Fanfic: fora do prumo

William riu alto; e soltou a mulher.

- Qual é o seu problema? - Perguntou ele, em altas gargalhadas.

- Hã? - Fátima olhou para ele e se encolheu mais ainda.

- Ainda mais você, que sempre dizia ser uma mulher que não sentia ciúmes. O que aconteceu? A separação mudou você, é?

Ele olhou para Fátima mais uma vez e voltou a rir. Foi caminhando lentamente até o sofá e se sentou, respirando fundo.

- Por que... Por que você está falando assim comigo?

- Porque eu nunca te enganei e não vai ser agora que eu vou te enganar. - Ele olhou sério para Fátima, que se assustou e deu um passo para trás. - Se eu fiquei de vir aqui para almoçar com vocês, não foi pra apresentar a minha nova namorada. E eu jamais beijaria você na frente de todo mundo pra depois aparecer na rua com outra mulher. O que é? Você acha mesmo que eu faria isso?

- N-não é isso, amor. - Ela correu até ele, que se levantou bufando. - Calma William.

- Não interessa pra quem eu ligo ou com quem eu falo. Você não pode ter a pretensão de querer saber das minhas intenções. A única coisa que você pode fazer é se contentar com as minhas ações. O que vem antes ou no meio não interessa.

- William

- Para, Fátima. Eu achei que nós ainda tínhamos jeito, mas eu to vendo que não. Nós não nos separamos por bobagem. Agora eu tenho certeza de que foi a melhor coisa que fizemos desde então. Muito obrigada por todos os anos de cumplicidade, mas se com 25 anos de casamento você ainda duvida de mim pelo que você achou ter ouvido de uma ligação de celular, então é porque nunca tivemos nada sólido realmente.

- Se põe no meu lugar.

- Que lugar? O de mulher traída ou da mulher que trai? Sim, porque eu só pensei em me envolver com outra mulher quando eu tive plena certeza de que jamais ficaríamos juntos novamente. A Rubia veio depois do Pedro. Depois da minha ficha ter caído.

- William, para de falar.

- Pra você pedir desculpas e ficar por isso mesmo? Não, obrigada. Se você quiser alguém pra conversar, chame o Pedro.

- Para com isso, por que você volta com essa história do Pedro?

- Porque a sua história com ele chegou aos jornais, mas a minha com a Rúbia não saiu da nossa cama.

E dizendo isso, passou por ela feito um vento. Ele parou perto da porta e fez a volta, vendo os filhos parados na ponta da escada.

- Pai... - Disse Vinícius.

- Desculpem, meus amores. Depois eu ligo pra vocês. Vini, não há com o que se preocupar. - Ele piscou um dos olhos e fechou a porta.

Ao contrário do que Fátima pensava, seus filhos correram para abraçá-la. Ela caiu sentada no chão, chorando sem parar.

- Junior, me explica isso direito, filho! - Disse o pai de William, também de mesmo nome.

- Ah pai, eu tentei reatar mas não deu.

- A Fátima não acredita em você? Como assim?

William estava com um copo de vinho na mão e com algo engasgado na garganta. Ele estava em um restaurante, conversando com o pai pelo telefone. Ele não sabia mais a quem recorrer, então seu pai era uma ótima escolha naquele momento.

- Eu estava combinando com o Vini de deixar umas roupas em casa e chamar a Fátima para almoçar também em casa. Ele daria um jeito de derramar algum líquido por cima de mim e a gente esperava que a Fátima ficasse desnorteada, brigasse com o Vinícius e fosse aquele auê. Se tudo desse certo, eu diria para ela se acalmar e diria para pegarmos uma roupa minha no quarto de hóspedes. Provavelmente ela entenderia aquilo como um "eu voltei para casa, meu amor".

- Mas isso não aconteceu.

- Eu fiz a besteira de ligar para o Vini ainda perto da porta do camarim da Fátima e ela ouviu tudo. Tirou conclusões precipitadas e deu tudo errado. Ela achou que eu tivesse falando com a Rubia, uma mulher com quem me envolvi e que eu estava planejando traí-la na cara dura.

- Meu Deus!

- Pois é. Eu até poderia engolir mais uma dela, mas eu acho que meu estômago está cheio de 25 anos de sapos.

- Meu filho, eu não sei o que dizer pra você.

- Talvez eu tenha errado, talvez eu teria desconfiado dela também, mas eu não sei. Me magoa muito saber que nossa relação está fortemente abalada.

- Por que você não dá um tempo a si mesmo? Eu não sei, tira uma semana de férias. Sai, viaja, se desliga do Brasil por um tempo. Conhece lugares, pessoas novas... Procure não pensar no seu casamento e muito menos na Fátima.

- Será pai?

- Faça isso que eu seguro as pontas por aqui. Mas não avise a ninguém, porque pode ser que não valha tanto a pena.

- Obrigado pai!

- Quando você voltar, com a cabeça mais leve e o coração mais tranquilo, nós vemos o que você pode fazer.

- Muito obrigado, pai!

- Deus te abençoe, filho.

William desliga o telefone e toma o último gole de vinho. Ele olha para o lado e sorri.

- Talvez eu só precise de férias!