Fanfic: Desde sempre. | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner
A semana seguinte foi posterior às eleições. Tanto na rádio quanto na revista, a equipe toda estava em polvorosa. Lutando contra uma dorzinha de cabeça insistente, que ele atribuía ao estresse e cansaço, William desceu pra fumar um cigarro no jardim da empresa. Não fumava com intensa freqüência, mas eventualmente batia uma avassaladora vontade, principalmente em momentos de pressão e muito trabalho, como era o caso daquele dia. Sozinho no terraço, não haviam vozes naquele mesmo ambiente, mas era possível ouvir telefones tocando e grandes movimentações de pessoas através das janelas dos andares vizinhos. William respirou fundo, tragando profundamente a fumaça. Exalou-a, lentamente, como se saboreasse um pequeno momento de paz em um atribulado dia. Sentiu alguém se aproximar, ao seu lado. Abriu os olhos e viu que era Luiz Cláudio. Conversaram assuntos aleatórios, mas tocar no nome dela foi inevitável.
- William... você tem visto a Fátima ou falado com ela?
- Vi ela pela última vez domingo, mas nos falamos quase todos os dias... por quê?
- Não, por nada... Cara, obrigado mesmo por ter levado ela no jantar! Ela é incrível, linda, inteligente e engraçada e beija bem pra cacete. Ah, eu nem te contei, pô! Agora que me toquei que você não estava perto... Eu beijei ela no estacionamento, antes de irmos embora.
William forçou uma pequena surpresa.
- Mesmo?
- Mesmo. Foi sensacional. Eu queria muito repetir a dose, tenho falado com ela ás vezes, mas ela está trabalhando demais e não está tendo tempo pra nada...
- É... realmente, ela está atolada mesmo por esses dias.
- Ela falou alguma coisa de mim pra você?
William abaixou a cabeça.
- Não, cara. Não disse nada.
Luiz Cláudio assentiu, um pouco desapontado.
- Bom... vamos ver no que vai dar. – ele apagou o cigarro no chão, pisando em cima dele. Se abaixou, pegou o toco apagado e atirou na lixeira. Bateu no ombro de William e se afastou, voltando ao trabalho.
Em silêncio, William refletiu. Era difícil descrever exatamente aquela sensação de um ligeiro alívio por Fátima não estar correspondendo ao interesse de Luiz Cláudio. Com um leve peso na consciência, ele constatou que poderia ter ajudado a engrenar um possível relacionamento entre os dois, incentivando Luiz a insistir em um encontro com ela. Mas não o fez porque não sentiu vontade, mais do que isso, sentiu uma necessidade de seguir com aquele instinto de seu coração, repentinamente ciumento e possessivo. Mas era de forma positiva. E isso foi suficiente pra dissipar toda a culpa que ele sentiu naquele momento.
***
Quarta-feira, véspera de feriado. Véspera também do aniversário de William. Fátima precisou viajar pra Brasília, meio de repente, para uma série de entrevistas coletivas. Não sabia exatamente se conseguiria ir ao aniversário de William, porque nem mesmo sabia que dia retornaria de viagem. Sentada na cama do quarto do hotel, ela descarregava seu material pra enviar o mais rápido possível para a redação. Se deparou com um e-mail que a fez ficar imensamente feliz.
Boa noite, equipe.
O ministro acaba de enviar um comunicado para toda a imprensa confirmando que não dará mais nenhuma coletiva.
Com isso, acabou nosso trabalho em Brasília, poderemos retornar para o Rio de Janeiro.
Enviem todo o material que obtiveram hoje o mais rápido possível. O vôo de vocês é amanhã, às oito da manhã. Estejam lá pontualmente.
Em nome de toda a equipe, agradeço a dedicação e ao excelente trabalho que realizaram.
Um ótimo feriado a todos.
Danilo Garcez
Editor-chefe
Revista Metrópole
Fátima soltou um berro de alegria. Estava exausta, não suportava mais aquela rotina desgastante e a saudade de casa. Queria muito estar ao lado de William no aniversário dele. Seria a primeira vez que passariam essa data separados. Agarrou o celular e mandou uma mensagem pra ele.
Fátima:
WILLIAAAAAM! Vou pro rancho passar seu aniversário com você!!!
Poucos minutos depois, a resposta:
William:
Oii! QUÊ?
Fátima:
É! Tô voltando pro Rio amanhã!!
William:
É SÉRIO? Que horas? Eu ia sair cedo, então vou te esperar!! Eu tô morrendo de saudade...
Fátima sorriu. Sentiu uma imensa felicidade invardi-lhe, aliada a uma saudade arrebatadora de estar perto dele. Combinou com William a questão dos horários, olhou para o relógio e notou que já era tarde. Arrumou a mala e se deitou pra descansar o quanto antes. Ansiou fortemente pelo fim de semana estendido que viria em diante.
