Fanfics Brasil - Um How To Make Me Hate You

Fanfic: How To Make Me Hate You | Tema: Original, romance, Yaoi, Colegial


Capítulo: Um

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Estou sentado na última fileira de carteiras, no canto direito da sala, com a cara praticamente grudada na janela, desesperado para me distrair com qualquer tipo de movimento no pátio lá embaixo, tentando me desligar do constante e irritante burburinho da sala.



É aula de Literatura, e embora eu realmente devesse estar prestando atenção, já que minhas notas não estão lá tão boas quanto eu gostaria, esse ambiente é insuportável e me priva de concentração. A pobre professora tenta em vão colocar qualquer tipo de conhecimento em nossas cabeças, é de dar dó, mas como quaisquer outros bons exemplares de adolescentes mimados, irritantes e que seguem à risca os mandamentos do estilo de vida YOLO – You Only Live Once, ninguém está prestando atenção. E os cadernos, que deveriam estar sendo devidamente preenchidos com textos e poemas inspiradores, estão cheios de bilhetinhos entre as dondocas, fofocas maldosas, planos para sábado à noite e todos os detalhes sórdidos das bebedeiras e surubas da noite anterior. Mas é assim que tem que ser, prestar atenção em aula por aqui é coisa de careta. Hashtag YOLO.


E eu, como qualquer outro careta, faço o gênero aluno-excluído-anti-social-com-cabelo-comprido-e-óculos, preocupado com o futuro, buscando entrar em uma faculdade decente, com uma típica cara de babaca estudioso que não consegue se encaixar e que consequentemente tem que imolar diariamente nas mãos dos coleguinhas.


Já o resto da escola é exatamente o contrário: todos os trocentos e tantos meninos e meninas que frequentam o Instituto Educacional McGilles vêm das melhores famílias do Reino Unido, têm heranças bancárias e genéticas perfeitas, mamães “manecas” e inexpressivas, papais empresários de sucesso que não dão a mínima para seus rebentos, e sobrenomes sonoros. Eles não se preocupam em estudar, já que o que importa nesta escola particular classe A é o cheque assinado no começo do mês. Faculdade é uma opção remota, que só irá ser considerada no momento em que tiverem um pouco de boa vontade. Enquanto todos esses princepezinhos e princesinhas vão religiosa e diariamente às butiques da moda, fumam erva “da boa”, têm aspiradores no lugar de seus narizes empinados e aperfeiçoados por cirurgias cosméticas e farreiam à beça, minha rotina segue de casa para a escola, da escola para o trabalho de meio período e de volta para casa.


Mas não posso reclamar muito, minha vida é relativamente boa e falta só mais um pouco para tudo mudar. Eu vou me esforçar para ingressar em uma boa faculdade, terei uma namorada legal e conhecerei pessoas interessantes que não me tratarão como lixo sem antes saber meu nome, vou aproveitar ao máximo a vida universitária e me formar com ótimas notas e ter um currículo promissor. Bom, pelo menos esse é o plano. E depois mais alguns anos exaustantes de estágio em uma agência de publicidade internacional. Se eu tiver sorte vou conseguir alugar um apartamento de trinta metros quadrados e com algumas horas extras, vou ter um carinho bacana com assentos estofados de couro. E com mais sorte ainda serei um designer conhecido e conseguirei expor meus trabalhos em galerias de Nova Iorque.


No momento sou um estudante secundário, uma anomalia neste sistema escolar elitista privado, primeiro porque sou um aluno bolsista sem grandes recursos financeiros e segundo porque eu não moro em uma mansão ou numa cobertura de vidro com varandas imensas em West London ou no SoHo, nunca saí em nenhuma coluna social importante e não uso roupas de grife. Não tenho amigos entre meus colegas de sala, e nem quero ter, muito obrigado. Não sou cumprimentado na entrada, ando com grandes headphones comprados em uma loja de departamentos qualquer, só ouço rock independente e músicas underground, assisto filmes de terror e leio livros do Stephen King e da Anne Rice. O bullying eu aprendi a ignorar na sexta-série quando me dei conta de que o problema não era eu, mas sim dos outros que não me compreendiam e eram por demais limitadas, logo não representa muito para mim. Eu apenas ignoro e sorrio.


