CAPITULO CINC
( ALFONSO)
Ele dirigiu como um homem possuído por demônios, um desconforto horrível embrulhando seu estômago.
Então Anahi tinha dormido com um porco como Ferrantes, carregado o filho dele no ventre...
Alfonso bateu o dorso da mão contra o volante.
Vamos. Vamos, droga! exclamou ele. Aquele carro maldito não podia ir mais rápido? Não via a hora de chegar ao hotel, pôr suas coisas na mala e sair do Brasil.
Teria de telefonar para seu pai alguma hora, mas o que lhe diria? Que ele entendera tudo errado, que não havia filho libertino de Puente herdando a fazenda...
Apenas uma filha libertina.
Uma mulher que aquecera sua cama todas as noites por algumas semanas? Certo, por três meses. Alfonso a tomara na primeira noite que tinham saído, numa explosão de paixão mútua como nunca experimentara antes. Eles tinham feito amor noite após noite, e a intensidade daquela paixão nunca diminuíra, nem mesmo quando começara a acontecer uma mudança súbita que ele não tinha sido capaz de definir, exceto saber que algo o deixava desconfortável.
Este era o motivo pelo qual havia terminado o relacionamento?
Não que isso importasse. Havia coisas mais importantes a considerar.
Como o que iria fazer com uma fazenda.
Alfonso a comprara para uma mulher que nunca existira, uma mulher que tinha ido dos seus braços para os braços de outro sem demora. Mas quem se importava? Ele também não ficara celibatário durante aqueles meses passados. Houvera inúmeras mulheres entrando e saindo de sua vida. Então, o que importava se Anahi tivesse outros homens?
O que importava agora era que possuía um lugar que não queria, e precisava fazer alguma coisa com isso.
Telefonaria para Souza, instruindo-o para vender a fazenda por qualquer oferta de preço. Esqueceria o quanto perdera naquela transação. Encontre qualquer comprador, diria e, sim, isso incluía Ferrantes. Na verdade, vender a fazenda para Ferrantes parecia uma ótima ideia.
Até que ele aparecesse, Anahi estava mais do que disposta a pagar o preço que Ferrantes exigia. Poderia continuar pagando agora.
Sim, aquilo estava definitivamente acabado. Que Ferrantes comprasse o lugar. Era isso que Anahi merecia, a perfeita vingança. Ela que passasse os próximos cem anos na cama do patife. Alfonso não se importava. Anahi havia sido apenas uma namorada passageira.
Nada especial. Como vê-la com o filho de outro homem nos braços não era especial...
Uma criança com expressão solene e olhos esverdeados.
Alfonso praguejou e parou o carro no acostamento da estrada, desligou o motor e agarrou o volante com força.
Não sabia absolutamente nada sobre crianças. Por que saberia? Seus irmãos, suas irmãs, eram todos solteiros. Crianças eram alienígenas de um planeta que Alfonso nunca tivera interesse em habitar.
As únicas crianças que ele via eram aquelas sendo empurradas em seus carrinhos no parque. E as de seu prédio. Como a de uma mulher que encontrara saindo do saguão algumas semanas atrás. Ambos estavam esperando um táxi, mas havia um pacote cor-de-rosa no colo dela.
Sua vizinha havia puxado assunto, e por educação, Alfonso gesticulara para o bebê, comentando:
Bonitinha. Não era realmente. Era apenas um bebê, mas a mulher sorriu.
Não é mesmo? Então acrescentou orgulhosamente: Ela faz quatro meses hoje.
Quatro meses.
Aproximadamente do tamanho do bebê que ele vira hoje. A diferença era que o bebê de Anahi tinha olhos esverdeados, aquela expressão solene que Alfonso já vira antes...
A percepção quase lhe roubou o fôlego.
Via aqueles olhos, aquela expressão no espelho todas as manhãs, quando se barbeava.
Não! exclamou em voz alta. Não! Impossível!
Mas aqueles olhos. A expressão. Os cabelos escuros. Supondo que a criança tivesse quatro meses, somando mais nove... Alfonso fez os cálculos e não pôde fugir da possibilidade.
Anahi poderia ter engravidado em Nova York. E, se tivesse...
Alfonso suspirou. Lembrou-se da mentira de Perla D`Angelo tantos anos atrás. Ele nunca fizera sexo sem usar um preservativo.
Anahi poderia estar mentindo, também.
Entretanto, diferentemente de Perla, Anahi não dissera que o filho era dele.
O que significava, pensou com alívio, que a criança não era sua. Esqueceria a cor dos olhos, o rosto... Os bebês eram todos parecidos.
Droga praguejou ele, ligou o carro e voltou para a fazenda pela segunda vez naquela noite.