Alfonso sentiu o peso quente de seu filho adormecido pressionado contra seu peito.
Curvou a mão sobre o traseiro do bebê. Adorava segurar seu filho. Nunca imaginara que ser pai podia fazer o coração de um homem inchar de orgulho e alegria.
O zoológico estava repleto de famílias. Mães, pais, crianças de todas as idades. Agora, ele, Anahi e Daniel formavam uma família também.
Era maravilhoso. Assim como assustador.
E isso o fez finalmente encarar a verdade. Bem, isto e as mensagens de e-mail que encontrara em sua caixa de correio eletrônico. Era tudo o que podia pensar. O que estava acontecendo com Chris...
O que se sentia pronto para admitir que estava acontecendo consigo mesmo.
Já havia acontecido.
Deus, como um homem era capaz de se apaixonar tanto? E tão rapidamente? Como pudera estar cego para isso? Anahi tinha de se sentir da mesma maneira. Caso contrário...
Ele precisava ficar sozinho com ela. Tomá-la nos braços. Contar-lhe...
— Any - disse Alfonso abruptamente, olhando para a mulher que segurava sua vida nas mãos - sei que há muito mais para ver, mas...
— Alfonso. - Ela o olhou intensamente. - Por favor, eu gostaria de ir para casa.
A sra. Janiseck tinha folga aos sábados. Assim como Stacia.
No momento em que ficaram sozinhos, Alfonso pigarreou.
— Anahi. Precisamos conversar.
— Tudo bem - respondeu ela, o coração pesado de tristeza.
— Vou pôr Daniel na cama. Por que não começa a preparar o jantar?
Ela assentiu, foi para a cozinha. Na verdade, havia pouco para fazer. A sra. Janiseck já deixara tudo preparado no dia anterior... frango assado com salada. Era bom encontrar tudo pronto. Porém, de alguma maneira, aquilo a fazia sentir-se uma hóspede na casa de Alfonso. É claro, uma mulher com quem ele se comprometesse permanentemente teria governanta e cozinheira, considerando o estilo de vida das pessoas ricas. Mas uma mulher com quem ele tivesse...
Anahi riu, embora não fosse um som alegre.
Que tipo de frase era aquela? Uma mulher com quem ele tivesse... Não existia uma palavra para descrever o que ela era para Alfonso? Não sua amante. Amantes não vinham equipadas com bebês, e, ademais, uma amante era uma mulher sustentada pelo amante...
O que era exatamente o que tinha se tornado.
Anahi bateu a porta da geladeira e foi para o terraço. Estava frio e escuro lá fora, fazendo-a tremer.
Alfonso pagava todas as suas contas. Comida. As roupas de Daniel. Fraldas. Os móveis do quarto de bebê. Pagara pelas roupas dela... Anahi deixara muitas coisas na fazenda e precisara de roupas mais quentes em Nova York.
Levaria uma vida inteira para lhe pagar, mesmo se conseguisse alguns trabalhos como modelo.
Alfonso possuía tudo em sua vida e na vida de seu filho.
Como tinha deixado isso acontecer? O que acontecera com a sua independência? Seu senso de autonomia? Sua determinação, desde criança, de não contar com ninguém, exceto consigo mesma?
O que acontecera com sua responsabilidade em relação a Daniel?
Daniel merecia estabilidade. Segurança. Não apenas segurança financeira, mas o tipo que vinha do coração. Um coração de pai. Anahi, mais do que ninguém, sabia o que isso significava. Daniel era somente um bebê, mas já sorria de felicidade quando Alfonso o pegava. Mais alguns meses e estaria falando "papai", mas Alfonso estaria lá para ele? Para ela?
Anahi respirou profundamente. A palavra do dia era compromisso.
E um compromisso para sempre. Como um homem e uma mulher construindo uma vida juntos.
Como...
— Casamento - Alfonso falou, e ela virou-se para ele, o coração parecendo saltar do peito.
— O quê?
Ele estava sorrindo, mas o sorriso era falso. Ela podia ver isso nos olhos de Alfonso.
— Meu irmão Chris. - Ela enfiou as mãos nos bolsos traseiros da calça, o olhar além do parque, não nela. - Quando chequei meu e-mail esta manhã, encontrei alguns recados. Parece que ele vai se casar amanhã. Na verdade, já está casado... algum tipo de acordo rápido que aconteceu na Sicília, mas amanhã vai se casar na igreja, onde minha mãe poderá derramar lágrimas de emoção.
Era por que a ideia do casamento o perturbava que Alfonso tinha ficado distante o dia inteiro?, perguntou-se Anahi.
— Bem, isso é...
— Ele tem tentado me contatar. Minha família inteira, aliás. Eu estava fora de alcance.
Aquilo soou como uma acusação. Ela estreitou os olhos.
— Eu não o impedi de checar suas mensagens.
— Sim, mas quem esperaria uma mensagem como esta? - Alfonso passou as mãos pelos cabelos úmidos do banho. - Quero dizer, isso é loucura. Ele acabou de conhecer a mulher.
— Sim, mas...
— Casamento é um compromisso para sempre. Um homem precisa refletir antes de tomar tal decisão.
— E você acha que ele não refletiu?
— O que acho é que um homem não deve saltar para um casamento como se estivesse pulando num rio violento cheio de correntezas.
Anahi pôde sentir a raiva a envolvendo. Ou talvez estivesse ali o tempo todo, apenas esperando para subir à superfície.
— Seu irmão não é o único que está saltando. O mesmo se aplica à mulher.
Alfonso bufou com zombaria.
— Não é a mesma coisa.
— Não é? - A voz dela se tornara gelada.
