Fanfics Brasil - 12 Cidade dos ossos

Fanfic: Cidade dos ossos | Tema: Rebelde-Rbd Vondy


Capítulo: 12

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Ela olhou através da densa massa de arbustos. Podia ver o policial vindo em sua direção. Um deles, uma esguia mulher loira, que segurava uma lanterna. Quando ela a levantou, Dulce pôde ver sua mão descarnada, uma mão esquelética afiada com ossos nas pontas dos dedos.


— A mão dela...


— Eu disse que eles poderiam ser demônios — Ucker olhou para a parte de trás da casa. — Nós temos que sair daqui. Podemos ir através do beco?


Dulce balançou sua cabeça.


— Está pavimentado. Não tem saída...


Suas palavras se dissolveram em uma forma de tosse. Ela levantou a mão para cobrir a boca. Ela ficou vermelha e choramingou.


Ucker agarrou seu pulso, virando-o para cima para a pele branca e vulnerável do interior de seu braço nu ficasse sob o luar. As veias tracejadas de azul mapeavam o interior de sua pele, transportando o sangue envenenado para o coração dela, o seu cérebro. Dulce sentiu seus joelhos lutarem. Havia alguma coisa na mão de Ucker, algo afiado e prata. Ela tentou puxar a mão de volta, mas o aperto dele era muito forte: ela sentiu uma ferroada contra sua pele. Quando ele soltou, ela viu um símbolo pintado de preto como uns que cobriam sua pele, logo abaixo da dobra do seu pulso. Este parecia como um conjunto de círculos sobrepostos.


— O que é que vai fazer?


— Eu vou esconder você — ele disse. — Temporariamente.


Ele guardou a coisa que Dulce pensou que fosse uma faca de volta no seu cinto. Era um longo e luminoso cilindro, da espessura de um dedo indicador e afinando até sua ponta.


— Minha estela — ele explicou.


Dulce não perguntou o que significava. Ela estava ocupada demais tentando não cair. O chão estava subindo e descendo sob os seus pés.


— Ucker — ela chamou, e caiu em cima dele.


 


Ele a segurou como se estivesse acostumado a pegar garotas desmaiadas, como se fizesse isso todos os dias. Talvez fizesse. Ele a colocou em seus braços, dizendo alguma coisa em seus ouvidos que soava como uma promessa. Dulce virou sua cabeça para olhar para ele, mas viu apenas as estrelas girando através do céu escuro sob sua cabeça. Então a resistência caiu em tudo, e mesmo os braços de Ucker em torno dela não foram o suficiente para seu desmaio.


Capítulo 5 - Clave e Pacto


— Você acha que ela vai acordar? Já se passaram três dias.


— Você tem que dar tempo a ela. O veneno do demônio é uma coisa forte, e ela é uma mundana. Ela não tem as Runas para mantê-la forte como nós.


— Mundanos morrem tremendamente fácil, não é?


— Isabelle, você sabe que dá má sorte falar sobre isso na enfermaria.


Três dias, Dulce pensou lentamente. Todos os seus pensamentos corriam tão espessos e lentos como sangue e mel.


Eu tenho que acordar. Mas ela não conseguia.


Ela tinha sonhos, um após o outro, um rio de imagens que abriam caminho ao longo dela como uma folha jogada em uma correnteza. Ela viu sua mãe deitada em uma cama de hospital, contusões em seu rosto branco. Ela viu Luke, em pé em cima de uma pilha de ossos. Ucker com asas de penas brancas brotando em suas costas, Isabelle sentada nua com seu chicote enrolado como uma rede de anéis de ouro, Simon com cruzes queimadas nas palmas de suas mãos. Anjos, caindo e queimando, caindo do céu.


— Eu disse a você que era a mesma garota.


— Eu sei, uma coisinha, ela não é? cker disse que ela matou um Ravener.


— Yeah. Eu pensei que ela fosse uma fada na primeira vez que eu a vi. Ela não é bonita o suficiente para ser uma fada, eu acho.


