Fanfics Brasil - Prólogo Na Escuridão

Fanfic: Na Escuridão


Capítulo: Prólogo

141 visualizações Denunciar


        O céu escurecido ainda dava pesadelos a ela. O cheiro da fumaça misturado com sangue e pólvora penetrava nos seus pulmões sufocando-a aos poucos e mesmo assim o suor que escoria pelo seu corpo era quente e escuro, como se pequenas gotas de piche desgrudassem da sua pele indo até ao solo ressecado e arenoso.


        Seus cabelos já curtos não eram mais louros, mas sim de um castanho avermelhado dourado, do mesmo tom dourado intenso dos olhos de suas filhas, os olhos que a encaravam pelo espelho quebrado.


           - Perdoe-me... Estrela – Sua voz fraca não conseguiu alcançar o rosto da jovem que chorava presa dentro do espelho – Eu não queria, pensei que estivesse segura... Filha olhe para mim, eu estou aqui.


          A garota não respondia apenas chorava encolhida. Suas roupas estavam rasgadas e sujas e seus cabelos embaraçados adornavam seu pescoço onde uma pequena corrente de ouro com um cristal aparecia por sobre as mechas sujas.


          Ela se inclinou para frente tentado chegar até a redoma do espelho. Cada parte do seu corpo doía, seus músculos pareciam água e a cada tentativa de se erguer um grito escapava por entre seus lábios, mas ela não iria desistir, não agora que estava perto da sua filha. Apoiou as mãos na areia e lentamente arrastou seu corpo até o vidro.


           - Não chegue perto... – O som sou abafado pelas camadas de vidro, mas mesmo assim a sua menina havia falado com ela – Fique longe de mim, você a preferiu a mim, você me entregou para ele... Fique longe.


            - Estrela... – As palavras não saiam. Como a iria fazer entender que não sabia que tudo isso iria acontecer? Ela não sabia que ele conseguiria achar sua filha e nem mesmo imaginara que ela poderia acabar trancada em um espelho – Eu não sabia disso, me afastei de você pra proteger-la, você e a sua irmã eu...


             - Você me abandonou! Eu a odeio! Eu te odeio! – A garota se levantou e correu até a direção do vidro onde estava sua mãe, a cada soco que ela dava fagulhas de fogo brotavam dos seus pulsos fazendo toda a estrutura de vidro tremer e aos poucos rachar – Eu te odeio! Eu te odeio!


           De repente tudo sumiu e a imagem do espelho se tornou nítida refletindo o rosto dela e não o da garota. Ela era a garota, sim seu rosto era o mesmo que há poucos minutos estava dentro do vidro.


           Ela levantou as mãos até o rosto e gritou, gritou até o ar sumir de dentro de si.


            


 


 


   - Helena? Você esta bem?


    Ela abriu os olhos e encarou o rosto que estava acima de si.


        - Jonathan? – Um sussurro fez o rosto dele se iluminar.


         - Graças aos deuses – Ele tocou o rosto dela com delicadeza afastando uns fios úmidos dos seus olhos – Você estava gritando? Teve outro pesadelo?   


          - Sim, foi... Foi horrível, eu tinha... Bem é melhor nem lembrar.


          - Ok. Mas isso esta ficando mais freqüente, tem certeza que não quer me falar nada?


          - Tenho toda a certeza do mundo. Que horas são? – Ela pediu erguendo o corpo um pouco para ter visão da janela.


          - Esta amanhecendo ainda – Ele respondeu suspirando – A nuvem cresceu um pouco pela noite, cada vez mais o demônio engole Ínibia.


          - Isso não é bom, mas não podemos fazer nada, temos que manter nossa filha em segurança você sabe disso tão bem quanto eu.


           - Eu sei – Jonathan balançou a cabeça – Mas ainda sim acho errado deixarmos as outras pessoas sofrerem, o meu povo não consigo pensar nos horrores que estão fazendo.


           - Não podemos... Ajuda-los, não podemos, pelo menos não por agora.


       Helena sugou o ar com força. Ela sabia que o marido sofria com isso, sofria por fazer outros seres passarem por isso, era tudo culpa dela.


       O sol mal entrava pela janela do castelo, ela se espreguiçou e passou as mãos pelo rosto, quando um estouro forte lhe chamou a atenção. Seu rosto assustado se misturava ao rosto em choque de Jonathan. Algo acabara de estourar a porta do castelo.


