Fanfic: Desde sempre. | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner
- Alô? – William disse, embasbacado com aquele telefonema inesperado, depois de tanto tempo.
A voz de Heloísa soou baixa, do outro lado da linha.
- William? É... desculpa te ligar a essa hora e de repente assim. Você está em casa? Estava dormindo?
- Estou em casa. E não, estava acordado ainda.
- Você está sozinho?
- É... estou... Porquê?
- É... Bom... não sei nem por onde começar, depois de tanto tempo, mas... – ela pausou. William aguardou em silêncio que ela prosseguisse. Não fazia idéia do que ela queria com ele. – ...é o seguinte. Eu estou indo embora pra Austrália. De vez, pra morar, sem data pra voltar. É uma espécie de intercâmbio profissional, inicialmente vou morar em um alojamento mesmo, futuramente pretendo alugar um apartamento pra mim e me fixar mesmo por lá.
William não entendeu absolutamente o porque ela estava ligando pra ele numa sexta-feira de madrugada pra falar isso. Mas ficou feliz por ela.
- Poxa, que bom! Você sempre quis mesmo morar fora, trabalhar em algum outro país, não é? Pra qual cidade você vai?
- Sydney! E realmente, eu sempre quis, você se lembra quando eu te contava de colegas da Odebrecht que foram e foram super bem sucedidos por lá? Eu sempre tive essa vontade! E veio num momento perfeito da minha vida, sabe? Eu estava precisando disso, dessa mudança de ares. É... William, a verdade é que eu não te liguei só pra te contar isso. Estou te contando isso somente pra justificar o motivo da minha ligação. Eu... eu sofri muito, William. Sofri muito pelo término da nossa relação, eu passei por um processo muito doloroso de tentar adaptar minha vida novamente sem você quando eu vi que realmente não tinha volta. Quando você deixou aquela caixa com as minhas coisas na portaria do meu condomínio, nossa... Foi um dos piores momentos da minha vida, eu não gosto nem de me lembrar, eu... Bom, eu já estou mais tranqüila agora, essa viagem me deixou muito entusiasmada e apagou um pouco desses meus problemas, momentaneamente. Mas... – ela ficou muda.
- Mas...? – William instigou que ela terminasse.
- Mas eu ainda amo você, William. Eu ainda te quero, te desejo, sinto saudades e não consigo me esquecer completamente de tudo o que a gente viveu. Muito disso é porque ainda tem muito de você na minha rotina. Tem você em cada canto da minha casa, quando me lembro de tudo que passamos juntos. Tem você no meu carro, na minha sala, no balcão da minha cozinha... e na minha cama. Na minha cama tem muito de você. E sempre terá. E é por isso mesmo que estou te ligando.
William sacudiu a cabeça, entendendo parcialmente o teor daquela conversa.
- Heloísa...
- Não, espera. Me deixe terminar de falar. Eu não quero reatar nosso namoro, não é isso. Eu só quero... como eu diria? Um flashback. Entende? Eu preciso disso antes que eu vá embora, eu... É como se fosse um rompimento pra mim, dessa fase minha aqui no Brasil, dessa transição. Você está me entendendo?
William esfregou os olhos, indignado.
- Heloísa, eu não sei se isso é uma boa idéia. Não tem mais nada a ver, a gente... acabou, sabe? Sei lá, acho que isso seria pior pra você, pra mim, não... não acho que isso valeria a pena.
- Você tem alguém? Pode falar! Mesmo! Super tranqüilo se tiver.
- Não, eu... não exatamente.
- Você está comprometido? Está namorando alguém?
- Não. Não estou.
- Então! Está em casa numa sexta a noite, aposto que está super carente e solitário. Eu te conheço suficientemente bem pra saber que já fumou um maço de cigarros e está bebendo sozinho, pensando sabe-se lá no quê ou em quem, mas não me importa. Não mais. Eu estou sozinha aqui também, pensando em você mais do que tudo. Estou com a passagem comprada, malas prontas e coração ansioso pra essa viagem. Só me falta isso pra conseguir me desvencilhar de tudo aqui no Brasil e recomeçar minha vida em outro lugar, com outras pessoas, outros ares... Me falta viver isso com você. Mesmo que seja só ficarmos perto um do outro, não estou aqui querendo que a gente passe uma temporada em uma cabana da serra. É só uma noite, eu vou até a sua casa e a gente conversa e... não te vejo desde o dia que terminamos, nunca mais nos esbarramos, eu... William... por favor? É a última vez que você vai me ver na sua vida. Nunca mais nos falaremos, eu não vou manter contato com você, nunca mais irei te procurar. E vou ser uma página apagada da sua vida e você, virada na minha. O que você me diz?
- Heloísa... Eu insisto que isso vai ser ruim pra você, você vai sair machucada, vai reavivar todas as lembranças, você... você está cometendo um erro de procurar por mim. É sério, acredite em mim, isso é um tiro no pé.
- Eu estou certa de que isso me fará muito mais bem do que mal. William, faça isso por mim? Eu PRECISO.
- Me deixe pensar por uns dias, você me liga do nada e me vêm com essa, eu... eu não quero fazer nada de que eu possa me arrepender depois...
- Não há tempo pra pensar. Meu vôo é amanhã no fim da tarde.
- Meu Deus, Heloísa...
- William, me deixe ir até sua casa? Só me deixa ver você, ficar perto de você por algumas horas, a gente senta e bebe junto, eu sinto falta do seu apartamento, até da bagunça que é o seu quarto. Se você topar, não vai estar me machucando... Vai estar fazendo com que eu corte um vínculo que me prende muito ainda. Tomei essa decisão sabendo que, se eu não te ligasse, isso permaneceria me prendendo, mesmo quando eu estivesse do lado de lá do oceano. E poxa, sou eu né, William? Você já me conhece como a palma da sua mão, não precisa se intimidar. E amanhã antes que você perceba, eu já fui embora e as coisas voltarão a ser como antes. Pra você. Pra mim, as coisas mudarão muito, mas pra melhor e assim será desde então. Pela sua voz, eu sei que você está angustiado por algum motivo, tenho certeza que a sua noite terminaria um completo tédio. Me dê a chance de fazê-la terminar um pouco melhor, você também merece. Por favor, diga que sim? Diga que sim e em cinco minutos eu estarei interfonando no seu apartamento.
William coçou a cabeça. Era uma tentação imensa, principalmente porque a carência falava mais alto do que a razão. Continuava achando que era uma má idéia pra Heloísa, mas a raiva que sentia de Fátima era maior que o seu bom-senso. Aquela seria uma forma de tentar parar de pensar nela, que fossem por alguns minutos. Não suportava mais lutar contra seus pensamentos e sua vontade louca de ligar pra ela. Lembrou-se das palavras dela: “Respeite meu tempo, me deixe te procurar quando eu achar que é a hora...”. William maquinava tudo isso em milésimos de segundos, ainda na com Heloísa na linha. No auge de sua insensatez, cuspiu as palavras quase que sem perceber:
- Tá, eu... espero você.
***
Dez minutos depois, o interfone tocava. William saiu do banheiro vestindo uma camiseta branca velha, que ele usava pra ficar em casa. Usava também uma bermuda azul marinho e os pés estavam descalços. Ele caminhava em passos largos até o inferfone, enxugando o cabelo encharcado, recém saído do banho. Atendeu e era o porteiro noturno avisando que Heloísa estava subindo. Ele concordou, caminhou até a porta e girou a chave, destrancando-a. O banho fez com que ele ficasse mais sóbrio e proporcionou a ele um leve arrependimento por ter dito sim pra tamanho retrocesso. Se encontrar novamente com a ex, apaixonado por outra mulher. Era uma típica atitude de um completo idiota, que ele não era, mas agiu como se fosse. E ele tinha consciência disso, mas não havia mais como voltar atrás. Ele deu uma sutil organizada naquela sacada imunda de tocos de cigarro e tampinhas de cerveja jogados no chão. A chuva caía bem fininha e ventava muito. Ele recostava a porta de correr da sacada quando ouviu a porta de entrada do apartamento abrindo atrás de si. Olhou pra trás e Heloísa entrava pé por pé, sorrindo pra ele. Ele retribuiu o sorriso.
- Oi. Entra aí. – ele caminhou até ela.
Deu um beijo no rosto de Heloísa, que teve uma conotação muito mais amigável do que amorosa.
Ela caminhou e abandonou as chaves do carro no balcão, enquanto William trancava a porta do apartamento. Heloísa olhava pra cada canto daquele local, onde ela freqüentava diariamente, praticamente morava ali e agora, sentia-se levemente deslocada. Mas se familiarizava com tudo, estava tudo igual.
- Nossa, aqui não mudou nada! – ela disse, olhando pra ele.
William sorriu.
- Quem vê você falando assim, pensa que fazem dez anos que você não pisa aqui. – ele abriu a geladeira e olhou pra ela. – Quer uma cerveja?
Ela concordou com a cabeça, passando em frente a estante. Correu os olhos pelos porta-retratos e não pôde deixar e reparar que os de Fátima não estavam lá. Imaginou que ele tivesse recolocado-os de volta, depois que terminaram. Sentiu uma imensa curiosidade pra saber o que aconteceu, mas decidiu não perguntar nada. Não queria fazer cobranças justo naquela noite.
Ela sentou-se no sofá. William sentou-se ao lado dela, mas virou-se de frente pra ela, com o cotovelo apoiado no estofado do encosto. Ele entregou a ela uma cerveja. Heloísa não tirava os olhos de William.
- Obrigada por ter concordado com essa minha loucura. – ela riu. Ele apenas sorriu de lado.
- Você realmente é maluca, Heloísa.
- Eu senti saudades do cheiro desse apartamento. Do seu cheiro, que continua idêntico do que eu me lembrava. Ainda mais recém saído do banho.
William sacudiu a cabeça, constrangido. Tentou mudar de assunto.
- Me conta mais sobre a sua viagem. Você vai pela Odebrecht mesmo?
- Sim! Eles tem uns correspondentes lá, que vão me auxiliar nesse início. Da matriz aqui do Rio, eu sou a única que vou pra Austrália. Mais três funcionários vão, mas um vai pra Tóquio e os outros dois pro Canadá, acho que um pra Toronto e outro pra Vancouver.
- Você que escolheu ir pra Austrália?
- Mais ou menos! Eu me inscrevi pras próximas vagas que surgissem pra correspondentes internacionais, fazem dois meses. Saiu super rápido, imaginei que só ano que vem eu conseguiria essa vaga. Aí quando rolou, me mandaram escolher entre Sydney e Moscou.
- Aí você escolheu não congelar na Rússia. – ele riu.
- É, e além do frio, eu procurei saber e o alojamento lá de Moscou era meio que zona rural assim, era bem afastado da cidade, eu fiquei receosa de não me adaptar. Em Sydney não, a filial da Odebrecht lá é quase no centro da cidade e o alojamento é na própria empresa. Super bem localizado, super badalado, dizem que os funcionários alocados lá são todos bem jovens, o que vai facilitar muito pra eu fazer amizades, não é? Vai ser muito bom, eu estou muito feliz! Muito mesmo! Mas me conta de você. E lá na rádio? Ás vezes eu ouço o programa...
- Ah... lá está tudo na mesma, aquela rotina punk de sempre, como você sabe bem. Mas é isso que eu gosto mesmo, trabalhar igual um louco a curto prazo, porque tudo que eu faço tem que ser refeito todos os dias novamente. – ele sorriu. – É isso que me move, o desafio de nunca cair em uma rotina maçante.
Heloísa observou-o por alguns segundos, em silêncio.
- Nós somos tão diferentes, né William?
- Somos. – ele concordou com a cabeça. – Mas eu sempre soube disso.
- Eu também, mas isso ficou mais gritante em determinada fase do nosso relacionamento. Mais pro final, pra ser mais específica.
- Nosso relacionamento não terminou por causa das nossas diferenças. – ele deu um gole na cerveja.
- É... Mas nos atrapalhou bastante.
- Eu já acho o contrário. Acho que se fôssemos muito parecidos, não teríamos conseguido nos entender em nenhum momento.
- E em algum momento, nós nos entendemos? – ela questionou.
- Claro! Não foram cinco anos de trancos e barrancos. Tivemos fases de calmaria. Duraram pouco, mas existiram. – ele sorriu, melancolicamente.
Ela concordou com a cabeça.
- É, mas eu não vim aqui pra falar do passado. E nem do futuro. Só do presente. – ela se remexeu no sofá. – Você... tem alguém com quem você está saindo no momento? – ela insistiu na pergunta, cuidadosamente. William abaixou a cabeça e hesitou. Heloísa prosseguiu. – É... essa expressão no seu rosto foi de: 1- não, não tenho ou 2- não quero falar sobre isso? - ela sorriu com a brincadeira.
William sacudiu a cabeça e sorriu.
- Número 2.
Heloísa concordou.
- Tudo bem. Você é quem sabe. É... Você tem saudade, ás vezes? De mim?
William desviou o olhar. Maldito interrogatório constrangedor! Maldita hora em que ele fez a besteira de concordar com aquele disparate de se encontrar com ela!
- Quantas perguntas ainda faltam pra terminar seu questionário? – ele riu, constrangido.
- Desculpa, eu... É que... Mesmo que eu não tenha guardado mágoas, a gente nunca mais se falou... a curiosidade é inevitável.
- Heloísa, foi muito traumática a nossa relação pra mim. Eu me sentia muito preso, sabe? Muito engessado pelo seu ciúme, eu nunca consegui lidar, eu... É claro que eu senti sua falta, foram muitos anos de namoro, mas... Acho que o sentimento ficou desgastado, entende?
- Entendo. Não precisa hesitar em ser sincero, não dói mais ouvir isso porque eu já me convenci de que seu amor acabou. E a culpa foi minha. Eu não quero reparar nenhum erro, não há mais espaço pra isso. – ela colocou a garrafa de cerveja no aparador, atrás do sofá e se aproximou dele. – Eu só quero sentir de novo e pela última vez, a sensação que só você me fez sentir.
Heloísa encostou a ponta do nariz dela no dele. Mordeu na boca e expirou, excitada. Alcançou uma das mãos de William e a posicionou no seio dela, em cheio. William fechou os olhos.
- Heloísa, não... – ele deslizou a mão pra baixo, tirando-a do seio de Heloísa e descendo até a cintura. Ela interrompeu o que ele ia falar.
- SSSSSSSHHHH! – ela tapou a boca dele. - William... É o que eu mais quero. – ela puxou a cabeça dele e o beijou violentamente.
Beijar a boca dela foi uma sensação estranha, como se fosse a primeira vez que ele experimentava. Foi inevitável lembrar-se do cheiro, do beijo e do gosto da boca de Fátima. Ele só conseguia pensar nela, o tempo todo. Heloísa se levantou, ainda beijando-o e puxou-o pela camiseta, fazendo com que ele se levantasse do sofá também. Ela empurrou William pro quarto, deslizando as mãos pelas costas dele, por dentro da camiseta. De costas, William trombou a panturrilha na cama, se desequilibrou e caiu pra trás. Ela caiu por cima e já arrancou a camiseta dele. Continuaram se beijando. A carência e a falta de sexo fizeram com que ele ficasse excitado, mas existia algo que o deixava desconfortável naquele momento, ele não conseguia saber o que era. Tentava parar de pensar em Fátima, um segundo que seja, mas era impossível. Ele rolou pra cima de Heloísa, acariciando as coxas e o bumbum dela por cima da calcinha. Heloísa arrancou o vestido e jogou-o pra longe, ficando apenas de lingerie. Ela desabotoou o próprio sutiã e retirou-o, puxando as duas mãos de William e colocando-as nos seios despidos dela. De olhos fechados, William enterrou o rosto no pescoço dela. Inspirou longamente o cheiro do perfume dela e, imediatamente, sentiu uma repulsa avassaladora. Aquele beijo, aquele corpo e aquele cheiro não eram nada do que ele queria sentir. Estava enganando Heloísa e a si próprio forçando uma conexão e uma sintonia sexual que não existiam. O corpo dele conseguiria concretizar uma noite fervorosa de amor com Heloísa, mas não o seu coração. William levantou o rosto e olhou pro rosto dela. Ela ofegava, de olhos abertos, encarando-o seminua. Ele só conseguia ver Fátima em sua frente, por mais surreal que aquilo pudesse parecer. William sentiu-se a criatura mais desprezível da face da terra. Deitado em cima dela, ele sacudiu a cabeça. Rolou para o lado dela e tapou o rosto, arrependido e atordoado. Heloísa virou-se de bruços, olhando pra ele.
- O que foi, William?
Ele ficou calado por alguns segundos, mas respondeu.
- Eu não vou conseguir, Heloísa. Não dá.
- Mas porquê?
Ele tirou as mãos do rosto e olhou pra ela. Sentiu pena por tê-la exposto a uma situação como aquela. Se sentiu um babaca completo. Levemente, ele acariciou a bochecha de Heloísa, que permanecia olhando pra ele, vestida apenas com uma calcinha sensual de renda.
- Me desculpa? Mil vezes, me desculpa! Eu não posso fazer isso com você. Não posso te machucar assim, não tenho esse direito. Nós passaremos a noite juntos sim, mas não fazendo amor. Porque você merece que eu esteja com você por inteiro. Você não merece que eu brinque com os seus sentimentos dessa forma. Heloísa... o meu corpo está aqui, mas o meu coração não...
Ela olhou pra ele, desapontada.
- E onde está seu coração?– ela usou um tom suave, muito diferente do que William estava acostumado a ouvir da boca dela.
- Se eu te contar, talvez você se surpreenda. Ou não. – ele foi incisivo.
- Quem é ela? – ela questionou.
- Fátima.
Heloísa arregalou os olhos.
- O QUÊ? – William concordou com a cabeça, sem olhar pra ela. Heloísa continuou. - Porque será que eu SEMPRE SOUBE, William? – ela deitou-se ao lado dele, mas permaneceu fitando-o, incrédula.
- Não soube não, Heloísa. Você não soube, porque não havia nada quando estávamos juntos. Realmente.
- Você que pensa. William, você SEMPRE AMOU a Fátima, eu já te disse isso várias vezes e repito. Esse sentimento se escondia atrás de uma amizade que, de tão antiga, se tornou tradicional na sua vida e na dela. Mas isso SEMPRE FOI amor, William. E não é qualquer amor. A ligação que vocês têm vai além dessa vida, vai além até do que vocês dois podem supor. Digo isso agora, agora fora da situação, não mais com uma conotação de ciúme e de posse. – ela observava William refletir olhando para o teto, em silêncio. – Onde ela está que não está aqui agora?
- Na verdade, talvez você esteja imaginando uma coisa que não é, de fato, o que está acontecendo. Nós não estamos juntos. Nós não estamos nem saindo. As coisas estão um pouco... “fora do prumo”. – ele preferiu definir assim.
- “Fora do prumo”?
- Sim. É... como eu poderia explicar resumidamente? Ela ainda não sabe que eu estou apaixonado. É isso.
- O quê? Mas... como?
- Não sabe. Eu não contei. Tive várias oportunidades, mas fui um tolo e não contei. Deixei que ela falasse, falasse, falasse, saísse andando e fosse embora, sem me ouvir.
- Mas então é tipo... platônico?
- Não exatamente. É difícil explicar... – ele coçou a cabeça.
- William... naquela noite em que terminamos... eu te liguei para conversarmos e ela estava aqui. Você se lembra? – ele assentiu. – Então, eu... eu sempre desconfiei que naquela noite vocês transaram. Nunca consegui parar de pensar nisso. Seria muita ousadia da minha parte te perguntar isso? É... quero dizer... vocês transaram ou não naquela noite?
- Não. Nem naquela noite e nem em noite alguma. Nós nunca transamos.
- Mas se beijaram, ao menos?
- Sim. Duas vezes.
- E ela...?
- Ela... ela está desesperada, sem entender o que está se passando comigo, achando um completo absurdo nos envolvermos, está confusa e desnorteada. E com raiva de mim.
- E você..?
- Eu estou louco, desorientado, enchendo a cara todos os dias e fumando igual um louco, pensando nela a todos os momentos que fico sozinho, não consigo me desvincular disso, mas também não consigo avançar nenhum passo, porque ela me ordenou que esperasse que ela digerisse tudo e me procurasse. – ele aparentou um profundo desapontamento no olhar. Heloísa encarou-o, aguardando que ele prosseguisse. - É... eu queria te agradecer, Helô... por compreender e me ouvir desabafar. Eu sei que não foi assim que você esperou que essa noite terminasse. Eu não devia ter aceitado que você viesse. Eu sei que piorei tudo. – ele abaixou a cabeça.
- William, não... – ela acariciou o peito dele. – Obrigada por estar sendo sincero comigo. Eu gosto de te ouvir. Gosto da sua companhia. Ficar aqui ao seu lado já tornará essa minha última noite no Brasil muito especial. – ela sorriu e puxou o lençol, cobrindo o próprio corpo.
William girou o pescoço e olhou pra ela. Sorriu com o canto da boca. Heloísa sentiu seu coração se derreter, mas não transpareceu. Amava aquele homem mais do que tudo no mundo, mas aqueles meses separada dele fizeram com que ela amadurecesse o suficiente pra conseguir acatar uma relação de amizade com ele, sem misturar as coisas.
William se sentia mais leve, podendo dividir com alguém a angústia. A companhia, mesmo que de Heloísa, o fez muito bem pra descarregar um pouco de tudo o que estava entalado. Ela foi a primeira pessoa, depois da mãe de Fátima, a quem ele se abriu e dividiu seus sentimentos. Ficaram ali, a madrugada toda acordados, apenas conversando sobre a vida, futuro e perspectivas. Nada mais do que isso.
***
Cinco da manhã. A chuva grossa batia no vidro da janela, violentamente. A cortina não conseguia vedar a claridade dos relâmpagos que insistiam em disparar, seguidos de trovoadas repentinas e barulhentas.
Fátima remexia debaixo do edredom, inquieta. O sono simplesmente desapareceu sem deixar rastros. Irritada e exausta, ela tentava desesperadamente relaxar. Mas sabia que a insônia foi gerada pela inquietação de seu psicológico abalado, que não conseguia se desligar de William. Os dias tinham sido penosos de saudade dele. Ela ainda estava anestesiada com aquela nova realidade em que estava mergulhada. Não conseguia parar de lembrar de que fazia uma semana desde o casamento do Augusto, quando ela despertou pela primeira vez um desejo oculto por William. Era difícil assimilar que, aquela pessoa que sempre trouxera paz pra vida dela, agora tirava sua paz, deixando-a com suor nas mãos e frio na barriga. Pensar nele, nos beijos, no toque suave dos dedos dele em seu corpo e da respiração dele em seu ouvido, era excitante e surreal. Era muito diferente de tudo que ela estava acostumada a sentir por ele até então. Lembrou-se do momento em que o viu parado, encostado no carro, na porta do trabalho dela. Lembrou-se das palavras dele: “Eu senti uma vontade louca de te beijar...”. Olhando para o teto no escuro do quarto, ela esticou a mão e alcançou o celular. Não havia lido ainda as mensagens que ele enviou pra ela no início da semana. Mas repentinamente, sentiu uma necessidade imensa de ler e saber o que ele tinha pra dizer, antes de decidir procurar por ela na redação naquela quarta-feira. A medida que ela lia a sequência de 14 mensagens, seu coração batia cada vez mais forte dentro do peito.
Precisamos conversar. Eu tenho MUITA coisa pra te falar...
Me liga quando puder. Bjs.
Fátima, cadê você? O que está acontecendo? Me liga!
Eu sei que você está confusa e perdida, eu também estou. Mas precisamos resolver isso juntos, como sempre fizemos a vida toda. Eu gostaria de te lembrar que ainda sou eu, o mesmo William e você ainda é e sempre será a pessoa mais importante da minha vida. Me liga ou me responde! Bjs.
Eu já desisti de te ligar, mas não perco as esperanças de que você retorne as ligações ou mensagens.
Tá bom, eu já sei que você não está suportando mais minhas mensagens, mas eu não tenho estrutura pra agüentar esse seu silêncio.
OK! É assim que vai ser então? Nunca mais na vida vamos nos falar? Ótimo, então estou nesse momento rasgando todas as nossas fotos e jogando na lixeira da cozinha, já que é assim que você quer...
(Eu não tive coragem de rasgar as nossas fotos.)
MAS VOU QUEBRAR SEUS CDS QUE ESTÃO COMIGO E SEU PEN DRIVE!
Caralho, cadê você Fátima?
Eu vou no seu trabalho.
Você nem está lendo as minhas mensagens? EU DISSE QUE VOU NO SEU TRABALHO. HOJE.
Você não está lendo.
Como consegue me ignorar assim?
Eu amo você. Eu amo muito você. Muito.
Fátima respirou fundo, com o olhos marejados. Olhou pela janela. A chuva estiou e ela nem se deu conta. Notou que o dia estava claro. “Meu Deus, que horas são?”. Eram 6:40 da manhã. O tempo passou, e ela nem se deu conta, embalada por seus pensamentos. Releu mensagem por mensagem novamente. E, sem pensar mais do que duas vezes, tomou uma decisão. Levantou-se, tomou um banho quente, pegou a bolsa e saiu.
***
A rua estava vazia, sem pedestres e com pouquíssimos carros. O asfalto molhado ilustrava o temporal que caiu durante toda a madrugada. O sol estava escondido por detrás das nuvens acinzentadas, mas alguns raios iluminavam aquela manhã fria.
Fátima dirigia calmamente, com um olho no trânsito e outro no relógio do painel do carro. Já marcavam 7:15 da manhã. Não era exatamente um horário perfeito para chegar na casa de alguém, principalmente em um sábado. Mas ela estava ansiosa demais pra revê-lo, conversar com ele, ouvi-lo e tentar reorganizar suas idéias. Se sentia preparada pra isso, finalmente. Tinha certeza que William ficaria feliz com a visita repentina. Ela teve o cuidado de levar a cópia da chave da porta e do controle do portão da garagem, pra conseguir entrar na casa dele sem acordá-lo.
7:35 e Fátima manobrava o carro na vaga sobressalente na garagem do prédio dele. Viu o carro de William estacionado na vaga ao lado e respirou aliviada por saber que ele estava em casa. Desceu com a bolsa pendurada no ombro, o molho de chaves em uma mão e o celular na outra. Dentro do elevador, se recostou no espelho. Respirou fundo e sentiu um nervosismo atípico. Jogou o cabelo de lado, aguardou que a porta se abrisse e caminhou pelo corredor do hall, em direção a porta de William. Sorrateiramente, ela encaixou a chave na tranca, girou tentando não fazer barulho e puxou a maçaneta. Abriu a porta e olhou em linha reta. Sentiu o chão desabar embaixo de seus pés. Heloísa estava na sala, se apoiando no braço do sofá para abotoar a fivela da sandália. Os cabelos castanho-claro dela estavam levemente desgrenhados. Parada na porta sem conseguir se mover, Fátima fitava Heloísa, que levantou o corpo e só depois notou a presença de Fátima. Arregalou os olhos e não teve reação. As duas ficaram ali, paradas olhando uma pra outra. Fátima não acreditava no que estava vendo, tinha esperança de que em algum momento fosse acordar daquele pesadelo terrível. “Não pode ser, ele não faria isso comigo...”, pensava. Segundos depois, William saiu de dentro do quarto, com os pés descalços, uma bermuda de dormir, passando a gola da camiseta pela cabeça, vestindo-a. Ele parou ao perceber que ela estava lá. Um desespero silencioso tomou conta de William ao cruzar o olhar com o dela. Os olhos de Fátima transbordavam de lágrimas de ódio, decepção e frustração. Petrificada, ela analisava o ambiente da sala rapidamente, sem se mexer, correndo apenas o olhar por todo o cômodo. Os porta-retratos com as fotos dos dois não estavam na estante, várias garrafas de cerveja vazias na mesa de canto e a blusa de frio de Heloísa jogada no encosto do sofá. Não era pesadelo. Era verdade, aquilo realmente estava acontecendo. As mãos de Fátima tremiam, com uma raiva que ela nunca antes havia sentido em sua vida. Olhou novamente pra William, com o olhar flamejando em chamas. Jogou a cópia da chave que sempre guardou consigo em cima de um banco, próximo a porta. Sacudiu a cabeça negativamente, indignada. Virou as costas e saiu muda, fechando a porta atrás de si. William olhou a chave de Fátima abandonada em cima daquele banco e a porta da sala fechando atrás dela. Não pensou em nada, apenas balbuciou, desorientado:
- Fátima, não...
Autor(a): bonemerlove
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 29
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beatriz_cartilho Postado em 11/02/2015 - 20:58:16
Ahh não acredito que acabo , mais eu amei o final *_*
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bia_jaco Postado em 11/02/2015 - 20:25:07
Aiiiin não acredito que a fic já acabou :( bom mais nada dura né?Quero que saiba que essa fic vai para o meu coração como todas suas,amooo!!Parabéns mais uma vez.Beijos moça linda
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bia_jaco Postado em 22/01/2015 - 21:19:06
Geeeeeeeeeeeeeeente que capítulo é esse?Sei mais nem o que dizer....amo amo amo!!!
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bia_jaco Postado em 19/01/2015 - 14:50:40
Lindos demais!!Amei muito o capítulo
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beatriz_cartilho Postado em 12/01/2015 - 22:01:14
Que lindo amei!!!
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jurb Postado em 12/01/2015 - 18:58:58
Que lindo! *-*
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bia_jaco Postado em 12/01/2015 - 18:19:54
Lindo lindo lindo o capítulo.Finalmente falaram as 3 palavrinhas mágica.Amei o capítulo!!
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bia_jaco Postado em 02/01/2015 - 19:12:16
aaaaaaaaaaaaaaaa como tem coragem de parar o capítulo assim?Quero maaaais!!Posta maaaaais!
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bia_jaco Postado em 30/12/2014 - 18:10:08
Estava morrendo de saudade da fic.Amei o capítulo!!Quero maaaaaaais :)
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star.20 Postado em 22/12/2014 - 18:03:27
Por que ta demorando tanto pra posta outro capítulo? Desistiu?