— Bom, ninguém parece o seu melhor com veneno de demônio em suas veias. E Hodge vai chamar os Irmãos?


— Eu espero que não. Eles me dão arrepios. Ninguém que mutila a si mesmo como aquilo...


— Nós nos mutilamos.


— Eu sei, Alec, mas quando nós fazemos isso, não é permanente. E isso nem sempre machuca...


— Se você for velho o suficiente. Falando nisso, onde está Ucker? Ele salvou ela, não foi? Pensei que ele iria mostrar algum interesse em sua recuperação.


— Hodge disse que ele não veio vê-la desde que a trouxe aqui. Acho que ele não se importa.


— Algumas vezes eu me pergunto se ele... Olhe! Ela se moveu!


— Eu acho que ela está viva depois de tudo — um suspiro. — Eu vou dizer ao Hodge.


Dulce sentiu seus cílios como se tivessem sido costurados. Ela imaginou se podia sentir rasgando a pele enquanto eles se levantavam lentamente e piscava pela primeira vez em três dias.


Ela viu acima dela um céu azul claro, fofas nuvens brancas e anjos gordinhos com fitas douradas arrastando pelos seus punhos.


Eu estou morta?, ela imaginou. O céu realmente poderia parecer como isso?


Ela apertou os olhos, fechou e abriu-os de novo. Dessa vez, percebeu que aquilo que ela estava olhando era um teto abobado de madeira, pintado com arte rococó de nuvens e querubins.


Dolorosamente, ela se colocou em uma posição sentada. Cada parte de sua cabeça, especialmente a parte de trás de seu pescoço, doía. Ela olhou ao redor. Estava em uma cama pregueada em linho, uma de uma longa fila de semelhantes camas com cabeceira de metal. Sua cama tinha uma pequena cômoda ao lado com um jarro branco e um copo sobre ela. Cortinas de rendas estavam puxadas sobre as janelas, bloqueando a luz, entretanto ela podia ouvir um distante, e sempre presente som do tráfego de Nova York vindo do lado de fora.


— Então, você finalmente acordou — disse uma voz seca — Hodge vai ficar satisfeito. Nós todos pensamos que você provavelmente morreria em seu sono.


Dulce se virou. Isabelle estava empoleirada na próxima cama, o seu longo cabelo preto preso em duas grossas tranças que caíam passando pela cintura dela. Seu vestido branco tinha sido substituído por jeans azul apertado e uma regata sem mangas azul, embora o pingente vermelho ainda estivesse piscando em sua garganta. Suas tatuagens espiraladas se foram; sua pele era tão limpa quanto uma tigela de creme.


— Desculpe por desapontá-la — a voz de Dulce raspava como lixa — é esse o Instituto?


Isabelle rolou seus olhos.


— Existe alguma coisa que Ucker não lhe disse?


Dulce tossiu.


— Este é o Instituto, certo?


— Sim. Você está na enfermaria, não que você já não tenha percebido isso.


Uma súbita punhalada de dor fez Dulce apertar seu estômago. Ela ofegou.


Isabelle olhou para ela em alarme.


— Você está bem?


A dor estava sumindo, mas Dulce estava consciente da sensação de ácido por trás de sua garganta e uma estranha sensação de cabeça vazia.


— Meu estômago.


— Ah, certo. Eu quase me esqueci. Hodge disse para dar isso quando você acordasse.


Isabelle agarrou o jarro de cerâmica e derramou parte do seu conteúdo em seu correspondente copo, que logo entregou para Dulce. Ele estava cheio de um liquido turvo que ligeiramente esfumaçava. Aquilo cheirava como ervas e algo mais rico e escuro.


— Você não comeu nada em três dias — Isabelle salientou — é provavelmente porque você estava doente.


Dulce delicadamente tomou um gole. Era delicioso, rico e saciante com um sabor amanteigado.


— O que é isso?


Isabelle balançou os ombros.


— Um dos chás medicinais de Hodge. Eles sempre funcionam.


Ela deslizou fora da cama, descendo ao chão como um felino arqueando em suas costas.


