Fanfic: Redes de Mentiras | Tema: Ponny, AyA

Não era justo, refletiu com amargura, o que a vida estava fazendo com ela.

— Quais são as nossas opções? — indagou, com os olhos cheios de lágrimas.
Sentindo a aproximação do sucesso, Laura esforçou-se para conter uru sorriso de satisfação.
— Existem listas imensas de casais sem filhos, que ficariam muito gratos a você por...
— Não quero gratidão — Anahí interrompeu-a.
— Sei disso — Laura recuou imediatamente, dando-se conta de que escolhera mal suas palavras. — São pessoas capazes de oferecer um lar cheio de amor, além de uma vida familiar repleta de segurança e carinho.

Mas ela nunca mais voltaria a ver a irmã, Anahi pensou desolada. Então, tentou imaginar braços estranhos embalando Melanie, mãos desconhecidas cuidando dela, alimentando-a, vestindo-a, amando-a...
O desespero tomou conta de seu coração, e as lágrimas correram soltas por suas faces.

— Existem maneiras discretas de se fazer isso — a tia explicava. — Agências particulares aceitam apenas as melhores famílias em seus livros. Trata-se do tipo de gente que garantiria que Melanie não sofresse com a falta de nada, pelo resto da vida. Acredito que vale a pena considerar a idéia... pelo bem de Melanie...

"Pelo bem de Melanie". Tendo encontrado a estratégia correta, Laura agora a utilizava sem escrúpulos ou remorsos.

— Você poderia continuar seus estudos na universidade — Laura continuou. — Eu estaria disposta a ajudá-la, pois acho que é essa a atitude certa a tomar, mas não posso concordar com isto — acrescentou, lançando outro olhar de desprezo ao seu redor. — Não vou ajudá-la a estragar duas vidas, sabendo que você e Melanie merecem uma vida muito melhor.
Melanie.

— Eu... vou pensar — Anahí murmurou.

Porém, mesmo enquanto pronunciava as palavras terríveis, sentia como se alguém estivesse enterrando a mão em seu peito e arrancando dali o seu coração.

— Bom — a tia aprovou. — Enquanto você pensa no assunto, entrarei em contato com as agências que mencionei. Descobrirei o que precisamos fazer e...

A buzina voltou a tocar, interrompendo-a. Emitindo um suspiro irritado, Laura olhou para a sobrinha e, ao se deparar com a tristeza tão nítida naquele rosto pálido, cedeu um pouco. Abriu a bolsa e retirou dela urna carteira de couro.

— Fique com isto — ofereceu, depositando um pequeno maço de notas dobradas sobre o sofá. — É o bastante para você viver até o meu retorno, dentro de alguns dias. Mas, quando voltar, espero que já tenha tomado uma decisão.

Olhando fixamente para o dinheiro, Anahí assentiu.

— Obrigada — agradeceu sem vontade.
— Por favor, tente pensar com a cabeça, e não com o coração, Any — Laura murmurou com frieza, antes de sair.

Anahi permaneceu imóvel, os olhos fixos no pacote de notas, que era o preço de sua traição. Estendeu a mão trêmula e apanhou o dinheiro, a fim de saber exatamente quanto sua traição valia, mas algo caiu de dentro dele.
Ao reconhecer o cartão de crédito da tia, Anahí saiu correndo do apartamento e desceu a escada depressa, segurando o dinheiro em uma das mãos, e o pequeno retângulo de plástico dourado na outra.
O vento gelado atingiu-a em cheio, quando ela abriu a porta da rua. Parou por um instante, olhando para todos os lados, à procura da figura distinta de Laura, sentindo o corpo todo tremer, uma vez que a fina blusa de algodão que vestia não oferecia a menor proteção contra o clima frio.
A rua era estreita, mas muito movimentada, pois interligava duas grandes avenidas. As construções em estilo vitoriano que ocupavam toda a sua extensão haviam sido, um dia, residências elegantes. Agora, porém, não passavam de prédios de apartamentos baratos.
Os automóveis velhos estacionados dos dois lados da rua refletiam o nível dos inquilinos da região. Por isso, a grande e luxuosa limusine na qual Anahi viu a tia entrar, chamou-lhe a atenção.

— Tia Laura! — ela gritou, mas o vento carregou o som para longe, antes mesmo que a porta da limusine se fechasse.

No mesmo instante, o veículo se pôs em movimento.
Sem pensar no que fazia, Anahi atravessou a rua correndo. O que aconteceu em seguida foi muito rápido. Provavelmente, Anahí se lembraria pelo resto da vida da buzina disparando muito perto dela, bem como da estranha visão dos próprios cabelos dourados agitando-se em torno de seu rosto, quando ela se virou e deparou com a caminhonete de entregas que avançava sobre ela.
Então, o som agudo do freio, o cheiro ácido de borracha queimada e os gritos de passantes tomaram conta da cena. E, ela ainda registrou na mente o horror estampado no rosto do motorista.