Fanfic: fora do prumo

William entrou no carro, afivelou o cinto de segurança e pegou seu celular na mão, indo até um aplicativo de mensagens. Assim que achou sua conversa com Laura, começou a digitar. Depois de enviar sua mensagem, jogou o celular em cima do banco do passageiro e ligou o carro, indo para o Jardim Botânico. Ele estava muito perturbado para trabalhar, mas aquilo era necessário.

- Você não se importa de ir embora? Eu adoraria conversar com os meus filhos com calma, sem gritaria e sem confusão. - Fátima pediu a Pedro, sentando-se ao seu lado ao sofá. Não se ouvia absolutamente nenhum barulho vindo dos quartos de seus filhos e ela queria ficar sozinha, digerindo tudo que estava acontecendo em sua vida. - Depois eu ligo pra você. Tudo bem? - Pedro assentiu com a cabeça e deu um beijo na testa de Fátima, levantando do sofá e indo embora.

Fátima respirou fundo, limpou o rosto com as costas da mão e sorriu ao lembrar de quantas vezes William fizera aquilo. Se repreendeu imediatamente por lembrar dessa forma de seu ex-marido e subiu as escadas, indo em direção ao quarto de seus filhos. Ouviu uma espécie de choro abafado vindo dentro do quarto de Laura e abriu a porta lentamente.

- Posso entrar? - Perguntou, dando batidas na porta.

- Não. - Laura foi ríspida com a mãe, que se assustou um pouco. Depois ela voltou a aterrar seu rosto no travesseiro se abraçou nas pernas da irmã. - Manda ela ir embora.

Beatriz olhou para a mãe sem saber o que fazer e Fátima entrou no quarto, fechando a porta em seguida.

- Olha aqui Laura, tudo bem vocês estarem chateados comigo porque eu e o seu pai nos separamos, mas você não tem motivo pra ser tão estúpida comigo. E eu ainda sou sua mãe, por tanto me repeite.

- Mãe? Respeitar? Chateados? - Laura levantou e sentou na beirada da cama, desbloqueando seu celular. Na tela, a conversa com seu pai. - "Filha, espero que seus irmãos estejam ao seu lado. E se estiverem, leia alto para que eles ouçam também - começou ela. - Eu e sua mãe nos separamos, já não temos mais volta e acho que vocês já sabem disso, mas eu ainda sou o pai de vocês. E vou ser sempre. Amanhã eu vou passar aí bem cedinho e vou levar vocês para a escola, como sempre fiz. E tudo que vocês quiserem e precisarem, podem me chamar. Mas eu não quero que vocês toquem no meu nome na frente da mãe de vocês e nem toquem no nome dela na minha frente, porque eu não quero nutrir nenhum sentimento por ela, bom ou ruim, e também não quero que ela nutra. Foram vinte e cinco anos de pura alegria e felicidade, mas agora já não há mais nada entre nós dois. Eu vou tentar tirar férias esse final de semana, mas quando eu voltar nós podemos marcar um dia para ir lanchar no shopping. Eu amo muito vocês! Com carinho, seu pai." - Laura se abraçou na irmã e ambas começaram a chorar. Vinícius chorava quieto em um canto e Fátima se encostou na porta, colocando a mão na boca e soluçando desesperada.

- Satisfeita? - Gritou Beatriz. Fátima balançou a cabeça negativamente e saiu do quarto da filha.

Fátima desceu as escadas correndo, pegou as chaves do carro, seu celular e saiu de casa indo até a garagem. No caminho ela alternava as memórias entre os tantos momentos bons que vivera ao lado de William e entre as lembraças da separação dos dois. Enquanto tentava se acalmar respirando fundo, chorava sem parar.

Quando chegou no estacionamento do prédio do Jornalismo da Globo, ela desceu do carro e caminhou apressada até os elevadores. Apertava aqueles botões desesperadamente, até que encontrou com uma amiga dos tempos em que ainda apresentava o Jornal Nacional.

- Fátima? - Ela se aproximou e assim que Fátima virou para trás, as duas se abraçaram. - O que aconteceu? Você tá chorando?

O elevador apitou, indicando que estava ali e Fátima se soltou do abraço da amiga.

- O William está aí?

- Está sim. Mas vocês não - porém a mulher foi interrompida.