— Eu sou Isabelle Lightwood, a propósito. Eu moro aqui.


— Eu sei seu nome. Eu sou Dulce maria Fray.Dul. Ucker me trouxe para cá?


Isabelle concordou.


— Hodge ficou furioso. Você largou serosidade e sangue em todo o carpete da entrada. Se ele tivesse feito isso enquanto meus pais estivessem aqui, ele teria sido enterrado com certeza — ela olhou Dulce mais minunciosamente — Ucker disse que você matou aquele demônio Ravener sozinha.


Uma imagem da coisa escorpião com suas garras, a face malvada relampejou atravessando a mente de Dulce, ela estremeceu e ela agarrou o copo mais apertado.


— Acho que sim.


— Mas você é uma mundana.


— Incrível, não é? — Dulce disse, saboreando o olhar superficialmente dissimulado de espanto sobre o rosto de Isabelle. — Onde está Ucker? Ele está por aqui?


Isabelle deu de ombros.


— Em algum lugar. Eu deveria dizer a todos que você se levantou. Hodge quer falar com você.


— Hodge é o tutor de Ucker, certo?


— Hodge é o tutor de todos nós — ela assinalou — o banheiro é por ali, e eu pendurei algumas das minhas roupas velhas e uma toalha no caso de você querer se trocar.


Dulce passou a tomar outro gole do copo e constatou que ele estava vazio. Ela já não sentia fome ou a cabeça vazia, o que era um alívio. Ela colocou o copo para baixo e amarrou o lençol em torno de si mesma.


— O que aconteceu com minhas roupas?


— Elas estavam cobertas de sangue e veneno. Ucker as queimou.


— Ele queimou? — Dulce repetiu. — Diga-me, ele é sempre grosso ou ele guarda isso para os mundanos?


— Ah, ele é mal educado com todo mundo — Isabelle respondeu alegremente — é o que faz dele tão sexy. Isso, e o fato de que ele matou mais demônios do que qualquer um de sua idade.


Dulce olhou para ela, perplexa.


— Ele não é seu irmão?


Aquilo pegou a atenção de Isabelle. Ela riu alto.


— Ucker? Meu irmão? Não. De onde você tirou essa ideia?


— Bom, ele mora aqui com você — Dulce apontou — não mora?


Isabelle concordou.


— Bem, sim, mas...


— Por que ele não mora com seus próprios pais?


Por um fugaz momento, Isabelle pareceu desconfortável.


— Porque eles estão mortos.


A boca de Dulce abriu em surpresa.


— Eles morreram em um acidente?


— Não.


Isabelle inquietou-se, empurrando uma mecha escura atrás de sua orelha esquerda.


— Sua mãe morreu quando ele nasceu. Seu pai foi assassinado quando ele tinha dez. Ucker viu a coisa toda.


— Ah — Dulce disse, sua voz pequena. — Foi um... demônio?


Isabelle levantou.


— Olha, eu vou avisar todo mundo que você acordou. Eles estão esperando você abrir seus olhos por três dias. Ah, e há sabonete no banheiro — ela adicionou — você precisa se limpar um pouco. Você fede.


Dulce olhou para ela.


— Muito obrigada.


— A qualquer hora.


As roupas de Isabelle pareciam ridículas. Dulce teve que enrolar as pernas dos jeans para cima várias vezes antes de parar de tropeçar nelas, e o decote profundo da regata vermelha só enfatizava sua falta do que Eric poderia chamar de “suporte”.


Ela se limpou no pequeno banheiro, usando uma barra dura de sabonete lavanda. Secando-se com uma toalha de mão branca, deixando seu úmido cabelo disperso em torno de seu rosto em um flagrante emaranhado. Ela espiou seu reflexo no espelho. Tinha uma contusão arroxeada em sua bochecha esquerda, e seus lábios estavam secos e inchados.


Eu tenho que ligar para Luke, ela pensou. Seguramente teria um telefone em algum lugar por aqui. Talvez eles a deixassem usá-lo depois que falasse com Hodge.


