Fanfic: Redes de Mentiras | Tema: Ponny, AyA

— Sente-se melhor, agora? — ele perguntou, pondo um fim ao breve momento de encanto.
— Sim, estou bem, obrigada — Anahi respondeu, endireitando-se.

Alfonso recuou um passo, deixando as mãos caírem ao lado do corpo, mas permanecendo muito próximo, para o caso de ela fazer mais alguma tolice.

— A mamadeira de Melanie — ela se lembrou de súbito.
— Eu não trouxe nenhuma. — Assim como não levara fraldas, ou roupinhas. — Preciso ir para casa.
— Encontrará tudo o que precisa, aqui.

Ora, o que significava isso? Seria possível que ela teria de enfrentar ainda mais uma batalha?

— Não me diga que mandou comprar um enxoval completo, junto com a cadeirinha! — suspirou.
Ele não se deu ao trabalho de responder.
— Vou levá-la até a cozinha, onde poderá mostrar a Lefka o que fazer.

Enfrentar Alfonso era, decididamente, o mesmo que confrontar um soldado armado, protegido por um tanque de guerra! Quando não se interessava por uma determinada questão, ele simplesmente passava por cima dela.

— Vá na frente — Anahi murmurou, resignada, permitindo que ele tivesse aquela pequena vitória.., pelo bem de Melanie, claro.

A cozinha era o sonho de qualquer dona de casa, com armários por todos os lados e todo tipo de eletrodomésticos. Os aromas que se erguiam das panelas eram apetitosos, lembrando Anahi que ela estava faminta.
Uma jovem de cabelos pretos, mais ou menos da mesma idade de Any, encontrava-se perto da mesa, onde repousava um cesto de bebê.

Quando Anahi se aproximou do cesto, ansiosa, a moça afastou-se em silêncio. Melanie estava deitada, acordada e olhando em volta com ar curioso. Fora trocada e usava um macacão novo, em uma tonalidade de rosa suave, que realçava sua pele cor de oliva, assim como os finos cabelos negros.
Nada na menina lembrava a mãe falecida, Anahi notou com tristeza. As lágrimas ameaçaram escapar ao seu controle, como sempre acontecia, quando pensava na mãe.

— Por favor — pediu ao homem parado ao seu lado, — preciso segurá-la por alguns momentos. Pode me ajudar?

O bom senso lhe dizia que seria loucura tentar se abaixar para tomar Melanie nos braços.

— Claro — Alfonso respondeu de pronto, já se inclinando e apanhando o bebê. Então, fez uma pausa, indeciso. — Como vai segurá-la? — indagou. — Não pode forçar as costelas.

Olhando em volta, Anahi decidiu que o melhor a fazer seria sentar-se. Assim, poderia usar a mesa como apoio para o braço esquerdo.
Assim que se sentou, Melanie foi acomodada em seu braço, que Anahí apoiou na mesa. Com um suspiro trêmulo, inclinou-se e roçou os lábios na face rosada do bebê.

Diante daquela cena, somente um cego não perceberia quanto Anahí amava aquela criança. Alfonso não era cego, e emocionou-se tanto, que Anahí teria ficado chocada se houvesse erguido os olhos para ele, naquele momento, pois a emoção transformou-se em uma raiva, tornando seu semblante ainda mais frio, quase assustador.

— Ah, aí estão vocês! — Lefka exclamou, entrando na cozinha. Ao olhar para Anahi e o bebê, exibiu um sorriso largo. — Vejo que adora essa criança, o que é muito bom, pois essa garotinha é um anjo. Já conquistou meu coração.

Anahi soube no mesmo instante que a governanta estava sendo sincera, pois seus olhos exibiam um brilho terno.

— Mas ela não vai ficar contente comigo se eu não lhe der logo a mamadeira — a mais velha continuou. — Pode me ensinar como prepará-la, enquanto minha filha, Althea, segura Melanie?

Quando finalmente deixou a cozinha, convencida de que a irmãzinha estava em excelentes mãos, havia tomado uma decisão. Assim, foi à procura de Alfonso, e encontrou-o no escritório, consultando algo na tela do computador e falando ao telefone, ao mesmo tempo.

Aquela altura, a noite caíra por completo. As cortinas haviam sido fechadas e luminárias dispostas em posições estratégicas iluminavam o ambiente.

Quando ele ergueu os olhos para fitá-la, Anahi deu-se conta de que a iluminação suave, misturada ao reflexo do fogo na lareira, tornava as feições dele mais serenas, fazendo com que parecesse mais jovem e muito menos ameaçador.

— Ficarei aqui — ela anunciou sem preâmbulos.