Fanfic: Desde sempre. | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner

                William esfregou a cabeça, desesperado. Se esqueceu completamente             que estava com os pés descalços, correu até a porta, deixando Heloísa plantada no meio da sala, com o apartamento todo aberto. Em disparada, ele correu até o elevador, mas as portas já estavam fechadas. William passou os dedos pelos cabelos, olhando para os lados tentando pensar em uma alternativa pra alcançar Fátima antes que ela fosse embora de vez. Olhou para a porta da escada de emergência e não pensou duas vezes. Empurrou a porta com força e começou a descer lance a lance, pulando dois degraus a cada passo. No 5° andar, ele ofegou, se apoiando no corrimão por alguns segundos, mas prosseguiu, quase perdendo as esperanças de que chegasse até a garagem a tempo. Abriu a porta e olhou ao redor. Fátima dava ré no carro, tentando tirá-lo da vaga. William correu até lá, batendo as duas mãos no capô. Notou que ela o viu, parou o carro e desceu o vidro. Ele pôde ver que o rosto dela estava encharcado de lágrimas.

                - SAI DA MINHA FRENTE, EU NÃO QUERO TE OUVIR. – ela berrou.

Sem fôlego, ele se esforçava pra conseguir falar.

                - Fátima... eu não desci 15 andares de escada pra mentir pra você. Pelo amor de Deus, me ouve. Sai do carro. – ele apoiou a mão no teto do carro, tentando recuperar o fôlego.

Fátima abriu a porta e saltou do carro. Parou de frente pra ele, soluçando.

                - Aqueles dois beijos foram pra você passar seu tempo comigo, até que você encontrasse alguém que matasse de vez a sua carência? É isso, William? Pra quê me mandar quatrocentas mensagens, falando que me amava? Pra quê ligar lá em casa atrás de mim, ir na porta do meu trabalho e me beijar DENOVO, sabendo como é que eu me sentia? E agora você reata o namoro com a Heloísa, sem se importar comigo, com tudo que aconteceu... O que eu sou pra você?

                - Meu Deus, você entende tudo errado SEMPRE, Fátima... – ela o interrompeu.

                - Entendo tudo errado? EU ENTENDO TUDO ERRADO? Eu chego na sua casa amanhecendo o dia e flagro a sua ex se recompondo no meio da sua sala, você saindo do quarto se vestindo e eu que estou entendendo errado? O QUE VOCÊ GOSTARIA QUE EU ENTENDESSE DIANTE DE UMA CENA DESSAS?

                - Eu só queria que você me ouvisse antes de tirar conclusões precipitadas. Não aconteceu NADA entre eu e a Heloísa, quero dizer... nós não transamos, NÓS NÃO VOLTAMOS, foi um engano ter aceitado me encontrar com ela, mas a gente só conversou e... e foi só isso...

                - COMO VOCÊ TEM CORAGEM DE FALAR ISSO PRA MIM, WILLIAM? Eu não sou uma tonta como ela, que sempre comeu na sua mão, esquecendo todos o problemas de vocês e voltando pra você cada vez que você estalava os dedos! 

                - PÁRA de deturpar as coisas! Eu estou aqui me explicando pra você porque EU QUERO, e não porque eu PRECISO fazer isso! Ela está aqui desde ontem, na minha casa... – ele pretendia concluir, mas ela o interrompeu.

                - AH, NÃO BRINCA! – Fátima disse, ironicamente.

                - ... mas nada aconteceu de fato, porque EU não quis! EU NÃO QUIS!

                - NÃO ME INTERESSA O QUE VOCÊ QUIS! – ela berrou, histérica.

                - INTERESSA SIM! Te interessa muito mais do que você pensa!

                - É? Porquê?

William respirou fundo.

                - PORQUE EU ESTOU APAIXONADO POR VOCÊ. – Fátima arregalou os olhos, petrificada.

                - Você o QUÊ?

                - Eu estou apaixonado, louco por você. E acabo de concluir que nenhuma outra mulher nesse mundo é capaz de tapar o buraco que você não preenche.

Fátima ficou em silêncio, com a cabeça zonza. Olhou pra baixo, tentou refletir, mas não conseguiu. Não ali, na frente dele, daquela forma e naquela velocidade.

                - E ao invés de dividir isso comigo, você preferiu botar outra mulher na sua cama pra tentar esquecer? Muito maduro, parabéns. – a expressão dela era fria.

                - VOCÊ NÃO PERMITIU QUE EU DIVIDISSE COM VOCÊ! Você não atendeu aos meus telefonemas, não me deixou conversar com você como eu gostaria, você simplesmente fugiu de mim, enquanto tudo o que eu queria era te alcançar.

                - EU NÃO IMPEDI VOCÊ DE NADA! Você podia ter dito tudo o que gostaria por DIVERSAS vezes, se quisesse. Mas não, rodeou, tentou arrancar verdades de mim escondendo as suas.

                - Eu só não queria te assustar, eu...

                - Parabéns, você conseguiu não me assustar, você fez pior, você me encheu de decepção. Porque além de não ter sido sincero comigo como deveria, agiu feito um canalha nojento, que usa outras pessoas pra ocupar vazios e lacunas. Foi isso que você fez com a Heloísa, pelo que estou percebendo. Se você conseguiu ou não concretizar coisa alguma, pouco me importa, mas quando se lida com SENTIMENTOS, não existe talvez, ou é sim ou é não.

                - É isso que você pensa de mim, Fátima? Mesmo? Todos esses anos de amizade serviram pra isso? Pra você não acreditar em uma palavra do que eu digo?

                - Eu não penso nada de você. Eu nem te conheço. Não sei mais quem você é. – ela enxugou uma lágrima.

William sacudiu a cabeça, desapontado e magoado.  Abaixou a cabeça e sentiu que não havia mais nada a ser dito. Nada funcionaria pra convencer aquela cabeça dura e impenetrável de Fátima. Observou, com o coração em pedaços, enquanto ela caminhava furiosa em direção à porta do carro. Quando ela tocou a maçaneta pra abri-la, olhou pra William, com os olhos em chamas.

                - Ah... e a propósito: nossa amizade acabou. – ela girou o corpo e entrou no carro.

William observou imóvel, ela se afastar lentamente, até cruzar o portão e virar a esquina embalada, sumindo de sua visão. Ainda anestesiado, ele caminhou até o hall do elevador. Não conseguia nem raciocinar. Entrou no elevador e subitamente, sentiu pairando no ar o perfume dela. Aquele cheiro era muito mais do que William, dilacerado por dentro, podia suportar. Encostado no espelho, ele sentiu as lágrimas escorrendo em seu rosto, repletas de arrependimento, raiva de si mesmo e tristeza por assistir impotente uma imensa parte de seu coração ir embora de sua vida.