CAPÍTULO TREZE
O domingo amanheceu bonito e ensolarado.
Um dia perfeito para um casamento, as pessoas diriam, mas não na opinião de Alfonso. Era um dia perfeito para um homem acordar de um sonho e perceber que tinha cometido o maior erro de sua vida.
Amava seu irmão, mas antes Chris do que ele.
Alfonso tomou banho, barbeou-se, vestiu-se e saiu sem ver Anahí. Seu humor estava sombrio, mas não deveria estar, considerando que quase não escapara de cometer o maior erro de sua vida.
Certamente estivera prestes a pedi-la em casamento porque a amava.
Amor?
Alfonso tremeu quando desceu do táxi na frente da pequena igreja onde aconteceria o casamento de Chris. No dia anterior, tinha se convencido de que o que sentia era amor, mas, na verdade, amor não tinha nada a ver com isso. Responsabilidade. Era isso que sentia por Anahi. Era um homem decente, ela dera à luz a um filho seu.
Nada mais.
Alfonso olhou ao redor e endireitou sua gravata. Não havia policiais. Ou agentes federais. Nenhum que pudesse ver, pelo menos. Sorte de Chris... Ficaria livre do tipo de atenção que Cesare sempre recebia. Aquele era o dia de Chris. Portanto Alfonso cumprimentaria seu irmão e a noiva, depois iria para a reunião com Anahí, o advogado dela e Sam Cohen. Ele telefonara para Sam às 6h da manhã, pedindo-lhe que preparasse os documentos necessários... para pensão e visitas à criança... e comparecesse ao encontro às 2h.
Alfonso respirou profundamente, forçou um sorriso no rosto e subiu os degraus da velha igreja.
Ouviu a voz alta e excitada de sua mãe. As risadas de sua irmã. Os murmúrios baixos de seu irmão. Após mais uma inspiração profunda, Alfonso dirigiu-se à pequena sala onde sua família estava reunida.
— Alfonso, miofiglio! - exclamou sua mãe, abraçando-o apertado.
— Finalmente chegou disse May, beijando-lhe o rosto.
Nós quase perdemos as esperanças acrescentou sua mãe, sorrindo e beijando-o novamente.
Seu pai lhe deu um olhar inquisitivo.
— Alfonso.
— Pai.
— Sua viagem foi bem-sucedida? - Alfonso comprimiu os lábios.
— Este não é o momento para falar de negócios - replicou ele, e virou-se para Leo que sorrira.
— Ei, irmão - cumprimentou Leo. - Que bom que você veio -. Onde se meteu de qualquer forma?
— Viajando.
Lei arqueou uma sobrancelha, mas então mudou de assunto:
— Pode acreditar que vou me casar? - disse Chris sorridente
Até mesmo Alfonso podia ver que a pergunta era retórica. Chris estava sorrindo, e, quando rodeou a cintura de uma linda estranha de cabelos vermelhos, o olhar que deu a ela era tão repleto de felicidade que o coração de Alfonso se entristeceu.
Seus olhos haviam brilhado daquela forma ao olhar para Anahi durante a última semana? Os dela tinham brilhado, mas era falsidade. Tudo que Anahi quisera era aquela maldita fazenda...
— Esta é Dulce.
Sua nova cunhada sorriu timidamente.
— Muito prazer em conhecê-lo, Alfonso.
Ele hesitou. Então ela colocou-se na ponta dos pés e beijou-lhe o rosto.
Deus. Ela parecia estar explodindo de tanto amor, e aquele sentimento veio de novo, como se uma mão estivesse apertando o coração de Alfonso. Mas então o órgão começou a tocar, todos saíram da pequena sala, e quando Alfonso se deu conta, estava no altar com seus irmãos.
A cerimônia foi breve. Todas as mulheres choraram. Chris pegou sua esposa nos braços quando o momento chegou e beijou-a com tanto carinho que um nó se formou na garganta de Alfonso.
Ele engoliu em seco. Anahi tinha feito um bom trabalho, deixando-o tão confuso que até mesmo ele havia se emocionado com o evento.
A recepção foi na casa de seus pais.
May o provocou por parecer tão mal-humorado.
— Você podia pelo menos fingir que está feliz - disse ela. - Isso foi como um conto de fadas!
Contos de fadas não existiam, Alfonso queria lhe dizer, mas sorriu, concordou, pegou uma taça de champanhe e se aproximou de Leo que estavam parados num canto, olhando para a plantação de tomates do pai do lado de fora.
— Olha... - murmurou Leo baixinho , estou cansado desta festa.
Alfonso concordou.