***
Uma fila imensa de eucaliptos à direita emolduravam uma longa e reta estrada de terra. Do lado esquerdo, um imenso pasto a perder de vista. O tempo estava claro, levemente nublado, mas era possível visualizar uma fresta de sol entrando por entre as nuvens. William dirigia tranquilamente. Usava óculos escuros, uma camiseta cinza e um jeans claro. Faziam anos que ele não ia naquele lugar. A família arrendou para uma plantação de cana de açúcar e, por conta disso, pararam de freqüentar a propriedade. Anos depois, fizeram uma merecida reforma na casa e, desde então, voltaram a reunir a família em eventuais fins de semana. Ficava a cerca de 200 km do Rio de Janeiro. Eram duas da tarde. William olhou para o lado e viu Fátima sentada no banco do passageiro. Ele cruzaria o olhar com o dela, não fosse o óculos escuro obstruindo sua visão. Deitada em uma almofadinha de viagem, ela bocejou e esfregou os olhos. Ela se lembrava de ter ido lá várias vezes na infância, mas a última foi aos 15 anos. Estava empolgada pra rever todos os familiares de William, que para ela, era como se fossem os seus próprios. Um ao lado do outro, olhavam para cada detalhe daquele lugar, que parecia ser exatamente o mesmo de anos atrás. Uma deliciosa e nostálgica lembrança de subirem nos pés de jabuticaba e se pendurarem nos galhos fez com os dois sentissem uma ligeira paz em seus corações.
***
O feriado, emendado com a sexta-feira, estava sendo maravilhoso. Aos poucos, tios e primos de William chegavam, tornando a comemoração dos vinte e sete anos dele ainda mais animada e calorosa. Fátima se sentia em casa completamente. No sábado, no dia programado para festejarem o aniversário de William, a casa estava lotada. Os quartos não foram suficientes, então algumas pessoas tiveram que ser acomodadas nas salas. Preocupada, a mãe de William questionou Fátima.
- Fá, vou te perguntar uma coisa, mas fica a vontade pra responder, tá? Você se importa se eu colocar você e o William juntos em um colchão de casal na sala de TV? As camas acabaram e vocês são de casa, já dormiram tantas vezes aqui, não é mesmo?
- Claro, tia! Sem problemas, nós estamos acostumados a dormirmos juntos também, a vida toda foi assim! – ela sorriu, de forma simpática.
- Então tá ótimo! Obrigada, minha filha!
Fátima levou suas malas até a respectiva sala. Retornou até a festa e encarou aquilo com total naturalidade.
William, por sua vez, estava extremamente feliz. Ficou ligeiramente desanimado com a idéia de que Fátima poderia não ir ao rancho com ele naquele feriado, mas a certeza da companhia dela resgatou totalmente sua animação. Estava mais tranqüilo quanto à todos aqueles sentimentos estranhos, os ciúmes e aquela série de sensações esquisitas que ela lhe despertou em algumas ocasiões. Viu-a pouco nas últimas semanas, mas tinha certeza que foi uma má fase e que tudo estava superado. Naquele fim de semana prolongado, ficaram grudados quase o tempo todo.
Eram cerca de meia-noite. William bebeu pouco, estava tentando curar a ressaca dos dias anteriores. A casa da fazenda estava cheia. Recém saído do banho, William se trocou e foi até o cômodo onde ele sabia que dormiria. Entrou e viu as malas de Fátima dispostas em cima de uma cadeira. Presumiu que dormiria com ela no colchão que estava no chão, ao lado da escrivaninha. As luzes da casa estavam quase todas apagadas, então ele supôs que Fátima estava no banho. Deitou-se com as luzes ainda acesas, bocejou, esfregou o rosto e ficou olhando para o teto, vestido com uma bermuda preta e uma camiseta branca surrada. Ouviu a porta do quarto se abrir. Fátima entrou na ponta do pé, com os cabelos enrolados em um coque no topo de cabeça. William sentiu seu corpo inteiro sofrer um choque elétrico. Ela estava enrolada em uma toalha de banho. Apenas na toalha. William saltou, sentando-se no colchão. Hipnotizado, ele observou todo o corpo dela. As costas ainda estavam molhadas, com pequenas gotículas escorrendo e entrando pra dentro do nó da toalha. Ele correu os olhos pelas coxas dela, como nunca havia feito antes. Não com aquele olhar. A toalha era curta e marcava a curva do bumbum dela. William foi arrancado brutalmente de seu transe quando ouviu a voz dela:
- Esqueci de levar minha roupa pro banheiro, que raiva! – ela comentou, virando-se de costas pra ele e nem notando o olhar de William.
Ele gaguejou.
- É... Vou sair daqui pra você se vestir. - ele quase se levantou do colchão, mas não houve tempo.
- Não precisa, que bobagem! Só vira de costas que eu me visto em um instante.
William engoliu seco. Sem pensar, girou o corpo e se virou para a parede. Abaixou a cabeça e ficou imóvel. Ao lado dele, uma cadeira de escritório, encaixada na escrivaninha. Fátima atirou a toalha ensopada no encosto da cadeira. A cena daquela toalha abandonada ali proporcionou a ele uma sensação nunca antes sentida. Não por ela. William se pegou completamente extasiado de tesão. Fechou os olhos. Imaginou Fátima nua, tão ao alcance de seus olhos e de suas mãos, atrás de si. Em um devaneio erótico incontrolável, ele imaginou cada milímetro do corpo molhado dela. Sentia seu coração quase explodir, peito afora. Conseguia ouvir apenas o som do zíper da mala dela, se abrindo e fechando a medida que ela pegava peças de roupa. Notou que estava arrepiado e sutilmente trêmulo. Tentava desesperadamente obter um auto-controle que, naquele momento, ele nem tinha. Ouviu a voz dela, segundos depois, mas que pra ele, pareceram horas.
- Pronto. – ela caminhou vestida até a cadeira e retirou a toalha de lá. William se virou novamente, de cabeça baixa. Ela usava um pijama que ele ainda não conhecia. Era um short cinza justo, deixando-a com um corpo mais estonteante do que realmente era. A blusa do pijama era roxa, um pouco mais larga e de mangas compridas. Ela estava sem sutiã, ele pôde notar. Fátima soltou o cabelo do coque e deixou que ele despencasse por suas costas. Atordoado, William teve um verdadeiro pânico de que ela percebesse que ele estava excitado. Levantou-se do colchão e caminhou apressado até a porta, sem olhar pra trás.
- Onde você vai? – ela questionou, franzindo a testa.
- No banheiro. – William respondeu, já saindo do quarto.
Atravessou o corredor em passos largos, pisando forte no chão. Bateu a porta do banheiro e enfiou a cabeça debaixo da torneira. Deixou que a água caísse em sua nuca, na intenção de apagar aquele fogo invisível que invadia o corpo dele. Aos poucos, a tremedeira passava e ele se olhou no espelho. Não conseguiu mais se reconhecer. Não totalmente. Com os cotovelos apoiados na bancada do banheiro, deitou a testa na palma das mãos. Pensou QUASE alto: “Pelo amor de Deus, William, o que está acontecendo com você?”. Se culpou, sentiu raiva e repulsa de si mesmo. Tentava driblar a culpa esmagadora de desejar a pessoa que ele mais confiava e que também confiava cegamente nele. Não conseguia se livrar das lembranças das palavras de Heloísa. “Ela é uma mulher linda.” “Vocês não são mais duas crianças que tomam banho juntos.” “Ela é o amor da sua vida e você não percebe.”. Sacudia a cabeça, não se permitindo aceitar tal fato. “Não, isso não pode estar acontecendo... Não comigo!”. Irado, deu um soco na parede. Trespassou os dedos por entre os cabelos. Ofegante e em silêncio, chorou sozinho trancado dentro do banheiro. Pela primeira vez, as coisas pareciam estar mais claras pra ele. Não tinha mais a quê atribuir a culpa. Nem no álcool, nem na carência e nem no contexto. Simplesmente, estava se apaixonando pela sua melhor amiga. E não conseguia ver, naquele momento, uma fuga para essa louca e absurda realidade.
Autor(a): bonemerlove
Este autor(a) escreve mais 5 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Mais calmo, William enxugou o rosto com a toalha. Respirou fundo e saiu do banheiro. Caminhou até o quarto lentamente, tentando não fazer alarde. Abriu de leve a porta e espiou dentro do quarto. Deitada de bruços na cama, Fátima ressonava em um sono profundo. Pé por pé, ele entrou, deslizou a m&atild ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 29
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
beatriz_cartilho Postado em 11/02/2015 - 20:58:16
Ahh não acredito que acabo , mais eu amei o final *_*
-
bia_jaco Postado em 11/02/2015 - 20:25:07
Aiiiin não acredito que a fic já acabou :( bom mais nada dura né?Quero que saiba que essa fic vai para o meu coração como todas suas,amooo!!Parabéns mais uma vez.Beijos moça linda
-
bia_jaco Postado em 22/01/2015 - 21:19:06
Geeeeeeeeeeeeeeente que capítulo é esse?Sei mais nem o que dizer....amo amo amo!!!
-
bia_jaco Postado em 19/01/2015 - 14:50:40
Lindos demais!!Amei muito o capítulo
-
beatriz_cartilho Postado em 12/01/2015 - 22:01:14
Que lindo amei!!!
-
jurb Postado em 12/01/2015 - 18:58:58
Que lindo! *-*
-
bia_jaco Postado em 12/01/2015 - 18:19:54
Lindo lindo lindo o capítulo.Finalmente falaram as 3 palavrinhas mágica.Amei o capítulo!!
-
bia_jaco Postado em 02/01/2015 - 19:12:16
aaaaaaaaaaaaaaaa como tem coragem de parar o capítulo assim?Quero maaaais!!Posta maaaaais!
-
bia_jaco Postado em 30/12/2014 - 18:10:08
Estava morrendo de saudade da fic.Amei o capítulo!!Quero maaaaaaais :)
-
star.20 Postado em 22/12/2014 - 18:03:27
Por que ta demorando tanto pra posta outro capítulo? Desistiu?