Sua mãe sabia como ele se sentia. Como todos os seus filhos se sentiam. Apenas ela e as irmãs deles, Anna e Isabella, persistiam em acreditar na ficção de que Cesare Herrera era um homem de negócios legítimo, em vez do farsante que era.
— Dante? — O tom de Sofia se suavizou. — Vou fazer aquele pesto frittata que você adora. Si?
Dante fez uma careta. Detestava o cheiro e o gosto de pesto, mas como um homem poderia dizer uma coisa dessas para a mãe sem magoá-la? Motivo pelo qual Cesare havia incumbido a esposa de fazer aquele convite.
Então ele suspirou e disse que estaria lá.
— Com Leo, às 8h. Você liga para ele, si? - Aquilo, pelo menos, o fez sorrir.
— Claro, mama. Sei que Leo ficará encantado.
No domingo de manhã, quando o resto de Manhattan certamente dormia, Alfonso entrava na propriedade Herrera no que um dia fora Little Italy, mas que era agora uma parte incrivelmente moderna de Greenwich Village.
Leo havia chegado antes dele.
Sofia já o acomodara na grande mesa da cozinha, onde eles faziam frequentes refeições afamiglia. Leo, apesar de ter passado a noite se divertindo com Alfonso, nas companhias de uma ruiva e uma loira, não parecia cansado ou aborrecido.
Le olhou para cima e o cumprimentou. Alfonso murmurou um bom-dia de volta.
Ele tinha dançado muito com a ruiva na noite anterior, primeiro na boate, depois na cama dela. Uma noite longa, com muita risada e sexo, mas sua mente estivera em outro lugar. Acordara sozinho em sua própria cama... nunca passava a noite na cama de uma mulher... com dor de cabeça, mau humor e nenhum desejo de conversar com seu pai.
Ou de comer a frittata que sua mãe colocou na sua frente.
— Mangia — disse ela.
Era uma ordem, não uma sugestão. Alfonso tremeu interiormente... comida não deveria ser verde... e pegou o garfo.
Os irmãos estavam na segunda xícara de café quando o braço direito de Cesare, Felipe, entrou na sala.
— Seu pai quer vê-los agora.
Alfonso e Leo se levantaram. Felipe meneou a cabeça.
— Não juntos. Um de cada vez. Leonardo, você primeiro. Leo sorriu e murmurou alguma coisa sobre seus privilégios.
Alfonso riu.
— Divirta-se.
E quando olhou para o seu prato, havia outra frittata ali. Ele comeu, empurrando-a com mais café, enquanto sua mãe continuava oferecendo... Queijo? Biscoitos? Aquele pão redondo de Celini que ele tanto gostava?
Alfonso assegurou-a de que estava satisfeito, consultando o relógio o tempo todo, enquanto sua irritação aumentava. Após quarenta minutos, levantou-se.
— Mama, tenho coisas para fazer. Por favor, diga ao meu pai que...
Felipe apareceu à porta.
— Seu pai irá recebê-lo agora.
— Tão bem treinado — disse Alfonso. — Igual a um pequeno cãozinho.
O empregado de seu pai não respondeu, mas o olhar no rosto dele era fácil de ler. Alfonso sorriu.
— O mesmo para você, amigo — murmurou e seguiu para o escritório de seu pai.
A sala era como sempre tinha sido. Grande. Escura. Mobiliada com muito mau gosto, com santos e Virgens Marias espalhados pelas paredes. Cortinas pesadas estavam fechadas contra as portas francesas que levavam ao jardim.
Cesare, sentado numa cadeira que lembrava um trono, atrás de sua mesa de mogno, gesticulou para que Felipe saísse.
— E feche a porta — disse com a voz afônica depois de décadas de charutos.
Alfonso sentou-se na frente do pai, as pernas longas estendidas e os braços cruzados. Estava vestindo jeans, moletom azul-marinho e tênis surrados. Seu pai nunca aprovara tais trajes... uma razão, é claro, pela qual Alfonso gostava disso.
— Alfonso.
— Pai.
— Obrigado por ter vindo.
— Você me intimou. O que quer?
Cesare suspirou, meneou a cabeça e entrelaçou os dedos sobre a mesa.