— Homens são feitos para caçar. Mulheres são feitas para coletar. É claro que não é a mesma coisa.
Anahi o olhava como se ele tivesse enlouquecido. Bem, Alfonso não podia culpá-la. Sabia que soava absurdo, mas como podia agir diferentemente depois de descobrir, naquela manhã, que Chris ia se casar. Aquilo o abalara muito.
Chris, casado? Só podia ser brincadeira.
Ele ligara para Chris, e seu irmão lhe contara que tinha se casado com Dulce Cordiano da primeira vez para "fazer a coisa certa", mas então se apaixonara loucamente por ela.
"— Mas casamento? Tão rápido? - perguntara Alfonso.
— Sim, e espere até conhecer a mulher certa. Uma mulher que o ama por quem você é por dentro, não pelo que o mundo vê. Que ama apenas você, e pode se imaginar envelhecendo ao seu lado. Que o ama porque você lhe deu seu coração, não coisas que o dinheiro pode comprar."
E num piscar de olhos, Alfonso soubera que Chris poderia estar falando sobre ele e Anahí.
Ele tinha passado o dia com aquilo na cabeça, imaginando se Anahi se sentia da mesma maneira, dizendo a si mesmo que sim, que ela não era uma mulher que viveria com um homem, dormindo nos braços dele todas as noites, a menos que o amasse.
E, Deus, tudo aquilo o apavorava.
Declarar seu amor por Anahí, oferecer-lhe seu coração e esperar que ela não o rejeitasse...
Alfonso havia refletido, tentando descobrir a melhor maneira de fazer isso, adiando o momento por puro medo, tomando banho depois de colocar Daniel no berço, então decidindo que simplesmente lhe diria que a amava, que amava seu filho, que não poderia mais viver sem eles...
— Alfonso...
Ele se aproximou e pegou-lhe as mãos nas suas.
— Any - falou rapidamente, temendo que perdesse a coragem. - Any, querida, esta coisa amanhã... o casamento de meu irmão... - Ele engoliu em seco. - Levá-la lá seria complicado. Minha mãe e minhas irmãs lhe fariam um milhão de perguntas. Meus irmãos não fariam apenas perguntas, e sim um verdadeiro interrogatório. E meu pai... onde meu pai está, estão os federais. Ademais, ninguém da minha família sabe nada sobre isso. Sobre nós, sobre o bebê. - Alfonso suspirou. - Então, Anahi, não acho...
— Também não acho - interrompeu ela. - Na verdade, prefiro evitar o que promete ser uma reunião familiar extremamente sentimental.
— O quê? Não, você não entendeu...
— Entendi perfeitamente. - Ela removeu as mãos das dele, exibiu um sorriso tenso. - O casamento é amanhã, certo?
— Pela manhã. Terminará antes do meio-dia.
— Excelente.
— Sim, também achei, porque...
— O nome de meu advogado é Peter Reilly. - Alfonso piscou, confuso.
— O quê?
— O escritório dele fica na rua 72.
— Any, sobre o que você está falando?
— Tenho pensado, Alfonso. Sobre nossa... situação. — Não chore, Anahi disse a si mesma. Apenas porque ele confirmou todos os seus piores medos, apenas porque Alfonso preferia fazer qualquer coisa a apresentá-la à sua família, você não vai chorar!
— Eu também tenho pensado - murmurou ele. - Por isso, eu lhe expliquei as coisas...
— Explicou muito bem - disse ela. - Vou pedir um favor especial a Peter... que ele nos receba no escritório amanhã, mesmo sendo domingo, vamos dizer, às 2h da tarde?
— Para quê?
Alfonso estava totalmente confuso. Aquele discurso frio, o olhar gelado... Era isso que um homem recebia por dizer a uma mulher que, apesar de toda complicação que seria, queria levá-la ao casamento de seu irmão? Contar para a família inteira que a amava? Contar-lhes que ela lhe dera um filho, e que haveria um outro casamento assim que eles pudessem pedir uma licença, na segunda-feira?
— Para quê? - repetiu ele, estudando-a.
— Para traçar um plano de pagamento pelo que eu lhe devo.
— Que loucura é essa?
— E recomeçar minha própria vida - disse Anahi. - Como falei, tenho pensado, e está na hora de isso acontecer. Nossa relação tem sido boa, mas...
— Boa?
— Você tem sido muito gentil comigo. É claro, teria sido melhor se sua tentativa de comprar a fazenda tivesse dado certo.
— Melhor? - repetiu Alfonso, o tom de voz baixo e perigoso. - Comprar a fazenda para você teria sido melhor do que trazê-la para morar comigo?
— Bem, sim. Eu teria levado muito tempo para pagar você, mas a fazenda era o meu lar.
— E este não é.
Havia uma frieza terrível na voz de Alfonso. Anahi queria abraçá-lo, dizer-lhe que nunca tinha sido tão feliz quanto nos últimos dias, que desejava, com todo seu coração, quê o lar dele pudesse ser realmente seu também...
— Não - respondeu ela, agarrando-se ao pouco orgulho que lhe restava. - Não é.
Eles se entreolharam enquanto o silêncio da noite fria se construía entre os dois. Então Alfonso assentiu.
— Vou querer meu advogado nesta reunião.
— É claro. Vou lhe dar o telefone e o endereço do meu.
— Faça isso.
Ele virou-se. Entrou, apanhou sua jaqueta, pegou o elevador particular para o saguão e andou para a noite. Quando voltou, horas e horas mais tarde, sua cama estava vazia.
Anahi estava no quarto de hóspedes.
Exatamente onde deveria estar, pensou Alfonso com raiva e serviu-se do primeiro de diversos uísques de que sabia que precisaria antes que pudesse cair num sono merecido.