empréstimo, então. Até que eu me reerga e possa me sustentar.
Ele não a queria se sustentando, queria-a em sua cama, pensou, e sentiu uma onda de calor envolver seu corpo.
— O que foi?
— Nada. Você e a sra. Janiseck estão se dando bem?
— Oh, sim. Ela é maravilhosa.
— Ótimo. - Apesar de sua governanta ter encontrado um bebê na vida de Alfonso tão subitamente, parecia encantada.
— Ela tem uma sobrinha, sabia? - perguntou Anahi.
— Não.
— Stacia. Está estudando para ser professora. E tem trabalhado como babá nos últimos verões. A sra. Janiseck diz que ela é excelente com bebês. Sugeriu que Stacia poderia ficar com Daniel... quando eu precisar ficar fora, fazendo entrevistas.
A conversa estava confundindo Alfonso.
— Entrevistas?
— Sim. Telefonei para meu antigo empresário e pedi se ele pode me arranjar alguns trabalhos. Por que está franzindo o cenho? Preciso trabalhar, Alfonso. Não tenho dinheiro, e já devo uma fortuna a você.
Ele supunha que ela não precisava trabalhar. Não para pagar o que lhe devia. Jamais aceitaria um centavo de Anahi, mas o instinto lhe disse para não discutir aquele assunto agora. Mas, sim, ela precisava trabalhar pela mesma razão que ele... para realização pessoal. Mas Alfonso não sentia pronto para voltar ao trabalho ainda. Queria passar mais um tempo apreciando a companhia de Anahi, a intimidade deliciosa.
— Tenho uma ideia brilhante - disse ele. Ela riu.
— Quanta modéstia.
— Iremos dizer a sra. Janiseck que contrataremos Stacy...
— Stacia.
— Perguntaremos a Stacia se ela quer ser a babá de Daniel. Tenho certeza que podemos armar um esquema flexível para combinar com os horários dela.
— Sim, mas...
— Mas - murmurou Alfonso solenemente - você não tem condições de pagá-la.
Anahi enrubesceu.
— Não, não tenho.
— Bem, não vai precisar disso. Eu irei empregá-la, não você.
— Não posso aceitar isso, Alfonso.
— Preciso de uma brecha fiscal - mentiu ele com confiança. Quem imaginaria que o salário de uma babá podia ser deduzido no imposto de renda? Mais importante, quem se importa?
— Tantas brechas fiscais - disse ela, arqueando as sobrancelhas. - A fazenda, uma babá...
A boca de Alfonso capturou a sua. A mão dele desceu mais, segurando uma das nádegas, procurando o doce calor. Anahi arfou, então rodeou-lhe o pescoço com os braços.
— Alfonso - sussurrou, os lábios a centímetros dos dele -, precisamos conversar.
Ele nao respondeu erguendo-a em seus braços, desistindo de ir para o escritório, e levando-a para a cama.
Uma hora depois, Alfonso telefonou para sua assistente, avisando que tiraria uma semana de férias.
" — Ainda fora da cidade? - perguntou ela, porque ele estava falando do celular, e uma das melhores coisas sobre celulares era que eles não entregavam seu destino. - Quer me dar um número alternativo, ou ligo no celular se eu precisar lhe falar?
— O celular - respondeu Alfonso casualmente.
Não que estivesse evitando contar-lhe que estava em casa. Ou aos seus irmãos. Só não tinha ainda vontade de explicar as coisas, muito menos para sua mãe e suas irmã. A situação ainda era complicada. Enquanto não resolvesse tudo era provavelmente melhor manter a novidade sobre Anahi e o bebê em segredo.
Um homem tinha direito à privacidade, não? Além disso, não tirava férias havia meses.
Ele pediu que a sra. Janiseck convidasse a sobrinha para uma entrevista. Stacia apareceu horas depois, naquela manhã. Era graciosa e simpática, possuía ótimas referências, e quando ela pegou Daniel dos braços de Anahi, o bebê lhe deu um olhar solene e balbuciou:
— Ba-ba-ba-ba!
