Fanfic: Redes de Mentiras | Tema: Ponny, AyA

No entanto, ela já estava arrependida na manhã seguinte, quando desceu a escada, determinada a informá-lo que mudara de idéia. Infelizmente, descobriu que ele havia utilizado mais uma de suas táticas infalíveis, viajando a negócios por uma semana.

Enquanto isso, Melanie desabrochava como uma flor rara, em meio aos cuidados e carinho que Lefka e Althea lhe dispensavam. Any nem sequer a ouviu chorar!
O que a magoou um bocado, pois enquanto fora cuidada apenas por Any, Melanie praticamente não parara de chorar desde a morte da mãe.
Porém, a mágoa maior vinha do fato de sua tia não ter sequer tentado entrar em contato com ela. Any não sabia se isso se devia à indiferença de Laura, ou a ordens de Alfonso. Mas, conhecendo a tia tão bem, sabia que se ela quisesse saber das sobrinhas, teria encontrado um meio mesmo que para isso tivesse de desafiar o patrão.

A medida que a semana foi passado, o corpo de Any foi se curando. O galo na testa desapareceu e os hematomas começaram a se dissipar. Até mesmo seu orgulho ferido cedeu lugar à aceitação, pois ela sabia que jamais seria capaz de negar a Melanie a oportunidade de uma vida tão privilegiada.

Em uma manhã ensolarada, quando estava sentada na varanda, empurrando o carrinho de Melanie para a frente e para trás, a fim de fazer a menina dormir, ouviu a voz profunda bem atrás de si:

— Parece estar se sentindo muito melhor.

Any não se virou para fitá-lo, mas sua mão parou de embalar o carrinho, ao mesmo tempo em que seu coração saltava dentro do peito, deixando-a trêmula e ofegante. Ainda assim, sua voz soou firme, quando ela disse:

— Uma semana é bastante tempo.
— Achei melhor deixá-la sozinha para... digerir a sua decisão.

Ora, então, ele admitia ter batido em retirada! Tal constatação trouxe um inexplicável sentimento de paz, que se tornou ainda mais intenso, quando Alfonso inclinou-se sobre o carrinho com expressão terna, e acariciou de leve o rostinho de Melanie.

— Ela está dormindo — ele sussurrou, antes de puxar uma cadeira e sentar-se ao lado de Any. — Como está o punho?
— Melhor.
— E as costelas?
— Já não doem quando dou risada — ela respondeu com sorriso, embora o rosto moreno e atraente, tão próximo, provocasse arrepios em seu corpo. — Onde esteve? — perguntou.
— Já está falando como esposa — Alfonso zombou, estudo o rosto que já não se apresentava pálido, com olheiras.
— Ainda não — ela replicou. — E, até onde você sabe, posso ter mudado de idéia.
— Mudou?
Apesar do impulso de prolongar a agonia dele e mentir quase dominou, mas ela acabou se decidindo pela honestidade.
— Não.

Os dois permaneceram calados por um longo momento. Melanie emitiu um som abafado, e Any pôs-se a embalar carrinho novamente. Uma cena doméstica muito comum.

— Estive na Grécia — Alfonso respondeu, afinal — com minha avó.
Embora ele mantivesse a voz neutra, Any percebeu de pronto que algo não estava bem.
— Ela piorou? — indagou.
— Sim. Está definhando rapidamente. Por isso, tratei de dar a ela uma tarefa, a fim de mantê-la ocupada. Neste exato momento, vovó está planejando o nosso casamento.

Sobressaltada, Any endireitou-se na cadeira.

— Nosso casamento? Pensei que você quisesse apresentar a ela um fato consumado.
— Não. Isso não teria dado tão certo quanto a história e contei a ela.
— Que história?
— Disse a vovó que você é muito jovem e muito bonita...

Bonita? Ora, como ele podia mentir tão descaradamente? Atraente, talvez, Any refletiu, mas bonita, nunca!

— Disse que tivemos um... caso, no ano passado — ele continuou, — mas como você é jovem demais, eu a deixei, sem saber que você estava grávida...

Mentira número dois, Any pensou, começando a se dar conta de que estava prestes a desempenhar um papel mais falso do que havia imaginado.

— Mas não consegui tirar você da cabeça, o que foi o principal motivo da minha recusa em me casar com outra mulher. Por isso, fui procurá-la. Quanto ao resto, as peças se encaixam perfeitamente.

Com certeza, Any forçou-se a concordar, vendo-se como a trágica jovem que se entregara ao atraente magnata grego.

— Na verdade — Alfonso disse, — os detalhes que acrescentei à nossa história servem a um segundo propósito...

A pausa fez com que os cabelos se arrepiassem na nuca de Any.

— Assim — ele foi adiante, — você não precisa "gostar" de estar se casando comigo. Já que todos, inclusive você, acreditam que sou um ditador arrogante, ninguém vai duvidar de que você foi coagida a se casar comigo, pelo bem de nossa filha. O que também significa que você poderá ter um quarto só para si, sem provocar fofocas, enquanto eu estiver me esforçando para reconquistar o seu afeto.
— E a história termina quando eu lhe der as costas e for embora — Any concluiu. — Não é exatamente um enredo romântico, não acha?
— A vida raramente é romântica — Alfonso declarou com frieza assustadora, retomando sua atitude habitual e colocando-se de pé. — Partiremos para a Grécia, amanhã. Agora, preciso cuidar de alguns negócios. Se me der licença...

Com isso, desapareceu.

Any passou a meia hora seguinte relembrando cada palavra que haviam trocado, mas não conseguiu entender o que provocara a reação exacerbada.
Finalmente, decidiu culpar a avó de Alfonso, dizendo a si mesma que ele estava sensível demais por causa da preocupação com o estado crítico da avó.

Porém, no fundo de seu coração, sabia que essa não era a verdade.