Meu guarda-roupa segue minha personalidade. Não ligo para essa tal de aparência e não faço questão de tentar agradar, nem muito menos estourar o cartão de crédito da minha avó em jeans rasgados e com tinta preguiçosamente esborrifada mas que custam de três a quatro dígitos – chamam isso de alta costura. Já tive namoradas e nem uma delas reclamou, então, já que nem elas, nem meu gato de estimação e nem minha avó se importam, os hábitos de vestuário permanecem. Meu bolso aprecia isso.


Desde mês passado trabalho em uma loja de animais perto da escola. Lugar enorme e bacana onde só cachorros e gatos VIP podem frequentar. Apesar de cansativo, gosto do meu emprego - é bom ter que interagir somente com os animais, geralmente estes são mais agradáveis que seus respectivos donos.


E lá também trabalha a Amber, três anos mais velha que eu, o tipo de garota culta, que curte filmes do Almodóvar, estuda história da arte, pinta e consegue falar como uma poeta em uma voz bonita e cantada sem nem ao menos se esforçar. Ela é “a garota”, diferente de todas as outras, inigualável, dotada de uma graça que as piranhas vagabundas da escola jamais terão e tem os olhos castanhos mais bonitos que eu já vi. Além disso ela é cheirosa, naturalmente bronzeada, não usa maquiagem e é bem gostosa.


Mas ela mora com o namorado, então nossa relação nunca passará de amizade verdadeira de longa data, comida chinesa aos sábados na companhia da minha avó, papos filosóficos e idas a sessões de cinema cult com os amigos alternativos dela. “Daniel, você pode contar sempre comigo, você é meu irmãozinho mais novo de mãe diferente. Meu parceiro no crime, e oras, venha cá me dar um abraço.” É, a vida não é fácil para um perdedor conformista como eu que se apaixonou pela gata mais inacessível de toda Grã-Bretanha.


E enquanto eu divago sobre todas as injustiças do mundo, sobre a diferença entre classes, o que eu vou comer hoje no almoço, o que deve estar passando no cinema, quando será o próximo concerto do Muse e me lamento sobre minha vida de tosador de cães e amores platônicos, nem percebo que a sala finalmente estava calada e que uma nova figura alta adentrara.


-Classe, quero que deem boas-vindas ao nosso mais novo aluno: Alex Vogel, transferido de Nova Iorque. – A professora se levanta e fala cordialmente, enquanto pousa sua garra enrugada no ombro do desconhecido novato. – Sejam gentis com ele, é uma grande mudança pela qual está passando. – Ela sorri mostrando os dentes amarelados pelo fumo excessivo. - Querido, espero que aproveite seu período aqui no Instituto McGilles, seu histórico escolar é brilhante, então creio que não terá problemas em se adaptar às nossas regras e disciplinas avançadas. Mas caso precise, não hesite em falar com a senhorita Angela Murray, a presidente do Comitê Estudantil.


Ao ter seu nome mencionado, Angela se levanta prontamente, exibindo um sorriso magnífico de louça e ajeitando casualmente sua bonita cabeleira ruiva atrás da orelha:


-Seja muito bem vindo ao nosso Colégio, Alex. Falo em nome da sala e de todo Comitê Estudantil. Caso precise esclarecer dúvidas a respeito das atividades escolares, aulas, matérias avançadas e atividades extra-curriculares, por favor tenha total liberdade em me contatar, exatamente como a senhora Jules já disse. – Sua voz é clara e profissional, e seus trejeitos são dignos de causar inveja em qualquer moça boazinha e comportada que segue à risca as recomendações da mamãe. Mas nem mesmo a saia azul marinho no joelho, a camisa branca impecável e nem os escarpins vertiginosamente altos de grife podem esconder sua promissora carreira de boqueteira do intervalo para os astros do time de rugby da escola.


E no fundo todos ali sabem que toda esta gentileza forçada está sendo esbanjada graças à aparência do senhor Vogel, porque seu porte é atlético, do tipo modelo de cuecas da Calvin Klein, seu grandes olhos são azuis, seu cabelo é preto, não muito comprido e simplesmente porque ele é american, e american people are very important people!