— Oh, ele está balbuciando - exclamou Anahi feliz. - Na época certa!
Alfonso queria perguntar por que balbuciar era tão importante. Ele fazia isso o tempo todo... mas teve a impressão de que as três mulheres lhe dariam um olhar de desprezo portanto assentiu.
— Um garotinho tão lindo - disse Stacia para o bebê. Ele quase podia ver a tensão se esvaindo dos ombros de Anahi.
— Certo, querida. Que tal sairmos para almoçar fora?
— Vão, por favor - disse Stacia. - Isso dará tempo para Daniel e eu nos conhecermos.
Anahi e Stacia falaram sobre fraldas e leite em pó. Sobre um milhão de coisas até que, finalmente, a sra. Janiseck riu e empurrou gentilmente Alfonso e Anahi porta a fora.
— Agora vão e divirtam-se - murmurou ela alegremente. E para o espanto de Alfonso, ergueu-se o máximo que conseguiu em seus sapatos ortopédicos pretos, puxou a cabeça dele para baixo e plantou um beijo em seu rosto.
Era o tipo de dia perfeito, que fazia os novaiorquinos esquecerem os verões quentes e sufocantes e os invernos rigorosos, quando a neve cobria tudo. De braços dados, Alfonso e Anahi passearam pelo Central Park.
Ela fazia comentários alegres sobre tudo. Bebês, corredores, um casal idoso de mãos dadas. Pessoas passeando com seus cachorros. Não havia necessidade de perguntar se Any gostava de cães. Depois que ela havia parado e acariciado uma centena deles... certo, um pouco de exagero nisso, mas nem tanto... até mesmo ele podia dizer que ela não gostava de cachorros. Amava-os.
No momento que Anahi ergueu o corpo após uma conversa com um schnauzer mini, Alfonso fez a pergunta óbvia:
— Você teve muitos cães quando era criança? - Ela o fitou em surpresa.
— Oh, eu nunca tive um cachorro. - Foi a vez de Alfonso parecer surpreso.
— Nenhum cachorro naquela fazenda enorme? - Ela deu de ombros.
— Meu pai não gostava de cachorros.
— Por que não?
Outro dar de ombros. E talvez uma pequena hesitação.
— Ele simplesmente não gostava.
Alguma coisa estava acontecendo. O inglês de Anahi estava assumindo aquele sotaque estrangeiro. Alfonso pegou-lhe a mão, decidiu mudar o rumo da conversa.
— Eu queria muito um cachorro quando estava crescendo.
Ela sorriu-lhe.
— Mas sua mãe negou. Sem cachorros em apartamentos.
Ele nunca lhe contara que tinha crescido numa casa? Havia muitas coisas que eles não sabiam um do outro, pensou Alfonso, entrelaçando os dedos de ambos.
— Cresci numa casa. Uma casa grande em Greenwich Village.
— Ainda assim, sem cachorros? - Ele deu de ombros.
— Mama estava convencida de que cães nos passariam germes.
— Mama - repetiu Anahi, sorrindo.
— Nós somos sicilianos. - Alfonso sorriu. - Se eu a chamasse de qualquer outro jeito, levaria palmadas.
— E seu pai é papa?
O sorriso dele desapareceu.
— Eu nunca o chamo de papa, ou de papai. Apenas pai.
— Sinto muito, eu...
— Não. - Ele levou a mão dela aos lábios e beijou-lhe a palma. - Você tem o direito de perguntar. O problema é que ele é... é...
— Antiquado?
— Da velha terra. - Alfonso suspirou. Ela certamente sabia de alguma coisa daquilo através dos jornais, até mesmo o insultara citando a palavra famiglia com ironia, mas falar no assunto era algo que ele nunca fizera antes. — Lembra-se daquele filme de Marlon Brando? Meu pai é assim. O cabeça do que ele gosta de se referir como uma grande companhia, mas na realidade...
