Fanfic: A Escolhida - CONCLUÍDA | Tema: Vondy

A Escolhida, Capitulo 091  — Você vai me contar...?

Christopher ignorou o fato de uma escrava tê-lo chamado de porco, e não tendo mais opções ordenou a um dos escravos que vigiavam a casa-grande que trouxe-se baldes de água para o recanto da casa (Banheiro) e que despejasse a água na banheira. Quando isso foi feito, ele subiu para o recanto e despiu-se, relaxou seu corpo dentro da banheira grande e espaçosa com água. Respirou fundo antes de fechar os olhos. Depois de um tempo, ensaboou-se e, após se enxaguar, deixou o lugar e voltou para seu quarto, vestindo apenas o roupão. Ainda estava cedo. Retornou ao seu quarto, Dulce ainda estava dormindo. Ele vestiu as calças compridas e uma camisa preta de mangas longas. Jogou por sobre os ombros uma capa escura e só. Observou a esposa adormecida na cama abraçada com o travesseiro, Deus sabia como ele tinha inveja daquele travesseiro.

 Saiu do quarto com passos longos e silenciosos. Ao sair para fora de casa, sentiu uma leve brisa fria bater em seu rosto, e observou o céu que ainda estava escuro, além de uma leve garoa que caia fininha. Foi até onde estava guardado seu cavalo negro e o ajeitou para montaria. Saiu para ver as coisas de sua fazenda: O pastoreio das ovelhas, e gados. O plantio dos vinhedos, a colheita de café, algodão e cana-de-açúcar. Observou que os caminhos e pontes de alguns terrenos da fazenda precisavam ser refeitos, ou remodelados. Viu que, diferente da casa grande, todos que ali trabalhavam, já estavam de pé. Algumas escravas colhiam frutas, outras cuidavam das ordenhas, junto com seus filhos. Outras, carregavam em suas cabeças água para aguar as plantas, levar para a casa grande ou lavavam roupas nos riachos. Os homens, faziam o pastoreio, cuidavam das inúmeras plantações que havia na fazenda. Ia tudo bem, felizmente, soube administrar suas coisas.

 Bateu as rédeas de seu cavalo para que ele corresse. Parou num ponto alto e afastado da casa, desceu de seu cavalo. Os túmulos também precisavam de uma remodelagem – pensou ele. Lembrava com pesar da família que havia perdido, e que de toda ela, apenas Christian e ele haviam sobrado para serem chamados de Von Uckermann.

 Suspirou. Amarrou seu cavalo numa árvore. As flores que havia colocado a um dia atrás no túmulo de sua irmã já estavam murchas, assim como também as do túmulo de sua mãe. Mas no de seu pai, não estavam murchas, porque sequer pensou em colocar flores. Ele não era merecedor de saudade. Ajoelhou-se ao pé do tumulo da irmã, onde havia escrito: Melissa Von Uckermann & Luiz Uckermann Hernández, e praguejou. Ali naquele túmulo frio, e esquecido não estava apenas Melissa, mas havia também seu sobrinho que sequer chegou a crescer. Um mulato. Rezou a única oração que sabia pelas pessoas – que agora jaziam – que lembrava de ter amado a muitos anos. Os pingos que antes eram fracos, começavam a engrossar e ele precisava voltar para casa antes que ficasse resfriado. Rezou ainda para sua mãe e o sobrinho e montou novamente em seu cavalo, depois viria colocar flores lá novamente.

 Enquanto voltava para casa, sentia os pingos de chuva caírem sobre suas costas como flechas que furavam. Já estava completamente molhado. Quando já estava a alguns passos de casa, viu que os escravos trabalhavam naquela chuva como se estivessem embaixo de sol, e as crianças brincavam e pulavam, parecendo gostar da ideia de estar chovendo. Pensou em manda-los para a senzala para se protegerem, mas eles eram apenas escravos.

 Guardou o cavalo, e entrou em sua casa quente e seca. Sentiu um cheiro de café e pão e seu estomago embrulhou de tanta fome, mas ainda estavam montando a mesa. Subiu e entrou em seu quarto, devagar. Dulce agora estava acordada e amamentava o filho.

— Mas... o que... Christopher! – Ela disse quando o viu. — Está todo molhado! Enxugue-se, vai pegar um resfriado!

— Já está acordada. – não foi uma pergunta, foi um pensamento alto que ele proferiu enquanto tirava a capa e a roupa, ficando completamente nu na frente da esposa.

— Christopher! – Ela exclamou envergonhada.

— Está com vergonha? – ele disse com humor. — Tivemos um filho e você está com vergonha de me ver nu? – Christopher observou que Dulce se remexeu na cama desconfortável. Ela definitivamente não queria que ele tocasse na palavra “filho”. Christopher jurou ter corado de leve e logo vestiu outra roupa escura.

— Bom eu vou... para a biblioteca. – ele disse desconfortável também. Dulce afirmou. Antes de Christopher bater a porta, Dulce o chamou. — Oi? – ele disse como resposta a ela.

— Você vai me contar...? – ela não precisava ser clara o suficiente para ele entender.

— Sim. – ele falou simplesmente, e saiu.