Fanfic: Na Escuridão
Eu estava correndo. Não havia nada na minha frente. Eu não conseguia ver. Não conseguia olhar. Somente havia o escuro, somente ele e nada mais. Eu não sabia para onde ir, e nem onde estava, só sabia que tinha de correr, ou a coisa que me perseguia me pegaria, Corra, corra, corra e se salve sussurrou uma voz na minha mente. Como? Berrei em resposta em meio ao pânico e as lagrimas Me ajude, por favor, não deixe que me pegue, não deixe, por favor... Mas não houve resposta somente o silencio. Virei bruscamente no meio do escuro, a chuva caia pesada do céu colando minhas roupas ao meu corpo. Eu não sabia como havia ido parar ali, mas não importava, eu não conseguia mais correr. Não havia para onde correr, não havia como se salvar, eu iria morrer e sabia disso, era sempre assim que acabava.
Senti minhas pernas falharem desmoronando no chão, indo de encontro á lama e as pedras. Eu estava cansada, meu corpo tremia violentamente, tanto por culpa da chuva que ensopava minhas roupas como por conta do pânico Deus me ajude, me proteja implorei, mas não houve resposta igual à antes. Segurei meus braços com força e fiquei em silencio, senti um frio percorrer minha espinha como se uma lamina deslizasse lentamente pela minha coluna. Abracei-me com mais força, me encolhendo o máximo que pude, como, que se fazer aquilo fosse me ajudar a me esconder.
Então ouve um barulho abafado vindo de traz das minhas costas, virei e fiquei encarando o escuro, esperando, era como que se alguém estivesse caminhando na minha direção, lentamente, como um leão que espreita uma corsa distraída já sabendo que sua pequena presa não iria fugir, não iria correr. Só que não era uma pessoa e nem mesmo um leão, não era alguém que se aproximava de mim era algo muito maior e pesado, era o monstro a criatura que me perseguia, e eu sabia disso, o barulho foi tão alto que senti o chão vibrar em baixo das minhas pernas. O pânico invadiu novamente meu corpo fazendo, com que meu coração quase saltasse pela boca Fique calma, sei que esta com medo, mas fique calma Ever, levante e corra novamente você consegue suspirei e apertei os olhos tentando espantar o medo.Com cuidado me levantei. Os passos continuavam cada vez mais altos vindos em minha direção, fazendo com que o chão vibrasse sobre meus pés quase me derrubando, eu deveria correr, deveria fugir, mas não conseguia, era como se um tipo de imã me prendesse ali, não havia como sair É o fim. Os passos pararam, e de repente eu estava livre do imã, girei rápido nos calcanhares e comecei a correr, o pânico me atingiu, e em meio a esse pânico me virei para trás consegui encarar os olhos da criatura que me perseguiam. Eram vermelhos e brilhavam talvez a única coisa bonita no rosto escamoso e feio dele, mas dentro deles havia algo ruim e encantador, algo que fez ficar em silencio, algo que me fez parar. Havia a mais pura maldade neles A morte é fácil e rápida, gritei uma ultima vez, o abismo se abriu sobre meus pés me engolindo no completo escuro, eu morri.
~~~
Acordei num susto toda suada e com o coração quase saindo pela boca. Havia apenas sido um sonho, um pesadelo horrível.
Já havia vários anos que eu tinha o mesmo sonho só que de maneiras diferentes, ás vezes eu caia em um precipício, ou era eu que corria atrás de alguma coisa, mas sempre tinha de achar a saída, tinha de fugir, de correr, nunca conseguia ver nada, e a eu sempre morria.
Passei a mão pelo rosto tirando um pouco do suor frio e pegajoso, tentando espantar os vestígios do pesadelo, afastei as cobertas de cima do meu corpo e me espreguicei, alongando meus músculos doloridos.
A manha estava fria e chuvosa e mesmo assim minha regata e minha calça de pijama estavam ensopadas e grudadas ao meu corpo de tal maneira que pareciam ter sido coladas a ele. Arqueei meu corpo para frente e dei uma espiada pela janela do meu quarto, dava para perceber que lá fora o sol ainda não havia nascido e o vento batia ferozmente nas arvores criando sombras e fantasmas escuros dos galhos nas cortinas fechadas.
