Fanfics Brasil - Gabriel Primeiro Episódio Gabriel

Fanfic: Gabriel


Capítulo: Gabriel Primeiro Episódio

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Gabriel acabou os estudos e começou a trabalhar. Até então sua vida seguia um curso natural. Ele passava pela transição entre o ambiente escolar e o ambiente de trabalho, agora com mais responsabilidades e uma rotina mais rígida. Para Gabriel, foi a partir dessas mudanças que começou a sentir certas dificuldades que antes não percebia.

Ele começa a ter dificuldade de se relacionar com as pessoas no trabalho. Em casa seu comportamento começa a mudar, conversa menos com os irmãos e os pais. Gabriel passa a se isolar e sentir-se solitário. Aumenta a distância em relação às pessoas, evita sair com os amigos, não conversa muito quando os familiares vão à sua casa.

Essa situação começa a se tornar cada vez mais problemática e stressante. Então, Gabriel decide parar de trabalhar e ficar em casa a estudar para o exame. A família percebe suas dificuldades, mas sempre encontra uma explicação para o que ele está a viver.

Acredita que se trata de um período de mudança, uma fase difícil mas que vai superar.

Gabriel passa a maior parte do tempo no quarto estudando. Perde o interesse até em ver os jogos de futebol da sua equipa de coração. Tal comportamento preocupa os pais de Gabriel, e eles esperam que, depois do exame, seu filho faça novas amizades e volte a ser a pessoa alegre e cheia de vida que sempre foi.

Infelizmente Gabriel não passa no exame. Esse facto é vivido por ele como uma grande derrota e contribui para aumentar seu isolamento e sofrimento interior, longe dos amigos e distante nas relações familiares. Gabriel não encontra com quem dividir a situação difícil que está vivendo.

Aos poucos Gabriel começa a ter noções diferentes das coisas e dos acontecimentos que o rodeiam. Começa a encontrar evidências de que as atitudes das pessoas se relacionam com ele. Nós naturalmente não damos importância para o que as pessoas falam entre si ou suas atitudes, isto só acontece quando as pessoas se dirigem a nós. No caso de Gabriel, ele passa a ficar desconfiado e começa a acreditar que cada acontecimento ao seu redor se relaciona com ele.

Junto com essa desconfiança, Gabriel também começa a perceber o ambiente de uma forma diferente. As pessoas, as cores das coisas e os lugares, assim como os sons que escuta são sentidos com uma intensidade maior. Gabriel passa a entrar em uma maneira de estar no mundo marcada por uma grande perplexidade, que ele não consegue explicar para as outras pessoas. Essas novas percepções o levam a isolar-se ainda mais e tornam sua experiência diante da vida ainda mais difícil.

Sua família percebe as dificuldades, todos se preocupam com ele, com a mudança do seu comportamento. Os pais tentam conversar com ele, saber o que está a acontecer, aconselham Gabriel a sair daquele isolamento, e que procure sair com os irmãos e amigos.

As pessoas da terra também percebem que Gabriel está diferente, mais desconfiado, não conversa como tempos atrás. Entretanto, as pessoas costumam não dar muita importância aos conhecidos, elas estão mais preocupadas com a própria vida.

Gabriel continua se isolando e vai se distanciando até dos familiares. Suas percepções estão muito diferentes e seus pensamentos são marcados por uma visão distorcida do que acontece a sua volta. É importante destacar que Gabriel não tem a noção do que lhe está acontecer.

Gabriel começa a atribuir significado para as percepções diferentes que está a viver e sentir que as coisas que acontecem e as atitudes das pessoas realmente se relacionam com ele. Esta é uma experiência muito difícil, e a forma de dar sentido para ela é através de pensamentos que a justifiquem. Seus pensamentos às vezes se confundem, e ele não consegue interpretar de forma correcta o que as pessoas lhe falam. Ao mesmo tempo, as percepções dos sentidos apresentam uma realidade completamente diferente, marcada por sensações também diferentes. Gabriel percebe os sons de maneira mais intensa, até que começa a ouvir vozes. Os odores e gostos dos alimentos não são mais os mesmos.

Seu comportamento muda: Gabriel passa a ter atitudes que fazem sentido para ele, mas que para os familiares são muito estranhas.

As mudanças que Gabriel vive causam estranheza nos familiares e isso leva a conflitos nos relacionamentos. Para os familiares é como se Gabriel estivesse fora da realidade, suas atitudes não fazem sentido em situações quotidianas. Esse período é marcado por um arrepio nas relações, pois as pessoas reagem ao comportamento de Gabriel de acordo com as atitudes estranhas.

Apenas quando a família não consegue mais lidar com Gabriel é que procura ajuda de um médico que recomenda o acompanhamento de um psiquiatra.

Gabriel começa a perceber os sons com mais intensidade, de maneira que os sons que antes ele naturalmente não dava atenção passam a ser notados e a chamar a sua atenção. Ele passa a perceber barulhos estranhos, como batidas na parede de seu quarto, o que o leva a pensar que são os vizinhos que querem incomodá-lo.

Esse processo vai se intensificando e promovendo mudanças em sua forma de pensar. Então ele começa a ouvir vozes. As vozes conversam entre si sobre o comportamento de Gabriel, algumas o elogiam e dizem o quanto ele é querido, outras o criticam e apontam seus defeitos mais íntimos. As vozes são muito reais para Gabriel, apesar de não ver quem está falando, ele se vê envolvido por essa vivência, que vai se tornando cada vez mais assustadora. Os médicos descrevem esse tipo de experiência como alucinações auditivas. O que os médicos nem sempre percebem é que essas vozes não são somente uma experiência auditiva, mas se dão num contexto complexo que mistura emoções e pensamentos juntamente com as percepções sensoriais. Ao mesmo tempo em que as alucinações auditivas vão adquirindo forma, Gabriel começa a perceber as coisas que vê com um fulgor maior. As cores, a percepção de contorno das coisas e os movimentos das pessoas aparecem para Gabriel como uma vivência de que o mundo mudou, se apresenta de outra forma muito mais intensa.

Essa percepção também leva Gabriel a mudar sua maneira de pensar.

Elementos visuais aos quais as pessoas normalmente não dão importância, para Gabriel ganham um sentido especial. Certas sombras em sua casa lhe aparecem como a presença de pessoas. Ao olhar para o céu azul vê pequenas formas transparentes que configuram imagens de rostos e lugares. Em seu quarto, quando olha para a lâmpada, vê pequenos bichinhos que ele interpreta como “formas inteligentes de vida”. Os médicos descrevem esse tipo de experiência como alucinações visuais.

Gabriel também passa a sentir de forma diferente os cheiros e o gosto dos alimentos, o que como veremos ganhará um significado muito difícil para ele. Os médicos descrevem esse tipo de experiência como alucinações olfactivas e gustativas.

Essas percepções são vividas por Gabriel de uma forma solitária, pois não consegue compartilhar com os familiares o que está acontecendo com ele. Os familiares percebem seu comportamento diferente e sentem que ele não está bem, mas não sabem como chegar perto e transpor a barreira que o próprio Gabriel levantou.

Ao mesmo tempo que Gabriel começa a perceber o mundo de outra maneira através das alucinações, ele também vai construindo explicações para essas vivências. Ele passa a ter pensamentos e certezas muito incomuns.

No começo as percepções diferentes dos sentidos são entendidas por Gabriel como uma habilidade especial, como capacidades “paranormais”, e tal entendimento é inicialmente sedutor. Entretanto, essas vivências passam de sedutoras a assustadoras, marcadas por ideias de perseguição.

A sensação que Gabriel tinha de que o que as pessoas falavam e faziam tinha relação com ele torna-se uma certeza, de forma que tudo que acontece ao seu redor é entendido como parte de sua experiência. Assim, desde as conversas das pessoas na rua, a sua mãe limpando a casa, os programas de televisão, as músicas do rádio, tudo forma parte de um enredo no qual Gabriel se sente o centro dos eventos. Os médicos descrevem esse tipo de experiência como delírio de referência. As vozes que falam coisas agradáveis dizem para Gabriel que ele tem poderes especiais e tem a missão de mudar o mundo. Tudo o que ele sente e a certeza de que tudo ao seu redor acontece em função dele confirmam o que as vozes dizem. Esses são delírios de grandeza. Entretanto as vozes que dizem coisas desagradáveis para Gabriel dizem que mesmo com esses poderes ele não está fazendo nada e por sua culpa as coisas ruins acontecem no mundo, como os crimes e as guerras. Esse é o delírio de culpa. Gabriel passa a acreditar que está sendo filmado, que existe um complô entre o crime organizado e a polícia para persegui-lo, pois se ele usar seus poderes e resolver os problemas da humanidade eles perderão e serão atingidos.

Apesar de Gabriel não ver nenhuma câmara ou evidência física de que está sendo filmado, ele sente que isso está acontecendo, é uma certeza inquestionável. Nesse contexto, não há a quem pedir ajuda, pois até a polícia é suspeita. Quando ele começa a sentir cheiros e gostos diferentes nos alimentos, passa a acreditar que sua família quer envenená-lo para não ser atingida pela perseguição. Gabriel se sente acusado e ameaçado por todos os lados. Esses são os delírios persecutórios. Nessas condições, a família de Gabriel não sabe mais o que fazer e não consegue conversar com ele. Ele está completamente estranho, falando coisas que para eles não fazem sentido, passa a maior parte do tempo trancado no quarto, não fala mais com os amigos, mesmo quando eles telefonam. Os pais de Gabriel e seus irmãos sofrem por não conseguir ajudá-lo, mas no fundo mantêm a esperança de que esta crise de Gabriel irá passar.

As vivências de Gabriel resultam em uma relação muito diferente com o mundo, em que sua realidade interior se desorganiza e não corresponde à realidade externa, compartilhada pelas pessoas. As experiências das alucinações e dos delírios causam grande confusão nos pensamentos e percepções de Gabriel. Esse processo pode ser percebido na forma como Gabriel se comunica, como entende o que as pessoas falam e como conversa com elas. Os médicos descrevem esse tipo de experiência como desorganização ou desagregação do pensamento.

As vivências dos delírios e das alucinações normalmente são solitárias, difíceis de ser compartilhadas, além de serem assustadoras. As pessoas só conseguem perceber que a pessoa com esquizofrenia não está bem pela forma como ela se comunica e reage ao que lhe é dito. Gabriel está envolto em uma realidade muito diferente, portanto sua maneira de entender o que as pessoas dizem está afectada, há uma distorção na interpretação das informações. Assim, quando seus pais procuram conversar com ele, não entendem o motivo de seu silêncio e, quando ele responde, o que diz não faz sentido com o que está sendo conversado.

Seus irmãos não conseguem entender porque Gabriel está tão diferente, e quando conversam com o irmão, ele fala de coisas incompreensíveis. Isso se dá por ele saltar de um assunto para outro sem uma linha clara de raciocínio e também por falar de assuntos completamente desconhecidos ou muito estranhos. Quando Gabriel sai na rua e conversa com os conhecidos, eles logo percebem que ele não está bem e que está falando coisas absurdas. Rapidamente as pessoas passam a comentar que Gabriel está a ficar maluco, que é uma pena um rapaz tão jovem perder a razão dessa maneira.

Entretanto, Gabriel está vivendo percepções, pensamentos e sentimentos que só fazem sentido para ele e, da mesma forma que as pessoas não o entendem, ele também não entende o que as pessoas falam e fazem. As vivências de Gabriel são muito intensas e causam desconforto, medo e desorientação, e as pessoas não percebem o quanto isso é difícil para ele.

Os familiares não conseguem entender que a pessoa está vivendo uma experiência muito intensa e sofrida, esperam que ela aja de uma maneira que corresponda aos hábitos quotidianos, entretanto a pessoa não consegue, o que gera grande angústia.

Ao mesmo tempo em que Gabriel percebe o mundo a sua volta de forma diferente e seus pensamentos mudam, também a maneira como ele expressa suas emoções se modificam. Gabriel tem dificuldade em expressar o que sente e também em perceber como as pessoas expressam seus sentimentos. Os médicos descrevem esse tipo de experiência como embotamento afectivo. Quando as pessoas conversam com Gabriel percebem que, além de estar com uma maneira desorganizada de expressar suas ideias e seus pensamentos, também parece insensível ao mundo ao seu redor. Isso causa muitas dificuldades nos relacionamentos de Gabriel, principalmente com os irmãos e os pais. Eles sentem que Gabriel não reage, tanto às situações alegres como às situações tristes. É como se ele não tivesse sentimentos. A realidade interior de Gabriel é marcada por grande sofrimento, experiências emocionais muito intensas e impossíveis de serem expressas em palavras. Ele se sente perseguido, vigiado o tempo todo, tudo que acontece ao seu redor para ele está relacionado com o que pensa e percebe. As vozes constantemente comentam seu comportamento e suas atitudes. Gabriel vive uma realidade que é ameaçadora e na qual se vê mergulhado em situações que o desorientam constantemente. É a partir dessas vivências que Gabriel reage emocionalmente. Apesar de parecer para as pessoas que ele não está sentindo nada, na realidade, sua percepção está muito aguçada e pode perceber os detalhes das atitudes dos outros. Ele percebe quando as pessoas são irónicas, o evitam, ou esperam dele atitudes que ele não consegue corresponder.

A família de Gabriel percebe que ele vem atrofiando nos últimos meses, ele se isola no quarto a maior parte do tempo, não consegue mais conversar, muitas vezes fica falar sozinho, não tem disposição para as tarefas mais simples, descuida-se de sua aparência e da higiene pessoal.

Diante da situação em que se encontra, Gabriel não consegue realizar as tarefas mais simples como arrumar a própria cama ou ajudar sua mãe com as tarefas quotidianas da casa. Essa postura de Gabriel é entendida pelos pais e irmãos como preguiça. Gabriel sente-se sem energia, não tem motivação para realizar as coisas que naturalmente fazia antes. É preciso entender qual é o contexto que ele está vivendo e que sua falta de vontade não é simplesmente preguiça como as pessoas interpretam.

Sua família não compreende o que se passa no mundo interior de Gabriel, seus pais acham que cobrando-o para que ele faça as coisas que os outros irmãos fazem irá ajudá-lo a sair daquela inércia em que se encontra. Entretanto, essas exigências dos pais aumentam a angústia de Gabriel, pois ele não consegue corresponder ao que os pais esperam. Essa situação gera em Gabriel um sentimento de inferioridade em relação aos irmãos e que os pais não gostam dele da mesma forma que gostam de seus irmãos. Na comunidade, os amigos de Gabriel estão iniciando a vida profissional, trabalhando, estudando, namorando. E os pais de Gabriel não entendem o que acontece com seu filho, ficam se questionando “onde erraram” na sua criação. Os pais não sabem como ajudar o filho. A falta de vontade é vista como um problema de preguiça e gera angústia para ele e para os pais.



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Autor(a): k3o4

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