Fanfic: fora do prumo

William ainda quase não acreditava. Faziam pouco mais de duas semanas que ele e Fátima haviam se separado e já haviam rumores de um novo relacionamento entre ela e um outro homem. O amor de sua vida talvez não fosse digno de tanto amor assim.

- E aí cara, como é que você está? - Perguntou João, um amigo de longa data de William.

Ele havia acabado de entrar na sala de William, que estava fitando a tela do computador e tomando um café.

- Ah João, não tem como estar bem. Eu amei a Fátima muito, construí uma vida ao lado dela, nós temos três filhos juntos e só em pensar que ela está lá e eu cá me doi. Mas a questão é que o nosso casamento já havia terminado há um bom tempo...

- É verdade que ela está com outro homem? - Perguntou João, sem jeito de fazer a pergunta. - Você sabe, saiu em todas as revistas e jornais e o pessoal comenta...

- Eu não sei, João. Não falo com a Fátima desde que saí de casa.

- E os seus filhos?

- Eu ligo pra eles todos os dias, nos três períodos do dia, mas não pergunto nada sobre a mãe deles. Eu me separei da Fátima exatamente pra não conviver mais com ela. - William fez uma pausa, respirou fundo e por um momento lembrou do sorriso de sua ex-mulher. - Se você não se importar, eu prefiro não falar sobre esse assunto aqui no trabalho.

- Claro William, me desculpe. É que somos amigos há um tempo e eu adoraria deixar claro pra você que eu estou aqui. E pode contar comigo pra tudo, sempre que precisar.

- Obrigado, João. Eu nunca vou me esquecer disso. Mas agora vamos trabalhar!

João saiu da sala de William e voltou para a redação, trabalhar como o bom jornalista que era. Enquanto isso, William pegou seu telefone e viu que haviam duas mensagens novas de sua filha, Laura.

"Pai, vem pra casa agora. A mamãe enlouqueceu. Por favor."

"Pai, é muito sério. Vem. Agora."

William, desperado, largou tudo o que estava fazendo e passou feito um vento pela redação.

Fátima estava com os filhos em casa e seu "namorado", discutindo no meio da sala. Seus filhos não aceitavam o fato de sua mãe ter superado rapidamente a separação e já ter passado para outro relacionamento.

Laura acreditava que a mãe fora capaz de ter traído o próprio marido.

- Eu não admito que você desconfie de mim! - Gritou Fátima para a filha, apontando-lhe o dedo, depois de ter ouvido tamanha asneira. - Eu nunca traí o seu pai!

- E foi aparecer com um namorado duas semanas depois por quê? Se encontraram na esquina e você percebeu que o ama mais que tudo? E os vinte e cinco anos de casamento com o papai? Não era amor?

- Laura, fique quieta. Eu não vim aqui pra discutir nada com vocês, muito pelo contrário. - Fátima dirigiu-se para todos os filhos e baixou sua mão. - Eu trouxe o Pedro aqui pra confirmar o que estão dizendo por aí, mas eu só vou conversar sobre isso com vocês depois. Agora eu só preciso que vocês se conformem.

- Sabe quando eu vou me conformar? - Gritou Beatriz. - Nunca! Eu quero o meu pai de volta.

- Mãe, o que você está fazendo não se faz. Duas semanas de separação e você já tráz esse homem para dentro de casa? - Vinícius estava tão chateado quanto as irmãs.

- Esse homem, não. Ele tem nome e vocês sabem qual é! Além disso, não sei o por que de tanta revolta se o Pedro é alguém conhecido aqui na nossa família.

- Exatamente por ser conhecido que eu afirmo que você traiu o nosso pai! - Laura gritou e caiu sentada no sofá, com as mãos na cabeça e chorando feito criança. - Ele frequentava a nossa casa, era seu amigo e agora vocês estão juntos. - Soluçou ela. - Eu sei que você traiu o nosso pai, pode parar de fingir. - E antes que Fátima pudesse se manifestar, ela ouviu fortes batidas na porta. - Papai! - Laura correu para abrir a porta.

- Minha filha! - William surgiu do outro lado e abraçou a menina assim que a viu chorando. - Eu estou aqui, fique tranquila.

- Pai! - Beatriz gritou e foi correndo para os braços do pai. Sua vida estava começando a ficar ruim... - Eu nem acredito que você voltou!

- Voltei, sim. Mas foi pra saber o que está acontecendo aqui. - William afastou um pouco suas filhas e fechou a porta atrás de si, segurando firme as mãos das duas meninas. - Pedro?

Sua cara era de puro espanto. O que aquele homem estaria fazendo ali? Por que seus filhos estavam chorando? E o que falar de Fátima, que estava ainda mais bonita do que quando William a tinha por perto.

Fátima, ao encarar aqueles olhos semi-cerrados daquele homem que tanto mexia com ela, ficou sem saber o que fazer. Botou sua mão esquerda em seu peito e viu os olhos de William parar sobre seu dedo anelar - já sem as alianças. Ela imediatamente escondeu sua mão cruzando os braços e olhou para o chão, completamente desconcertada.

- Pai, como você está? - Perguntou Vinícius, afastando um pouco o clima pesado que ficara na sala. - Que saudades!