Ela encontrou seus tênis proximamente aos pés da cama da enfermaria, suas chaves presas em um laço. Deslizando seus pés para dentro eles, ela tomou uma respiração profunda e foi encontrar Isabelle.


O corredor do lado de fora da enfermaria estava vazio. Dulce olhou para baixo, perplexa. Aquilo parecia algum tipo de hall de entrada que ela, às vezes, se achava correndo em seus pesadelos, sombrios e infinitos. Lâmpadas de vidro sopravam em suas formas de rosas penduradas em intervalos nas paredes, e o ar cheirava a poeira e cera de vela.


À distância ela podia ouvir um ruído fraco e delicado, como o repicar do vento balançando em uma tempestade. Ela se moveu pelo corredor lentamente, alisando com a mão ao longo da parede. O papel de parede parecia vitoriano, desbotado com a idade, cor de vinho e cinza pálido. Cada lado do corredor estava alinhado com portas fechadas.


O som que ela estava seguindo aumentou mais. Agora ela podia identificá-lo como o som de um piano sendo tocado com uma volúvel, mas inegável habilidade, embora não pudesse identificar a melodia.


Virando a esquina, ela chegou a uma porta, que deslizou totalmente aberta.


Espiando lá dentro, ela viu que era claramente uma sala de música. Um piano de cauda ficava no canto, e fileiras de cadeiras estavam arranjadas contra a parede distante. Uma harpa coberta ocupava o centro da sala.


Ucker estava sentado no piano de cauda, suas delgadas mãos movendo-se rapidamente sobre as teclas. Ele estava descalço, vestindo um jeans e uma camiseta cinza, seu cabelo Castanho bagunçado ao redor de sua cabeça como se ele tivesse acabado de acordar. Olhando a rapidez evidente dos movimentos de suas mãos através das teclas, Dulce se lembrou de aquilo que ela sentiu quando foi levantada por aquelas mãos, os braços segurando ela e as estrelas movendo-se ao redor de sua cabeça como uma chuva de lantejoulas prata.


Ela deve ter feito algum barulho, porque ele se voltou em torno do banquinho, piscando para as sombras.


— Alec? É você?


— Não é Alec. Sou eu — ela entrou mais dentro da sala — Dul.


As teclas do piano dissonaram enquanto ele levantava.


— Nossa própria Bela Adormecida. Quem finalmente beijou você, te acordando?


— Ninguém. Eu acordei por conta própria.


— Não tinha ninguém com você?


— Isabelle, mas ela foi atrás de alguém – Hodge, eu acho. Ela me disse para esperar, mas...


— Eu deveria tê-la alertado sobre seus hábitos de nunca fazer o que lhe dizem — ele a olhou de soslaio — essas roupas são de Isabelle? Elas estão ridículas em você.


— Eu poderia apontar que você queimou as minhas roupas.


— Foi por pura precaução.


Ele deslizou a reluzente cobertura do piano preto, fechando-o.


— Vamos, eu vou te levar até Hodge.


O Instituto era enorme, um vasto e cavernoso espaço que parecia menos construído pelo homem e mais como se fosse naturalmente desgastado da parede, como uma passagem de águas por anos. Através das portas semiabertas Dulce pôde vislumbrar inúmeras pequenas salas idênticas, cada uma com uma cama despojada, uma mesa de cabeceira e um grande guarda-roupa de madeira mantido aberto. Pálidos arcos de pedra seguravam o teto alto, muitos dos arcos intrincadamente esculpidos com pequenas imagens. Ela notou que os desenhos eram repetitivos: anjos e espadas, sóis e rosas.


— Por que este lugar tem tantos quartos? — Dulce perguntou. — Eu pensei que você disse que era um instituto de investigação.


— Esta é a ala residencial. Estamos prontos para oferecer segurança e hospedagem para qualquer Caçador de Sombras que precisar. Nós podemos acomodar até duzentas pessoas aqui.


— Mas a maioria desses quartos estão vazios.