— Adoro ver Chris tão feliz, mas se ele me disser mais uma vez que está na hora de eu encontrar uma esposa...
Alfonso pôs a taça de champanhe sobre a mesa.
— Que tal irmos a algum lugar onde ninguém vai falar sobre as alegrias do matrimônio?
Seu irmão sorrira.
Vinte minutos depois, eles estavam no seu ponto de encontro usual: O Bar.
O Bar não era um restaurante sofisticado, embora localizado num bairro chique.
A razão era que o local um dia fora perto de um cortiço.
Naquela época, O Bar chamava-se Taverna O`Hearn, e ficava próximo ao apartamento que Chris alugara. Mas os irmãos tinham gostado do lugar. A cerveja era gelada, os sanduíches bem recheados e baratos, e a atmosfera descontraída e agradável.
Então, no momento em que os quatro haviam reunido seus recursos e habilidades para iniciar a Irmãos Herrera, a área começara a mudar. Velhos edifícios, inclusive o no qual Chris morava, foram derrubados para dar lugar a casas elegantes. Uma fábrica vazia se transformara numa boate chique. Adegas viraram butiques.
Claramente, os Herrera estavam prestes a perder seu ponto de encontro favorito.
Então, eles haviam comprado O`Hearn e mudado o nome do estabelecimento para O Bar. Trocaram os estofados dos assentos e o piso, e mantiveram todo o resto inalterado: o longo bar revestido com zinco, as mesas de madeira, os sanduíches bem recheados, a infinita variedade de cervejas.
Somente os atendentes sabiam que Chris , Alfonsi e Leo eram donos do lugar. Eles quiseram assim. Suas vidas eram de alto nível, O Bar, não. Mas era onde frequentemente se reuniam às sextas-feiras para tomar cervejas, relaxar e conversar.
No momento, todavia, ninguém estava relaxando. E isso era culpa de Alfonso.
Eles tomavam seus drinques usuais, e a atmosfera estava tensa. Leo o olhava, arqueando as sobrancelhas para Alfonso.
— O que está acontecendo?, se perguntava silenciosamente. Até que a paciência de Leo se esgotou e ele decidiu investigar:
— Então, Alfonso, você tirou as últimas semanas de folga, certo?
Alfonso olhou para cima.
— Algum problema com isso?
Leo começou a retrucar, mas se silenciou.
— Só estou perguntando disse ele.
— Fui ao Brasil na semana passada. E tirei esta semana de férias. Tudo bem?
— Fazer o quê no Brasil?
Um músculo saltou no maxilar de Alfonso.
— Comprei uma fazenda.
— Uma fazenda?
A pergunta de Leo soava mais como: "Você enlouqueceu?", mas Alfonso não podia culpá-lo. Seus irmãos estavam tentando entender qual era o seu problema. Então ele assentiu, tomou um gole de cerveja e os encarou.
— Correção. Quase comprei uma fazenda. Era ideia de nosso pai. Fui ao Brasil a fim de comprar a fazenda para ele.
— Nosso pai ia comprar uma fazenda? - Leo riu. - Isso é uma piada, certo?
— Na verdade - disse Alfonso - acabei tentando comprá-la para mim mesmo.
—Você ia comprar uma fazenda? - Leo franziu o cenho.
Alfonso deu mais um gole.
— Não para mim, exatamente. Para... alguém. - O irmão esperou. Finalmente Leo suspirou.
— Tenho de adivinhar?
— Lembram-se, aproximadamente um ano atrás, quando eu estava namorando uma modelo... Anahi Portilla?
Leo assentiu.
— Sim. Alta, os cabelos com muitas mechas douradas. Pernas espetaculares. E o que parecia ser uma incrível...
— Cuidado com as palavras - interrompeu Alfonso. O irmão arqueou as sobrancelhas.
— Quer me contar o que está acontecendo? - sugeriu Leo.
— Não.
E Alfonso lhes contou tudo.
Quando terminou, ninguém falou.
Ele podia ver seus irmãos tentando absorver a história. Teria feito o mesmo no lugar deles. Uma mulher do passado. Um bebê. Uma fazenda em ruínas, um advogado desonesto, uma opção que expirava em 24 horas. Parecia um filme do velho oeste, mas era real.
Leo finalmente pigarreou.
— Tem certeza de que a criança é sua?
— Absoluta.
— Porque, lembre-se, anos atrás, perla...
— Anahi não é Perla - disse Alfonso com ênfase.
— Não, é claro que não. Eu só quis dizer...
— Eu sei. Desculpe. É que... é difícil, entende? - Leo inclinou-se para a frente.
— Deixe-me ver se entendi direito. Você tem um filho.