Pulei da cama em um salto único me agarrando para não ir de cara com meu guarda-roupa, por que geralmente sempre que fazia isso acabava batendo minha canela na quina dele deixando uma nova mancha roxa nela. Que por sinal já esta toda machucada.
-Você ira logo se acostumar Ever – Disse Mera logo que olhei meu quarto novo. Mas não era verdade. Eu ainda era acostumada com meu quarto espaçoso e bem iluminado em Manhattan. E vir morar ali com minha irmã naquilo que ela chamava de “casa” era uma mudança horrível pra mim, mas não importava minha casa seria ali com ela, pelo menos Mera estaria junto comigo, não havia como mudar isso, e nem como mudar de casa também.
Agora meu novo quarto era do tamanho de uma caixa de fósforos comparado com o meu antigo, tinha paredes violetas e meio desbotadas, minha cama ficava na parede de frente a porta o que me dava bom acesso ao banheiro do corredor pelo menos, também havia uma pequena mesinha com um computador velho, que eu tinha quase certeza tinha sido da minha irmã ou quem sabe até da minha vó.
Caminhei até a janela e abri as cortinas brancas meio encardidas deixando a luz da iluminação dos postes na rua entrar no quarto.
Respirei fundo. Cambaleei meio tonta ainda por causa do sono até o corredor apertado rumo ao banheiro que ficava na outra ponta dele ao lado das escadas.
Aquele era o único banheiro da casa dei uma leve espiada nele ainda meio vesga. As paredes eram de azulejos com desenhos florais azuis, e comparando com meu quarto eu até poderia julgar que o banheiro era bem maior que ele.
Suspirei indignada com a minha situação se eu fosse mais velha poderia morar onde quisesse e com quem eu quisesse, poderia até voltar para minha casa pensei com raiva. Dei uma olhada no espelho quadrado acima da pia, percebendo que minha cara estava horrível. Alias como sempre estava. Molhei meu rosto e escovei os dentes delicadamente. Depois de um tempo tentando melhorar minhas olheiras soltei meu cabelo, desmanchando meu rabo de cavalo bagunçado e tentei pentear ele com as mãos, vendo se, conseguiria desmanchar o ninho castanho avermelhado de fios em que ele se tornara, desisti logo que vi que não havia mais solução e catei a escova de cabelo em cima da pia, escovei até que fiquei feliz com o resultado.
Ao Sair correndo de volta pelo corredor fiquei feliz por já ter recobrado o equilíbrio e não ter ido de cara com as paredes do corredor, o que era uma grande evolução por minha parte. Tirei o pijama grudento e frio e me vesti do jeito que sempre me vestia todos os dias durantes esses meses depois que meus pais haviam morrido, jeans surrado, moletom preto, e meus amados all star.
Desci as escadas atravessando a sala indo parar na cozinha, Mera já estava lá por milagre vestida de roupão e pantufas do ursinho Puf, ela sorriu pra mim prendendo uma das suas mechas loiras incríveis atrás da orelha, dando uma mexida na frigideira em cima do fogão meio sem jeito quase derrubando tudo.
- Bom Dia. O café ta quase pronto – ela disse distraidamente – Vai comer hoje, não vai? Você prometeu que iria provar minha nova receita de ovos mexidos.
Dou uma espiada no conteúdo da frigideira por cima do ombro dela, e vejo, que, pelo jeito não esta com uma cara muito boa. Formulo rapidamente uma desculpa na minha mente, que faça com que eu não tenha de comer aquilo. Mera era minha irmã mais velha. A única pessoa que tinha sobrado da minha família fora eu. Ela não havia ido junto com papai, mamãe e eu na viajem de casamento de um amigo da família, o que, por sinal salvou a vida dela.
Mesmo assim Mera era apenas 4 anos mais velha que eu de modo que faria 21 anos no próximo mês, mesmo assim isso não a deixava mais melhor cozinheira do que eu, por tanto dei de ombros e dei um sorriso amarelo.
-Não, não – falei em quanto vasculhava por algo comestível na cozinha – Estou atrasada já, e hoje é o primeiro dia de aula na escola daqui, você certamente não vai querer que eu me atrase né. E não se preocupe como alguma coisa lá, te vejo depois.
Peguei uma maçã da fruteira, e sem esperar pela resposta de minha adorada irmã que estava pronta para protestar enquanto eu saia correndo porta fora, rumo ao meu SUV prata que me esperava debaixo de alguns pinheiros.
