Fanfic: Usted Se Me Llevó La Vida | Tema: A Feia Mais Bela

                                                                          [Angélica]

               Caminhava pelas ruas de Los Angeles tentando espairecer. Uma boa caminhada pela manhã sempre me acalmava e me fazia esquecer os problemas, mesmo que por apenas um instante. Enquanto caminhava, pensava sobre a vida, e sobre tudo o que tinha acontecido até ali. Eu não estava necessariamente em uma fase ruim. Havia tomado uma decisão drástica em minha vida, e estava me sentindo péssima por isso, mas sabia que logo eu ia perceber que tudo isso foi para o meu próprio bem, e de todas as pessoas ao meu redor.

               Decidi fazer uma parada no Coffe’s Express, o meu lugar favorito pela manhã. Abri a porta do estabelecimento e olhei para a enorme fila. “Tudo bem, estou trabalhando minha tranquilidade e paciência” – Pensei comigo mesma. Fui para o final da enorme fila e respirei fundo, tentando ver um ponto positivo em tudo aquilo. Alguns diriam que era uma onda de má sorte, mas eu aceitava tudo aquilo como um teste.

               A fila lentamente andava, e depois de quase quinze minutos, ainda faltavam sete pessoas para fazerem o pedido em minha frente. Eu estava quase desistindo, quando o vi. Ele estava com dois expressos e parecia um pouco desajeitado. Estava sorridente, assim como eu me lembrava. Agradeceu a moça do caixa, arrancando dela suspiros apaixonados, e tirando toda a atenção das atendentes. Ele costumava fazer aquilo desde sempre, e notei que não havia mudado nada. Ele passou por mim e me olhou rapidamente, sem me reconhecer. Fiquei envergonhada de chama-lo, mas antes que ele saísse, novamente olhou para mim e se espantou.

- Não acredito! – Exclamou ainda me olhando. Tentei dizer algo, mas não saberia dizer se ele estava animado em me ver, ou se estava realmente espantado. – Não acredito! – Dessa vez ele abriu um largo sorriso e andou em minha direção. Sorri para ele e não sabia o que fazer, até que ele me puxou para um abraço apertado, mesmo com as mãos ocupadas. As pessoas olhavam em nossa direção, e começaram a murmurar entre si. – É você mesmo?

- Sim. – Dei uma risada e o olhei de cima em baixo. – Você está diferente.

- Eu? Olhe só para você! Esse tempo todo lhe fez muito bem, Angie.

               Ouvi-lo me chamar por meu apelido fez com que meu coração disparasse. Eu já deveria estar acostumada com todo aquele carinho, mas depois de todo esse tempo sem vê-lo, eu havia perdido o costume.

- O que está fazendo por aqui? – Ele perguntou.

- Estava dando uma caminhada pela rua e parei aqui. É o meu lugar preferido pela manhã.

- E o meu também! Que coincidência.

- Muita.

               Nos olhamos por um tempo, sem saber o que dizer. Havíamos nos distanciado aos poucos, sem saber de quem era a culpa. Vários acontecimentos nos ajudaram para isso, e eu sempre quis procura-lo, mas não tive coragem. Aquele encontro me pegou totalmente desprevenida, mas talvez tenha sido em uma ótima hora.

- O que acha de fazermos uma caminhada? – Perguntamos ao mesmo tempo.

- Eu adoraria. – Ele sorriu.

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- Me conta... O que tem feito? – Perguntou enquanto caminhávamos por uma praça.

- Tenho feito alguns projetos, comerciais... Mas estava um pouco parada. Digamos que eu precisava de um pouco de descanso.

- Finalmente, não é? Você não para nunca. – Ele riu. – Aqui... Pode ficar.

               Ele me entregou um dos expressos.

- Obrigada. – Peguei e tomei um pouco. – É o meu preferido.

- É... Esse era o meu. – Ele sorriu e bebeu um pouco do dele, fazendo careta. – Não gosto muito desse. Sem açúcar.

- Era para quem?

               Ele apenas sorriu e me olhou. Estava me olhando desde que começamos a caminhar, e eu estava ficando um pouco constrangida. Percebi que ele não queria responder minha pergunta, e decidi mudar de assunto.

- E você? Está trabalhando muito que eu sei.

- Ah... Você sabe... Não consigo ficar parado.

- É, sei bem.

- Mas está sendo uma época muito boa... Pelo menos... Eu acho.

               Mesmo depois de tanto tempo sem vê-lo, eu ainda sabia exatamente quando ele estava com algum problema.

- Aconteceu alguma coisa?

- Nada de mais... Talvez cansaço.

- Por que não tira um tempo para descansar?

- Acho que se eu fizesse isso, eu ficaria ainda mais cansado.

- Como assim?

- Não vamos ficar falando apenas de mim. – Ele sorriu. – E você e Otto, como estão?

               Não queria ter tocado naquele assunto tão rapidamente. Jaime sempre foi o meu confidente, para quem eu contava todos os meus problemas, mas naquela situação era um pouco desconfortável.

- Estamos nos divorciando.

- O que? – Ele parou de andar e me encarou. – Como assim? Por quê?

- Não sei o real motivo. Só... Decidimos que não estamos dando mais certo.

- Ele fez alguma coisa com você?

- Não, por Deus! Não. – Sorri envergonhada. – Otto é um homem maravilhoso. Foi um ótimo marido, mas... Você sabe... Quando não é pra ser...

- Mas vocês pareciam tão felizes juntos.

- E éramos. Ou somos. Não sei explicar. Precisamos de um tempo para pensar no que realmente queremos.

- Tenho certeza que irão se resolver. – Ele voltou a andar, mas não sorriu.

               Jaime sempre deu muita força para meu relacionamento com Otto, mas nunca pareceu feliz com aquilo. Talvez eu soubesse, no fundo, o verdadeiro motivo para aquilo, mas ele nunca admitiu, e nunca iria admitir.

- E você e Heidi, como estão?

- Estamos bem.

               Não senti firmeza na resposta.

- E quando vão planejar um bebê? – Perguntei temendo a resposta.

- Acho que está um pouco cedo para isso. – Ele sorriu. – Estamos curtindo o casamento, por enquanto.

- Isso é bom.

- Inclusive, fiquei de encontrá-la. Já estou atrasado. Você se importa?

- Claro que não. – Parei de andar e sorri para ele. – Senti sua falta, James.

- E eu a sua, Angie. – Ele deu um sorriso de lado. – Queria que tivéssemos um tempo para colocarmos a conversa em dia. Realmente sinto falta das nossas conversas.

- Quando você quiser, estarei a disposição.

- Eu te ligo então, tudo bem?

- Certo.

- Bem... Então estou indo. Tenho que voltar e comprar outro café para ela.

- Esse café era o dela? Oh não...

- Tudo bem. Fica sendo um presente de reencontro. – Ele riu e me puxou para outro abraço reconfortante. – Até mais, Angie.

- Até mais, James.

               Enquanto ele se afastava e olhava para trás, senti novamente um sentimento de perda. Será que ele realmente iria me ligar, ou ficaríamos sem nos falar por mais um tempo?

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                                            [Jaime]

               Enquanto dirigia na volta para a casa, pensei em todo aquele reencontro. Todos os dias eu sentia falta de Angélica em minha vida, de nossas conversas, nossas palhaçadas, mas me faltava a coragem de procura-la. Encontrá-la por acaso talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu desde muito tempo. Me fez perceber que eu não poderia simplesmente ficar longe dela, mesmo que eu tivesse decidido que seria o melhor para nós dois.

                                            [Flashback]

“ – Ela não está linda? – Heidi disse olhando para a mesma direção que ele.

- Sim, está linda. – Respondeu um pouco desanimado.

- Essa música... É tão linda. Combina perfeitamente com os dois.

- Sim. Combina.

               Jaime tentava de todos os modos não demonstrar o desconforto com aquela cena. Aquela música lhe trazia tantas lembranças boas, mas naquele momento, naquela situação, ele só queria desaparecer dali. Angie estava feliz, e enquanto dançava com seu marido a música “Todo Cambió” ela mal sabia que na mesa ao fundo, um coração se partia a cada trecho. Jaime não poderia demonstrar tudo o que estava sentindo, mas estava segurando para não levantar naquele mesmo instante e voltar para sua casa.

- Ah, você está emocionado! – Heidi sorriu para ele e deitou em seu ombro. – Logo seremos nós.

- É...

               Ele forçou um sorriso e engoliu as lágrimas. Ver a mulher que ele um dia amou, e ainda amava, ser feliz com outro homem que não fosse ele, era a pior sensação que ele já havia sentido. E o pior de tudo isso era o sentimento de culpa, e da certeza de que se ele tivesse feito as coisas diferente, aquilo não estaria acontecendo, ou poderia ter sido ele ali.

- Podemos ir? Estou com um pouco de dor de cabeça.

- Mas agora? No meio da música?

- Está realmente insuportável. Por favor.

- Então tudo bem. – Heidi se levantou e pegou seu casaco. Ia em direção à Angélica, mas Jaime segurou sua mão. – Não vamos nos despedir?

- Melhor não. Ela está se divertindo e está ocupada, depois eu mando uma mensagem pedindo desculpas.

               Mesmo desconfiada, Heidi concordou que fossem embora. Durante todo o caminho para casa, Jaime ficou estranhamente calado. Não comentou nada do casamento, o que era uma coisa estranha, já que ele adorava falar sobre Angélica todas as vezes que se encontravam. Ao chegar em casa, ele só queria cair em sua cama e dormir, esquecendo todos os problemas e angústias, porém antes disso acontecer, seu celular tocou. Ao ler o nome na tela, seu coração disparou, e ele demorou um tempo para decidir atender.

- Como está a festa? – Perguntou em falsa animação.

- “Onde você está?”

- Tive um pouco de dor de cabeça, desculpe.

- “Você foi embora?” – Perguntou exaltada.

- Desculpe. Eu quis despedir, mas você estava ocupada.

- “James... Aconteceu alguma coisa?”

- Claro que não, Angie. Está tudo ótimo. Foi só uma dor de cabeça mesmo. Mas o casamento foi maravilhoso, e a festa bastante divertida.

- “Desculpe por não ter tido tempo de te dar mais atenção. Me sinto culpada”.

- Não sinta. Está tudo bem, de verdade.

- “Então... Nos vemos em breve?”

- Sim... Em breve.

- “Então ok. Boa noite, James.”

- Boa noite, Angie.

               Mal sabia ela que aquele “Boa Noite” guardava três palavras, que ele nunca mais poderia dizer à ela. Nunca mais.”