CAPÍTULO TRÊS
O beijo de Alfonso era a última coisa que Anahi esperava.
A última coisa que queria.
Certa vez, os beijos dele tinham significado tudo. Extremamente carinhosos, costumavam levá-la às lágrimas. Apaixonados, deixavam-na tonta e sedenta por mais.
E não eram apenas os beijos que tinham significado tudo. Era o homem.
No fundo, ela soubera que Alfonso não se sentia da mesma maneira. Nunca se enganara. Ele era rico, poderoso, incrivelmente lindo. Muitas das modelos que conhecia namoravam homens assim. Anahi nunca...
Até ele.
O interesse inicial de Alfonso fora lisonjeiro. Excitante. Por que não? Havia prometido a si mesma que o relacionamento dos dois não seria sério.
Mas, apesar de tudo, apaixonara-se. Perdidamente.
Alfonso tinha sido pura mágica.
Porém, a mágica não existia mais, pensou ela freneticamente, enquanto observava os olhos dele escurecerem, um músculo contraindo-se no maxilar bonito... todos os sinais que lhe diziam que Alfonso a envolveria em seus braços.
— Não faça isso — disse Anahi, abrindo as mãos sobre o peito dele, mas Alfonso não estava ouvindo.
— Anahi — sussurrou ele, o tom suave que costumava usar quando eles faziam amor. Apertando os braços ao seu redor, puxou-a contra si...
E beijou-a.
A sala pareceu girar. A multidão desapareceu. Tudo que importava era a doçura do beijo de Alfonso, o corpo poderoso, a força dos braços. O tolo coração de Anahi voltou a disparar.
— Alfonso. — As mãos que tinham tentado empurrá-lo, deslizaram pelo peito largo e circularam o pescoço dele. Ela colocou-se na ponta dos pés, inclinou-se contra Alfonso, entreabriu os lábios e correspondeu ao beijo, como fizera no passado.
Sentiu-o tremer de desejo com o toque.
Alfonso ainda a queria.
Queria-a como se nada jamais os tivesse separado.
A percepção disso a abalou como uma droga, e quando ele gemeu, entrelaçou uma das mãos em seus cabelos, o beijo se aprofundando como se eles estivessem sozinhos, sozinhos naquele mundo que o ato de amor de Alfonso sempre criava, um mundo no qual ele nunca a abandonara... uma mão gorda apertou seu ombro quase com violência.
— Piranha!
O xingamento em português foi seguido por uma série de outros. Anahi abriu os olhos quando Ferrantes a puxou dos braços de Alfonso, uma torrente de palavras ainda piores do que prostituta saindo de seus lábios.
Alfonso entrou em ação, agarrou o braço de Ferrantes, torceu-o e colocou-o atrás das costas do homem. Ferrantes assobiou de fúria e dor.
— Vou matar você, Herrera! — ele exclamou enraivecido.
— Alfonso — pediu Anahi desesperada. — Alfonso, por favor. Ele vai machucar você.
Alfonso a empurrou para trás de seu corpo e levou os lábios perto da orelha de Ferrantes.
— Toque nela novamente, e prometo que o assassino serei eu.
— Ela é uma vadia! Faz você de tolo...
O homem grande gritou, o rosto contorcido de dor quando Alfonso ergueu-lhe o braço ainda mais acima nas costas.
— Ouça, Ferrantes. Não fale com ela. Não fale dela. Nem mesmo a olhe, ou você é um homem morto!
Alfonso estava vagamente ciente da sala se esvaziando, homens correndo para a porta, motores de carros sendo ligados, mas não tirou os olhos de Ferrantes.
— Você me ouviu? Fique longe dela. Entendeu?
A respiração de Ferrantes era ofegante. Mas pelo menos ele assentiu com a cabeça.
Alfonso o soltou, deu um passo atrás, e Ferrantes virou-se para golpeá-lo. A mão dele era enorme, mas Alfonso aprendera muitas coisas no Alasca, inclusive como se defender de tipos brutos. Quando Ferrantes lhe deu um soco no rosto, Alfonso fechou a mão e golpeou o estômago do homem com a força de um pistão.
Ferrantes caiu como uma árvore cortada.
Alfonso permaneceu olhando-o de cima por um longo momento, viu Souza, viu o leiloeiro...
Mas Anahi tinha sumido.
Alfonso sacudiu os ombros de Souza.
— Onde ela está?
Nervoso, Souza olhou de Ferrantes para Alfonso.
— Você fez um péssimo inimigo, senhor.
— Responda a pergunta, homem. Onde está Anahi? O advogado deu de ombros.
— Ela foi embora.
— Posso ver isso. Para onde?
— Ouça-me, sr. Herrera. A situação é... mais complicada do que pode parecer à primeira vista.
Alfonso deu uma risada.