— As pessoas vem e vão. Ninguém fica por muito tempo. Normalmente só nós – Alec, Isabelle, Max e seus pais – e eu e Hodge.


— Max?


— Você se encontrou com a bela Isabelle? Alec é seu irmão mais velho. Max é o mais novo, mas ele está no exterior com seus pais.


— De férias?


— Não exatamente — Ucker hesitou. — Você pode pensar neles como diplomatas estrangeiros, e de que se trata em uma embaixada. Agora eles estão no país dos Caçadores de Sombras, trabalhando em uma delicada negociação de paz. Eles levaram Max com eles por que ele é muito jovem.


— País dos Caçadores de Sombras? — A cabeça de Dulce estava transbordando. — Como se chama?


— Idris.


— Eu nunca ouvi falar disso.


— Você não deveria — a irritante superioridade estava de volta em sua voz — mundanos não sabem sobre isso. Existe vigilância – feitiços por cima de toda fronteira. Se você tentar atravessar Idris, pode simplesmente se encontrar imediatamente transportado para a fronteira próxima. Você nunca saberá o que aconteceu.


— Então ela não está em nenhum mapa?


— Não no dos mundanos. Para nossos propósitos, você pode considerá-lo um pequeno país entre a Alemanha e a França.


— Mas não há nada entre a Alemanha e a França. Exceto a Suíça.


— Precisamente — Ucker disse.


— Eu acho que você esteve por lá. Em Idris, eu quero dizer.


— Eu cresci lá.


A voz de Ucker estava neutra, mas algo em seu tom deixou-a saber que mais perguntas naquele sentido não eram bem-vindas.


— A maioria de nós. Existe, é claro, Caçadores de Sombras por todo o mundo. Nós estamos em toda parte, porque há atividade demoníaca em toda parte. Mas para os Caçadores de Sombras, Idris será sempre um lar.


— Como Meca ou Jerusalém — Dulce observou pensativamente — então a maioria de vocês é levada para lá, e então quando vocês crescem...


— Nós somos mandados onde somos necessários — Ucker disse curtamente — e há alguns, como Isabelle e Alec, que crescem fora do país de origem porque é onde estão seus pais. Com todos os recursos do Instituto aqui, com o treinamento de Hodge... — ele parou. — Essa é a biblioteca.


Eles haviam chegado a um arco em forma de um conjunto de portas de madeira. Um gato persa com olhos amarelos estava enrolado em frente a elas. Ele levantou sua cabeça e se aproximou ronronando.


— Ei, Church — Ucker cumprimentou, acariciando o gato de volta com o pé descalço.


O gato fechou seus olhos com prazer.


— Espere — Dulce disse — Alec, Isabelle e Max – eles são os únicos Caçadores de Sombras com sua idade que você conhece, e é assim que você passa o tempo?


Ucker parou de acariciar o gato.


— Sim.


— Isso parece um tipo de solidão.


— Eu tenho tudo o que preciso.


Ele empurrou a porta. Depois de um momento de hesitação, ela o seguiu para dentro.


A biblioteca era circular, com um teto que afilava para um ponto, como se tivesse sido construído no interior de uma torre. As paredes estavam alinhadas com livros, as prateleiras tão altas que escadas com rodinhas estavam colocadas em intervalos. Aqueles livros não eram comuns – estes eram encadernados em couro e veludo, fechados com segurança – com fechaduras e dobradiças feitas de bronze e prata. Suas espinhas estavam cravados com joias brilhantes e manuscritos em ouro. Eles pareciam gastos de um jeito que deixava claro que aqueles livros não eram apenas velhos, mas estiveram sendo bem utilizados, e também bem cuidados.


O piso era de madeira polida, incrustada com pastilhas de vidro, pedaços de mármore e pedras semipreciosas. A incrustação formava um padrão que Dulce não conseguia decifrar – aquilo podiam ser constelações, ou mesmo um mapa do mundo. Ela suspeitou que teria que subir no alto da torre a fim de ver corretamente.