        Ela estava pronta para se levantar quando Jonathan a agarrou pelos pulsos.


           - Pegue Diana e fuja daqui, agora! Se esconda em qualquer lugar – Ele gritava com ela – Eu vou tentar atrasar-los, pelos deuses vá Helena!


        Lagrimas rolavam por seus olhos. Helena se inclinou e beijos o marido, eles nunca mais iriam se ver.


        Ela se levantou e correu porta fora ainda vestida de camisola. Tinha de encontrar a sua filha, pelo menos uma delas, seja lá onde ela estivesse. As paredes tremiam a cada impacto e lá de baixo ela ouvia o barulho de algo se chocando varias vezes até que gritos brutais surgiram do meio do nada fazendo com que qualquer pessoa normal sentisse os pelos da nuca se arrepiarem.


       Diana estava encolhida em um canto, nos bracinhos trazia o seu único bicho de pelúcia, um cachorro todo marrom e surrado.  No seu rosto nenhuma expressão se destacava nem de pânico nem de calma. Ela parecia uma estatua feita puramente de mármore.


      E mesmo quando a mãe a agarrou pela cintura e começou a correr novamente ela não fez nenhuma pergunta, sua mente mesmo sem entender muito ainda sabia pelas lagrimas que rolavam dos olhos de Helena que as duas corriam perigo. Pedaços de pedra começaram a se desprender do teto e das paredes de modo que as duas tinham de tomar cuidado para não serem esmagadas.


       Não tinha para onde correr, tudo estava demolindo, caindo, e a cada passo, o coração de Helena martela no seu peito com intensidade apertando sua garganta e fazendo lagrimas se derramarem pelos seus olhos. Tudo estava perdido.


       Uma porta, no final do corredor estava aberta e dentro dela Helena viu um lugar onde pudesse manter-se a salvo junto da menina, nem que fosse por uns poucos minutos ela sabia que por mais que tentasse tinha que se salvar que salvar sua filha, no fim a profecia tinha de se realizar.


        O chão tremeu e linhas finas desenharam-se nas paredes partindo as pedras ao meio. No seu colo Diana apertou o seu pescoço com mais força. Aquilo era tanto obra da garota quanto do mal que tentava derrubar o castelo.


         Helena sentiu suas pernas fraquearem e quase desmoronou no chão quando um de seus pés foi de encontro a um pedaço solto do piso, algo soltou um grito e a suspendeu no ar por uns segundos. Diana.


           - Obrigada – Ela sussurrou de encontro aos cabelos loiros da filha – Tente ficar calma meu amor, logo tudo isso vai acabar.


         Ela apertou mais forte o pescoço de Helena e as duas voltaram a correr pela vida, correr para tentar ao menos viver.


         O chão desceu e ela foi de encontro à porta, não caiu por pouco, mas seus joelhos ficaram em carne viva. Helena largou Diana no chão e forçou a porta fechando-a. Do lado de fora algo vinha com mais intensidade, fazendo o chão estremecer. Ela segurou a porta com as mãos tentando firmar a fechadura, mas não conseguia, seus braços doíam e a cada soco que a coisa do lado de fora dava a porta sedia alguns centímetros.  Ela não sabia se estava chorando ou rezando, acho que os dois ao mesmo tempo.


         Num minuto o chão cedeu e a porta explodiu a lançando de encontro ao chão. Seus olhos se reviraram e ela perdeu os sentidos mergulhando na escuridão.


 


 


       Helena demorou um pouco para perceber o que havia acontecido. Seus sentidos estavam lerdos e bagunçados e tudo ao redor não passava de um monte de pedras, madeira e poeira.


        - Di... Diana? – Sua voz saiu fraca quase inaudível, sua garganta parecia queimar assim como seus pulmões. Ela levou as mãos até as costelas e uma forte dor a atingiu foi como se um pedaço de concreto desmoronasse encima dela de novo.


        Uma força imensa precisava ser usada para que ela conseguisse respirar e se arrastar ao meio dos escombros. De repente ela percebeu algo muito estranho na base de uma das grandes pilhas de tijolos. Algo negro parecido com penas estava preso embaixo de um bloco, ela sentiu seus pulmões estourarem e uma ânsia enorme invadir seu estomago.


