Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Terça-feira à tarde

- Minha mãe é uma piranha — disse Jonatas. — Eu a respeito por isso. Se houvesse mais piranhas no mundo, as estatísticas de estupro iam baixar. Estupros em encontros não iam existir. E eu até daria o grande palpite de que as vendas pornográficas iam entrar em queda livre.

Annie e o garoto universitário estavam sentados no restaurante favorito dela, o Genki Sushi, no Midtown, na rua 43 com a Quinta Avenida. Tinha levado apenas dois minutos para convencer Janice, a mãe de Jonatas (a piranha), a concordar em liberar Annie durante uma hora de uma reunião planejada para o dia inteiro na calcinhas.com. Em troca, tudo o que Annie tinha de fazer era entreter seu filho mais novo.

 — Sou um grande advogado dos direitos das mulheres — continuou Jonatas. — E o fato de alardear o direito das piranhas não significa que as mulheres devem se colocar à disposição dos homens. Que elas devem abrir as pernas sempre que um homem mostrar o mais leve interesse em sexo. Você já leu A tribo da caverna do urso? As mulheres das cavernas eram obrigadas pela lei pré-histórica a cair de joelhos, no estilo cachorrinha, sempre que um homem das cavernas grunhia e apontava para o chão. Isso é barbarismo! Eu jamais ia querer que as mulheres agissem assim. Qualquer homem que queira isso é um porco. Mas a Tribo é realmente um livro divertido. Você devia ler um dia.

— Vou ler. Parece fascinante — disse Annie.

Como tinha a conversa chegado ao assunto de sexo casual? Annie não tinha certeza, mas ela estava satisfeita por ter chegado lá. Fazer sexo casual com esse homem/garoto era uma idéia fixa em sua mente desde que o convidara para almoçar. Talvez Jonatas pudesse ler seus pensamentos. Mas pensar não era fazer. Desde o momento em que se sentaram na bancada de serpentine do restaurante, Annie estava em dúvida se podia realmente continuar com outra tentativa de sedução.

Um encontro diurno com um cara que ela conhecera havia apenas duas horas? Certamente Annie já tinha feito sexo anônimo. Muito. Mas Jonatas não era exatamente um cara sem código postal. Ou anônimo. Havia conseqüências. Ele era filho da sua chefe. Por outro lado, Jonatas estava indo embora do país no dia seguinte para ficar seis meses (uma vida inteira aos olhos de um cara de 20 anos). Ela devia ser capaz de entrar e sair (isso mesmo) sem risco. Jonatas continuou com o seu sermão.

— O fato é que — disse ele — qualquer mulher pode dar para qualquer cara em qualquer segundo de qualquer dia. Você pode chegar para qualquer cara e dizer "Me come", e ele vai largar qualquer coisa que esteja fazendo e vai comer você. Eu escuto as mulheres reclamarem por não fazerem sexo ou não serem capazes de encontrar um cara para ficar. Eu já disse antes e vou dizer agora: se uma mulher não fizer sexo suficiente, é culpa dela mesma. Ou seus níveis de exigência são muito altos, ou ela não sabe que é uma lésbica reprimida.

Uma bandeja móvel correu por cima do balcão, carregando pequenos pratos de sushi. Os pratos eram coloridos e codificados por preço. A conta de uma refeição era calculada somando quantos pratos de cada cor alguém pegava. Jonatas já tinha pegado três amarelos (4 dólares), quatro brancos (6), cinco verdes (3) e um vermelho (7). Ele tinha provado quase todos os tipos de sushi disponíveis naquele dia — atum, carne de caranguejo, enguia, salmão sem pele, yellow tail, urchin e ovas, entre outros — bem como rolinhos Califórnia crocantes como edamame. Annie, discreta e feminina, tinha uma pilha de apenas quatro pratos. Ela não tinha confirmado com Janice, mas planejava pedir reembolso. O total já estaria em mais de 100 dólares agora, e Jonatas não dava nenhum sinal de estar diminuindo o ritmo.

— Não é possível que a mulher tenha colocado o sexo dentro de uma concha? — arriscou Annie. — Que ela simplesmente o tenha esquecido durante um tempo?

— Se essa mulher tivesse mesmo uma libido, não vejo como poderia esquecer isso. É como esquecer de comer, dormir ou respirar. Sexo é um imperativo biológico. Nossos corpos estão programados para desejar sexo e pensar em sexo o tempo todo. — Jonatas, amante de declarações fortes, fez outra: — Se uma mulher consegue esquecer o sexo, ela é frígida.

Annie mexeu o gelo de sua água com o dedo.

— Sua teoria sobre como é fácil para uma mulher conseguir fazer sexo presume que ela tenha coragem, falta de vergonha e desejo de pedir abertamente ao cara. Por exemplo, se uma mulher...

— Você? Eu só estou insistindo em detalhes porque é relevante se a mulher é uma gata. E você é a mulher mais gata com mais de vinte e cinco anos que eu vejo em muito tempo.

— Que bom ouvir isso — disse Annie. — Então o que você está dizendo é que eu, Anahí Giovanna Puente Portillo — uma lésbica frígida enrustida? —, poderia ir direto ao Tony McGuinty...