No centro da sala, estava uma magnífica mesa. Era esculpida em uma única placa de madeira, uma grande peça pesada de carvalho que brilhava com o embotamento dos anos. A tábua repousava sobre as costas de dois anjos, esculpidos a partir da mesma madeira, suas asas douradas e suas faces gravadas com um olhar de sofrimento, como se o peso da tábua estivesse quebrando suas costas. Atrás da mesa havia um homem magro com cabelo riscado de cinza.


— Uma amante de livros, eu vejo — ele disse, sorrindo para Dulce — você não me disse isso, Ucker.


Ucker deu uma risada. Dulce podia dizer que ele tinha ido atrás dela e estava parado com as mãos nos bolsos.


— Nós não estivemos falando muito durante nosso curto conhecimento — ele respondeu — temo que nossos hábitos de leitura não se pareçam.


Dulce se virou e lhe atirou uma encarada.


— Como você sabe? — ela perguntou ao homem atrás da mesa. — Quero dizer, do meu gosto por livros.


— O olhar em seu rosto quando você entrava — ele falou, ficando de pé e vindo por trás da mesa ao redor dela. — De algum modo, eu duvido que você tenha se impressionado comigo.


Dulce abafou um suspiro enquanto ele se levantava. Por um momento, ele lhe pareceu estranhamente disforme, seu ombro esquerdo era encorcovado e alto. Enquanto ele se aproximava, ela viu que a corcova na verdade um pássaro, empoleirado em seu ombro – uma criatura de penas brilhantes com brilhosos olhos negros.


— Este é Hugo — o homem disse, tocando a ave em seu ombro — Hugo é um corvo e, como tal, sabe muitas coisas. Eu, entretanto, sou Stakweather, um professor de história, e, como tal, eu não sei quase o suficiente.


Dulce riu um pouco, apesar de tudo, e apertou sua mão.


— Dulce maria Fray.


— Honrado em conhecê-la. Eu ficaria honrado em conhecer alguém que pode matar um Ravener com suas mãos desarmadas.


— Não foi com minhas mãos desarmadas — ela se sentiu estranha em ser felicitada por matar alguma coisa — era de Ucker, bem, eu não me lembro do que ele chamou, mas...


— Ela quer dizer o meu sensor — Ucker disse — ela o enviou dentro da garganta da coisa. As Runas devem tê-lo bloqueado. Aposto que vou precisar de outro — ele acrescentou, quase como uma reflexão.


— Existem vários extras na sala de armas — Hodge disse.


Quando ele sorriu para Dulce, pequenas linhas irradiaram ao redor de seus olhos, como fissuras em uma pintura antiga.


— Isso foi pensar rápido. O que te deu a ideia de usar o sensor como uma arma?


Antes que ela pudesse responder, uma forte gargalhada soou através da sala. Dulce tinha ficado tão extasiada com os livros e distraída por Hodge que não tinha visto Alec esparramado em uma poltrona vermelha confortável ao lado de uma lareira vazia.


— Eu não acredito que você comprou essa história, Hodge — ele disse.


Pela primeira vez, Dulce não tinha registrado suas palavras. Ela estava tão ocupada encarando-o. Como muitos filhos únicos, ela estava fascinada com a semelhança entre irmãos, e agora, em plena luz do dia, ela podia ver exatamente o quanto Alec parecia com sua irmã. Eles tinham o mesmo cabelo preto azeviche, as mesmas delicadas sobrancelhas apontando acima nos cantos, a mesma palidez da pele. Mas onde Isabelle era toda arrogância, Alec saia de sua cadeira como se esperasse que ninguém o notasse. Seus cílios eram longos e escuros como os de Isabelle, mas onde os olhos dela eram negros, os olhos dele eram de um azul escuro de garrafa de vidro. Ele olhou para Dulce com uma hostilidade tão pura e concentrada quanto ácido.


— Eu não tenho certeza do que você quer dizer, Alec.


A sobrancelha de Hodge se levantou.