       - Jonathan? – Helena não conseguia mais respirar – Jonathan... Você... Você... Pelos deuses – Ela se arrastou até ele, seus olhos queimavam e as lagrimas lhe rolavam o rosto – Respira – Ela pegou a cabeça dele delicadamente com as mãos, havia um corte profundo na sua bochecha – Respira... Por favor, não me deixa, Jonathan... Eu preciso de você como nunca precisei... Esta me ouvindo? Eu te amo volta, por favor, por favor, volta pra mim...


     Ela não conseguia dizer mais nada. Ver o rosto dele e imaginar nunca mais ouvir a voz dele, era muito doloroso. Os soluços começaram a encher o ar poeirento e do outro lado Diana olhava tudo, ela sabia pelo o que seu pai havia passado lá fora, o que ele havia enfrentado e ver agora sua mãe chorando era o mesmo que ser sentenciado a morte.


      -Hora, hora, hora, o que temos aqui – Uma sombra cobriu Helena – Helena querida como vai?


      - Magnus... Foi você – Ela olhou dele para o marido nos braços – Você disse que estava do nosso lado tentando impedir que eles nos destruíssem.


      - É eu disse – Ele riu e bateu palmas olhando-a – O que não significa que tenha dito a verdade – A cara dele mudou totalmente para um desprezo – A Helena belo show seu maridinho querido deu, pena que no desfecho final ele errou, desprezo tanto você quanto ele.


      - Seu monstro! – Ela gritou se levantando com dificuldade e pronta para agarrar os braços dele quando uma força invisível a parou


      - Chame do que me quiser – Ele gargalhou. Um som sinistro e horrível invadiu o ar – Vai, grite se escabele – A força sumiu e ele a agarrou pelo braço com força fazendo suas unhas se interarem no braço dela – Vamos ver quem vai vir lhe salvar queridinha.  


     Magnus a soltou e ela desabou no chão com força. Ele se agachou até ficar na altura dos olhos dela.


       - Se você não tivesse sido tão mal eu te pouparia, casaria com você e seriamos felizes para sempre, eu, você, meu reino e...


       - Mate-me! – Ela gritou com toda força o interrompendo -                 Mate-me e acabe com isso! Prefiro a morte a ter de viver com você!


       - Não era assim que você pensava antigamente. E a sua filha? – Ele se ergueu olhando onde a garota se encontrava em um canto encolhida contra o que restava da parede, um calafrio percorreu seu corpo, aqueles olhos dourados o prenderam por um instante – E ela – Ele se virou de volta – Como ficará?


        - Minha filha? – Helena demorou até lembrar que ela ainda estava viva – Não a machuque. Por favor, é a mim que você quer matar, ou seja, lá o que, só a deixe em paz Magnus, você...


        - Qual das garotas é aquela? – Ele a interrompeu segurando seu pulso com força – Ela é minha filha Helena? A nossa filha?


   Helena respirou fundo. Não seria fácil contar a ele que a filha que ele amava, aquela que estava protegida dele, desistiu do amor para viver protegida pelas estrelas.


        - Está num lugar onde você nunca irá encontrar. Ela não merece saber que você é o pai dela, nunca.


        - Você não pode esconder ela de mim! Sou o pai dela, Estrela deve saber que eu sou o pai dela! Eu vou encontrar-la não importa o que você faça.


        - Minha filha está num lugar protegido onde você nunca vai achar-la e fazer o mesmo que fez comigo!


         - Jonathan sabia disso Helena? Ele sabia a puta que você era, em? Ele sabia que você me amou primeiro, primeiro do que ele? Você disse que me amava!


      Ela respirou fundo.


          - Eu nunca teria coragem de contar isso a ele, tenho vergonha do que fiz, tenho raiva por que tudo isso é culpa minha! – Helena piscou os olhos e encarou Magnus – Jonathan não Sabia de Estrela, não sabia de você, e agora... – Ela virou o rosto e olhou o marido morto, seu rosto ficou em fogo – Agora, não faz diferença.