Abri a porta e pulei no banco. Pelo menos eu havia ficado com meu carro, não que isso importasse muito quando se perde toda família, estiquei as mãos e liguei o aquecedor enquanto enfiava minha maçã na mochila. Hoje é o primeiro dia de muitos do ano, em que minha nova rotina será acordar antes mesmo de o sol nascer e me mandar pra escola Secundaria Sants Honmells neste fim de mundo molhado que é o Oregon, não que seja ruim morar aqui, mas é que nunca gostei muito de chuva e frio, e vim logo parar numa cidade pequena que é tão úmida que se você não cuidasse poderia crescer musgo nas suas orelhas, não era nada bom.
A única coisa boa é que é são só 9 meses de chuva, frio e umidade intensas, por que nos outros 3 meses o sol aparece, dando uma clareada na vida de quem vive e me animando um pouco em relação a esta péssima e pequena cidade, mas isso não importa, esqueço que hoje vai ser um péssimo dia igual aos outros e me convenço que tudo ira dar certo na escola nova e que vou me divertir acima de tudo.
Diferente do ano passado este ano não a ninguém que eu conheça aqui em Oregon. Minha antiga casa era em Manhattan onde morava com meus pais, aquela sim era minha casa espaçosa, grande e luxuosa, eu amava aquele lugar e ainda amava muito mais meus pais, minha vida era perfeita eu tinha amigos legais, era popular, capitã do time de lideres de torcida e era ótima em todo tipo de exercícios físicos, mas somente era por que agora tudo mudou, eu não estou mais lá, e não tenho mais nenhuma das minhas amigas junto comigo, depois daquele horrível acidente, em que somente papai e mamãe morreram e eu não, tudo ficou diferente.
No começo eu tinha pânico de qualquer coisa e muitas vezes não conseguia me lembrar de quase nada, os médicos me disseram que fiquei muito tempo inconsciente e que isso causou leves danos na minha memória, portanto os pesadelos que eles acham que logo comecei a ter depois do acidente eram por causa do choque emocional, mas eu não via muita relação entre um acidente de caro e ser perseguida por um monstro que quase sempre acaba matando você, fora que eu já tinha esses pesadelos desde que nasci eu acho.
Já havia se passado um ano desde o acidente, mas eu ainda me lembrava do caminhão vindo em nossa direção dos gritos, de papai pisando descontrolado no freio que não funcionava me lembrava do rosto que vi quando me virei para o lado, do garoto que pegou minha mão na hora do acidente, sinceramente achei que fosse por causa do pânico na hora dentro do caro, da agitação e dos gritos que imaginei a cena do garoto pegando minha mão e me segurando firme, como se na hora do acidente fosse aquilo que havia me deixado viva, mas parecia tão real que resolvi não contar nada a ninguém, primeiro por que achariam que eu estava ficando louca, segundo por que acho que, depois de todos esses sonhos e daquela visagem na hora da morte dos meus pais eu acho que estou realmente louca ou com algum tipo de defeito, e terceiro por que toda noite eu sonho com ele.
Sem perceber estremeci com a lembrança vivida daqueles momentos horríveis, girei a chave na ignição e apaguei os pensamentos da minha cabeça, eu estava atrasada Ótimo logo no meu primeiro dia de aula vou chegar atrasada, que belo jeito de começar o dia resmunguei torcendo pra que o resto do dia passasse rápido.
O colégio não era longe, mas com as estradas congeladas e escorregadias resolvi por bem usar meu carro novo para ir, já que o jeep velho da Mera estava com os pneus meios carecas, e eu não estava a fim de sofrer outro acidente.
Não me agradava o fato de ter de dirigir, mesmo eu dizendo para mim mesma que agora era extremamente seguro e pratico ir a escola de carro, por que por aqui não tinha ônibus e nem nada do tipo, mas depois que se sofre um acidente de carro em que praticamente quase toda a sua família morre você automaticamente começa a ter medo de qualquer coisa com quatro rodas que passe do 50km por hora.
Estiquei meus pés com cuidado pisando o mais leve possível no acelerador, respirei fundo e me acalmei fazendo igual a quando dirigi pela primeira vez depois do acidente com Mera do meu lado me encorajando.
- É fácil vê - Mera sorriu pra mim com doçura colocando a mão no meu ombro ajudando a me fazer criar coragem - É só você tomar cuidado Ok, e tudo vai ficar bem. Você sabe Ever que o que aconteceu com papai, mamãe e você foi só um acidente, e isso não significa que vá acontecer de novo com você maninha, eu sei que você ainda deve estar traumatizada com tudo aquilo, mas é só ter força e você vai conseguir . E ainda por cima não vou poder levar você no colégio, tenho de trabalhar e não posso perder meu expediente se não adeus faculdade de medicina, vai ter de ir sozinha, você e o SUV né – Mera me beliscou e fez uma careta pra mim tentando fazer com que eu parasse de tremer – Vamos lá vire logo essa chave e pare de tremer, estou aqui e nada ira lhe acontecer Ever.
Olho para ela com cumplicidade e respiro fundo, ela esta certa é só um carro, eu não vou morrer, não morri antes e não é agora que morro.
Viro a chave e fecho os olhos para me acalmar conto até três abro os olhos, com cuidado solto a marcha, o carro da uma sacolejada e percorre alguns centímetros vagarosamente lento, sorrio para mim mesma vendo que consegui, e então criando um pouco de coragem e me sentindo mais confiante e a vontade, piso de leve no acelerador e o SUV começa a se mexer devagar até que atinge uma velocidade boa
- Eu consegui!– Grito rindo como se não acreditasse que havia conseguido vencer meu medo – Veja Mera eu consegui! Consegui!
- Estou vendo – Mera bate palmas – Eu sabia que você conseguiria, você é forte maninha, Não tem o porquê de ter medo Ever tudo vai ficar bem, ouviu tudo vai ficar muito bem.
Ela piscou pra mim e eu ri, nunca tinha me sentido tão feliz.
As lembranças evaporaram da minha mente assim que pisei no acelerador e comecei a dirigir pelas ruas de Oregon, eu não tinha mais medo agora.
~~~
O estacionamento da escola era apenas uma quadra pequena aberta ao ar livre com alguns caros meios velhos comparados com o meu novinho em folha, que deviam pertencer aos outros alunos, fiz uma curva e procurei um lugar para estacionar de preferência afastado dos outros carros, mas hoje não era mesmo meu dia de sorte, todas as vagas longe ou afastadas estavam entulhadas de lixo e sacolas, soltei uma praga em voz baixa e sussurrei para mim mesma de me lembrar de sair mais sedo amanha.
A única vaga livre era uma entre meio uma picape e um jipe de porte pequeno e com a tinta meio descascada, enquanto passava rumo à vaga olhei para um grupo de alunos, deviam ser uns 10 ou 15 não vi ao certo, mas todos riam uns para os outros como se compartilhassem uma piada só deles, fazendo brincadeiras bobas de colegiais, naquele momento me senti deslocada e cogitei a idéia de dar a volta e sair dali.
Pelo que Mera me falara da cidadezinha todas as pessoas conheciam todo mundo na redondeza, como eu não havia nascido aqui e havia vindo morar mês passado não conhecia ninguém e nem ninguém me conhecia.
Desliguei o carro e parei reunindo coragem para descer. Depois do acidente eu meio que passei de garota super popular descolada pra super esquisitona calada, a única amiga com quem eu ainda falava e amava era Rachel, portando desejei que naquele momento ela, minha melhor amiga estivesse ali comigo, mas Rachel estava á quilômetros de distancia, mesmo nós duas tendo nos falado o mês inteiro eu ainda sentia falta dela, ela era a única que sabia de tudo.
Senti um aperto no peito e desejei poder desaparecer dali naquele momento. Peguei minha mochila no banco ao ladonão vai ser difícil, vamos lá só tente parecer normal ok, você consegue isso Ever, você consegue respirei fundo e fechei os olhos como Dr. Will me disse para fazer sempre que sentisse medo e abri a porta indo direto para o inferno que se é o colegial.
Autor(a): carinecassol
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
A escola era bem como me lembrava alunos correndo entre si e para os armários carregando livros feito loucos, rindo, brincando, logo de cara percebi que essa escola era igual a todas as outras, não que eu me importa-se muito, tudo o que eu tinha de fazer durante o dia era parecer invisível perante os outros alunos, pensei que isso foss ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo