Fanfic: Desde sempre. | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner

                William se remexeu na cama, com a cabeça explodindo. Atolou a cabeça no travesseiro, sem conseguir abrir os olhos. Esfregou o rosto. Tateou até encontrar o celular, pra olhar que horas eram. “Putz, uma hora da tarde...”, ele pensou. Viu que havia uma mensagem não lida. Era de Fátima.

Bom dia, best. Só vi hoje sua mensagem. Estou almoçando aqui na minha avó. Bom sábado pra você, bjbj. Amo!

                Ele respirou fundo. Sentiu seu coração se encher de paz, de repente. Passou o sábado mergulhado numa profunda preguiça. Almoçou uma lasanha congelada e voltou pra cama novamente. Com o corpo moído de ressaca, dormiu o resto do dia e torceu fortemente para que amanhecesse mais bem disposto no dia seguinte.

***

                O domingo amanheceu chuvoso, acinzentado e ideal para ficar em casa. Eram três da tarde. Fátima empilhava seus sapatos dentro da sapateira do armário. Ouviu o telefone chamar e correu pra atender. Era William. Ela sorriu ao ver o nome dele no visor de seu celular.

                - Alô? – ela atendeu.

                - Ei! Sumida!

                - Eu? Claro que não, te mandei mensagem ontem! E você, como tá?

                - Bem. Entediado dentro de casa e você?

                - Hum... não muito diferente.

                - Quer vir pra cá? Baixei um repertório de filmes, estou louco pra assistir. Pensei que podíamos ver juntos, com brigadeiro e edredom. Que tal?

                - Huuuuum... Que delícia! Topo!

Ela terminou de organizar seus sapatos e tomou um banho quente. Se vestiu com uma calça legging preta e uma blusa de moletom branca. Seguiu até a casa de William, empolgada para ficar na companhia dele.

***

                Um ensurdecedor barulho de temporal ecoava. A sacada fechada, com a visão obstruída pela cortina bege, não conseguia proporcionar o silêncio dentro do pequeno apartamento.

                No escuro da sala, Fátima estava embrulhada em um edredom azul marinho. Deitada em um travesseiro fofo, ela lambia uma colher cheia de brigadeiro. De meias, ela sentia os pés de William encostados nos seus. Tinham acabado de assistir o segundo filme. Fátima se espreguiçou. Conferiu as horas no celular. Afastou o edredom e se levantou, com o prato de brigadeiro na mão. Com voz de sono, William questionou:

                - Onde você vai?

                - Levar o prato pra pia e depois no banheiro.  – ela respondeu lá da cozinha.

William abriu os braços, estralando as costas. Viu Fátima caminhar de meias, até o banheiro. Ele esfregou o rosto, bocejou e ficou parado, olhando para os créditos do filme subindo lentamente na tela. Sentiu um telefone vibrar, jogado no assento do sofá. Pensou ser o dele, então enfiou a mão por debaixo do edredom e tateou até encontrá-lo. Notou que era o celular de Fátima, mas não sem antes ler a mensagem no visor:

Luiz Cláudio diz: Oi, linda. Já querendo te ver novamente...

                William abandonou o celular rapidamente, arrependido de ter lido. Engoliu seco e fechou os olhos. Sentiu aquela mesma fincada no peito, de dois dias atrás. Se arrependeu imediatamente de ter levado Fátima naquele jantar dançante. Coçou a testa, tenso. Tentou se concentrar em outra coisa, para não pensar mais naquilo. Ouviu Fátima destrancando a porta do banheiro e viu quando ela saiu dele. Ela retornou ao sofá, se cobrindo novamente com o edredom. William se esforçou ao máximo para segurar, mas não conseguiu e cuspiu as palavras, se arrependendo em seguida.

                - Você está saindo com o Luiz Cláudio? – ele questionou, em tom firme.

Fátima olhou pra ele.

                - Quê?

                - Você saiu novamente com o Luiz Cláudio? Você transou com ele?

Ela ficou irritada.             

                - Como assim, William? Você ficou maluco?

                - Você entendeu a minha pergunta...

                - É claro que eu entendi. Não estou entendendo o porquê desse tom acusatório.

William perdeu a estribeira do que estava falando.

                - Responde!

Fátima se sentou no sofá, olhando pra ele.

                - Olha aqui, William! Eu vou responder porque eu QUERO e não porque eu PRECISO. Não, eu não estou saindo com ele. Nos beijamos sexta-feira, na saída da boate, mas não aconteceu mais nada. E não, eu NÃO transei com ele. Achei que você me conhecesse o suficiente pra saber que eu não sou esse tipo de mulher que transa com um cara que mal conhece. – ela se recostou no sofá e cruzou os braços.

William sacudiu a cabeça, com raiva de si mesmo pelo interrogatório desnecessário. Não conseguia entender porque aquele sentimento irritante o fazia agir no impulso e se arrepender disso no minuto seguinte. Fátima interrompeu os pensamentos dele.

                - Eu estou esperando...

                - Esperando o quê? – ele olhou pra ela.

                - Você me explicar porque está agindo assim, usando esse tom pra conversar comigo.

Ele abaixou a cabeça.

                - Desculpa, eu... não quis ser grosso e nem indelicado.

                - Mas foi! Você nunca falou assim comigo!

                - É, eu sei, eu... me desculpa, sério. Esquece isso. – ele deitou a cabeça no ombro dela.

Fátima continuou imóvel e olhou pra ele de rabo de olho, ainda bufando. William tentou desesperadamente focar em outro assunto, para espairecer aquele clima ruim que pairava.

                - Minha mãe me ligou hoje... Está organizando uma comemoração lá na chácara, pelo meu aniversário, que é daqui duas semanas. Você está lembrando?

                - Lógico que tô.

                - Então... É depois do feriado, então estamos pensando em ir pra lá na quinta e passar os quatro dias lá. Será que você não tenta conseguir emendar a sexta-feira lá no seu trabalho? Que aí você podia ir conosco... Hein?

                - Ué... posso tentar. Te falo semana que vem se consigo. Agora acho que vou pra casa. – ela fez menção de levantar do sofá.

                - Ah, mas já? Fica mais!

                - Não... estou com sono. Hoje é domingo e amanhã tenho que madrugar, você sabe... – ela se levantou, calçou a pantufa e ficou de frente pra ele, em pé.

William se levantou  lentamente. De frente pra ela, ele a puxou pra si. Abraçou-a pela cintura. Fechou os olhos ao sentir o cheiro do cabelo dela.

                - Me desculpa, eu não estou em um bom momento. Está acontecendo algumas coisas estranhas comigo, mas vai passar, eu sei. Deve ser carência. Eu vou superar.

                - Eu desculpo, mas não faça mais isso. Pare de descontar em mim seu mau humor. Você nunca foi assim, poxa...

William respirou fundo.

                - É... tem muitas outras coisas que nunca fui. Vou aprender a lidar com isso.

Ela concordou com a cabeça. Inclinou o corpo pra trás e acariciou o rosto de William.

                - Eu te amo. Viu?

Ele assentiu.

                - E sempre vai?

Ela sorriu.

                - Sempre. Lembra? Vamos morrer juntinhos.

Ele retribuiu o sorriso.  

                - Boa noite, amor. – ele salpicou um beijo na bochecha dela.

Se desvencilharam do abraço. Fátima pegou a bolsa e caminhou em direção a porta. William ficou parado olhando ela atravessar porta afora, sem olhar pra trás. Se jogou de costas no sofá, deitando a cabeça no mesmo travesseiro que ela passou a tarde toda deitada. Fechou os olhos e inalou profundamente o cheiro dela. Naquele momento, a sensação não foi apenas de paz e segurança. Alguma coisa estava diferente no coração de William. E ele estava evitando enxergar a intensidade e voracidade desse novo sentimento.