     Helena deixou a cabeça pender no pescoço, seu peito parecia um enorme buraco negro sugando todas as forças e alegrias as transformando em nada, simplesmente nada. Ela sabia pelo que sua filha passava pelo que tanto Estrela passava como Diana iria passar. Quando ela se casara com Jonathan, Magnus odiara essa idéia, odiara ele e todas as pessoas. Ele não era um ínibiano e nem um humano, corria boatos entre os seres de que ele havia vendido a alma para o rei de baixo da terra, aquele que há muito tempo havia destruído o mundo e tinha sido banido para o mundo de baixo, onde as trevas reinam. Helena nunca iria deixar que ele encontrasse Estrela, pelo menos não por ela.


          - Você nunca vai ter sua filha! – Ela disse por fim cuspindo nos pés dele – Nunca.


       O rosto dele mudou de cor por um instante, então ele aliviou o rosto e flexionou os pulsos fazendo duas adagas de vidro escuro como carvão aparecer em suas mãos. Magnus riu um som horrível e contorcido que a perseguiria pelo resto da vida.


          - Você também não – Ele fincou as facas no coração dela, fazendo-a estremecer – Nunca.


 


 


 


~~~


 


 


    Diana não se lembrava como era a sensação de se ver o sol, sua pele branca como o leite parecia papel ao toque, mas mesmo assim seus músculos ainda funcionavam bem mesmo depois de tanto tempo fechada dentro da cela ela ainda se exercitava caso algum dia precisasse se defender.


     O problema era a fala, fazia tanto tempo que ela não falava com uma pessoa que tinha medo de ter esquecido como é que se usava as palavras. As vezes antes de dormir ela ficava sussurrando para si mesma coisas para ter certeza que sua voz não tinha sumido. O carcereiro que servia a gororoba que chamavam de comida a ela era mudo ou tinha perdido a língua, ela não sabia, a ultima pessoa que vira era um velho que fora preso na sala ao lado, naquela época Diana tinha 4 anos e quando foi trazida ali o velho senhor a acalmava com histórias fantásticas de heróis e guerreiros que faziam sua imaginação voar, naqueles momentos ela se perguntava como uma pessoa tão maravilhosa como ele poderia estar presa ali juntamente com ela.


     Quando tinha 13 anos (Ela sabia por que a cada ciclo lunar fazia um risco na parede com um pedaço de metal enferrujado que achara) ele foi levado da cela por algum motivo até a praça central do castelo onde eles cortaram a cabeça dele, Diana vira tudo pois sua janela de barras dava uma ótima visão lá da praça, ela chorará por três dias e três noites sozinha na cela, sem tocar na comida que vinha e ia, naquele tempo ela recebera a visita de Magnus, o homem que matara sua família, sua mãe, seu pai, aquilo era doloroso para ela ainda e olhar a cara dele só a deixava com mais raiva.


      Hoje ele viria visitar ela como sempre fazia no décimo dia de lua cheia. Sempre que vinha trazia comidas exóticas e sucos de diferentes tipos. Enquanto eles se sentavam e ela era obrigada a olhar a cara dele e usar de suas palavras duas faxineiras limpavam tudo e faziam fogo na pequena lareira acoplada a uma das paredes, perfumando o ar com cheiro de canela e hortelã, isso sempre a deixava enjoada o cheiro daquilo tudo com as lembranças fazia seu estomago reviras e em conseqüência disso ela não conseguia tocar em nenhuma das saborosas comidas que a tentavam em cima de uma pequena mesa com uma toalha de cetim branco, depois que ele saia sua barriga a torturava por ela não ter comido nada daquilo quando tinha a chance.


        Ela caminhou até a pequena janela e segurou a barras de ferro com as mãos. A brisa leve sempre a fazia se acalmar, e olhando o céu cinza e sem cor ela prometeu que hoje, nessa noite, iria aproveitar e comer tudo o que podia, seria como uma forma de vingança contra ele, pelo menos era isso que sua cabeça pensava.


      Uma batida à porta a fez despertar, ela correu até onde seu colchão velho de palha estava jogado no chão e o ergueu com rapidez. Em baixo dele como ela esperava estava um pequeno pedaço de espelho que não era maior do que a sua mão. Diana o direcionou com cuidado pelo rosto. Seus cabelos loiros estavam sujos e compridos passando da cintura, seu rosto marcado pela sujeira e fuligem que descia da lareira quando o vento entrava pela chaminé.