Dulce se perguntou quão velho ele era; era um tipo de sem idade, apesar de seu cabelo grisalho. Ele usava um elegante terno cinza de tweed perfeitamente passado. Parecia como um gentil professor universitário se não fosse pela espessa cicatriz desenhada no lado direito de seu rosto. Ela se perguntou como ele tinha ganhado aquilo.


— Você está sugerindo que ela não matou aquele demônio afinal?


— É claro que ela não matou. Olhe para ela – ela é uma mundana, Hodge, é uma criancinha, é isso. Não tem como ela ter pego um Ravener.


— Eu não sou uma criancinha — Dulce interrompeu — eu tenho dezesseis anos – bom, eu vou fazer no domingo.


— A mesma idade de Isabelle — Hodge falou — você pode chamá-la de criança?


— Isabelle vem de uma das maiores dinastias de Caçadores de Sombras na história — Alec disse secamente — esta garota, por outro lado, vem de Nova Jersey.


— Eu sou do Brooklyn! — Dulce ficou indignada. — E o que é que tem? Eu apenas matei um demônio em minha própria casa, e você fica sendo um babaca sobre isso porque eu não sou uma pirralha podre de rica como você e sua irmã?


Alec olhou atônito.


— Do que você me chamou?


Ucker riu.


— Ela tem um ponto, Alec — Ucker disse — aqueles demônios Ravener que você realmente tem que ficar alerta para...


— Não é engraçado, Ucker — Alec interrompeu, ficando de pé — você vai apenas deixar ela aí me pondo nomes?


— Sim — Ucker respondeu gentilmente — vai fazer bem a você – tente pensar nela como um treinamento de paciência.


— Nós podemos ser parabatai — Alec disse firmemente — mas a sua petulância está cansando minha paciência.


— E sua obstinação está abusando da minha. Quando eu achei ela, ela estava deitada no chão em uma piscina de sangue com um demônio morrendo praticamente em cima dela. Eu vi quando aquilo desapareceu. Se ela não matou ele, quem matou?


— Raveners são estúpidos. Talvez aquilo acertou a si mesmo no pescoço com o ferrão. Isso já aconteceu antes...


— Agora você está sugerindo que ele estava cometendo suicídio?


A boca de Alec se apertou.


— Não é certo para ela estar aqui. Mundanos não são permitidos no Instituto, e há boas razões para isso. Se alguém souber sobre isso, nós podemos ser reportados para a Clave.


— Isso não é inteiramente a verdade — Hodge disse — a Lei nos permite oferecer um santuário para os mundanos em determinadas circunstâncias. O Ravener já atacou a mãe de Dulce – ela poderia ser a próxima.


Atacou.


Dulce se perguntou se isso era um eufemismo para “assassinou”. O corvo sobre o ombro de Hodge crocitou suavemente.


— Raveners são máquinas que procuram e destroem — Alec disse — eles agem sob as ordens de bruxos e poderosos senhores de demônios. Agora, o que interessaria a um bruxo ou a um senhor de demônios um lar mundano comum? — os olhos dele olharam para Dulce brilhando com antipatia. — Alguma ideia?


— Deve ter sido um engano — Dulce respondeu.


— Demônios não cometem esse tipo de engano. Se eles foram atrás de sua mãe, deve ter sido por um motivo. Se ela era inocente...


— O que você quer dizer com “inocente”? — Dulce disse com a voz baixa.


Alec pareceu surpreendido.


— Eu...


 



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Autor(a): pedry

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— O que ele quis dizer — Hodge respondeu — é que é extremamente raro para um demônio poderoso, o tipo que comanda um grupo de demônios inferiores, ter interesses em assuntos dos seres humanos. Nenhum mundano pode invocar um demônio – eles não tem esse poder – mas, se houver algum em desespero ou insensatez, ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • caroline_vondy Postado em 03/11/2014 - 18:00:09

    Continua!!!!!!Amo esse livro eu li um pouco só que não terminei ai assisti o filme

  • caroline_vondy Postado em 01/11/2014 - 20:32:59

    Continua!!!Desculpe esqueci de comentar ontem!


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