— Alfonso. - Anahi parou na frente dele, colocou a mão em seu peito. - Não me importo quem seja seu pai. Sinto-me simplesmente grata por ele ter lhe dado a vida.
Era realmente possível sentir seu coração alçando voo? A resposta parecia ser sim, e ali, sob o arco no Ramble, ele tomou Anahi nos braços e a beijou.
Onde mais levá-la para almoçar num dia tão glorioso senão no Boathouse?
Era começo de outono e a temperatura estava amena, o sol brilhante. Perfeito para uma refeição no terraço ao ar livre, ao lado do lago de barcos do Central Park.
Não havia mesas disponíveis... mas, sim, é claro, havia uma mesa para o sr. Herrera. Anahi recostou-se, observando as tartarugas tomando sol numa pedra acima da água. Alfonso fez o pedido para os dois. — Atum Niçoise para ela... - lembrando que Anahi adorava esse prato... e hambúrguer bem passado para si mesmo. - E uma garrafa de Pinot Grigio - acrescentou ele, lembrando-se que ela adorava também, mas Anahi meneou a cabeça, olhou para o garçom, enrubesceu e sussurrou para Alfonso que não podia beber álcool, porque não era bom para o bebê.
O garçom deu um sorriso discreto.
— Água com gás, talvez - sugeriu, e Alfonso concordou com um gesto de cabeça.
A garrafa de água chegou, juntamente com copos preenchidos com gelo e fatias de limão. Alfonso pegou a mão de Anahi.
— Eu gostaria de ter estado ao seu lado durante sua gravidez - disse ele suavemente. - E durante o parto. Você não deveria ter ficado sozinha.
Anahi meneou a cabeça.
— Eu não estava sozinha. Yara estava lá. - Ela pausou. - E meu irmão.
Alfonso estudou-lhe o rosto, viu a súbita dor nos olhos dela.
— Você nunca fala sobre ele - comentou cuidadosamente.
— Não há muito a falar. A voz falhou e ela o fitou, os olhos marejados. - Ele está morto, mas suponho que você saiba disso.
— Querida, eu não queria deixá-la triste. Se não quiser me contar...
— Ele morreu de AIDS. - As lágrimas dos olhos verdes aumentaram. - Ele era um bom homem, Alfonso. Um irmão maravilhoso.
— Tenho certeza de que era.
— Nosso pai o desprezava. Anahi deu uma risada amarga. - Mas, até aí, ele também me desprezava. Meu, irmão, porque era gay. Eu, porque matei minha mãe.
— Any. Querida... - O garçom chegou com o almoço. Eles permaneceram em silêncio até que ele partiu. Nenhum dos dois pegou o garfo. Finalmente, Anahi continuou sua história.
— Ela morreu no parto, e nosso pai disse que era culpa minha. - Alfonso pegou-lhe a mão e apertou-a suavemente. - Sei o quanto isso é errado agora, mas, quando era criança, acreditei. De qualquer forma, na época em que você e eu... paramos de nos ver...
— Na época em que você descobriu que estava carregando o meu bebe - completou Alfonso por ela.
— Sim. Meu pai me escreveu, uma carta muito conciliatória, me pedindo que voltasse para casa. Ele estava ficando velho, dizia que era hora de reparar nosso relacionamento. - Anahi engoliu em seco. - Então, considerando que... que eu precisava sair de Nova York, fui para casa. Mas ele havia mentido para mim. Estava morrendo. Não tinha dinheiro... meu pai sempre foi viciado em jogo. Precisava de alguém para cuidar dele. - Ela deu de ombros. - Então, eu cuidei.
— Ah, querida, sinto muito. Você precisava de cuidados de outra pessoa, em vez disso...
— Eu não me importei. Há certas coisas que você precisa fazer na vida. - Anahi ergueu a cabeça e sorriu, apesar das lágrimas nos olhos. - E algo bom resultou disso. Falei ao meu pai que só ficaria lá se ele permitisse que meu irmão se mudasse para casa. Christian já estava doente na época.