— Como você está, pai? Quais as novidades de sua vida? Tem feito algo interessante ultimamente? — Ele arqueou as sobrancelhas. — Você é incapaz de uma conversa educada?
— Sei como você está. Muito saudável, apesar de sua convicção de que a morte se aproxima. Assim como sei que é melhor não mencionar as novidades de sua vida. — Alfonso sorriu friamente. — E se você fez coisas interessantes ultimamente, talvez deva contar aos agentes do governo federal, não a mim.
Cesare riu.
— Você tem senso de humor, meu filho.
— Mas não muita tolerância, então vamos diretamente ao ponto. O que você quer? E uma outra sessão de "Estou morrendo e vocês precisam saber de certas coisas"? Porque se for isso...
— Não é.
— Honesto e direto. — Alfonso assentiu. — Estou impressionado. Tão impressionado quanto é possível estar quando se trata de tipos como o seu.
— Insultos de dois filhos numa única manhã — disse Cesare. — Sou eu quem está impressionado.
— Imagino que sua conversa com Leo foi tão agradável que ele decidiu sair pelo jardim, em vez de passar um minuto a mais debaixo de seu teto.
— Alfonso. Pode me conceder um tempo para falar?
Bem, bem. Uma nova abordagem. Sem gritos. Sem ordens. Em vez disso, um tom de voz que beirava à educação. Não que isso mudasse alguma coisa, mas Alfonso tinha de admitir que estava curioso.
— Claro. — Ele consultou o relógio antes de encontrar os olhos do outro homem. — Que tal cinco minutos?
Um músculo saltou no maxilar de Cesare, mas ele não respondeu. Abriu a gaveta, pegou um envelope e deslizou-o na direção do filho.
— Você é um investidor de sucesso, não é, miofiglio? Dê uma olhada nisso e me diga o que acha.
Outra surpresa! Aquilo era o mais perto que seu pai chegara de elogiá-lo. Inteligente, também. Cesare sabia que ele não resistiria a abrir o envelope depois disso.
O calhamaço de papéis dentro era grosso. O título Visão Geral na primeira página o surpreendeu.
— Isto é sobre uma fazenda?
— Não apenas uma fazenda, Alfonso. Trata-se de Puente e Filho. O nome de uma enorme fazenda no Brasil.
Os olhos de Alfonso se estreitaram.
— Brasil?
— Si. O terreno cobre dezenas de milhas de acres.
— E?
Cesare deu de ombros.
— E eu quero comprá-la.
Alfonso olhou para seu pai. Cesare possuía uma companhia de saneamento. Uma firma de construção. Uma imobiliária. Mas uma fazenda?
— Para quê?
— De acordo com esses documentos, é um bom investimento.
— O Empire State Building também é.
— Conheço o dono — disse Cesare, ignorando a observação. — João Puente. Bem, conheci, anos atrás. Fizemos alguns negócios juntos.
Alfonso riu.
— Posso apostar que sim.
— Ele me pediu um empréstimo. Eu recusei.
— E daí?
— Ele está doente. E me sinto culpado. Eu deveria... — Cesare parou. — Você acha isso divertido?
— Você sentindo culpa? Ora, pai. Este sou eu, não Isabella ou Anna. Você não conhece o significado da palavra.
— Vieira está morrendo. Seu único filho, Christian, vai herdar a propriedade. O garoto é inepto. A fazenda está na família Puente por dois séculos, mas Christian vai perdê-la, de um jeito ou de outro, antes que Puente esfrie no túmulo.
— Deixe-me entender isso. Espera que eu acredite que seus motivos são puramente altruístas? Que você quer comprar a fazenda apenas para salvá-la?
— Sei que você não tem uma boa opinião a meu respeito...
Alfonso riu.
— Talvez eu tenha feito algumas coisas das quais me arrependi. Não pareça tão chocado, miofiglio. Um homem no fim da vida tem o direito de começar a pensar sobre a ordem de sua alma imortal.
Alfonso pôs o envelope sobre a mesa. Aquele estava se tornando um dia muito estranho.
Ola nao da pra responder os comentarios hj,pq to sem tempo so vim posrposta super rapidrapido,amei os comentarios *-* vcs sao muito divas **-** bjos e comentem.