       Outro som a porta de chaves sendo viradas a fez derrubar o espelho. Espantada ela se curvou rapidamente a juntou o pequeno pedaço que agora estava com uma linha fina, uma rachadura bem no meio. Ela suspirou e guardou o pedaço com cuidado em baixo do colchão com medo de que se partisse.


      A porta agora começava a ranger. Diana não tinha tempo, pegou o pedaço de ferro do chão e prendeu com ele um coque na tentativa de disfarçar a sujeira (mesmo sabendo que não podia fazer muito contra o cheiro). Enquanto alisava os trapos que usava, um vestido cinza comum de tecido grosseiro com um corpete de couro macio e pregas desmanchadas nas mangas, cheio de buracos, rasgos, manchas de carvão e pó a porta se abriu e duas empregadas entraram rapidamente carregadas de baldes, vassouras e panos sem nem olhar para o rosto dela.


       De trás das duas, um par de homens alto e armadura negra como a noite que Diana já conhecia bem entraram na cela ficando um de cada lado da porta, assim que liberaram espaço, um homem de camisa de manga comprida negra e calças de couro fervido entrou. Nas sombras Diana poderia dizer que ele era apenas uma sombra como qualquer outra, mas na luz ele poderia ser o jovem mais belo de toda face da terra, o jovem que ela conhecia a 17 anos que até aquele momento não mudara.


       Na cabeça de Magnus a coroa de aço valiriano e ouro derretido com esmeraldas e rubis brilhava contra as chamas da lareira que fora acessa. O contraste contra os cabelos escuros e o rosto anguloso, perfeito, com uma feição de maldade, de uma pele impecável, misturado com o porte alto e elegante de uma postura ereta e corpo musculosamente esguio fazia as vezes Diana esquecer que o odiava e que ele havia matado seus pais e destruído o reino, todos os reinos, a fazia sentir outro sentimento por ele, um que a deixava leve e feliz a cada vez que a imagem do rosto vinha em sua mente, coisa que acontecia mais freqüentemente e que a deixava com medo.     


        - Olá Diana – Ele a cumprimentou pegando sua mão que mesmo suja não o fez desistir de beija-la.


         Ela engoliu em sego e recolheu a mão de volta.


         - Olá – Disse com timidez, sua voz parecia enferrujada, ela pigarreou aquecendo a garganta – Olá, Magnus.


          Magnus sorriu para ela um momento e então virou o rosto para as duas criadas que estavam ajoelhadas em um canto esfregando o chão com escovões.


          - Vocês duas – A voz dele sou autoritária – O que estão fazendo?


         As duas se olharam decidindo se responderiam ou não ao seu patrão. A mais nova de cabelos castanho-rato respirou fundo e olhou com medo para ele. A diferença de altura devia fazer com que ele ficasse intimidador.


           -Meu senhor nós – Ela disse olhando para outra enquanto pensava se deveria falar – Meu senhor nós estamos... Limpando... Como sempre fazemos.


           - Não importa – Magnus respondeu olhando para Diana com um sorriso e voltando a olhar para a outra no chão – Hoje não vão fazer isso. Lembram do que eu disse para vocês? – Elas concordaram com as cabeças sem esitar – Ótimo, espero que tudo esteja pronto para o casamento.


            - Sim senhor – A outra respondeu com uma voz fina. Logo elas recolheram as coisas e saíram porta a fora rapidamente.


          De que casamento será estavam falando? Diana não sabia, mas não importava, ela não iria nesse casamento mesmo.


            - E você? – Ele falou a encarando – Não vai se arrumar.


          Ela demorou um pouco para entender até sua mente lerda processar tudo.


            - Eu? – Diana apontou a si própria com o dedo enquanto ainda o olhava.


            - É claro – Ele gargalhou – Tem de se arrumar e logo, não temos tempo.


           Diana riu. Era a primeira vez que ia sair da cela, e a primeira também que ia se arrumar para alguma coisa.


             - Eu vou ao casamento? – Pediu ansiosa – Eu vou?


            Magnus a olhou por um instante com o rosto sério, depois abriu um sorriso e enganchou o braço dela no dele, levando-a até a porta.


              - Me diga Diana querida, você já viu a noiva não comparecer ao próprio casamento?


             Aquela resposta fez os pelos dos braços dela se arrepiar. Diana não queria casar.


 


 