— Você acha? — Encarou o advogado. — Para onde ela foi? Para o andar de cima?
— Não — respondeu Souza. — Ela fugiu com os outros.
Alfonso correu para fora da casa. Apenas três veículos permaneciam no pátio: o seu, uma Saveiro dourada que devia ser do advogado, e o grande utilitário preto feio, que certamente pertencia a Ferrantes.
Ele inclinou-se contra o parapeito da varanda.
Anahi partira.
E talvez fosse melhor assim.
Tinha ido lá comprar a fazenda para seu pai. Em vez disso, comprara-a para uma mulher que um dia significara alguma coisa para ele, mas que não significava mais nada. Sim, ele a beijara. Sim, o beijo quase o consumira, mas e daí?
Um homem saudável e normal. Anahi era uma mulher linda. Eles haviam compartilhado uma história. Era só isso.
Alfonso olhou para o estábulo e para as construções dilapidadas ao redor. Gastara cinco milhões de dólares naquele lugar... seu dinheiro, não o de Cesare... mas e daí? Possuía muito dinheiro. Uma quantidade absurda de dinheiro, e conquistara cada centavo sozinho. Perder cinco milhões de dólares não era nada. E Anahi não lhe devia nada. Ele não lhe prometera que seria sem elos? Comprar a fazenda não tinha sido ideia sua?
Um músculo saltou no maxilar de alfonso.
Sim, a ideia fora sua, mas ainda tinha direito a alguns minutos de conversa. Tudo bem, eram perguntas, não uma conversa, mas queria saber. Por que ela retornara ao Brasil? Por que queria aquele lugar em ruínas? Por que a fazenda pertencia ao banco?
Acima de tudo, por que um patife como Ferrantes agia como se tivesse direitos sobre Anahi?
E então havia a maior questão de todas. Por que ela se derretera em seus braços quando Alfonso a beijara? Bem, por que ele a beijara, em primeiro lugar?
— Ei, americano! — Ferrantes saiu da casa. Sorrindo. — Você dá bons socos para um americano.
— Foi um prazer — replicou Alfonso. O outro homem riu.
— O prazer foi todo meu, Herrera. O soco que levei me fez pensar por que dois homens inteligentes brigam por uma mulher assim...
Alfonso estreitou os olhos, falando num tom perigoso:
— Não aprendeu nada? Avisei para não falar dela...
O homem grande ergueu as mãos em rendição.
— Confie em mim, amigo. A mulher é toda sua. — Ele deu um sorriso dissimulado. — Mas devo ser honesto. Você me salvou de desperdiçar muito dinheiro.
Alfonso cruzou os braços.
— Fico satisfeito por ter sido útil.
— E de desperdiçar o resto de minha vida.
Sobre o que Ferrantes estava falando?
— Então, senhor, agora eu lhe devo um favor. — Ferrantes olhou ao redor, e abaixou o tom de voz: — Antes que vá muito fundo nisso, faça uma pergunta a Anahi.
— Quando eu precisar de seu conselho...
— Ou questione o advogado. Talvez ele lhe conte o que você precisa saber sobre sua cliente charmosa.
Um calafrio percorreu a coluna de Alfonso. Não queria morder a isca, mas foi incapaz de ignorar.
— Sobre o que você está falando?
Todo o fingimento de camaradagem desapareceu do rosto feio de André Ferrantes.
— Pergunte a Souza na cama de quem Anahi estava dormindo, até que você aparecesse e ela decidisse que seria mais lucrativo dormir na sua.
Ele quisera avançar no pescoço de Ferrantes, mas o orgulho o deteve.
Por que dar ao homem uma pequena vitória?, pensou Alfonso horas mais tarde, enquanto dirigia em alta velocidade por uma estrada estreita que levava a um bosque verde.
Já era ruim o bastante Anahi tê-lo feito parecer tolo diante de todos, incluindo o advogado e o leiloeiro. Ruim o bastante que todos os homens naquela sala soubessem que ela havia dormido com Ferrantes.
Não que Alfonso tivesse algum direito sobre Anahi.... mas Ferrantes? Ela queria a fazenda a ponto de deitar-se debaixo de um porco asqueroso? Entregar-se para ele, suplicando que ele a provasse, a tomasse...
As mãos de Alfonso se apertaram sobre o volante.
Abahi fizera com Ferrantes tudo que havia feito com ele um dia? E então Alfonso tinha aparecido, e ela enxergara uma saída fácil para dispensar o patife?
Os brincos que Alfonso lhe comprara valiam uma pequena fortuna, mas Anahi fora orgulhosa demais para aceitar o presente de um amante. Certo, ex-amante, mas esta não era a questão.
Aparentemente, aceitar a fazenda era diferente.
Não era de admirar que Ferrantes tivesse ficado furioso. Que houvesse protestado quando Alfonso a beijara. Enlouquecido quando ela correspondera ao beijo.
Mas Anahi não correspondera.
Ele sabia disso agora. Tinha sido tudo uma performance cuidadosamente calculada. Ela vira a chance de obter a posse daqueles acres inúteis sem continuar abrindo as pernas para Ferrantes.
Uma imagem ardente e erótica que quase o cegou, preencheu sua mente.
— Droga! — exclamou ele e pisou fundo no acelerador.
Que tolo fora! Acreditando na representação de Anahi. Fazendo exatamente o que ela queria, de modo que, agora possuía um pedaço de terra inútil no meio do nada. Tinha dado um cheque ao leiloeiro, ignorado a mão estendida do homem, passado pelo advogado sem uma palavra, porque ambos sabiam o que estava acontecendo. Poderiam ter lhe avisado.
Avisado?
O trabalho do leiloeiro era vender a fazenda. O do advogado, proteger sua cliente. Ademais, Souza tentara. Há mais coisas do que você sabe, senhor, dissera ele, mas Alfonso escolhera ignorar.
Alguma coisa atravessou a estrada, parou, fitou-o diretamente com olhos vermelhos contra a luz do fim de tarde. Alfonso pisou no breque, tentou controlar o volante. O carro desviou, girou... os pneus rangeram. Uma parede de árvores erguia-se à frente e ele praguejou, agarrou-se ao volante...
O carro parou. O som do motor morreu. Ele ofegava no silêncio da noite, as mãos tremendo.
O carro tinha feito um giro de 180 graus, apontando na direção da qual ele tinha vindo.
Alfonso olhou pelo retrovisor. A estrada atrás dele, a qual momentos atrás era uma estrada à sua frente, estava vazia. O animal... um leão, tinha quase certeza... desaparecera.
Com o coração ainda disparado, respirou fundo diversas vezes, permaneceu sentado até que as mãos se firmassem.
As lembranças que o perturbavam quase desde que ele saíra do avião em Campo Grande não estavam lhe fazendo bem. O que estava feito estava feito. Aprendera a conviver com isso quando quase tinha sido expulso do colégio só para se dar bem na faculdade, então aplicado aqueles anos de conhecimento no Alasca antes de finalmente admitir que sucesso na vida não era tão ruim, afinal de contas.
Além disso, fora ele quem rira por último.
Claro, tinha sido induzido a comprar uma propriedade que não queria para uma mulher que não significava nada para ele, mas aquilo estava terminado. Quando Alfonso passara por Souza, o advogado havia falado:
— Sr. Herrera? Espero um telefonema seu. A fim de marcarmos um encontro para transferir Puente e Filho para a srta. Portilla.
— Sim — respondera ele bruscamente antes de partir. Agora, Alfonso sorria.
Por que deveria transferir a escritura para Anahi?
Ela perdera tempo. Ele não lhe daria a fazenda. Venderia para o primeiro comprador interessado. Ou abandonaria o lugar, deixando-o apodrecer. Faria tudo que pudesse para impedi-la de lucrar pelo que lhe fizera.
Ainda sorrindo, Dante ligou o motor e seguiu para Bonito.
O trajeto, apesar do quase acidente, clareara suas ideias. Sentia-se muito mais calmo e no controle agora.
Era um homem que se orgulhava de manter o controle.
Adeus para aquele cenário e seu elenco. Iria para casa.
No momento em que chegou à estrada principal, estava assobiando. Sentia-se bem. Iria tomar um banho no hotel, ligar para o serviço de quarto... ou não. A agente de viagens lhe dera uma lista de bares e restaurantes. Afinal, o Brasil era famoso por seu povo hospitaleiro e suas mulheres espetaculares.
Um pequeno relaxamento era tudo de que necessitava.
Sentia-se mais do que bem. Ótimo, na verdade.
Até que olhou de relance para a estrada que levava a Puente e Filho e viu luzes brilhando contra a noite escura no fim da estrada.
Seu bom humor desapareceu.
Luzes. Havia alguém na casa. E ele soube, instintivamente, que era Anahi. Souza o enganara. Anahi não havia saído da casa, e sim subido a escada.
Uma onda de raiva quase o consumiu. Não voltaria aos Estados Unidos antes de confrontá-la. Independentemente do que dissera a si mesmo, não partiria com o rabo entre as pernas.
Alfonso pegou a saída à esquerda e voltou, ao encontro de Anahi.
bellaherrera: Haha aee muga q bom q ra gostando tustus \0/ *---*
franmarmentini: Omg em fran rsrs ;)
edlacamila: Q Otimo q gostou milla rs bjo postando <3
debaya: Acho q pelo menos um dos teus pedidos poncho atendeu kkkk postando gatita!!!!!
Discupem a demora bjos chelle!!