— A criança mais bonita e inteligente que já vi.
— Mas a mãe da criança...
— Ela tem nome - disse Alfonso, a voz irritada novamente. - Anahí.
— Certo. Anahi armou para que você lhe comprasse a fazenda?
— Eu disse isso?
— Bem - começou Leo - você não precisa dizer. Por tudo que contou, é óbvio.
— Nada é óbvio - replicou Alfonso friamente. - Mas, sim, comprei a fazenda para ela. Ou teria comprado.
— E a fazenda é o que ela queria. - Alfonso deu de ombros.
— Sim.
— Então, a fazenda não deu certo, e você a trouxe para Nova York. Levou-a para sua casa, aceitou a criança como seu filho sem pedir uma prova...
— A criança chama-se Daniel. E não preciso de uma prova. Anahi jamais mentiria para mim.
— Certo murmurou Leo.
— Ela não mentiria. E não gosto do tom de sua voz.
Léo assentiu.e pigarreou.
— E você tirou todos esses dias de folga porque...
— Pareceu-me a coisa certa a fazer. - Alfonso olhou para o irmão. Havia uma expressão nos olho dele, alguma verdade que parecia saber, que Alfonso não sabia.
— Anahí era nova na cidade.
— Não. Segundo o que nos contou, ela morou e trabalhou aqui. Portanto, tente novamente, irmão. Você passou esse tempo com ela porque...
Alfonso estreitou os olhos.
— Qual é o seu ponto? - Leo suspirou.
— Você estava prestes a dar cinco milhões de dólares numa fazenda para uma mulher. Aceitou que o filho dela é seu. Levou-a para sua casa, passou cada minuto com ela, e diz que o relacionamento não significou nada. Perdemos algum detalhe?
Alfonso deu de ombros e não respondeu.
— E ainda não sei por que ela deixou você - apontou o irmão.
— Porque não obteve a fazenda.
— Não acha que isso pode ter alguma coisa a ver com o fato de que Anahi subitamente percebeu que estava vivendo sob os seus termos? Ela não tem dinheiro, não tem lar, nem aqui nem no Brasil, que você não tenha dado, e...
Alfonso bateu a garrafa de cerveja contra a mesa.
— Você fala como se eu tivesse destruído a vida dela. Mas não é assim.
— Como é então? - questionou Leo muito calmamente, e Alfonso suspirou.
— Oh, droga. - Ele olhou para cima. - Eu a amava. Ainda a amo. Sou louco por Anahi. Quero me casar com ela. Acordar ao seu lado todas as manhãs pelo resto de minha vida.
Leo arqueou uma sobrancelha.
— Mas?
— Mas ontem à noite, antes que eu pudesse lhe dizer isso, ela tornou-se fria como gelo. Disse que era hora de eu me encontrar com o advogado dela.
O irmão assentiu.
— Parece-me que existem duas possibilidades, irmão. Ou Anahi se cansou de você, ou o ama muito, mas tem orgulho, tem o bebê, e decidiu que preferia terminar a relação em vez de esperar que você fizesse isso.
— Por que ela pensaria isso?
— Talvez - sugeriu Leo pacientemente - porque você não lhe disse uma palavra sobre o que ia acontecer no futuro. Talvez - acrescentou - por causa do que você nos contou sobre como terminou a relação da primeira vez. Os brincos de diamante no jantar de despedida. - Alfonso estava confuso.
— É como nós todos fazemos isso. - Léo assentiu.
— Exatamente.
— Não sei. Eu queria trazê-la para o casamento hoje. Apresentá-la a todos. - Alfonso deu uma risada amarga. - É claro, avisei como seria difícil, como era nosso pai, como mama provavelmente enlouqueceria ao descobrir que tinha um neto, como meus irmãos e irmã a interrogariam, mas antes que eu pudesse terminar, Anahi interrompeu, dizendo que não queria me acompanhar ao casamento, que queria planejar como pagaria o que me deve... como se eu fosse aceitar um centavo dela.
— E como ela reagiu ao saber que nos conheceria todos ao mesmo tempo?
— Acabei de lhes dizer replicou Alfonso, impacientemente. - Não cheguei tão longe. Eu apenas disse a ela que... - Ele empalideceu. - Droga!
— O que foi? - Alfonso se levantou.
— Eu estava preparando Anahi para a grande cena Herrera, mas, de alguma maneira, devo ter dado a impressão de que eu não a traria comigo hoje.
— A grande cena Herrera? - disse Léo, mas Alfonso já estava indo para porta.
Léo ficou observando pensativo
— Ele realmente a ama - murnurou Leo a si mesmo.mesmo - Com certeza.