Fanfic: A dama de vermelho AyA {Finalizada}

CAPITULO X

A porta foi aberta por uma mulher de cabelos grisalhos, aparentando estar na casa dos cinqüenta anos. Lançou um olhar apreensivo para Anahí, antes de se voltar para Alfonso.

— Sr. Herrera? — perguntou, unindo as mãos em um gesto nervoso.

— Sim, sou Alfonso Herrera.

— Sou Lorraine Enders, mãe de Dulce. Poderíamos trocar algumas palavras?

— Onde está Dulce? — ele indagou.

— E sobre isso que desejo lhe falar.

— Entre, por favor, Sra. Enders —,disse Anahí, indicando o sofá a ela. — Não quer se sentar?

— Obrigada.

A mulher se sentou e olhou para Anahí com mais atenção.

— Não a conheço de algum lugar?

— Não, nunca nos encontramos — respondeu Anahí.

— Seu rosto me parece familiar...

— Sra. Enders? — Alfonso interveio. — Onde está Dulce?

— Eu... não sei muito bem como lhe dizer isso. — Os olhos de Lorraine se encheram de lágrimas. — Dulce morreu a um ano, em um acidente.

— Morreu?!

Alfonso levou alguns segundos para superar o impacto da no­tícia. Então uma expressão de solidariedade surgiu em seu rosto. Atravessando a sala, sentou-se ao lado de Lorraine.

— Sinto muito. Eu não sabia. Na verdade, eu a tenho pro­curado desde que ela foi embora.

— Sei disso, Sr. Herrera.

— Pode me chamar de Alfonso.

— Obrigada. Me chame de Lorraine.

— Não quero aumentar seu sofrimento, mas poderia me dizer o que aconteceu com Dulce?

— Ela foi ficar comigo, em Delaware. Dulce me contou sobre os problemas de seu irmão e disse quanto a idéia de morar na mesma casa que ele a desagradava. Acho que ela errou por não dar uma chance a Joel, mas ela ficou irredutível porque... —  Lorraine se interrompeu.

— Porque estava grávida? — Alfonso terminou a frase por ela.

— Sim — ela confirmou.

— Ela teve meu filho?

— Sim. Uma linda menina chamada Rebecca.

— E o que aconteceu com minha filha? — perguntou Alfonso, preocupado. — Ela estava com Dulce quando...?

— Sim. Mas Rebecca não se feriu gravemente. — Lorraine abaixou a vista. — Depois da morte de minha filha, fiz algo terrível. Fiquei com a menina e não o procurei. Sei que agi de forma errada, mas...

— Por que fez isso comigo?

Anahí se aproximou dele e tocou-lhe o ombro. —   Calma, Alfonso. Ela veio corrigir o erro.

Alfonso segurou a mão dela e levou-a aos lábios, beijando-a em agradecimento pelo aviso. Foi um gesto simples, mas que significou muito para Anahí.

— Desculpe-me por parecer ansioso, Lorraine, mas é que venho tentando saber a verdade há dois anos. Continue, por favor.

— Demorou algum tempo, mas acabei percebendo que não estava agindo direito ao manter a menina afastada do pai.

— Onde está Rebecca?

— Está aqui. Mas tenho um pedido a lhe fazer, antes de trazê-la —  acrescentou Lorraine, com os olhos marejados de lágrimas. —
Promete deixar que eu me despeça dela antes de partir?

Alfonso estreitou o olhar. — Partir?

— Por favor. Sei que não mereço sua consideração, mas peço apenas isso.

Ele meneou a cabeça, incrédulo. — Foi por isso que a manteve longe de mim durante todo esse tempo? Achou que eu a afastaria de sua neta por causa do que Dulce fez?

— Quem poderia culpá-lo por isso?

— Esqueça o que aconteceu, Lorraine. Estou desapontado que não tenha vindo antes, mas agora que trouxe minha filha não quero perder tempo com mágoas. Rebecca ainda é sua neta e precisa de você. Eu nunca teria coragem de afastá-las.

Um murmúrio de protesto vindo da porta chamou a atenção de todos. Manchado estava sentado ao lado de uma garotinha que segurava sua coleira vermelha. Tinha cabelos negros, le­vemente encaracolados, e estava vestida com uma roupinha amarela e sapatinhos pretos.

Era a criança de aparência mais meiga que Anahí já tinha visto. Alfonso olhou-a em silêncio, sem dizer nenhuma palavra. Ao avistar a avó, a menina correu para os braços dela. Depois de abraçar a neta, Lorraine virou-a na direção de Alfonso.

— Rebecca, meu bem, este é seu papai. Não quer dar um beijo nele?

Alfonso sorriu, visivelmente emocionado. —   Olá, Rebecca.

A menina hesitou, com timidez, fitando o pai com olhos muito semelhantes aos dele. Por fim, um sorriso curvou os lábios dela.

— Papai?

Alfonso assentiu, estendendo os braços para ela. Rebecca he­sitou novamente, mas acabou não resistindo e correu para ele. Feliz, Alfonso a levantou no ar, fazendo-a gargalhar.

— Não sabe quanto tempo esperei por isso, minha bonequinha.

Anahí tocou o braço de Lorraine. —      Está vendo o bem que você fez? Tudo dará certo de agora em diante, pode acreditar.

Manchado se aproximou e mexeu na saia dela. Anahí en­tendeu o recado silencioso. Chegara o momento de dizer adeus. Por mais que quisesse evitá-lo, não tinha escolha.

Sentou-se no sofá, ao lado de Alfonso e de Rebecca. Bastou um olhar para seu rosto e a garotinha quis logo estar em seu colo. Ao segurá-la nos braços, e ver aqueles olhos tão parecidos com os de Alfonso, Anahí se apaixonou mais uma vez.

— Lindo! — exclamou Rebecca.

Só então Anahí se deu conta de que os olhos inocentes da menina estavam enxergando a auréola em torno de sua cabeça. Levantando a mão, Rebecca tentou tocar o halo de luz, soltando um risinho quando ele se acendeu mais com a proximidade de seus dedos.

O olhar confuso de Lorraine indicou que ela não entendeu por que a neta fizera aquilo. Anahí e Alfonso trocaram um olhar de cumplicidade. Nem todos os adultos conseguiam ver a au­réola de um anjo.