— Quem?

— Tony McGuinty. O ator de Tempestade de granizo? Gorge-ousville? Cachorros superpoderosos?

 — Nunca ouvi falar.

— Bem, ele é muito bonito.

— Ajudaria muito, para que eu consiga enxergar a cena, se você pudesse pegar um homem que eu conheça. Que tal Derek Jeter?

Annie não tinha paixão pelo jogador dos Yankees. Ela tinha certeza que era um garoto legal, muito jovem, rico e talentoso. Mas não dizia nada a ela.

— Eu jamais pediria sexo a Derek Jeter.

— Este é o ponto. Você não pode ficar intimidada. Ele diria sim. Qualquer cara daria uma olhada em você e diria sim para qualquer coisa. Ele diria sim para assinar embaixo de suas economias de vida inteira. Ele diria sim para matar. E tudo o que você estaria pedindo a ele seria uma boa trepada.

Ela tinha quase certeza de que jamais pediria aquilo.

— Na noite passada um homem me disse não.

Jonatas se revirou e quase caiu de seu banco, chocado.

— Deve ser gay.

— Isso passou pela minha cabeça.

— Claro que é uma bicha — disse ele. — Mas pelo menos você tentou. Isso é um passo na direção certa para todas as mulheres. Se eu fosse corajoso o suficiente para elevar o poder sexual de uma mulher a um nível mais alto, político...

— Você pode.

— As mulheres iam mandar no mundo se fizessem mais sexo casual.

— Parece um excelente tópico de dissertação — disse Annie.

 — Se as mulheres quisessem dormir com os homens só por quererem, sem se preocuparem se o cara ia respeitá-las, ou se corresponde a suas expectativas, ou se tem dinheiro suficiente, elas teriam controle total sobre os homens e portanto iriam governar a Terra. Além do mais — acrescentou Jonatas —, elas seriam mais felizes. Minha mãe dorme com um cara diferente por mês. Ela tem mais ação do que metade de minhas amigas na escola. Espero me divertir assim quando eu tiver quarenta e nove.

Annie não acreditava que Janice estivesse se divertindo. Na verdade, ela tinha muita certeza de que sua chefe era solitária e deprimida. Mas a pobre opinião de Jonatas sobre sua mãe não era problema de Annie. Pelo que ela sabia, Janice escondia suas dores de seus filhos. Talvez aquela fosse a coisa certa e própria de se fazer. De qualquer maneira, Annie não corrigiria Jonatas em sua falta de entendimento de Janice. Seu único objetivo, naquela terça-feira de julho, era tirar vantagem total da situação e do garoto. Suas teorias sobre mulheres pedindo sexo pareciam pesar no ar. Ela imaginou como ela o embaraçaria profundamente se o fizesse pesar ainda mais.

— Todos os caras na universidade são tão preocupados com o lugar correto da mulher no universo? — perguntou ela.

— A igualdade de gêneros é bem maior em minha lista de coisas que devem ser consertadas — disse ele.

Enquanto ele pegava outro prato branco (polvo e cebolinha enrolados) da bandeja móvel, Annie disse:

— Não saio com muitos homens que adoram sushi.

— Eu amo. Comeria peixe todos os dias — disse ele e piscou para ela.

— Sexo casual e peixe cru para todos — disse Annie, interpretando a nova crença de Jonatas.

— Amém para isso — disse ele, elevando um bolo de arroz, tentáculos e algas marinhas antes de enfiá-lo em sua boca.

Annie observou-o mastigar, os lábios levemente abertos. Sexo por amor ao sexo. Isso era o que ela estava pensando consigo mesma. Deus sabia que ela tinha feito aquilo muitas vezes antes sem escrúpulos. Era uma tarefa valorosa, um ato mundano e nobre. Ela não devia sentir culpa ou hesitação. Annie ainda tinha trinta minutos de sua hora de almoço e podia esticá-la por mais quinze se precisasse. Melhor não pensar sobre essa parte de cérebro limitado, intolerância ou maneiras de porco à mesa, pensou. Mantenha o foco em sua esplêndida disponibilidade.

— Você é uma graça, Jonatas — anunciou ela. — E eu concordo inteiramente com a idéia de que as mulheres deveriam fazer tanto sexo casual quanto possível. Na verdade, no que me diz respeito, as mulheres deviam agarrar com as duas mãos qualquer oportunidade que se apresentasse.

Ele fez uma pausa e depois engoliu com dificuldade.

— Você concorda comigo?

Ela assentiu.

— Ah, claro. E, ouso repetir, acho você muito atraente.

— As feministas no campus não concordam — disse ele. — Elas acham que minhas teorias são ofensivas. E algumas mulheres — ele encarou Annie — acham que o meu compromisso com a igualdade entre os sexos é só um pretexto que uso para transar.

Ela precisava bater na cabeça desse garoto com um rolo maki? Annie colocou a mão no braço de Tom.

— Eu quero você, Jonatas. Quero tanto você que chega a doer. Estou sofrendo fisicamente com a gigantesca quantidade de desejo que sinto por você, Jonatas, neste momento exato.