Não me resta nada além de suspirar em total desaprovação. Que legal, mais um deles para tacar bolinhas de papel na minha cabeça. Mas olhando para o lado positivo, é mais um que vai me pedir para fazer os trabalhos de química e matemática avançadas e isso vai me render uma grana extra. Acho justo e meu humor se recupera.


Provavelmente ele deve ter sido um dos populares da elite em sua antiga escola e mais uma vez ele será a atração principal. Estou até vendo as manchetes no jornal do Instituto Educacional McGilles: “Conheçam Alex Vogel, o novo prodígio do rugby e arrasador de corações”. E as menininhas do primeiro ano soltarão suspiros apaixonados enquanto beijam a foto na primeira página e sonham em perder a virgindade com aquele deus americano que até então não tinha nos dado a honra de ouvir sua voz.


E para minha surpresa e satisfação, o tal Alex deixa todas as babaquinhas exasperadas ao vê-las sorrindo e batendo seus cílios de borboleta e simplesmente virando a cara e até mesmo se esquivando de frustradas tentativas de aperto de mãos.


Ele desaba no assento a minha frente e fica encarando a janela até o fim da aula, não dando a mínima para nada nem ninguém.Veja só as piranhas cochichando em desespero. COMO ASSIM ele as havia ignorado!?


Finalmente é hora do almoço, mas logo após tem aula de educação física, que eu odeio pois não sou bom em porra de esporte nenhum, e como sempre acabo sendo alvo de boladas e todos acham que eu tenho cara de saco de pancadas. Aproveito para dar uma passada na cobertura, que, felizmente, ainda não foi descoberta pelos outros alunos, já que supostamente era para estar sempre trancada e inacessível para qualquer um que não fosse funcionário da escola, mas isso não importa, pois ali virou meu refúgio sagrado onde posso espairecer e fumar meus cigarros na santa paz do senhor.


-Hey, me empresta teu isqueiro?


Quase engasgo de susto ao ouvir aquela voz com sotaque americano carregadíssimo.


-Desculpa?                                              


-Isqueiro, você tem um, não tem?


-Aceita fósforos? – Não quero parecer um boboca intimidado.


-Fósforos? Aceito, sim. – Ele pega minha caixinha quase vazia e acende um baseado com a maior naturalidade. – Você é do tipo conservador que não curte modernidades, é? Quer um trago?


-Não, não, obrigado. E não, eu não sou conservador, eu apenas... Esqueci meu Dupont em casa.


-Ah, saquei. E como é teu nome, man?


-Daniel.


-Prazer, eu sou o Alex.


Na aula de Educação Física nossos olhos estão vermelhos e eu estou com uma estranha sensação de dormência nas mãos. Eu não devia ter aceitado o baseado INTEIRO que o Alex me ofereceu. Mas não é todo dia que eu recebo agrados e agora não consigo mais parar de rir. Esse aluno novo é mesmo um barato, aposto que o resto está se mordendo de inveja, porque ao chegarmos no vestiário gargalhando, todos olham e fingem que não estão nem aí, mas sei que secretamente eles queriam estar no meu lugar. Estou me sentindo o máximo. Estamos fazendo um bocado de barulho e tenho muita dificuldade para vestir o uniforme para esportes. Hoje é dia de vôlei e se tem algo que eu odeio é vôlei! Alex é escalado logo de cara, mal chegou e já é popular, e eu fico com cara de tacho até um dos times ser obrigado a me ter como jogador.


Não presto atenção nas partidas e logo é nossa vez. Alguém grita comigo para parar de ser um molenga e prestar atenção na porra da bola, porque se o time perder por minha causa eu estou FO-DI-DO. Tento manter uma careta séria, mas acabo dando uma risada de escárnio. O que diabos tinha naquele baseado, pois eu estou dormente e começo a ter uma vontade crescente de vomitar. Acerto um saque, ponto pra mim. Meu café da manhã está subindo pela minha garganta. Mais um saque, por pouco eu erro mas como fiz mais um ponto, ninguém fica me pentelhando. Terceiro saque, não aguento e vomito ali mesmo na quadra para o horror e nojo dos colegas. Estou prostrado no chão, mas não estou nem aí. Ouço o professor falando algo em meu ouvido, ele quase tem que me carregar para fora, me arrastando até a enfermaria. Protesto e não paro de gargalhar e logo me dão um corretivo verbal “SENHOR THOMPSON! SENTE-SE E TOME ESTE REMÉDIO!” Não quero tomar, mas decido que me opor não é uma boa ideia. A médica (o será a enfermeira?) me ajuda a lavar o rosto e me deita em uma daquelas camas de hospital. Nem sabia que havia uma dessas na escola.


-O senhor sabe se ele comeu algo de diferente no intervalo? Quando ele acordar, se estiver melhor, poderá ser liberado. Ele chegou a reclamar de ânsia ou algo parecido?


-Não comemos no intervalo, e não, ele não reclamou de nada, mas com certeza poderá ser liberado depois. Deve ter sido apenas um enjoo momentâneo.


Ouço vozes e tenho que fazer um baita esforço para abrir os olhos.


-My man! Finalmente você acordou, cara! O que deram para dormir assim, me conte que eu também quero tomar! Você passou mal por causa do meu joint? Mas isso fica entre nós, não se preocupe, a médica está na outra sala.  Estou rindo até agora, foi maior barato a aula de educação física, e o teu time está puto com você, se prepare para o sermão. E como você está se sentindo? Ninguém percebeu a nossa brisa...


Quero pedir pro Alex parar de falar, porque minha cabeça dói um pouco e eu ainda estou dopado por causa do maldito Dramin. Mas decido ser mais educado e pergunto por quanto tempo fiquei apagado, que aulas eu perdi e se estou ferrado.


-Ah, você perdeu umas aulas, mas nada grave, eu expliquei para os professores o que aconteceu e já é três da tarde, você dormiu pra caramba, e se estiver melhor já pode ir pra casa. Quer ajuda, quer que eu te carregue? Eu trouxe tua mochila.


Estou meio zonzo, e vamos aos tropeços para o estacionamento, até que me toco que não tenho carro, mas Alex me explica que hoje eu dei sorte e que como ele é um cara muito bacana vai me dar uma carona no Porsche preto dele até a minha casa. Mas só porque eu estou mal, não é para eu ficar mimado. Todos estão encarando, os babacas ficam de cara fechada, não é sempre que tem um filhinho de papai mais sortudo que eles, e sou fuzilado pelas peruas que bem queriam estar sentando no banco de couro bege claro, ouvindo Queens Of The Stone Age em bom e alto volume e cantando pneu pelas ruas estreitas demais. O vento me desperta, me sinto bem.


-Melhorou?


Digo que sim, mas estou com vontade mesmo é de perguntar o porque dele estar falando comigo e sendo amigável, espero que não seja mafioso e nem que pretenda roubar meus órgãos para vender no mercado negro. Ele acende um cigarro e me pergunta sobre onde eu moro. Explico o endereço e vamos voando.


No caminho sou interrogado sobre minha família, o que eu gosto de fazer, ele queria saber da escola, como era farrear em Londres, o tempo nunca vai melhorar?


Veja, minha vida não é lá tão interessante, meus pais morreram, tenho um gato de estimação... Ah, você também curte gatos? ... Moro com a minha avó, ela tem sessenta anos... Não, eu já fui em psicólogo pra tratar do suposto trauma de ter perdido meus pais, não, não tenho problemas com isso, já superei... Tenho uma coleção de CDs e DVDs... Eu prefiro os pubs, tem uma casa de shows que é ótima e sempre tem open bar, toca rock do bom lá... Odeio os idiotas da escola, são todos degenerados e putas... Sim, eu trabalho, sou do proletariado, meu caro, não sou adepto da vida boa... Me conta, como é a América, você já foi para quantos países? Uau! Deve ser bom andar só de classe executiva... Você vai curtir o verão daqui... Você é modelo mesmo? Quais marcas?... Eu quero ser designer... Mas que CD é esse no teu player? Ah, chegamos.


Vinte e cinco minutos depois aterrissamos na porta da minha casa.




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Autor(a): Eme Visan

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