Fanfics Brasil - Capítulo 14 Desde sempre.

Fanfic: Desde sempre. | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner


Capítulo: Capítulo 14

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Fátima não fez outra coisa, além de pensar o dia todo. Com o celular na mão, ela encarava o visor. Os dedos comichavam de vontade de discar os números de William, mas a coragem lhe faltou nas várias vezes que ela quis fazê-lo. Se remoeu de curiosidade pra saber como ele estava, com quem e fazendo o quê. Tentou desesperadamente pensar em outra coisa, mas o ócio não permitia. Cada vez que ela se distraía, flagrava seus pensamentos nele novamente. Sozinha em sua cama, Fátima pensou no que ouviu de Heloísa. “Ele só via você, o tempo todo...”. Se colocou em uma situação idêntica e concluiu que, muito provavelmente, não conseguiria ir pra cama com outro homem também. Ao pensar nisso, a lembrança do cheiro e do toque de William veio com tudo em sua mente e ela se arrepiou, desejando intimamente viver aquilo novamente, nem que fosse mais uma única vez. Atordoada, sacudiu a cabeça, saltou da cama e decidiu ir dormir na casa da avó e passar o dia ao lado dela. Fazia tempo que não fazia isso, sabia que lhe faria muito bem. Precisava mudar de ares, era sábado a noite e ainda havia o domingo inteiro pela frente. “Vou enlouquecer se eu ficar dentro dessa casa.”. Arrumou uma mala com duas mudas de roupa e dirigiu até a casa da avó, tentando deixar pra trás, nem que fosse momentaneamente, todos os pensamentos que a levavam em direção a William.


 


***


 


                A semana se iniciou, cheia de trabalho, como sempre. E transcorria normalmente, não fosse aquele vazio imenso preenchendo o coração de William e aquela gripe infernal que o obrigou a trabalhar apenas nos bastidores durante todo o começo de semana, devido a voz fanhosa. Mesmo assim, ele se entulhou de trabalho, cobrindo folga de colegas, trabalhando como um louco, em uma tentativa de ocupar seu tempo. Seu trabalho era a única coisa que lhe dava prazer e conseguia fazer com que ele se desligasse de tudo e se completasse verdadeiramente. Naquela quarta-feira, já em casa, ele comia uma pizza requentada assistindo um jogo de beisebol, quando recebeu uma ligação do chefe.


                - Bonner, estou precisando absurdamente de você hoje!


                - É? O que houve? – William presumiu que era trabalho.


                - O secretário do prefeito que ia dar entrevista hoje acaba de ligar cancelando. Ele ia falar sobre as obras da prefeitura pra implantar a decoração natalina, mas agora estamos desnorteados aqui sem sabermos o que fazer pra preencher o tempo, já está muito em cima da hora. Pensei que talvez você podia dar um suporte aqui, pensamos em fazer uma espécie de mesa redonda aqui sobre esses gastos exorbitantes com essas árvores de natais imensas nas fontes e praças da cidade, que acabam virando alvo de depredação. Você tem muita facilidade com ao vivo, será que você não teria disponibilidade de cobrir esse rombo pra nós hoje?


                - Olha, Mendes, eu até posso, mas eu estou gripado essa semana, minha voz está péssima.


                - Não, nisso a gente dá um jeito, de qualquer modo, você gripado é melhor do que você de jeito nenhum.


William, prontamente, pediu alguns minutos pra acabar de comer, tomar um banho e correr pra rádio novamente. Sentado no sofá, ele bufou, um pouco arrependido de ter aceitado a solicitação do chefe. Mas não cancelaria, já estava acostumado com aquela rotina maluca. Engoliu a pizza rapidamente, tomou um banho sem muita demora, se trocou e correu para o trabalho de volta. Dentro do carro, olhou no relógio do celular. Eram 20:30. No fundo da tela, uma foto de William com Fátima, tirada no dia do aniversário dele, há pouco mais de um mês atrás. Ele fitou aquela foto por alguns segundos, como fazia diariamente, todas as vezes que ele a via. Não teve coragem de tirar a foto, simplesmente manteve-a, como uma forma física de se lembrar dela. Ouviu o som de uma buzina atrás de si e notou que o semáforo estava aberto. Abandonou o celular no assento do banco do passageiro e prosseguiu, espantando as lembranças e a saudade dolorosa que ele sentia dela.


 


***


 


                O trânsito estava infernal. Um mar de faróis e luzes de poste seguiam em linha reta, a perder de vista. Eram quase 10 da noite e Fátima respirava fundo, impaciente presa naquele congestionamento. O dia já havia sido suficientemente desgastante, ela estava com os nervos à flor da pele ultimamente e precisando desesperadamente de uma companhia pra relaxar. Aquele era um típico dia que William seria tudo o que ela mais precisava. Fechou os olhos e reprimiu a si mesma por pensar nisso. Ele desapareceu durante todo o fim de semana e não esteve presente no noticiário que ele apresentava diariamente na rádio. Fátima começava a sentir uma pontinha de preocupação. Onde ele estava? Teria viajado, tirado férias? Por várias vezes, ela teve vontade de passar na porta do prédio dele e averiguar se a janela estava com a luz acesa. Ficava insistentemente nessa dúvida, nessa indecisão, deixando aquela vontade louca de procurar por ele escondida dentro de si. O natal se aproximava e aquela seria uma data especialmente difícil naquele ano. Sem a presença de William, as coisas pareciam não se encaixar. Era como se fosse um fardo pesado demais readaptar sua vida sem a presença constante dele, todos os dias. Não conseguia se lembrar de como era antes de se conhecerem, ela tinha 5 ou 6 anos de idade...


                Fátima recostou a cabeça no encosto do banco e fechou os olhos. Tocava Otherside of the world, da KT Tunstall na rádio. (Link: https://www.youtube.com/watch?v=YUpbO-mpi74). Fátima aproveitou aquele momento pra refletir um pouco sobre si mesma e a própria vida. A música terminou e o trânsito continuava parado, andando três metros a cada 10 minutos. O locutor da rádio anunciou a retomada da segunda parte do noticiário noturno. Sem que ela esperasse, a voz de William surgiu como um fenômeno repentino. Fátima abriu os olhos e aumentou o volume freneticamente. Ele nunca trabalhava naquele horário, NUNCA. Ela engoliu seco e sentiu aquilo como se fosse um sinal.


Naquela noite, Fátima saiu do trabalho, mas esqueceu as chaves. Subiu o elevador, mas a porta estava trancada e ela precisou descer novamente pegar a cópia da chave com o porteiro. Em sua gaveta, fuçou até se lembrar que as chaves estavam no escaninho, na porta oposta do grande salão que era a redação. Aquela sucessão de imprevistos tomou cerca de quinze minutos do tempo dela. Se nada tivesse acontecido, ela teria saído mais cedo e não teria pego tanto trânsito. Se não estivesse presa naquele congestionamento, estaria em casa. Em casa, jamais estaria ouvindo a rádio naquele horário. E não ouviria a voz de William. E não sentiria palpitações. E nunca, jamais, aquela saudade bateria tão violentamente no coração dela, a ponto de fazer uma choro embrulhado subir lentamente pela garganta.


Ela não prestou atenção em uma única palavra do que os outros apresentadores diziam. Só conseguia prestar atenção na voz dele. Por alto, entendeu que eles terminariam o noticiário com uma mensagem de amor, dedicada à proximidade das festas de fim de ano. – “Todas as mensagens e poemas que transmitimos aqui são escolhas de colegas da nossa equipe, que são surpreendidos com essa missão repentinamente, pra não terem muito tempo de pensarem. Achamos que, dessa forma, conseguimos nos aproximar mais de você, ouvinte. O de hoje é um poema, que foi escolha do nosso colega William Bonner, que nos ajudou muito fazendo essa participação esporádica e especial, mesmo gripado. Obrigado, William, pela colaboração. Ele mesmo vai declamar esse poema lindo, pra encerrar.”           


Fátima fechou os olhos. Uma pequena pausa entre a fala do locutor e o início da fala de William durou uma eternidade. Ela respirou fundo e aumentou o máximo que pôde o volume do som.


 


 


NÃO DEIXE O AMOR PASSAR


 


Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.



Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.



Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.



Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.


 


Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.


 


 


Carlos Drummond de Andrade...


 


               


                Fátima soluçava, ao ouvir a vinheta de encerramento do noticiário. Tomada pela emoção de ouvir da voz dele declamando aquele poema, que parecia se encaixar perfeitamente pra história dos dois, pelo tom que ele usava ela sentiu que era pra ela, cada letra daquela mensagem. Em um milésimo de segundo, ela analisou. O caminho que estava fazendo, seguindo em linha reta, daria em sua casa. A rádio estava para um lado completamente contrário ao que ela estava, além disso, ela não chegaria a tempo de pegá-lo saindo. Como em um impulso, Fátima girou o volante, pegando a via marginal. Dirigiu pra casa de William com as mãos trêmulas, o coração saindo pela boca. Não sabia o que falaria, não sabia nem se ele a aceitaria, mas simplesmente foi, seguindo pela primeira vez o seu coração e sua genuína vontade. Cruzou três bairros da cidade, em disparada. Ao chegar no prédio de William, estacionou o carro na esquina anterior, onde ela sabia que ele não passava ao vir do trabalho. Puxou o freio de mão e jogou o corpo pra frente, abrindo o porta-luvas pra pegar as chaves. Mas nesse exato momento, ela se lembrou: no dia em que viu Heloísa no apartamento dele, ela abandonou as chaves no balcão. Não estava mais com elas, havia devolvido-as pra William. Fátima encostou a testa no volante, furiosa. Tentaria uma última forma de entrar no apartamento dele antes que ele chegasse. Correu até a portaria. Por sorte, o porteiro a conhecia. Sorriu simpaticamente pra ele.


                - Tudo bem? O senhor se lembra de mim, né?


                - Lembro sim. Tá sumida daqui... – Fátima sorriu, constrangida.


                - É... me diga uma coisa, o senhor por acaso não teria, por acaso, alguma cópia da chave do apartamento do William? Eu me lembro que uma época, vocês tinham as chaves dos apartamentos aqui na portaria, por uma questão de segurança...


                - A senhora não tinha uma cópia da chave do apartamento do Sr. William?


Fátima tentou ser firme.


                - Tinha, mas eu não trouxe e eu precisava entrar pra pegar umas coisas lá...


O porteiro abriu um pequeno cofre.


                - Olha, só se ele entregou pro porteiro do outro turno, mas eu posso dar uma olhada aqui se tem alguma chave do apartamento dele. É o 1506, não é?


                - Sim. – Fátima torceu mentalmente.


Ele fuçou em algumas chaves, mas rapidamente veio a resposta.


                - Opa, a senhora tá com sorte! Tem umas chaves aqui no ganchinho dele, não foi pra mim que ele entregou, mas deve ser do apartamento mesmo! – ele estendeu a mão pra ela, com um molho de chaves.


Fátima bateu o olho e imediatamente reconheceu seu próprio chaveiro. Era a chave dela. Se sentiu aliviada.


                - Obrigada!! – ela sorriu, virou as costas e caminhou até o elevador.


Entrar novamente no apartamento de William foi maravilhoso e inibidor, ao mesmo tempo. Não sabia se estava fazendo a coisa certa. Lembrou-se das palavras de Heloísa: “Não seja tão racional...”. Decidiu não ser, pelo menos uma vez na vida. Ela caminhou pela sala, observando cada detalhe. No chão em frente o sofá, os chinelos imensos de William estavam jogados. No balcão, um prato vazio cheio de resquícios de ketchup estava abandonado. Dezenas de garrafinhas retornáveis de cerveja no canto, denunciando os últimos porres dele. Ela notou a ausência de vários porta-retratos. Já havia notado naquela manhã que ela não gostava nem de se lembrar. Se abaixou, abriu a gaveta e viu que estavam todos entulhados lá dentro. Perguntou a si mesma porque ele havia escondido as fotografias dos dois. No íntimo, sabia a resposta. Se arrepiou de pensar. Manteve as luzes apagadas e foi até a sacada. Ventava muito, mas ela não se importou. Se apoiou no guarda-corpo e deixou que o vento lambesse seu rosto e desegrenhasse seus cabelos. Sentiu saudades daquela vista, daquele cheiro que só o apartamento dele tinha. De olhos fechados sentindo a brisa, ela esperou. Era só o que lhe restava. Esperar.


 


***


 


                Exausto, William destrancava lentamente a porta do apartamento. Nem olhou ao redor quando abriu a porta do apartamento, virou-se pra trancar a porta pelo lado de dentro. Jogou a chave em cima do balcão, como fazia diariamente. Caminhou em frente ao sofá, desabotoando a camisa. Sentiu uma sensação estranha, como se notasse algo diferente no ar. Parecia que estava acompanhado. E estava. Ele ergueu a cabeça e sentiu suas pernas bambearem com o que viu. Fátima veio caminhando da sacada, em silêncio, tentando desesperadamente segurar o choro. William perdeu as forças, deixando o celular que estava na mão quicar no chão. Ela parou no vão da porta, com as lágrimas escorrendo ao olhar pra ele. Sem reação, William encarava-a, extasiado com aquela presença surpreendente, mas, que por um motivo que ele sabia muito bem qual era, encheu o coração dele de uma felicidade que não cabia em si.


 



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Autor(a): bonemerlove

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 29



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  • beatriz_cartilho Postado em 11/02/2015 - 20:58:16

    Ahh não acredito que acabo , mais eu amei o final *_*

  • bia_jaco Postado em 11/02/2015 - 20:25:07

    Aiiiin não acredito que a fic já acabou :( bom mais nada dura né?Quero que saiba que essa fic vai para o meu coração como todas suas,amooo!!Parabéns mais uma vez.Beijos moça linda

  • bia_jaco Postado em 22/01/2015 - 21:19:06

    Geeeeeeeeeeeeeeente que capítulo é esse?Sei mais nem o que dizer....amo amo amo!!!

  • bia_jaco Postado em 19/01/2015 - 14:50:40

    Lindos demais!!Amei muito o capítulo

  • beatriz_cartilho Postado em 12/01/2015 - 22:01:14

    Que lindo amei!!!

  • jurb Postado em 12/01/2015 - 18:58:58

    Que lindo! *-*

  • bia_jaco Postado em 12/01/2015 - 18:19:54

    Lindo lindo lindo o capítulo.Finalmente falaram as 3 palavrinhas mágica.Amei o capítulo!!

  • bia_jaco Postado em 02/01/2015 - 19:12:16

    aaaaaaaaaaaaaaaa como tem coragem de parar o capítulo assim?Quero maaaais!!Posta maaaaais!

  • bia_jaco Postado em 30/12/2014 - 18:10:08

    Estava morrendo de saudade da fic.Amei o capítulo!!Quero maaaaaaais :)

  • star.20 Postado em 22/12/2014 - 18:03:27

    Por que ta demorando tanto pra posta outro capítulo? Desistiu?


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