Fanfic: Redes de Mentiras | Tema: Ponny, AyA

— Não! — ela protestou de pronto.

Podia aceitar um guarda-roupa repleto de peças caras, assim como todo o luxo da vida que estava levando ali, pois essas coisas custavam apenas dinheiro. E, como o próprio Alfonso lhe ensinara, dinheiro era o que não lhe faltava. O anel, porém, assim como o vestido de noiva, era muito diferente. Ambos carregavam em si sentimentos e lembranças que não lhe pertenciam.

Era evidente que Alfonso sabia o que ela estava pensando, mas para sua surpresa, em vez de discutir, ele murmurou:

— Você possui integridade, Any. Trata-se de uma qualidade rara. Tente nunca perdê-la.
— Integridade? — Any repetiu com ironia. — Onde está minha integridade, casando-me com alguém a quem não amo? Mesmo que nosso acordo traga benefícios para nós dois...

Alfonso não disse nada. Afinal, não haveria argumento capaz de contestar tal verdade.

— Vamos — ele disse, instantes depois. — Está na hora de descermos e cumprimentarmos os convidados.

Então, a pequena harmonia que haviam conseguido criar se desfez, pois ambos se lembraram o que estavam realmente fazendo. Aparentemente sem um motivo específico, Alfonso decidira adotar a filha de estranhos.

Pela primeira vez, Any pôs em dúvida tal ausência de motivo. Agora que conhecia Alfonso muito mais do que quando aceitara sua proposta, sabia que ele não fazia nada ao acaso. Afinal, se precisava tanto de um herdeiro, por que não adotar um menino de pele morena? A menos que a escolha de uma menina fizesse parte do plano, com o objetivo de ocupar a mente das pessoas com outra questão, que não a legitimidade da paternidade.

Seria possível que ele fosse tão calculista? Any fitou-o pelo canto do olho, quando começavam a descer a escada, e viu a frieza e o cinismo que permeavam o perfil másculo. Estremecendo, concluiu que sim, ele seria perfeitamente capaz de arquitetar tais detalhes.., e muito mais.

O que ainda não respondia a pergunta sobre a necessidade de fazer a adoção legal. Se tudo aquilo estava sendo feito pelo bem da avó dele, que Any já sabia que morreria muito em breve, Melanie seria pequena demais para sentir falta de um pai que, na verdade, não era seu pai.

Ora, por que tudo aquilo, então? Any franziu o cenho, intrigada.

— Pare de se preocupar — Alfonso repreendeu-a. Não permitirei que mordam você.

Mas devoraram Any com seus olhares curiosos e incrédulos, fazendo-a sentir-se uma alienígena, tentando se infiltrar naquela sociedade tão requintada.

Bem, ninguém foi rude. Os mais velhos fizeram comentários alegres, que Alfonso respondeu com sorrisos e palavras amenas. Os jovens, especialmente os homens, dirigiram a Any olhares famintos, e foram devidamente advertidos pelo noivo.
Protetor e possessivo, Alfonso segurou com firmeza a mão esquerda de Any o tempo todo, enquanto ela era apresentada, abraçada e beijada pelos convidados.

— Não foi tão ruim, foi? — ele sussurrou ao ouvido dela, quando já haviam cumprimentado a todos.
— Não — ela mentiu.

Uma pessoa em particular fez Any sentir-se péssima. A entrada triunfal de Dulce, vestindo um vestido preto espetacular, tornou ainda mais evidente a total falta de sofisticação de Any.

E o comportamento exemplar da outra diante do silêncio que se seguiu à sua chegada foi admirável. Ela não expressou qualquer reação à mensagem implícita de que fora rejeitada. Beijou Alfonso no rosto, murmurando palavras em grego que provocaram nele um sorriso cínico.

Então, virou-se para Any e, com extrema gentileza, cumprimentou-a e perguntou por Melanie.
— Uma dama de classe, não acha? — Alfonso comentou.
— Sinto pena dela — Any confessou.

— Não sinta, pois Dulce é um lobo em pele de cordeiro.

O tom de advertência provocou um arrepio em Any, que se justificou mais tarde, quando Dulce finalmente pôs as garras à mostra.

Ofegante, depois de ter dançado com um simpático e idoso cavalheiro chamado Grigoris, que entraria com ela na igreja, no dia do casamento, Any encontrava-se sozinha pela primeira vez, desde o inicio da festa. Observava Alfonso dançar com uma linda morena, parecendo totalmente à vontade e sorridente.

Foi quando a voz aveludada murmurou ao seu lado:

— Já descobriu qual delas é a amante de Alfonso?

Amante? Por mais que se esforçasse, Any não pôde impedir a palidez que tomou conta de seu rosto.

E Dulce percebeu o sinal.