Fanfic: Redes de Mentiras | Tema: Ponny, AyA

Magoada pelo tom duro, Any virou-se e dirigiu-se para a porta, sem dizer mais nada.

— Não... — ele falou em voz muito baixa.
— Não o quê? —Any balbuciou, prestes a explodir em lágrimas.

Em vez de responder, ele se aproximou, pousou as mãos nos ombros dela e forçou-a, com extrema gentileza, a virar-se para fitá-lo.
A luta contra as lágrimas tomava toda a resistência dela e, por isso, Any limitou-se a baixar os olhos para o peito largo à sua frente.

— Isso não vai dar certo — murmurou com voz abafada. — O simples fato de brigarmos ele replicou em tom neutro, — não significa que não podemos nos entender. Mostra apenas que somos duas pessoas de opiniões fortes e que ambos gostamos de vencer uma discussão.

Para Any, parecia que Alfonso vencera todas as batalhas que haviam travado até então, o que não indicava uma opinião muito forte, da parte dela.

— Bem, tente não ser tão arrogante — ela sugeriu com firmeza. — Talvez, assim, consigamos resolver esta situação, sem matar um ao outro.

Com isso, virou-se, abriu a porta e saiu, satisfeito por ter tido a última palavra e, ao mesmo tempo, surpresa por ele ter lhe permitido tal prazer.

Althea conduziu-a a uma suíte espaçosa e decorada com bom gosto e elegância. Ao abrir a porta do armário imenso, Any quase caiu na risada, imaginando as poucas peças de roupa que possuía, perdidas ali dentro.

Então, voltou a se concentrar no quarto, tentando decidir onde colocar o berço de Melanie, mas logo deu-se conta de que seria impossível ter o bebê consigo, a menos que Lefka ou a filha se instalasse ali, também. Como ela poderia alimentar e trocar a irmãzinha, durante a noite?

— Onde Melanie vai dormir? — perguntou a Althea, que esperava pela lista dos itens que Any precisaria que fossem apanhados em seu apartamento.
Tímida, introvertida e muito gentil, Althea respondeu m voz baixa:
— Se a senhorita concordar, mamãe sugeriu que o bebê durma no meu quarto.

O que deixaria Melanie muito longe, Any pensou, contrariada. Por outro lado, parecia não haver alternativa melhor.
Impossibilitada de escrever, Any ditou a lista para Althea em poucos minutos. Afinal, só precisaria de algumas mudas de roupa e uns poucos itens de uso pessoal. Foi somente depois que a outra saiu à procura do pai, que ocorreu um novo pensamento a Any, fazendo-a corar de vergonha. Althea, habituada a viver em meio ao luxo e à riqueza, entraria em seu apartamento e veria a pobreza à qual as duas irmãs viviam.

No mesmo instante, repreendeu-se por permitir que o orgulho tomasse conta de suas idéias. Deveria ter aprendido a lição, poucos anos antes, quando ela e a mãe haviam perdido tudo, incluindo os supostos amigos.

Depois de respirar fundo e erguer a cabeça, concentrou-se em uma questão muito mais importante: a necessidade de usar o banheiro com certa urgência. O que resultou em dez minutos de descobertas de novos obstáculos a serem vencidos.

Gostaria de encher a banheira de água quente e perfumada, e ficar dentro dela por algumas horas, mas como isso estivesse totalmente fora de questão, limitou-se a pensar em como seria bom fazê-lo. Um banho de chuveiro, por sua vez, seria perfeitamente possível.

Examinou o box de vidro por alguns instantes e, descobrindo o robe felpudo, pendurado atrás da porta do banheiro, tomou sua decisão. Determinada, empenhou-se na tarefa de tirar a roupa sozinha. Quando terminou, estava ofegante, e pôs-se a rezar para que Althea não demorasse a voltar, pois nada faria com que ela voltasse a vestir as roupas sujas e rasgadas.

Ao virar-se, deparou com o próprio reflexo no grande espelho fixado na parede e, por um momento, permaneceu imóvel, boquiaberta, chocada com o que via.