O menino correu para abraçar o pai e o homem que estava calado como as portas e as paredes, enfim sentou. Fátima arregalou os olhos para ele e Laura não gostou de ver sua mãe calada, sem gritar como uma louca.

- E então, mãe? Continua gritando com nós, querendo que a gente aceite esse seu novo relacionamento. Grita. Continua. - Provocou Laura e William soltou as mãos de suas filhas.

- Novo relacionamento? O que o Pedro está fazendo aqui? Alguém pode me explicar?

- O Pedro e eu... Nós... - Fátima tentou se explicar, mas sua voz falhou com ela.

- Você não tá querendo me dizer que - porém ele foi interrompido.

- Está. - O homem levantou do sofá e falou, pela primeira vez. - Nós dois estamos juntos, William. E infelizmente você não pode fazer nada. - Ele foi até Fátima e a abraçpu pela cintura. - Eu sinto muito.

Fátima sorriu de canto e permaneceu estática, olhando para o chão. Ela tão pouco fora capaz de retrubuir o abraço de seu novo namorado - Pedro Bial. Este sorria feito uma criança em dia de Natal e também era capaz de ser irônico, mesmo em um momento tão pertubador.

William olhou para Fátima, deu dois passos para a frente e fechou os olhos, cerrando os pulsos.

- Você e o Pedro? Fátima! - Ele gritou e então foi às lágrimas. Fátima olhou fundo em seus olhos e ela chorava também. - Eu não acredito. Se vocês dois tão juntos - ele começou a calcular -, então você me traiu!

- Viu! - Gritou Laura. - O papai também percebeu sua traição! Você é nojenta! - A menina gritou e saiu correndo, subindo as escadas sendo seguida pela irmã.

- Pai, nos dá licença. - Vinícius se dirigiu ao pai e sorriu, apertando sua mão. - Depois suba pra falar com a gente. - Ele sorriu e se virou para a mãe, que ainda estava nos braços de seu novo namorado. - Nós estamos lá em cima. Tenta não piorar ainda mais as coisas, mãe.

Vinícius virou as costas e subiu as escadas, indo atrás das irmãs.

Na sala, Fátima empurrou Pedro para o lado e ele caiu sentado, puxando a mão de Fátima para que ela fizesse o mesmo.

- Senta, William. Vamos conversar como pessoas civilizadas que somos. E antes de julgar por uma coisa que você acha que aconteceu - ela enfatizou -, vamos exclarecer tudo aqui.

- Eu não vou sentar porcaria nenhuma! - William cuspiu as palavras e se enredou nos próprios sentimentos. Ele não sabia mais o que fazer e para onde ir. - Nunca mais olhe na minha cara, Fátima. Nunca mais. Eu te amei, eu cuidei de você, eu fiz de todo pra te fazer feliz todos os dias e é assim que você me retribui? Me traindo com um amigo da família? Trazendo-o para dentro da casa que era nossa? Você poderia, pelo menos, esconder esse relacionamento e trazê-lo a tona um pouco depois da nossa separação, não somente duas semanas após eu ter saído de casa. Nem os seus filhos conseguem olhar pra você! - William olhou para Pedro e sentiu vontade de deixar sua marca naquele rosto, mas ele sabia que seria inútil. Olhou para Fátima mais uma vez e sentiu seus lábios tremerem. - Você conseguiu destruir todos os sentimentos bons que eu ainda nutria por você. Nunca mais fale comigo, Fátima. E seja feliz com o seu novo amor. Ou antigo, eu ainda não sei.

- William, escuta. - Fátima tremia a voz e seu coração estava disparado. Naquele momento ela percebeu que ainda amava aquele homem com todas as suas forças, apesar de ter esquecido de cuidá-lo há um tempo atrás. As palavras que ele dirigia à ela eram como lanças no meio do seu peito. Ela não podia deixar que ele duvidasse de seu amor e da sua fidelidade. - Por favor.

- Não, nunca mais. Eu estou com nojo de você! E de mim também, porque eu acreditei em você enquanto você me traía com esse aí! - Ele apontou para Pedro, que imediatamente levantou do sofá e ameaçou se manifestar, mas Fátima o empurrou mais uma vez e ele voltou a se sentar, quieto.

- Não fala isso. Não faz assim. - Ela tentou se aproximar dele, mas ele se afastou.

- Lembra o que você me disse quando eu saí de casa? - Fátima fechou os olhos com força e William prosseguiu. - Pois então, esqueça que eu existo e que um dia estivemos juntos! - Ele foi se dirigindo à porta e antes de cruzá-la, virou para trás novamente. Fátima chorava copiosamente e ele riu. - Diga aos meus filhos que eu amo eles mais que tudo, e não tente me fazer cair nesse seu teatro de mulher inocente, porque eu não vou cair. Seja feliz, Fátima Bernardes! - E ainda antes de cruzar a porta, ele tirou a aliança de seu dedo anelar esquerdo e a jogou no chão, com toda força e raiva que tinha dentro de si. Quando a porta se fechou atrás dele, ele chorou.

E Fátima gritou, caindo ajoelhada no chão, completamente arrependida de tê-lo mandado ir embora há duas semanas atrás. Ele havia ido embora e havia levado consigo a esperança que Fátima ainda tinha de voltar para ele.

"Nunca mais", lembrou-se ela...