Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Era. Triste, Annie voltou para o seu escritório. A luz de recados piscava em seu telefone. Digitou a senha e escutou. A primeira e única mensagem era de Fiona, gravada segundos antes. Dizia:

— Acho que fui um pouco dura demais com você. Peço desculpas. Dei minha vida para essa empresa. Quando lhe peço que lidere um projeto, estou confiando minha vida a você. Enquanto eu estiver aqui, você será minha número três. Descanse uma hora. Vamos começar a reunião de Rede Arrastão 2009 às dez. Mandei um e-mail geral para a equipe. E ligue para este número: 555-6969.

Annie não conseguiu deixar de se sentir aliviada. Ela ainda tinha seu emprego, além de uma hora de folga para se recuperar antes de ter de dizer "Como queira, Fiona" novamente. Enquanto isso, curiosa, Annie discou o número que Fiona lhe sugerira. Uma voz masculina profunda respondeu do outro lado.

— Acompanhantes executivos. Christian falando — disse a voz.

Um serviço de sexo. Fiona falava sério quando disse que usava garotos de programa. Annie inspirou o oxigênio do seu escritório. Fiona realmente acreditava que Annie ia contratar um encontro profissional. Aquilo era um insulto ou um gesto de camaradagem? Ambas as possibilidades horrorizavam Annie (e a excitavam, suas emoções claramente confusas).

— Alô? — disse o homem no telefone.

Tateando e tremendo, Annie desligou.

— Annie, tem um segundinho? — Janice Strumph ("A Boneca", como a "Dama Negra" de Fiona) inclinou-se para dentro da porta do escritório.

Annie virou-se para encarar Janice, pequena e macia, a não ser pelos pés de corvo. Estava usando as calças e blazer cor de canela que eram sua marca registrada. O que não devia passar para conseguir o mesmo conjunto em tecidos diferentes para inverno, primavera e verão maravilhava Annie.

— Gostaria de apresentar alguém a você — disse Janice, empurrando um jovem para dentro do campo de visão de Annie.

No lugar onde Janice ocupara uma porção pequena da porta, esse garoto dominava o espaço. Seu físico extralargo bloqueava a luz que vinha do corredor. Ele crescia sobre Janice, um braço interminavelmente longo em torno de seus pequenos ombros. Apesar da extrema discrepância de tamanhos, o garoto tinha os mesmos cabelos louros de Janice, o rosto oval e pele branca. Eles tinham maçãs do rosto idênticas. Janice sorriu alegremente para ele, loucamente apaixonada pelo garoto. Annie podia ver o porquê. Os jeans eram perfeitos para corpos masculinos de 20 anos.

— Este é meu filho — anunciou Janice, como se estivesse apresentando o presidente dos Estados Unidos. — Meu filho mais novo, Jonatas.

— Jonatas — disse ele, estendendo a mão para apertar a de Annie.

— Olá. — Annie sorriu docemente. Ela ficou de pé (ele não era tão grande, na verdade só parecia ser quando ficava perto da mãe) e deu um aperto apropriado na mão dele. Pele suave com calos que arranhavam nas pontas dos dedos. — Você deve tocar violão — disse ela.

O garoto (Annie sabia que ele era calouro na universidade em... onde era mesmo? tentou se lembrar) disse:

— Toco numa banda na Northwestern. Northwestern, claro, pensou ela.

— Em casa para as férias de verão. Que bom para você, Janice.

A Boneca fez uma cara zangada e disse:

— Ele está indo embora amanhã para a Inglaterra, e eu não vou conseguir nem almoçar com ele. Essa reunião vai durar horas.

Exatamente o que Annie temia. Seria uma rodada interminável de idéias medíocres, bateção de cabeça e logística sugadora de energia.

De volta ao vaivém ("Odeio meu emprego, adoro meu emprego, odeio meu emprego" etc). Annie tinha de sair fora. Ela já tinha chorado hoje uma vez e aquele era o seu limite. Fiona jamais a deixaria ir, especialmente depois do que acontecera no quarto de provas. Talvez Janice a desculpasse. Uma aventura arriscada: o balanço delicado de poder entre Fiona e Janice era precário. Dedos seriam pisados. Mas aqui estava — parecia — uma saída para a reunião e, bem possivelmente, para sua questão sexual.

— Sem tempo para o almoço? — disse Annie. — Isso é horrível, Janice. Você não pode deixar um jovem vagando pelas ruas de Nova York sozinho durante horas e horas.

Jonatas riu.

— Cresci em Manhattan, Annie.

Ela tentou flertar alegremente.

— As coisas mudaram desde que você foi para a universidade. Agora homens malucos jogam tijolos nas cabeças das pessoas. Picam as pessoas com seringas nas esquinas das ruas. O prefeito é republicano, sabe. Esta cidade está aterrorizante.

Jonatas lançou seus olhos claros para Annie de uma maneira que a encheu de confiança e coragem.

— É verdade, posso precisar de proteção — disse ele.

— Eu levo você para almoçar — anunciou Annie. Ela notou um leve rubor na face curva de Jonatas, e um sorrisinho acompanhando.

Fosse Janice uma observadora casual desse jogo, teria visto o que realmente fora trocado entre as duas pessoas jovens e atraentes. Mas como Janice era mãe de Jonatas e chefe (quase parente) de Annie, sua mente não conseguia medir o potencial incesto daquelas horas roubadas dela. Mas algo mais a fez dar uma pausa. Janice disse:

— Não tenho certeza se podemos fazer a reunião sem você hoje, Annie. Mesmo por pouco tempo.

Annie quase caiu.

— Um almoço rápido.

— Foi o que eu disse.

— Não vou prendê-la por muito tempo, mãe — disse Jonatas com os grandes olhos pedintes de um filho favorito. — Prometo, vamos falar sobre você o tempo todo.