Ela fez uma pausa.
— Então, Christian e eu nos reunimos mais uma vez. E foi maravilhoso. Conversamos, rimos e compartilhamos memórias... e então meu pai morreu. E não muito depois, Christian também. E enquanto eu ainda estava de luto por ele, André Ferrantes apareceu para me dizer que o banco iria executar a hipoteca de Puente e Filho... Meu pai tinha colocado a fazenda no nome de Christian quando ele nasceu, muito antes de saber que o filho seria gay. E Ferrantes falou... ele falou...
Alfonso se levantou, ajudou-a a fazer o mesmo, e beijou-a. Depois pôs algumas notas sobre a mesa e conduziu-a em direção à porta.
— Que romântico ouviu uma mulher dizer.
E pensou: Errado.
O que estava acontecendo entre os dois era muito mais complicado do que romance. Era...
Ele pegou a mão de Anahi e apressou-a para andarem foi do parque.
Em casa mais uma vez, eles checaram o bebê.
Dormia pacificamente, o bumbum empinado no ar.
A sra. Janiseck e Stacia foram embora. Alfonso levou Anahi para o terraço. Eles se sentaram num sofá de dois lugares, o braço dele a rodeando, no sol quente, cercado pelas flores de Izzy.
Ele contou-lhe sobre sua vida. Coisas que nunca tinha contado para ninguém. Seus sentimentos confusos por Cesare. Seu amor pelos irmãos. Pela irmã. Contou-lhe como havia se sentido perdido aos 18 anos, quão raivoso, por ter um pai cuja ideia de famiglia tinha pouco a ver com a família reunida ao redor de uma mesa, e tudo a ver com uma família estranha cuja existência periodicamente levava repórteres e fotógrafos à sua porta.
Contou-lhe como se sentira desorientado, como seus irmãos tinham lhe dito que se alistar nas forças armadas lhe daria estrutura de vida... e como descobrira, instintivamente, que necessitava encontrar aquela estrutura de um modo diferente.
Alfonso pegou-lhe a mão, beijou-lhe os dedos e explicou que tinha encontrado isso no Alasca, arriscando seu pescoço não muito precioso nos campos de petróleo, andando sozinho pelos campos selvagens, acampando enquanto ouvia uivos de lobos, até que, finalmente, entendera que sua raiva em relação à vida era insignificante.
— Então voei para casa - finalizou ele. - Para Nova York. E meus irmãos estavam começando a se sentir tão desorientados quanto eu havia me sentido, agora que Leo estava na Marinha, Chris no exército.
E, contou Alfonso, eles passaram horas conversando, planejando. Finalmente reuniram suas economias e suas áreas de especializações em finanças... algo no que todos tinham se sobressaído na faculdade.
— A Investimentos Herrera decolou - disse ele. - a companhia ainda está indo bem, apesar da crise econômica.
E por fim, Alfonso lhe contou porque tinha ido ao Brasil... o pedido bizarro de Cesare... e então a verdade que não quisera encarar.
Havia ido ao Brasil sabendo que não partiria sem a procurar, até encontrá-la.
Quando ele se calou, Anahi sorriu, mesmo com o rosto molhado de lágrimas.
— Alfonso - sussurrou ela. - Alfonso, meu amor...
Ele a puxou para seu colo. Eles se beijaram, se tocaram. E quando isso não bastava mais, Alfonso a levou para o seu quarto, despiu-a tão lentamente quanto se estivesse desembrulhando um presente perfeito.
Uma eternidade depois, com seu amado ainda profundamente em seu interior, enquanto se sentia saciada nos braços fortes, Anahi aceitou a verdade.
Independentemente do que acontecesse, sempre amaria Alfonso Herrera.
Ola vim posta rapinho rsrs,saibam q li TDs comentários eq no px cap respondo ok? Obg
Já estamos na reta final da historia :/ infelismente falta pouco :/ ate breve bjos