- Obrigada. - E dito isso, entrou no elevador voltando a apertar os botões com força.

William estava imerso em sua sala, organizando as matérias que já haviam sido entregues a ele. Havia chegado há pouco tempo na redação e sentia que estava relativamente atrasado. Ele procurou não pensar em assuntos pessoais e isso o ajudou a não se sentir tão mal.

Ele sentiu um vento vindo da janela de sua sala e foi fechá-la. Ele ainda estava de costas quando Fátima bateu em sua porta.

- Entra. - Ele afirmou sem olhar pra trás, mas assim que se virou, se arrependeu de ter deixado-a entrar. - O que você tá fazendo aqui? - Ele perguntou, caminhando lentamente até sua sala.

Fátima fechou a porta atrás de si e encarou os olhos do homem à sua frente. Ela não se aguentou de tanta saudade e foi caminhando até ele, ignorando completamente os resmungos de William e fazendo a volta em sua mesa. William se encurralou automaticamente e Fátima foi até ele, grudando suas mãos no rosto de seu ex-marido. Ela pulou para cima dele e William a beijou com vontade, segurando-a pela cintura. Os dois grudaram os corpos e fizeram o que há muito queriam fazer.

Fátima chorava enquanto sentia o gosto do beijo de William, que a apertava com força, querendo afirmar para si mesmo que ela ainda era dele. Aquilo era um pouco errado e ia contra o que a cabeça dos dois ordenava, mas eles não conseguiam se controlar.

- Não. - William, por um estalo, se esquivou de Fátima e tentou empurrá-la para longe, mas ela agarrou seus braços com força. - Isso é errado. Nós estamos separados e eu pedi pra você esquecer que eu existo.

- Acontece que eu não consigo.

- Você nem tentou.

- William - ela tentou beijá-lo novamente, mas ele saiu de perto dela e parou em frente à porta. - Não faz isso comigo.

- Isso o quê? Foi você quem me mandou ir embora, lembra?

- Eu estava com a cabeça quente, não me leve tão a sério.

- E também estava com a cabeça quente quando me traiu com o Pedro Bial? E quando apresentou seu novo namorado aos nossos filhos?

- William, eu não te traí! - Gritou ela. - Eu juro. Eu jamais faria isso. Acontece que dois dias depois de você ter saído de casa, eu estava carente, com saudade e dolorida por dentro. O Pedro apareceu no Projac e acabamos nos beijando. Ele pediu pra ficar comigo, disse que amava muito desde quando trabalhamos juntos no Fantástico e eu queria você de volta, mas você não atendia as minhas ligações e nem me procurava. Então acabou que eu topei ficar com ele.

- Você quer dizer que a culpa é minha? - William riu. - Eu não acredito nisso, Fátima! Você vem aqui me culpar pelo seu relacionamento com outro homem? Ah, por favor Fátima!

- Não. - Ela disse e deu dois passos para a frente, fazendo a volta na mesa e se reaproximando de William. - Eu vim aqui pedir para você não ir viajar e não se afastar de mim... De nós dois.

- Não tem nós dois.

- T-Tudo bem. Mas não vá viajar. Por favor... Eu não quero perder contato com você e - porém William a interrompeu.

- Fátima, está tudo acabado entre nós dois. Eu não vou voltar para você, até porque você já está em outra. Curta o seu novo relacionamento e que você seja muito feliz.

- E quanto aos meninos?

- Vão ser sempre nossos. E é a única coisa que ainda nos liga. Mas eu não pretendo cruzar com você novamente. - William fez uma pausa, respirou fundo e olhou para o chão. - Agora, por favor, vá embora. Eu tenho muita a coisa a fazer e já está quase na hora da reunião de pauta.

- Claro, eu já vou indo. - Fátima foi indo em direção a porta e parou ao lado de William. - Mas, por favor, não vá viajar. Por favor.

- Fátima. - William sustentou o pedido para que ela fosse embora.

- Nos vemos amanhã? Quando você for buscar os meninos para levá-los à escola? - Ela cruzou a porta e antes de responder, William a fechou na cara de Fátima. Ele estava magoado, mas ainda sentia seus lábios formigarem devido ao beijo com Fátima.

Era impressionante, mas ele parecia sentir o calor do corpo de sua ex-mulher nas suas mãos.