Depois de ser esfregada de cima a abaixo dentro de uma banheira de água fervendo, sua pele estava rosada e sensível e quando as aias a largaram dentro do quarto um enorme espelho que ia do chão ao teto refletia a sua imagem nua.


    Diana parecia um bebe. Pele rosa e fininha, não tão fina, mas mesmo assim quando ela se via no espelho a única coisa que conseguia pensar era em bebes. Uma mulher diferente das aias que a arrastaram ali entrou pela porta grande de carvalho fazendo a madeira bater com força.


     Ela tentou desesperadamente se cobrir com algo mais não havia nenhuma toalha por perto. A mulher chegou perto dela, tinha um vestido na mão e assim que Diana se virou para olhar a mulher sorriu, ela era gorda, de cabelos ruivos, seios fartos, e um rosto caloroso.


      - Querrrida você até parrrece um anjo! – Ela riu e pegou Diana pela mão a levando até a cama – Seu vestido querrrida – Ela disse apontando um vestido azul de uma mistura de sedas soltas e leves, cheias de pedras coloridas – Vamos lhe arrumarrr.


     Depois de ficar meia hora sendo apertada penteada amarada enrolada e colorida, Diana só conseguia pensar o quando aquilo era errado e desesperador. Ela até podia sentir algo de diferente por Magnus, mas não conseguia casar com ele, não com aquele homem cruel e terrivelmente lindo. Assim que a mulher que ela descobriu se chamar Ita saiu porta a fora Diana caminhou até o espelho não reconhecendo a imagem que via.


      Uma garota de cabelos loiros presos com fios de prata e ouro, olhos dourados sem graça delineados por maquiagem preta, com um vestido verde-azul composto por varias camada preso na cintura por um corpete-cinto cheio de pedras preciosas, alta, esguia e bela que não parecia ser ela. Aquela imagem era uma coisa que Diana não era, e ela odiava ser falsa.


      Agora ela sabia que aquilo era completamente errado, e ao olhar em volta encontrou a porta aberta, provavelmente não tinham trancado achando que ela não fugiria, pensaram errado.


     Tudo de que ela precisava era de algo para de defender, mas o que? O que poderia usar? Ela tinha medo de pegar alguma coisa, e não sabia ainda como controlar seus poderes, se ela usasse força demais o chão poderia ceder e o castelo seria engolido por um abismo, foi naquele momento que se lembrou do pedaço de ferro enferrujado, da ponta de faca de ferro afiada que tinha trazido junto de si presa nos cabelos. Diana levou as mãos até a cabeça num ímpeto de verificar se ainda estaria lá, mas é lógico que não estaria, às vezes ela mesma se surpreendia com o quando podia ser burra.


       Encontrou o pedaço caído no chão. Ainda estava intacto e afiado, sem pensar ela saiu correndo pela porta, deveria evitar os guardas e ela sabia por onde deveria sair.


      A saída estava tão perto que já sentia o gosto de liberdade, quando se deparou com um guarda. Não demorou até ele notar que ela estava ali, e quando Diana tentou passar ele tentou agarrar-la pela cintura.


      Diana se desviou e se concentrou no chão uma estaca do tamanho dela afiada surgiu na frente do guarda quase o acertando, ela praguejou e tentou desviar. Era como estar presa em jogo de gato e rato pra onde quer que ela fosse o gato iria interceptar-la, até que do nada ele tomou a dianteira e conseguiu a agarrar.


      Não havia mais o que fazer, ela deveria matar e era o que ela ia fazer.


      Ao se virar a tempo de ver que ele iria gritar fincou o pedaço de metal na garganta dele, sangue espirou no seu rosto e invadiu a sua boca deixando um gosto metálico que a fez querer vomitar, mas funcionou, o guarda caiu mole no chão, morto enquanto sua presa saia correndo rumo a liberdade e ao escuro deixando um rasto rubro de sangue onde pisava, rumo a morte que a aguardava.


    



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): carinecassol

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

    Eu estava correndo. Não havia nada na minha frente. Eu não conseguia ver. Não conseguia olhar. Somente havia o escuro, somente ele e nada mais. Eu não sabia para onde ir, e nem onde estava, só sabia que tinha de correr, ou a coisa que me perseguia me pegaria, Corra, corra, corra e se salve sussurrou uma voz na minha mente ...



Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 0



Para comentar, você deve estar logado no site.


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais